Português
Raphael Machado
June 19, 2024
© Photo: Public domain

Escreva para nós: info@strategic-culture.su

Em agosto de 2023, a Bolívia foi um dos países a solicitar formalmente o ingresso nas fileiras dos BRICS, a plataforma de parcerias econômicas e de investimentos que tornou-se, gradualmente, um projeto de reestruturação da arquitetura internacional.

Essa transformação nos propósitos dos BRICS se deu fundamentalmente por causa, em primeiro lugar, da operação militar especial e da tentativa ocidental de sufocar a Rússia após sua iniciativa na Ucrânia. Mas é possível perceber que a China, também, tornou-se mais cética em relação à manutenção da “ordem internacional baseada em regras” (pelo menos em sua atual conformação) após as provocações estadunidenses em Taiwan em agosto de 2022, com a visita de Nancy Pelosi.

É por isso que, quase que repentinamente, a plataforma dos BRICS, um tanto quanto letárgica antes de 2022, foi reativada e retomou fôlego. A mudança de perspectivas sobre o potencial dos BRICS tornou essencial ampliar as suas fileiras, não apenas com vistas de ampliar as possibilidades de acordos comerciais, mas primariamente para atrair países interessados em romper o cerco geopolítico, econômico e cultural do Ocidente atlantista e participar na construção de uma ordem alternativa.

Assim, após anos de um BRICS “congelado” em 5 membros, deu-se uma rápida expansão de suas fileiras entre 2023 e início de 2024, com o ingresso de Egito, Irã, Etiópia e Emirados Árabes Unidos. A Argentina rejeitou o ingresso após a posse de Javier Milei e a Arábia Saudita ainda não formalizou seu ingresso.

E é nesse contexto que os últimos eventos internacionais dos BRICS têm sido palco de solicitação de ingresso e objeto de atenção por parte de vários países do mundo – o que, por sua vez, leva a uma preocupação com a construção de critérios objetivos para o ingresso nas estruturas do bloco.

A Bolívia não demorou a abraçar essa possibilidade, encontrando, no mínimo, o apoio russo e, aparentemente, também o apoio chinês para a formalização desse ingresso. Para Luis Arce, Presidente da Bolívia, o ingresso nos BRICS aceleraria o seu processo de industrialização, que avance em um ritmo regular há vários anos, contribuindo para transformar o país andino em um Estado concretamente soberano.

Arce, que busca a facilitação de transferências tecnológicas bem como acesso às possibilidades de financiamento do Banco dos BRICS, disse recentemente que considera a participação nos BRICS como um interesse natural para todos aqueles que querem participar ativamente na construção do mundo multipolar emergente, em contraposição ao mundo unipolar.

Para os BRICS também, porém, a participação da Bolívia é de interesse estratégico relevante, particularmente para o Brasil, aliás.

A recusa argentina em participar nos BRICS enfraquece a posição latino-americana nessa articulação, ao reduzir o peso continental no bloco. Por razões lógicas, quanto maior o peso de um determinado continente ou esfera civilizacional nos BRICS, mais atenção esse espaço terá nos debates que se desdobrarão no interior dessa parceria.

Assim, tornou-se urgente para a integração sul-americana e para os próprios interesses brasileiros o aumento da presença de membros dos BRICS na região. E a Bolívia, que recentemente confirmou sua solicitação de ingresso, é uma ótima candidata.

Para o projeto de integração e consolidação da América do Sul como polo em um mundo multipolar – bem como para os projetos de reestruturação global dos BRICS – as reservas de lítio bolivianas são bastante interessantes. Sendo as maiores do mundo, em 21 milhões de toneladas, a Bolívia terá um papel decisivo na produção de baterias, inclusive no desenvolvimento de novas tecnologias ligadas às alternativas energéticas sustentáveis. O gás boliviano também não é algo a se ignorar, já que o país é, inclusive, exportador para o Brasil e a Argentina.

Mas o que é mais interessante no que concerne a Bolívia é a sua posição privilegiada na América do Sul, quase se confundindo com o Heartland continental – que se estende para também abarcar o norte da Argentina, parte do Paraguai e parte do centro-oeste brasileiro. Essa posição central da Bolívia a torna um possível eixo logístico com a possibilidade de levar tanto à Bacia Amazônia quanto à Bacia do Prata por meio de hidrovias. Sua posição somada com o fato de que suas terras, especialmente em Santa Cruz, são bastante férteis, tornam também essa região estratégica para a segurança alimentar continental – característica que a Bolívia compartilha com o centro-oeste brasileiro.

Uma maior integração com a Bolívia, portanto, assume uma importância particular para o Brasil, tornando-se instrumental para contrapor tentativas de dominação atlantista do continente a partir da costa (Rimland) como vemos se desdobrar através da influência ocidental em regiões como Colômbia, Equador, Chile e Argentina. Nesse sentido, um eixo de articulação Brasil-Bolívia-Venezuela (país que também deve passar a integrar os BRICS) poderia representar um sustentáculo de garantia da soberania civilizacional ibero-americana, tornando infrutíferas as investidas costeiras do atlantismo.

Acompanharemos com atenção a evolução dos BRICS aguardando uma movimentação que fortaleça a representatividade da Nossa América em suas fileiras.

Bolívia nos BRICS: Por que isso seria positivo?

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Em agosto de 2023, a Bolívia foi um dos países a solicitar formalmente o ingresso nas fileiras dos BRICS, a plataforma de parcerias econômicas e de investimentos que tornou-se, gradualmente, um projeto de reestruturação da arquitetura internacional.

Essa transformação nos propósitos dos BRICS se deu fundamentalmente por causa, em primeiro lugar, da operação militar especial e da tentativa ocidental de sufocar a Rússia após sua iniciativa na Ucrânia. Mas é possível perceber que a China, também, tornou-se mais cética em relação à manutenção da “ordem internacional baseada em regras” (pelo menos em sua atual conformação) após as provocações estadunidenses em Taiwan em agosto de 2022, com a visita de Nancy Pelosi.

É por isso que, quase que repentinamente, a plataforma dos BRICS, um tanto quanto letárgica antes de 2022, foi reativada e retomou fôlego. A mudança de perspectivas sobre o potencial dos BRICS tornou essencial ampliar as suas fileiras, não apenas com vistas de ampliar as possibilidades de acordos comerciais, mas primariamente para atrair países interessados em romper o cerco geopolítico, econômico e cultural do Ocidente atlantista e participar na construção de uma ordem alternativa.

Assim, após anos de um BRICS “congelado” em 5 membros, deu-se uma rápida expansão de suas fileiras entre 2023 e início de 2024, com o ingresso de Egito, Irã, Etiópia e Emirados Árabes Unidos. A Argentina rejeitou o ingresso após a posse de Javier Milei e a Arábia Saudita ainda não formalizou seu ingresso.

E é nesse contexto que os últimos eventos internacionais dos BRICS têm sido palco de solicitação de ingresso e objeto de atenção por parte de vários países do mundo – o que, por sua vez, leva a uma preocupação com a construção de critérios objetivos para o ingresso nas estruturas do bloco.

A Bolívia não demorou a abraçar essa possibilidade, encontrando, no mínimo, o apoio russo e, aparentemente, também o apoio chinês para a formalização desse ingresso. Para Luis Arce, Presidente da Bolívia, o ingresso nos BRICS aceleraria o seu processo de industrialização, que avance em um ritmo regular há vários anos, contribuindo para transformar o país andino em um Estado concretamente soberano.

Arce, que busca a facilitação de transferências tecnológicas bem como acesso às possibilidades de financiamento do Banco dos BRICS, disse recentemente que considera a participação nos BRICS como um interesse natural para todos aqueles que querem participar ativamente na construção do mundo multipolar emergente, em contraposição ao mundo unipolar.

Para os BRICS também, porém, a participação da Bolívia é de interesse estratégico relevante, particularmente para o Brasil, aliás.

A recusa argentina em participar nos BRICS enfraquece a posição latino-americana nessa articulação, ao reduzir o peso continental no bloco. Por razões lógicas, quanto maior o peso de um determinado continente ou esfera civilizacional nos BRICS, mais atenção esse espaço terá nos debates que se desdobrarão no interior dessa parceria.

Assim, tornou-se urgente para a integração sul-americana e para os próprios interesses brasileiros o aumento da presença de membros dos BRICS na região. E a Bolívia, que recentemente confirmou sua solicitação de ingresso, é uma ótima candidata.

Para o projeto de integração e consolidação da América do Sul como polo em um mundo multipolar – bem como para os projetos de reestruturação global dos BRICS – as reservas de lítio bolivianas são bastante interessantes. Sendo as maiores do mundo, em 21 milhões de toneladas, a Bolívia terá um papel decisivo na produção de baterias, inclusive no desenvolvimento de novas tecnologias ligadas às alternativas energéticas sustentáveis. O gás boliviano também não é algo a se ignorar, já que o país é, inclusive, exportador para o Brasil e a Argentina.

Mas o que é mais interessante no que concerne a Bolívia é a sua posição privilegiada na América do Sul, quase se confundindo com o Heartland continental – que se estende para também abarcar o norte da Argentina, parte do Paraguai e parte do centro-oeste brasileiro. Essa posição central da Bolívia a torna um possível eixo logístico com a possibilidade de levar tanto à Bacia Amazônia quanto à Bacia do Prata por meio de hidrovias. Sua posição somada com o fato de que suas terras, especialmente em Santa Cruz, são bastante férteis, tornam também essa região estratégica para a segurança alimentar continental – característica que a Bolívia compartilha com o centro-oeste brasileiro.

Uma maior integração com a Bolívia, portanto, assume uma importância particular para o Brasil, tornando-se instrumental para contrapor tentativas de dominação atlantista do continente a partir da costa (Rimland) como vemos se desdobrar através da influência ocidental em regiões como Colômbia, Equador, Chile e Argentina. Nesse sentido, um eixo de articulação Brasil-Bolívia-Venezuela (país que também deve passar a integrar os BRICS) poderia representar um sustentáculo de garantia da soberania civilizacional ibero-americana, tornando infrutíferas as investidas costeiras do atlantismo.

Acompanharemos com atenção a evolução dos BRICS aguardando uma movimentação que fortaleça a representatividade da Nossa América em suas fileiras.

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Em agosto de 2023, a Bolívia foi um dos países a solicitar formalmente o ingresso nas fileiras dos BRICS, a plataforma de parcerias econômicas e de investimentos que tornou-se, gradualmente, um projeto de reestruturação da arquitetura internacional.

Essa transformação nos propósitos dos BRICS se deu fundamentalmente por causa, em primeiro lugar, da operação militar especial e da tentativa ocidental de sufocar a Rússia após sua iniciativa na Ucrânia. Mas é possível perceber que a China, também, tornou-se mais cética em relação à manutenção da “ordem internacional baseada em regras” (pelo menos em sua atual conformação) após as provocações estadunidenses em Taiwan em agosto de 2022, com a visita de Nancy Pelosi.

É por isso que, quase que repentinamente, a plataforma dos BRICS, um tanto quanto letárgica antes de 2022, foi reativada e retomou fôlego. A mudança de perspectivas sobre o potencial dos BRICS tornou essencial ampliar as suas fileiras, não apenas com vistas de ampliar as possibilidades de acordos comerciais, mas primariamente para atrair países interessados em romper o cerco geopolítico, econômico e cultural do Ocidente atlantista e participar na construção de uma ordem alternativa.

Assim, após anos de um BRICS “congelado” em 5 membros, deu-se uma rápida expansão de suas fileiras entre 2023 e início de 2024, com o ingresso de Egito, Irã, Etiópia e Emirados Árabes Unidos. A Argentina rejeitou o ingresso após a posse de Javier Milei e a Arábia Saudita ainda não formalizou seu ingresso.

E é nesse contexto que os últimos eventos internacionais dos BRICS têm sido palco de solicitação de ingresso e objeto de atenção por parte de vários países do mundo – o que, por sua vez, leva a uma preocupação com a construção de critérios objetivos para o ingresso nas estruturas do bloco.

A Bolívia não demorou a abraçar essa possibilidade, encontrando, no mínimo, o apoio russo e, aparentemente, também o apoio chinês para a formalização desse ingresso. Para Luis Arce, Presidente da Bolívia, o ingresso nos BRICS aceleraria o seu processo de industrialização, que avance em um ritmo regular há vários anos, contribuindo para transformar o país andino em um Estado concretamente soberano.

Arce, que busca a facilitação de transferências tecnológicas bem como acesso às possibilidades de financiamento do Banco dos BRICS, disse recentemente que considera a participação nos BRICS como um interesse natural para todos aqueles que querem participar ativamente na construção do mundo multipolar emergente, em contraposição ao mundo unipolar.

Para os BRICS também, porém, a participação da Bolívia é de interesse estratégico relevante, particularmente para o Brasil, aliás.

A recusa argentina em participar nos BRICS enfraquece a posição latino-americana nessa articulação, ao reduzir o peso continental no bloco. Por razões lógicas, quanto maior o peso de um determinado continente ou esfera civilizacional nos BRICS, mais atenção esse espaço terá nos debates que se desdobrarão no interior dessa parceria.

Assim, tornou-se urgente para a integração sul-americana e para os próprios interesses brasileiros o aumento da presença de membros dos BRICS na região. E a Bolívia, que recentemente confirmou sua solicitação de ingresso, é uma ótima candidata.

Para o projeto de integração e consolidação da América do Sul como polo em um mundo multipolar – bem como para os projetos de reestruturação global dos BRICS – as reservas de lítio bolivianas são bastante interessantes. Sendo as maiores do mundo, em 21 milhões de toneladas, a Bolívia terá um papel decisivo na produção de baterias, inclusive no desenvolvimento de novas tecnologias ligadas às alternativas energéticas sustentáveis. O gás boliviano também não é algo a se ignorar, já que o país é, inclusive, exportador para o Brasil e a Argentina.

Mas o que é mais interessante no que concerne a Bolívia é a sua posição privilegiada na América do Sul, quase se confundindo com o Heartland continental – que se estende para também abarcar o norte da Argentina, parte do Paraguai e parte do centro-oeste brasileiro. Essa posição central da Bolívia a torna um possível eixo logístico com a possibilidade de levar tanto à Bacia Amazônia quanto à Bacia do Prata por meio de hidrovias. Sua posição somada com o fato de que suas terras, especialmente em Santa Cruz, são bastante férteis, tornam também essa região estratégica para a segurança alimentar continental – característica que a Bolívia compartilha com o centro-oeste brasileiro.

Uma maior integração com a Bolívia, portanto, assume uma importância particular para o Brasil, tornando-se instrumental para contrapor tentativas de dominação atlantista do continente a partir da costa (Rimland) como vemos se desdobrar através da influência ocidental em regiões como Colômbia, Equador, Chile e Argentina. Nesse sentido, um eixo de articulação Brasil-Bolívia-Venezuela (país que também deve passar a integrar os BRICS) poderia representar um sustentáculo de garantia da soberania civilizacional ibero-americana, tornando infrutíferas as investidas costeiras do atlantismo.

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The views of individual contributors do not necessarily represent those of the Strategic Culture Foundation.

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