Português
Hugo Dionísio
February 15, 2024
© Photo: Public domain

A União Europeia diaboliza o país que a salvou do terror nazi-fascista reescrevendo o seu passado, profanando os seus mortos, deturpando o seu pensamento e conspurcando os seus feitos.

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Segundo Syrsky, o novo comandante-em-chefe das tropas de Kiev, as vidas dos soldados ucranianos são o mais importante que o exército tem. Uma presunção que só foi assumida quando se tornou óbvio, para todos, que não existe qualquer possibilidade de vitória num combate directo com a Rússia.

Enquanto foi possível alimentar a ideia de que a “Ucrânia estava a ganhar à Rússia”, quando quem tinha a iniciativa – e nunca a perdeu – era, precisamente, a Rússia, as vidas dos soldados ucranianos de pouco valeram. Foram atirados homens – e algumas mulheres – às centenas de milhares, para trincheiras lamacentas, mal alimentados e com munições contadas, contra um oponente, ao qual, nunca faltou nada.

O facto é que, quando as forças ao serviço de Kiev tinham capacidade de combate – não confundir com “capacidade para ganhar” -, a comunicação oficial era a de “a Ucrânia estava a ganhar a guerra”; quando ficou evidente que o custo, de dar combate às forças russas, era tão elevado que não poderia ser mantido, os órgãos pró-Kiev, financiados pelas ONG’s do Tio Sam e fontes primárias da informação oficial ocidental, começaram a dizer “a Ucrânia não pode perder a guerra”; quando já não se podia esconder que a “contra-ofensiva” tinha falhado e com ela, as esperanças – fantasiosas – de uma vitória de Kiev, passámos à fase “Ucrânia e Rússia estão empatadas”.

A realidade ucraniana, sob o regime de Kiev, caracteriza-se por estar sempre em contradição directa com a realidade russa e, coincidentemente, com a realidade concreta observável. Daí que, a relação entre as duas realidades constitua um exemplo dialéctico inestimável e valioso do ponto de vista pedagógico.

Enquanto viveu com a Rússia, a Ucrânia tornou-se uma das maiores potências mundiais. Não existe, nem nunca existiu, uma Ucrânia de sucesso, sem uma Rússia do seu lado. Vladimir Putin não mentiu sobre o facto de a Rússia ter sempre ajudado a Ucrânia. Para os que não sabem, não foi por qualquer tipo de aventureirismo que o Donbass foi anexado à República Socialista Soviética da Ucrânia. Em 1917 a Ucrânia era uma região eminentemente rural e desindustrializada do império russo, daí que, em 1918, para garantir condições de desenvolvimento ao território e, por essa via, um desenvolvimento mais harmonioso do nascente estado soviético, o Donbass passou a integrar a RSSU, como forma de garantir o progresso da pátria recém-formada.

Verdade é que, em 1991, a Ucrânia tinha mais de 50 milhões de habitantes, um dos maiores exércitos da europa (talvez o segundo maior), um complexo militar-industrial invejável, uma população altamente qualificada, talentosa e produtiva, capaz de se revelar em todos os aspectos da vida humana, das artes à ciência, da agricultura ao desporto.

Depois de sobreviver a muitas tensões impostas, a partir do exterior e introduzidas pelos suspeitos de sempre, em 2004-2005, a Revolução Laranja, acelera o processo de criação de uma anti Rússia. A ideia não era nova e já tinha passado pelas cabeças de gente ligada ao Império Austro-Húngaro e não só. Daí que, dessa data em diante, a relação de forças entre povos, russófonos e russófilos, e os povos tornados “russófobos” começou a inverter-se e, paulatinamente, as forças anti Rússia começaram a infectar todo o território, conquistando, progressivamente, novos bastiões, da periferia da Galícia, para o centro de Kiev.

A partir de então, começou a desenhar-se aquela que seria a “solução” importada para preencher a falta de identidade nacional da Ucrânia. Como país que nunca tinha existido até 1918, e apenas totalmente independente, em 1991, para garantir a sua existência, a Ucrânia tinha de criar uma identidade nacional. Coisa nada fácil num país construído a régua e esquadro em sucessivas vagas de anexação. A “escolha” induzida passou por tornar a Ucrânia numa “anti Rússia”. Tudo o que a Rússia seria, a Ucrânia teria de ser ao contrário.

Está bom de ver que essa “escolha” teria de ser induzida, uma vez que, tratando-se de um país com a mesma língua, ou com línguas com a mesma raiz (para os que separam o “Ucraniano” do “Russo”), com a mesma religião, cultura e passado nacional, a escolha natural nunca passaria pelo antagonismo, pois um e outro prosperaram em relação simbiótica. E tal relação foi mutuamente frutífera até ao momento em que a Rússia tudo fez para se livrar do domínio dos EUA, nos terríveis anos 90, e a Ucrânia, tudo fez, para se integrar debaixo da alçada dos EUA, a partir, principalmente, de 2004. A sucessão cronológica não deixa dúvidas: a Rússia livra-se da tutela americana durante o final dos 90’s e inícios dos 2000’s, a Ucrânia abraça-a, a partir de 2004.

Introduzido esse antagonismo através da instalação de um regime cliente dos EUA, primeiro de forma inconstitucional (com a Revolução Laranja) e depois golpista (com o EuroMaidan), tudo o que a Rússia é e luta para ser, a Ucrânia passou a não querer ser, nem que para tal, tivesse de rasgar a própria carne. A sua identidade nacional passou a definir-se pela antagonização directa e frontal do vizinho russo. Se a Rússia é um país orgulhoso da sua história e passado; a Ucrânia passaria a desconsiderar, apagar, reescrever e perseguir todos o que honram a sua história. Este facto é bem visível na tal “descomunização”, a qual, em última instância, só poderia levar à extinção da nação Ucraniana. Tendo sido criada pelos bolcheviques, retirar a identidade “comunista” ao passado ucraniano, significaria – e significou – acabar com a Ucrânia como ela era: multiétnica, cosmopolita, multinacional até (tem muitos cidadãos com dupla nacionalidade russa, húngara ou romena). Se a Rússia abraça a sua história para existir como é; a Ucrânia, comandada pelo regime de Kiev, apaga a sua história, para negar o que verdadeiramente seria.

Se a Federação Russa é um país pluriétnico, plurinacional, orgulhoso dessa diversidade e considerando-a uma vantagem; o regime de Kiev tornaria a Ucrânia num país “purificado”, com uma constituição supremacista, perseguindo os povos que insistem em manter as suas línguas originárias, religião e costumes. O resultado foi uma perseguição a todas as forças políticas da esquerda e centro-esquerda, tidas como pró-russas (que conveniente!!), à religião ortodoxa russa, à língua russa e ao passado histórico, sob o império russo e a URSS. O único que tinha! Tudo o que ligasse a Ucrânia à Rússia, teria, pura e simplesmente, de desaparecer. Como não ver que, tal apagamento só poderia levar à perda de uma parte do território? Para começar? Algum país sobrevive, intacto, a tal antagonismo? Um país se história, que futuro poderá ter?

Se a Rússia não era NATO, nem EU – não por não querer; a Ucrânia teria de ser muito NATO e ainda mais EU. Se a Rússia, tudo o que queria, era estar em paz com os seus vizinhos, para que os negócios pudessem continuar a fluir para oriente e ocidente; a Ucrânia, nascida das entranhas da Galícia, teria de estar em guerra com a Rússia. E estar em guerra com a Rússia, começou por significar “guerra com os povos russófonos e russófilos”. Ou seja, entre falantes de russo e simpatizantes ou tolerantes da presença histórica russa, a Ucrânia, enquanto cliente do ocidente, entrou numa guerra intestina com as suas próprias entranhas, partindo-se em cacos. Como não poderia deixar de ser.

Face à desproporção de forças, sejam elas as forças físicas, como a população, capacidade militar, industrial ou económica, sejam as forças mais espirituais, ligadas à identidade histórica e profundidade da alma patriótica e nacional (a Ucrânia desiste da pouca que tinha), estava bom de ver onde levava esta antagonismo. Se a Rússia era o “ser”; a Ucrânia, comandada pelo regime de Kiev, passou a ser a “antítese”; e qual seria a “síntese” possível? Soubessem os povos da Ucrânia, os que embarcaram neste revisionismo histórico da sua nação, que as “sínteses”, resultantes dos antagonismos dialécticos, resultam, muitas vezes, na eliminação de uma das forças em confronto, e será que aceitariam, de bom grado, tal processo? E tê-lo-ão aceite? Se o tivessem aceitado, digo eu, nem Zelensky teria mentido quando prometeu a paz, nem os EUA teriam necessidade de esconder que boicotaram os acordos de Minsk e o acordo de Istambul, nem agora, Zelensky teria adiado as eleições presidenciais. Resultado, até na sua essência, esta escolha anti Russa é antagónica e contraditória.

Apenas quem andasse absolutamente alienado pelas promessas de Fukuyama, e do seu “fim da história”, é que poderia considerar uma “síntese” que resultasse numa eliminação da Rússia. Apenas quem não conhecesse a história russa, europeia e os seus aspectos identitários e patrióticos, poderia considerar que, o papel de antagonismo anti Rússia, que Kiev representa, teria forças para eliminar aquele que é um dos três países mais bem armados do mundo.

Mas desengane-se quem pensar que o antagonismo anti-russo apenas poderá levar à eliminação física da Ucrânia, mesmo apenas que parcial. É que a relação União Europeia – Rússia também padece dos mesmos males e potencialidades destrutivas. Neste sentido, até podemos falar da Ucrânia como um alter-ego da União Europeia.

Foi em paz com a URSS – primeiro – e com a Rússia – depois – que a União Europeia nasceu, cresceu e prosperou. Sem essa paz, nunca a União Europeia teria sido capaz de produzir os recursos económicos para se expandir, para mais, à custa do pagamento de “fundos estruturais” a países candidatos e recém aderentes.

Uma União Europeia, em guerra com a Rússia, mesmo que uma guerra fria, levaria a uma existência marcada pelo militarismo, pela tensão, pelo fechamento e pela perda de elasticidade em matéria democrática e de liberdade individual, ou colectiva. O resultado teria sido uma União Europeia em convulsão, sem estado social que pudesse alimentar uma classe “média” que sustentasse os poderosos mercados internos, sob os quais se construiu o seu potencial industrial.

Foi isto que viram os dirigentes alemães (e não só) quando criaram o pipeline Druzba (amizade) e quando, mais tarde, construíram o Yamal. O florescimento das economias europeias, foi feito, em parte substancial, à custa de gás, petróleo, urânio, combustíveis, lubrificantes, minerais e cereais, em quantidade e qualidade, a preços convenientes, fruto de acordos de longa duração. Sem esse “alimento vital” não teria havido eixo franco-alemão que produzisse os recursos necessários à “política de coesão” e “alargamento”. É interessante verificar que este crescimento é produzido numa realidade em que os países bálticos – também ricos e desenvolvidos – mantinham posição neutral com a URSS e, mais tarde, com a Rússia. Posição essa que foi, recentemente, trocada pelo antagonismo frontal.

Assim, podemos também dizer que, enquanto a relação foi simbiótica, todos fruíram, talvez, até, com mais prejuízo para a própria Rússia, a qual foi sempre ficando um pouco para trás, “agarrada” a uma economia de exportação de produtos de baixo valor acrescentado, perdendo o espaço soviético, primeiro, e a sua economia depois, de que viria a recuperar a partir do início do presente século.

E foi, talvez, esta justa vontade de assumir a sua identidade histórica, que produziu, no lado europeu – e especialmente americano – o antagonismo que hoje conhecemos. Se a guerra fria começa com a URSS a demonstrar a sua capacidade de defesa, industrial e tecnológica perante um ocidente cobiçoso do seu território e recursos, o antagonismo anti Russo recria-se, na europa ocidental, a partir do momento em que o país governado com autoridade e inquestionável comando, por Vladimir Putin, começou a mostrar capacidade de recuperação de toda a sua dimensão histórica.

É que, uma vez mais, as forças antagónicas são de tal modo opostas que só poderiam produzir o que hoje constatamos. De um lado, uma vez mais, um país orgulhoso da sua história, um povo que celebra os seus heróis, nos seus defeitos e virtudes; de outro lado, uma União Europeia que se alimenta da soberania e da extinção a alma patriótica dos povos europeus. De um lado, um país que quer ser soberano, independente, autónomo e auto-suficiente, para melhor poder decidir, sem interferências externas – qual ensinamento histórico – o seu futuro; do outro, uma União Europeia dependente dos EUA, que tenta copiar a superficial “cultura” neoliberal do consumismo, que celebra o “fim da história” e reforça a sua identidade através da supressão da identidade cultural, étnica e moral dos povos europeus.

Se a Rússia está orgulhosa da sua história e a celebra em cada oportunidade, tal como a Ucrânia; a União Europeia reescreve a sua própria história, a sua filosofia, a sua identidade. Esta União Europeia diaboliza o país que a salvou do terror nazi-fascista reescrevendo o seu passado, profanando os seus mortos, deturpando o seu pensamento e conspurcando os seus feitos. Em conformidade, a UE coloca, no seu lugar, uma crendice que diz que a URSS também começou a segunda guerra e que o comunismo é igual ao nazismo. E o mais grave é que ensinam tais disparates nas Universidades…. Faz lembrar o tempo em que na Universidade de Salamanca (a mais antiga da Península Ibérica), se ensinava que o mundo era uma placa com antípodas e que, por isso, era impossível viajar para baixo do equador.

Esta reescrita histórica entra também em contradição com uma Rússia que, mesmo capitalista, se afirma como antinazi e antifascista. Ao contrário, a EU, vê florescer partidos neofascistas no seu seio, alimentados, precisamente, pelo antagonismo anti russo, alimentado pelas dificuldades económicas resultantes do afastamento e do revanchismo histórico que culpa a Rússia de ser o que é e de ter perdido mais de vinte milhões dos seus filhos por isso. Ao mesmo tempo, esta EU convive e motiva o apoio a um regime supremacista, suportado por gangues neonazis, em Kiev e para o qual abre as suas fronteiras, contra a vontade dos seus povos. Ao dia de hoje, os agricultores Polacos ameaçam fechar todos os pontos de fronteira com a Ucrânia. A EU anti Russa é também uma europa em guerra consigo própria.

Tal como a Ucrânia, também a EU falhou em perceber quais eram as suas forças e fraquezas. Também a EU falhou em perceber que só existe, por causa da Rússia. Primeiro, contra a “Rússia” (leia-se URSS), como projecto político-ideológico anti-socialista; depois, através de uma relação simbiótica, desfrutando da estabilidade resultante do empate de forças que significava a guerra fria; mais tarde, recolhendo os frutos trazidos pelos ventos de aproximação da Rússia ao ocidente. Como um espaço anti Rússia, a União Europeia falha em perceber o essencial. É que, tal como com a Ucrânia, a forma de resolução do antagonismo, a síntese que resultará do mesmo, acabará, quase certamente, no seu próprio fim. Pelo menos, tal como é hoje. O que não deixará de ser épico!

Uma União Europeia que desconsidera – enquanto projecto globalista neoliberal – as soberanias nacionais, derrotada, precisamente, pela relação antagónica que desenvolve contra um país que prima, sobretudo, por defender a sua soberania nacional! E a NATO que cuide… Também ela partilha, com a EU, a mesma identidade, o mesmo pecado original! Um e outro são filhos do mesmo pai, os EUA, desejosos de violentar a mãe Rússia!

Existe algo mais premonitório e dialéctico do que isto?

Uma Europa anti-Russa é uma Europa que se destrói a si mesma!

A União Europeia diaboliza o país que a salvou do terror nazi-fascista reescrevendo o seu passado, profanando os seus mortos, deturpando o seu pensamento e conspurcando os seus feitos.

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Segundo Syrsky, o novo comandante-em-chefe das tropas de Kiev, as vidas dos soldados ucranianos são o mais importante que o exército tem. Uma presunção que só foi assumida quando se tornou óbvio, para todos, que não existe qualquer possibilidade de vitória num combate directo com a Rússia.

Enquanto foi possível alimentar a ideia de que a “Ucrânia estava a ganhar à Rússia”, quando quem tinha a iniciativa – e nunca a perdeu – era, precisamente, a Rússia, as vidas dos soldados ucranianos de pouco valeram. Foram atirados homens – e algumas mulheres – às centenas de milhares, para trincheiras lamacentas, mal alimentados e com munições contadas, contra um oponente, ao qual, nunca faltou nada.

O facto é que, quando as forças ao serviço de Kiev tinham capacidade de combate – não confundir com “capacidade para ganhar” -, a comunicação oficial era a de “a Ucrânia estava a ganhar a guerra”; quando ficou evidente que o custo, de dar combate às forças russas, era tão elevado que não poderia ser mantido, os órgãos pró-Kiev, financiados pelas ONG’s do Tio Sam e fontes primárias da informação oficial ocidental, começaram a dizer “a Ucrânia não pode perder a guerra”; quando já não se podia esconder que a “contra-ofensiva” tinha falhado e com ela, as esperanças – fantasiosas – de uma vitória de Kiev, passámos à fase “Ucrânia e Rússia estão empatadas”.

A realidade ucraniana, sob o regime de Kiev, caracteriza-se por estar sempre em contradição directa com a realidade russa e, coincidentemente, com a realidade concreta observável. Daí que, a relação entre as duas realidades constitua um exemplo dialéctico inestimável e valioso do ponto de vista pedagógico.

Enquanto viveu com a Rússia, a Ucrânia tornou-se uma das maiores potências mundiais. Não existe, nem nunca existiu, uma Ucrânia de sucesso, sem uma Rússia do seu lado. Vladimir Putin não mentiu sobre o facto de a Rússia ter sempre ajudado a Ucrânia. Para os que não sabem, não foi por qualquer tipo de aventureirismo que o Donbass foi anexado à República Socialista Soviética da Ucrânia. Em 1917 a Ucrânia era uma região eminentemente rural e desindustrializada do império russo, daí que, em 1918, para garantir condições de desenvolvimento ao território e, por essa via, um desenvolvimento mais harmonioso do nascente estado soviético, o Donbass passou a integrar a RSSU, como forma de garantir o progresso da pátria recém-formada.

Verdade é que, em 1991, a Ucrânia tinha mais de 50 milhões de habitantes, um dos maiores exércitos da europa (talvez o segundo maior), um complexo militar-industrial invejável, uma população altamente qualificada, talentosa e produtiva, capaz de se revelar em todos os aspectos da vida humana, das artes à ciência, da agricultura ao desporto.

Depois de sobreviver a muitas tensões impostas, a partir do exterior e introduzidas pelos suspeitos de sempre, em 2004-2005, a Revolução Laranja, acelera o processo de criação de uma anti Rússia. A ideia não era nova e já tinha passado pelas cabeças de gente ligada ao Império Austro-Húngaro e não só. Daí que, dessa data em diante, a relação de forças entre povos, russófonos e russófilos, e os povos tornados “russófobos” começou a inverter-se e, paulatinamente, as forças anti Rússia começaram a infectar todo o território, conquistando, progressivamente, novos bastiões, da periferia da Galícia, para o centro de Kiev.

A partir de então, começou a desenhar-se aquela que seria a “solução” importada para preencher a falta de identidade nacional da Ucrânia. Como país que nunca tinha existido até 1918, e apenas totalmente independente, em 1991, para garantir a sua existência, a Ucrânia tinha de criar uma identidade nacional. Coisa nada fácil num país construído a régua e esquadro em sucessivas vagas de anexação. A “escolha” induzida passou por tornar a Ucrânia numa “anti Rússia”. Tudo o que a Rússia seria, a Ucrânia teria de ser ao contrário.

Está bom de ver que essa “escolha” teria de ser induzida, uma vez que, tratando-se de um país com a mesma língua, ou com línguas com a mesma raiz (para os que separam o “Ucraniano” do “Russo”), com a mesma religião, cultura e passado nacional, a escolha natural nunca passaria pelo antagonismo, pois um e outro prosperaram em relação simbiótica. E tal relação foi mutuamente frutífera até ao momento em que a Rússia tudo fez para se livrar do domínio dos EUA, nos terríveis anos 90, e a Ucrânia, tudo fez, para se integrar debaixo da alçada dos EUA, a partir, principalmente, de 2004. A sucessão cronológica não deixa dúvidas: a Rússia livra-se da tutela americana durante o final dos 90’s e inícios dos 2000’s, a Ucrânia abraça-a, a partir de 2004.

Introduzido esse antagonismo através da instalação de um regime cliente dos EUA, primeiro de forma inconstitucional (com a Revolução Laranja) e depois golpista (com o EuroMaidan), tudo o que a Rússia é e luta para ser, a Ucrânia passou a não querer ser, nem que para tal, tivesse de rasgar a própria carne. A sua identidade nacional passou a definir-se pela antagonização directa e frontal do vizinho russo. Se a Rússia é um país orgulhoso da sua história e passado; a Ucrânia passaria a desconsiderar, apagar, reescrever e perseguir todos o que honram a sua história. Este facto é bem visível na tal “descomunização”, a qual, em última instância, só poderia levar à extinção da nação Ucraniana. Tendo sido criada pelos bolcheviques, retirar a identidade “comunista” ao passado ucraniano, significaria – e significou – acabar com a Ucrânia como ela era: multiétnica, cosmopolita, multinacional até (tem muitos cidadãos com dupla nacionalidade russa, húngara ou romena). Se a Rússia abraça a sua história para existir como é; a Ucrânia, comandada pelo regime de Kiev, apaga a sua história, para negar o que verdadeiramente seria.

Se a Federação Russa é um país pluriétnico, plurinacional, orgulhoso dessa diversidade e considerando-a uma vantagem; o regime de Kiev tornaria a Ucrânia num país “purificado”, com uma constituição supremacista, perseguindo os povos que insistem em manter as suas línguas originárias, religião e costumes. O resultado foi uma perseguição a todas as forças políticas da esquerda e centro-esquerda, tidas como pró-russas (que conveniente!!), à religião ortodoxa russa, à língua russa e ao passado histórico, sob o império russo e a URSS. O único que tinha! Tudo o que ligasse a Ucrânia à Rússia, teria, pura e simplesmente, de desaparecer. Como não ver que, tal apagamento só poderia levar à perda de uma parte do território? Para começar? Algum país sobrevive, intacto, a tal antagonismo? Um país se história, que futuro poderá ter?

Se a Rússia não era NATO, nem EU – não por não querer; a Ucrânia teria de ser muito NATO e ainda mais EU. Se a Rússia, tudo o que queria, era estar em paz com os seus vizinhos, para que os negócios pudessem continuar a fluir para oriente e ocidente; a Ucrânia, nascida das entranhas da Galícia, teria de estar em guerra com a Rússia. E estar em guerra com a Rússia, começou por significar “guerra com os povos russófonos e russófilos”. Ou seja, entre falantes de russo e simpatizantes ou tolerantes da presença histórica russa, a Ucrânia, enquanto cliente do ocidente, entrou numa guerra intestina com as suas próprias entranhas, partindo-se em cacos. Como não poderia deixar de ser.

Face à desproporção de forças, sejam elas as forças físicas, como a população, capacidade militar, industrial ou económica, sejam as forças mais espirituais, ligadas à identidade histórica e profundidade da alma patriótica e nacional (a Ucrânia desiste da pouca que tinha), estava bom de ver onde levava esta antagonismo. Se a Rússia era o “ser”; a Ucrânia, comandada pelo regime de Kiev, passou a ser a “antítese”; e qual seria a “síntese” possível? Soubessem os povos da Ucrânia, os que embarcaram neste revisionismo histórico da sua nação, que as “sínteses”, resultantes dos antagonismos dialécticos, resultam, muitas vezes, na eliminação de uma das forças em confronto, e será que aceitariam, de bom grado, tal processo? E tê-lo-ão aceite? Se o tivessem aceitado, digo eu, nem Zelensky teria mentido quando prometeu a paz, nem os EUA teriam necessidade de esconder que boicotaram os acordos de Minsk e o acordo de Istambul, nem agora, Zelensky teria adiado as eleições presidenciais. Resultado, até na sua essência, esta escolha anti Russa é antagónica e contraditória.

Apenas quem andasse absolutamente alienado pelas promessas de Fukuyama, e do seu “fim da história”, é que poderia considerar uma “síntese” que resultasse numa eliminação da Rússia. Apenas quem não conhecesse a história russa, europeia e os seus aspectos identitários e patrióticos, poderia considerar que, o papel de antagonismo anti Rússia, que Kiev representa, teria forças para eliminar aquele que é um dos três países mais bem armados do mundo.

Mas desengane-se quem pensar que o antagonismo anti-russo apenas poderá levar à eliminação física da Ucrânia, mesmo apenas que parcial. É que a relação União Europeia – Rússia também padece dos mesmos males e potencialidades destrutivas. Neste sentido, até podemos falar da Ucrânia como um alter-ego da União Europeia.

Foi em paz com a URSS – primeiro – e com a Rússia – depois – que a União Europeia nasceu, cresceu e prosperou. Sem essa paz, nunca a União Europeia teria sido capaz de produzir os recursos económicos para se expandir, para mais, à custa do pagamento de “fundos estruturais” a países candidatos e recém aderentes.

Uma União Europeia, em guerra com a Rússia, mesmo que uma guerra fria, levaria a uma existência marcada pelo militarismo, pela tensão, pelo fechamento e pela perda de elasticidade em matéria democrática e de liberdade individual, ou colectiva. O resultado teria sido uma União Europeia em convulsão, sem estado social que pudesse alimentar uma classe “média” que sustentasse os poderosos mercados internos, sob os quais se construiu o seu potencial industrial.

Foi isto que viram os dirigentes alemães (e não só) quando criaram o pipeline Druzba (amizade) e quando, mais tarde, construíram o Yamal. O florescimento das economias europeias, foi feito, em parte substancial, à custa de gás, petróleo, urânio, combustíveis, lubrificantes, minerais e cereais, em quantidade e qualidade, a preços convenientes, fruto de acordos de longa duração. Sem esse “alimento vital” não teria havido eixo franco-alemão que produzisse os recursos necessários à “política de coesão” e “alargamento”. É interessante verificar que este crescimento é produzido numa realidade em que os países bálticos – também ricos e desenvolvidos – mantinham posição neutral com a URSS e, mais tarde, com a Rússia. Posição essa que foi, recentemente, trocada pelo antagonismo frontal.

Assim, podemos também dizer que, enquanto a relação foi simbiótica, todos fruíram, talvez, até, com mais prejuízo para a própria Rússia, a qual foi sempre ficando um pouco para trás, “agarrada” a uma economia de exportação de produtos de baixo valor acrescentado, perdendo o espaço soviético, primeiro, e a sua economia depois, de que viria a recuperar a partir do início do presente século.

E foi, talvez, esta justa vontade de assumir a sua identidade histórica, que produziu, no lado europeu – e especialmente americano – o antagonismo que hoje conhecemos. Se a guerra fria começa com a URSS a demonstrar a sua capacidade de defesa, industrial e tecnológica perante um ocidente cobiçoso do seu território e recursos, o antagonismo anti Russo recria-se, na europa ocidental, a partir do momento em que o país governado com autoridade e inquestionável comando, por Vladimir Putin, começou a mostrar capacidade de recuperação de toda a sua dimensão histórica.

É que, uma vez mais, as forças antagónicas são de tal modo opostas que só poderiam produzir o que hoje constatamos. De um lado, uma vez mais, um país orgulhoso da sua história, um povo que celebra os seus heróis, nos seus defeitos e virtudes; de outro lado, uma União Europeia que se alimenta da soberania e da extinção a alma patriótica dos povos europeus. De um lado, um país que quer ser soberano, independente, autónomo e auto-suficiente, para melhor poder decidir, sem interferências externas – qual ensinamento histórico – o seu futuro; do outro, uma União Europeia dependente dos EUA, que tenta copiar a superficial “cultura” neoliberal do consumismo, que celebra o “fim da história” e reforça a sua identidade através da supressão da identidade cultural, étnica e moral dos povos europeus.

Se a Rússia está orgulhosa da sua história e a celebra em cada oportunidade, tal como a Ucrânia; a União Europeia reescreve a sua própria história, a sua filosofia, a sua identidade. Esta União Europeia diaboliza o país que a salvou do terror nazi-fascista reescrevendo o seu passado, profanando os seus mortos, deturpando o seu pensamento e conspurcando os seus feitos. Em conformidade, a UE coloca, no seu lugar, uma crendice que diz que a URSS também começou a segunda guerra e que o comunismo é igual ao nazismo. E o mais grave é que ensinam tais disparates nas Universidades…. Faz lembrar o tempo em que na Universidade de Salamanca (a mais antiga da Península Ibérica), se ensinava que o mundo era uma placa com antípodas e que, por isso, era impossível viajar para baixo do equador.

Esta reescrita histórica entra também em contradição com uma Rússia que, mesmo capitalista, se afirma como antinazi e antifascista. Ao contrário, a EU, vê florescer partidos neofascistas no seu seio, alimentados, precisamente, pelo antagonismo anti russo, alimentado pelas dificuldades económicas resultantes do afastamento e do revanchismo histórico que culpa a Rússia de ser o que é e de ter perdido mais de vinte milhões dos seus filhos por isso. Ao mesmo tempo, esta EU convive e motiva o apoio a um regime supremacista, suportado por gangues neonazis, em Kiev e para o qual abre as suas fronteiras, contra a vontade dos seus povos. Ao dia de hoje, os agricultores Polacos ameaçam fechar todos os pontos de fronteira com a Ucrânia. A EU anti Russa é também uma europa em guerra consigo própria.

Tal como a Ucrânia, também a EU falhou em perceber quais eram as suas forças e fraquezas. Também a EU falhou em perceber que só existe, por causa da Rússia. Primeiro, contra a “Rússia” (leia-se URSS), como projecto político-ideológico anti-socialista; depois, através de uma relação simbiótica, desfrutando da estabilidade resultante do empate de forças que significava a guerra fria; mais tarde, recolhendo os frutos trazidos pelos ventos de aproximação da Rússia ao ocidente. Como um espaço anti Rússia, a União Europeia falha em perceber o essencial. É que, tal como com a Ucrânia, a forma de resolução do antagonismo, a síntese que resultará do mesmo, acabará, quase certamente, no seu próprio fim. Pelo menos, tal como é hoje. O que não deixará de ser épico!

Uma União Europeia que desconsidera – enquanto projecto globalista neoliberal – as soberanias nacionais, derrotada, precisamente, pela relação antagónica que desenvolve contra um país que prima, sobretudo, por defender a sua soberania nacional! E a NATO que cuide… Também ela partilha, com a EU, a mesma identidade, o mesmo pecado original! Um e outro são filhos do mesmo pai, os EUA, desejosos de violentar a mãe Rússia!

Existe algo mais premonitório e dialéctico do que isto?

A União Europeia diaboliza o país que a salvou do terror nazi-fascista reescrevendo o seu passado, profanando os seus mortos, deturpando o seu pensamento e conspurcando os seus feitos.

Junte-se a nós no Telegram Twitter  e VK .

Escreva para nós: info@strategic-culture.su

Segundo Syrsky, o novo comandante-em-chefe das tropas de Kiev, as vidas dos soldados ucranianos são o mais importante que o exército tem. Uma presunção que só foi assumida quando se tornou óbvio, para todos, que não existe qualquer possibilidade de vitória num combate directo com a Rússia.

Enquanto foi possível alimentar a ideia de que a “Ucrânia estava a ganhar à Rússia”, quando quem tinha a iniciativa – e nunca a perdeu – era, precisamente, a Rússia, as vidas dos soldados ucranianos de pouco valeram. Foram atirados homens – e algumas mulheres – às centenas de milhares, para trincheiras lamacentas, mal alimentados e com munições contadas, contra um oponente, ao qual, nunca faltou nada.

O facto é que, quando as forças ao serviço de Kiev tinham capacidade de combate – não confundir com “capacidade para ganhar” -, a comunicação oficial era a de “a Ucrânia estava a ganhar a guerra”; quando ficou evidente que o custo, de dar combate às forças russas, era tão elevado que não poderia ser mantido, os órgãos pró-Kiev, financiados pelas ONG’s do Tio Sam e fontes primárias da informação oficial ocidental, começaram a dizer “a Ucrânia não pode perder a guerra”; quando já não se podia esconder que a “contra-ofensiva” tinha falhado e com ela, as esperanças – fantasiosas – de uma vitória de Kiev, passámos à fase “Ucrânia e Rússia estão empatadas”.

A realidade ucraniana, sob o regime de Kiev, caracteriza-se por estar sempre em contradição directa com a realidade russa e, coincidentemente, com a realidade concreta observável. Daí que, a relação entre as duas realidades constitua um exemplo dialéctico inestimável e valioso do ponto de vista pedagógico.

Enquanto viveu com a Rússia, a Ucrânia tornou-se uma das maiores potências mundiais. Não existe, nem nunca existiu, uma Ucrânia de sucesso, sem uma Rússia do seu lado. Vladimir Putin não mentiu sobre o facto de a Rússia ter sempre ajudado a Ucrânia. Para os que não sabem, não foi por qualquer tipo de aventureirismo que o Donbass foi anexado à República Socialista Soviética da Ucrânia. Em 1917 a Ucrânia era uma região eminentemente rural e desindustrializada do império russo, daí que, em 1918, para garantir condições de desenvolvimento ao território e, por essa via, um desenvolvimento mais harmonioso do nascente estado soviético, o Donbass passou a integrar a RSSU, como forma de garantir o progresso da pátria recém-formada.

Verdade é que, em 1991, a Ucrânia tinha mais de 50 milhões de habitantes, um dos maiores exércitos da europa (talvez o segundo maior), um complexo militar-industrial invejável, uma população altamente qualificada, talentosa e produtiva, capaz de se revelar em todos os aspectos da vida humana, das artes à ciência, da agricultura ao desporto.

Depois de sobreviver a muitas tensões impostas, a partir do exterior e introduzidas pelos suspeitos de sempre, em 2004-2005, a Revolução Laranja, acelera o processo de criação de uma anti Rússia. A ideia não era nova e já tinha passado pelas cabeças de gente ligada ao Império Austro-Húngaro e não só. Daí que, dessa data em diante, a relação de forças entre povos, russófonos e russófilos, e os povos tornados “russófobos” começou a inverter-se e, paulatinamente, as forças anti Rússia começaram a infectar todo o território, conquistando, progressivamente, novos bastiões, da periferia da Galícia, para o centro de Kiev.

A partir de então, começou a desenhar-se aquela que seria a “solução” importada para preencher a falta de identidade nacional da Ucrânia. Como país que nunca tinha existido até 1918, e apenas totalmente independente, em 1991, para garantir a sua existência, a Ucrânia tinha de criar uma identidade nacional. Coisa nada fácil num país construído a régua e esquadro em sucessivas vagas de anexação. A “escolha” induzida passou por tornar a Ucrânia numa “anti Rússia”. Tudo o que a Rússia seria, a Ucrânia teria de ser ao contrário.

Está bom de ver que essa “escolha” teria de ser induzida, uma vez que, tratando-se de um país com a mesma língua, ou com línguas com a mesma raiz (para os que separam o “Ucraniano” do “Russo”), com a mesma religião, cultura e passado nacional, a escolha natural nunca passaria pelo antagonismo, pois um e outro prosperaram em relação simbiótica. E tal relação foi mutuamente frutífera até ao momento em que a Rússia tudo fez para se livrar do domínio dos EUA, nos terríveis anos 90, e a Ucrânia, tudo fez, para se integrar debaixo da alçada dos EUA, a partir, principalmente, de 2004. A sucessão cronológica não deixa dúvidas: a Rússia livra-se da tutela americana durante o final dos 90’s e inícios dos 2000’s, a Ucrânia abraça-a, a partir de 2004.

Introduzido esse antagonismo através da instalação de um regime cliente dos EUA, primeiro de forma inconstitucional (com a Revolução Laranja) e depois golpista (com o EuroMaidan), tudo o que a Rússia é e luta para ser, a Ucrânia passou a não querer ser, nem que para tal, tivesse de rasgar a própria carne. A sua identidade nacional passou a definir-se pela antagonização directa e frontal do vizinho russo. Se a Rússia é um país orgulhoso da sua história e passado; a Ucrânia passaria a desconsiderar, apagar, reescrever e perseguir todos o que honram a sua história. Este facto é bem visível na tal “descomunização”, a qual, em última instância, só poderia levar à extinção da nação Ucraniana. Tendo sido criada pelos bolcheviques, retirar a identidade “comunista” ao passado ucraniano, significaria – e significou – acabar com a Ucrânia como ela era: multiétnica, cosmopolita, multinacional até (tem muitos cidadãos com dupla nacionalidade russa, húngara ou romena). Se a Rússia abraça a sua história para existir como é; a Ucrânia, comandada pelo regime de Kiev, apaga a sua história, para negar o que verdadeiramente seria.

Se a Federação Russa é um país pluriétnico, plurinacional, orgulhoso dessa diversidade e considerando-a uma vantagem; o regime de Kiev tornaria a Ucrânia num país “purificado”, com uma constituição supremacista, perseguindo os povos que insistem em manter as suas línguas originárias, religião e costumes. O resultado foi uma perseguição a todas as forças políticas da esquerda e centro-esquerda, tidas como pró-russas (que conveniente!!), à religião ortodoxa russa, à língua russa e ao passado histórico, sob o império russo e a URSS. O único que tinha! Tudo o que ligasse a Ucrânia à Rússia, teria, pura e simplesmente, de desaparecer. Como não ver que, tal apagamento só poderia levar à perda de uma parte do território? Para começar? Algum país sobrevive, intacto, a tal antagonismo? Um país se história, que futuro poderá ter?

Se a Rússia não era NATO, nem EU – não por não querer; a Ucrânia teria de ser muito NATO e ainda mais EU. Se a Rússia, tudo o que queria, era estar em paz com os seus vizinhos, para que os negócios pudessem continuar a fluir para oriente e ocidente; a Ucrânia, nascida das entranhas da Galícia, teria de estar em guerra com a Rússia. E estar em guerra com a Rússia, começou por significar “guerra com os povos russófonos e russófilos”. Ou seja, entre falantes de russo e simpatizantes ou tolerantes da presença histórica russa, a Ucrânia, enquanto cliente do ocidente, entrou numa guerra intestina com as suas próprias entranhas, partindo-se em cacos. Como não poderia deixar de ser.

Face à desproporção de forças, sejam elas as forças físicas, como a população, capacidade militar, industrial ou económica, sejam as forças mais espirituais, ligadas à identidade histórica e profundidade da alma patriótica e nacional (a Ucrânia desiste da pouca que tinha), estava bom de ver onde levava esta antagonismo. Se a Rússia era o “ser”; a Ucrânia, comandada pelo regime de Kiev, passou a ser a “antítese”; e qual seria a “síntese” possível? Soubessem os povos da Ucrânia, os que embarcaram neste revisionismo histórico da sua nação, que as “sínteses”, resultantes dos antagonismos dialécticos, resultam, muitas vezes, na eliminação de uma das forças em confronto, e será que aceitariam, de bom grado, tal processo? E tê-lo-ão aceite? Se o tivessem aceitado, digo eu, nem Zelensky teria mentido quando prometeu a paz, nem os EUA teriam necessidade de esconder que boicotaram os acordos de Minsk e o acordo de Istambul, nem agora, Zelensky teria adiado as eleições presidenciais. Resultado, até na sua essência, esta escolha anti Russa é antagónica e contraditória.

Apenas quem andasse absolutamente alienado pelas promessas de Fukuyama, e do seu “fim da história”, é que poderia considerar uma “síntese” que resultasse numa eliminação da Rússia. Apenas quem não conhecesse a história russa, europeia e os seus aspectos identitários e patrióticos, poderia considerar que, o papel de antagonismo anti Rússia, que Kiev representa, teria forças para eliminar aquele que é um dos três países mais bem armados do mundo.

Mas desengane-se quem pensar que o antagonismo anti-russo apenas poderá levar à eliminação física da Ucrânia, mesmo apenas que parcial. É que a relação União Europeia – Rússia também padece dos mesmos males e potencialidades destrutivas. Neste sentido, até podemos falar da Ucrânia como um alter-ego da União Europeia.

Foi em paz com a URSS – primeiro – e com a Rússia – depois – que a União Europeia nasceu, cresceu e prosperou. Sem essa paz, nunca a União Europeia teria sido capaz de produzir os recursos económicos para se expandir, para mais, à custa do pagamento de “fundos estruturais” a países candidatos e recém aderentes.

Uma União Europeia, em guerra com a Rússia, mesmo que uma guerra fria, levaria a uma existência marcada pelo militarismo, pela tensão, pelo fechamento e pela perda de elasticidade em matéria democrática e de liberdade individual, ou colectiva. O resultado teria sido uma União Europeia em convulsão, sem estado social que pudesse alimentar uma classe “média” que sustentasse os poderosos mercados internos, sob os quais se construiu o seu potencial industrial.

Foi isto que viram os dirigentes alemães (e não só) quando criaram o pipeline Druzba (amizade) e quando, mais tarde, construíram o Yamal. O florescimento das economias europeias, foi feito, em parte substancial, à custa de gás, petróleo, urânio, combustíveis, lubrificantes, minerais e cereais, em quantidade e qualidade, a preços convenientes, fruto de acordos de longa duração. Sem esse “alimento vital” não teria havido eixo franco-alemão que produzisse os recursos necessários à “política de coesão” e “alargamento”. É interessante verificar que este crescimento é produzido numa realidade em que os países bálticos – também ricos e desenvolvidos – mantinham posição neutral com a URSS e, mais tarde, com a Rússia. Posição essa que foi, recentemente, trocada pelo antagonismo frontal.

Assim, podemos também dizer que, enquanto a relação foi simbiótica, todos fruíram, talvez, até, com mais prejuízo para a própria Rússia, a qual foi sempre ficando um pouco para trás, “agarrada” a uma economia de exportação de produtos de baixo valor acrescentado, perdendo o espaço soviético, primeiro, e a sua economia depois, de que viria a recuperar a partir do início do presente século.

E foi, talvez, esta justa vontade de assumir a sua identidade histórica, que produziu, no lado europeu – e especialmente americano – o antagonismo que hoje conhecemos. Se a guerra fria começa com a URSS a demonstrar a sua capacidade de defesa, industrial e tecnológica perante um ocidente cobiçoso do seu território e recursos, o antagonismo anti Russo recria-se, na europa ocidental, a partir do momento em que o país governado com autoridade e inquestionável comando, por Vladimir Putin, começou a mostrar capacidade de recuperação de toda a sua dimensão histórica.

É que, uma vez mais, as forças antagónicas são de tal modo opostas que só poderiam produzir o que hoje constatamos. De um lado, uma vez mais, um país orgulhoso da sua história, um povo que celebra os seus heróis, nos seus defeitos e virtudes; de outro lado, uma União Europeia que se alimenta da soberania e da extinção a alma patriótica dos povos europeus. De um lado, um país que quer ser soberano, independente, autónomo e auto-suficiente, para melhor poder decidir, sem interferências externas – qual ensinamento histórico – o seu futuro; do outro, uma União Europeia dependente dos EUA, que tenta copiar a superficial “cultura” neoliberal do consumismo, que celebra o “fim da história” e reforça a sua identidade através da supressão da identidade cultural, étnica e moral dos povos europeus.

Se a Rússia está orgulhosa da sua história e a celebra em cada oportunidade, tal como a Ucrânia; a União Europeia reescreve a sua própria história, a sua filosofia, a sua identidade. Esta União Europeia diaboliza o país que a salvou do terror nazi-fascista reescrevendo o seu passado, profanando os seus mortos, deturpando o seu pensamento e conspurcando os seus feitos. Em conformidade, a UE coloca, no seu lugar, uma crendice que diz que a URSS também começou a segunda guerra e que o comunismo é igual ao nazismo. E o mais grave é que ensinam tais disparates nas Universidades…. Faz lembrar o tempo em que na Universidade de Salamanca (a mais antiga da Península Ibérica), se ensinava que o mundo era uma placa com antípodas e que, por isso, era impossível viajar para baixo do equador.

Esta reescrita histórica entra também em contradição com uma Rússia que, mesmo capitalista, se afirma como antinazi e antifascista. Ao contrário, a EU, vê florescer partidos neofascistas no seu seio, alimentados, precisamente, pelo antagonismo anti russo, alimentado pelas dificuldades económicas resultantes do afastamento e do revanchismo histórico que culpa a Rússia de ser o que é e de ter perdido mais de vinte milhões dos seus filhos por isso. Ao mesmo tempo, esta EU convive e motiva o apoio a um regime supremacista, suportado por gangues neonazis, em Kiev e para o qual abre as suas fronteiras, contra a vontade dos seus povos. Ao dia de hoje, os agricultores Polacos ameaçam fechar todos os pontos de fronteira com a Ucrânia. A EU anti Russa é também uma europa em guerra consigo própria.

Tal como a Ucrânia, também a EU falhou em perceber quais eram as suas forças e fraquezas. Também a EU falhou em perceber que só existe, por causa da Rússia. Primeiro, contra a “Rússia” (leia-se URSS), como projecto político-ideológico anti-socialista; depois, através de uma relação simbiótica, desfrutando da estabilidade resultante do empate de forças que significava a guerra fria; mais tarde, recolhendo os frutos trazidos pelos ventos de aproximação da Rússia ao ocidente. Como um espaço anti Rússia, a União Europeia falha em perceber o essencial. É que, tal como com a Ucrânia, a forma de resolução do antagonismo, a síntese que resultará do mesmo, acabará, quase certamente, no seu próprio fim. Pelo menos, tal como é hoje. O que não deixará de ser épico!

Uma União Europeia que desconsidera – enquanto projecto globalista neoliberal – as soberanias nacionais, derrotada, precisamente, pela relação antagónica que desenvolve contra um país que prima, sobretudo, por defender a sua soberania nacional! E a NATO que cuide… Também ela partilha, com a EU, a mesma identidade, o mesmo pecado original! Um e outro são filhos do mesmo pai, os EUA, desejosos de violentar a mãe Rússia!

Existe algo mais premonitório e dialéctico do que isto?

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