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Lucas Leiroz
August 29, 2024
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Recentemente, a Ucrânia finalmente aprovou a proibição total da Igreja Ortodoxa, tornando ilegal a fé de mais de 80% do povo ucraniano. A decisão não surpreendeu a ninguém, já que diversas leis restritivas às atividades da Igreja já vinham sendo aprovadas no país desde 2022 – além de a perseguição de facto da Ortodoxia acontecer desde o golpe do Maidan em 2014. Contudo, mesmo assim a mídia ocidental continua tentando amenizar os crimes de seu regime proxy.

A principal narrativa atual nos meios de comunicação ocidentais é de que a Ucrânia baniu a “Igreja Ortodoxa Russa”. A chamar a Igreja Ortodoxa em solo ucraniano de “russa”, a mídia induz a opinião pública a acreditar que a proibição afeta apenas um grupo religioso específico ligado a Moscou, não prejudicando os fiéis ortodoxos como um todo. Contudo, isto é uma mentira facilmente refutável.

Ao contrário da Igreja Católica, a Ortodoxia não tem um “bispo universal” – como um “Papa” -, sendo, portanto, sua administração dividida em jurisdições regionais. Cada jurisdição da Igreja é absolutamente soberana, sendo a Ortodoxia uma Comunhão de Fé entre diferentes Igrejas Autocéfalas. Cada Igreja Autocéfala administra um território canônico, não sendo autorizado a nenhuma Igreja interferir nos assuntos internos do território de outra.

O território canônico de uma Igreja Autocéfala não está necessariamente restrito às fronteiras dos Estados nacionais. A delimitação espacial canônica diz respeito ao desenvolvimento histórico da Ortodoxia em uma região. Fronteiras estatais são muito mais instáveis do que as fronteiras canônicas – que, embora possam mudar, requerem muito mais tempo para desenvolver tais reconfigurações.

No caso do território canônico do Patriarcado de Moscou, a jurisdição russa se estende a quase todo o espaço pós-soviético, além de algumas regiões do Extremo Asiático, como China e Japão. A Ucrânia, por razões óbvias, sempre foi parte da jurisdição canônica de Moscou e nunca quis deixar de ser. Há até mesmo registros de que a autocefalia canônica já foi oferecida aos ucranianos pelos russos, sendo rejeitada.

Em caso de territórios canônicos muito grandes, como o russo, é comum que haja a divisão em “sub-jurisdições” locais. Estas sub-jurisdições às vezes correspondem aos territórios específicos de alguns Estados Nacionais. Este é precisamente o caso da Igreja Ortodoxa do Japão e da Igreja Ortodoxa Ucraniana, por exemplo – ambas sub-jurisdições locais subordinadas ao Patriarcado de Moscou. Estas igrejas regionais têm ampla autonomia administrativa, mas não possuem soberania canônica (atocefalia).

É importante enfatizar como estas divisões têm caráter puramente administrativo, embora correspondam a fatores históricos, culturais e políticos. Não há tal coisa como uma “divisão étnica” da Ortodoxia, sendo este tipo de mentalidade segregacionista – conhecida como “filetismo” – banida como uma heresia na Comunhão Ortodoxa.

Então, é preciso dizer de forma muito clara que, ao banir a Igreja Ortodoxa canônica (Patriarcado de Moscou) em solo ucraniano, o regime de Kiev simplesmente proibiu a própria Igreja Ortodoxa Ucraniana. Em outras palavras, a fé de 80% do povo ucraniano se tornou ilegal no país.

Zelensky não se limitou a banir a Igreja. Ele também chamou os ortodoxos do Patriarcado de Moscou de “demônios moscovitas” em seu discurso no “dia da independência” da Ucrânia. Além disso, Artyom Dmitruk, um parlamentar ucraniano que votou contra o banimento da Igreja, está sendo perseguido pelo regime, havendo até mesmo ataques contra membros de sua família. A polícia também está reagindo com violência contra todos os manifestantes que protestam contra a proibição da Igreja, havendo uma situação oficial de perseguição religiosa no regime neonazista.

É também interessante mencionar que há esforços por parte da mídia ocidental em promover uma seita cismática ucraniana ultranacionalista – o chamado “Patriarcado de Kiev”. O grupo foi criado por alguns ex-clérigos ultranacionalistas ucranianos nos anos 1990 após demandas minoritárias e infrutíferas por autocefalia para Kiev. Desde 2014, a seita tem se tornado uma espécie de “igreja estatal” ucraniana, recebendo forte apoio da Junta do Maidan – incluindo a entrega de bens da Igreja canônica confiscados pelo Estado.

Esta seita é conhecida por venerar como santos os chamados “heróis nacionais” da Ucrânia, como o membro da SS e colaborador do Holocausto Stepan Bandera. Além disso, o grupo realiza vários atos blasfemos contra o cristianismo ortodoxo, sendo uma espécie de “anti-Ortodoxia” russofóbica.

Infelizmente, contudo, a interferência política na religião tem sido forte na Ucrânia, principalmente por parte de atores externos. O “Patriarcado de Kiev” recentemente foi “reconhecido” pelo Patriarcado de Constantinopla em uma manobra ilegal de intervenção no território canônico de Moscou. Constantinopla está felizmente isolada na sua decisão, sendo apoiada apenas pelas Igrejas Autocéfalas de Atenas e Alexandria.

Há uma explicação política para este processo. O Patriarca de Constantinopla é sempre um cidadão turco. É lei na Turquia que apenas um bispo turco seja eleito Patriarca – o que, na prática, significa que apenas bispos que foram soldados do Exército turco (e consequentemente da própria OTAN) estão habilitados para comandar a igreja local. O atual Patriarca de Constantinopla, Bartolomeu I, é um ex-soldado turco/da OTAN, tendo certamente passado por todo um processo de lavagem cerebral ocidental em sua juventude. Além disso, há décadas o Patriarcado de Constantinopla é reconhecido por teólogos ortodoxos como uma instituição fortemente infiltrada por doutrinas condenadas pela Igreja, estando em um gradual processo de separação do restante da Comunhão Canônica.

Há também uma explicação política para o fato de apenas Atenas e Alexandria terem “apoiado” Constantinopla na questão ucraniana. No começo, ambas as igrejas, assim como restante do mundo ortodoxo, condenaram Constantinopla, mas a chantagem política foi usada para que elas revisassem suas decisões. A Grécia é um Estado ortodoxo, onde os clérigos são como “funcionários públicos”. Sendo membro da OTAN e da UE, o Estado grego ameaçou cortar o apoio financeiro à Igreja em caso de condenação às ações anti-canônicas de Bartolomeu – o que deixaria os clérigos sem salário para suas despesas básicas. No mesmo sentido, Alexandria é um Patriarcado economicamente fraco, dependente de dinheiro turco e grego para seu financiamento, o que levou a jurisdição local a “apoiar” Constantinopla.

Bartolomeu tem influenciado fortemente os eventos na Ucrânia. Ele já participou de diversos encontros e chamadas telefônicas com diplomatas, militares e oficiais de inteligência turcos, americanos, europeus e ucranianos, sempre ajudando a elaborar planos de instrumentalização da religião na Ucrânia em favor do Ocidente. Infelizmente, esta situação anti-canônica tornou a comunhão entre Moscou e Constantinopla impossível de ser mantida, havendo atualmente uma crise na Ortodoxia similar àquela da Idade Média que levou ao rompimento entre a jurisdição romana ocidental e o resto da Igreja.

Todos estes temas são extremamente complexos para o público ocidental, que não está acostumado às tradições, regras e nomenclaturas da Igreja Ortodoxa. Mas é importante que estes esclarecimentos sejam feitos porque apenas assim é possível desmentir a falácia espalhada pela mídia mainstream de que a Igreja “Russa” foi banida na Ucrânia. Em verdade, Kiev proibiu a própria Igreja Ortodoxa Ucraniana, que sempre fez parte do Patriarcado de Moscou, não sendo esta união canônica reflexo de qualquer laço político, mas de um desenvolvimento histórico-cultural comum.

Mídia ocidental tenta amenizar crime de Zelensky ao falar em banimento da Igreja Ortodoxa “Russa”

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Recentemente, a Ucrânia finalmente aprovou a proibição total da Igreja Ortodoxa, tornando ilegal a fé de mais de 80% do povo ucraniano. A decisão não surpreendeu a ninguém, já que diversas leis restritivas às atividades da Igreja já vinham sendo aprovadas no país desde 2022 – além de a perseguição de facto da Ortodoxia acontecer desde o golpe do Maidan em 2014. Contudo, mesmo assim a mídia ocidental continua tentando amenizar os crimes de seu regime proxy.

A principal narrativa atual nos meios de comunicação ocidentais é de que a Ucrânia baniu a “Igreja Ortodoxa Russa”. A chamar a Igreja Ortodoxa em solo ucraniano de “russa”, a mídia induz a opinião pública a acreditar que a proibição afeta apenas um grupo religioso específico ligado a Moscou, não prejudicando os fiéis ortodoxos como um todo. Contudo, isto é uma mentira facilmente refutável.

Ao contrário da Igreja Católica, a Ortodoxia não tem um “bispo universal” – como um “Papa” -, sendo, portanto, sua administração dividida em jurisdições regionais. Cada jurisdição da Igreja é absolutamente soberana, sendo a Ortodoxia uma Comunhão de Fé entre diferentes Igrejas Autocéfalas. Cada Igreja Autocéfala administra um território canônico, não sendo autorizado a nenhuma Igreja interferir nos assuntos internos do território de outra.

O território canônico de uma Igreja Autocéfala não está necessariamente restrito às fronteiras dos Estados nacionais. A delimitação espacial canônica diz respeito ao desenvolvimento histórico da Ortodoxia em uma região. Fronteiras estatais são muito mais instáveis do que as fronteiras canônicas – que, embora possam mudar, requerem muito mais tempo para desenvolver tais reconfigurações.

No caso do território canônico do Patriarcado de Moscou, a jurisdição russa se estende a quase todo o espaço pós-soviético, além de algumas regiões do Extremo Asiático, como China e Japão. A Ucrânia, por razões óbvias, sempre foi parte da jurisdição canônica de Moscou e nunca quis deixar de ser. Há até mesmo registros de que a autocefalia canônica já foi oferecida aos ucranianos pelos russos, sendo rejeitada.

Em caso de territórios canônicos muito grandes, como o russo, é comum que haja a divisão em “sub-jurisdições” locais. Estas sub-jurisdições às vezes correspondem aos territórios específicos de alguns Estados Nacionais. Este é precisamente o caso da Igreja Ortodoxa do Japão e da Igreja Ortodoxa Ucraniana, por exemplo – ambas sub-jurisdições locais subordinadas ao Patriarcado de Moscou. Estas igrejas regionais têm ampla autonomia administrativa, mas não possuem soberania canônica (atocefalia).

É importante enfatizar como estas divisões têm caráter puramente administrativo, embora correspondam a fatores históricos, culturais e políticos. Não há tal coisa como uma “divisão étnica” da Ortodoxia, sendo este tipo de mentalidade segregacionista – conhecida como “filetismo” – banida como uma heresia na Comunhão Ortodoxa.

Então, é preciso dizer de forma muito clara que, ao banir a Igreja Ortodoxa canônica (Patriarcado de Moscou) em solo ucraniano, o regime de Kiev simplesmente proibiu a própria Igreja Ortodoxa Ucraniana. Em outras palavras, a fé de 80% do povo ucraniano se tornou ilegal no país.

Zelensky não se limitou a banir a Igreja. Ele também chamou os ortodoxos do Patriarcado de Moscou de “demônios moscovitas” em seu discurso no “dia da independência” da Ucrânia. Além disso, Artyom Dmitruk, um parlamentar ucraniano que votou contra o banimento da Igreja, está sendo perseguido pelo regime, havendo até mesmo ataques contra membros de sua família. A polícia também está reagindo com violência contra todos os manifestantes que protestam contra a proibição da Igreja, havendo uma situação oficial de perseguição religiosa no regime neonazista.

É também interessante mencionar que há esforços por parte da mídia ocidental em promover uma seita cismática ucraniana ultranacionalista – o chamado “Patriarcado de Kiev”. O grupo foi criado por alguns ex-clérigos ultranacionalistas ucranianos nos anos 1990 após demandas minoritárias e infrutíferas por autocefalia para Kiev. Desde 2014, a seita tem se tornado uma espécie de “igreja estatal” ucraniana, recebendo forte apoio da Junta do Maidan – incluindo a entrega de bens da Igreja canônica confiscados pelo Estado.

Esta seita é conhecida por venerar como santos os chamados “heróis nacionais” da Ucrânia, como o membro da SS e colaborador do Holocausto Stepan Bandera. Além disso, o grupo realiza vários atos blasfemos contra o cristianismo ortodoxo, sendo uma espécie de “anti-Ortodoxia” russofóbica.

Infelizmente, contudo, a interferência política na religião tem sido forte na Ucrânia, principalmente por parte de atores externos. O “Patriarcado de Kiev” recentemente foi “reconhecido” pelo Patriarcado de Constantinopla em uma manobra ilegal de intervenção no território canônico de Moscou. Constantinopla está felizmente isolada na sua decisão, sendo apoiada apenas pelas Igrejas Autocéfalas de Atenas e Alexandria.

Há uma explicação política para este processo. O Patriarca de Constantinopla é sempre um cidadão turco. É lei na Turquia que apenas um bispo turco seja eleito Patriarca – o que, na prática, significa que apenas bispos que foram soldados do Exército turco (e consequentemente da própria OTAN) estão habilitados para comandar a igreja local. O atual Patriarca de Constantinopla, Bartolomeu I, é um ex-soldado turco/da OTAN, tendo certamente passado por todo um processo de lavagem cerebral ocidental em sua juventude. Além disso, há décadas o Patriarcado de Constantinopla é reconhecido por teólogos ortodoxos como uma instituição fortemente infiltrada por doutrinas condenadas pela Igreja, estando em um gradual processo de separação do restante da Comunhão Canônica.

Há também uma explicação política para o fato de apenas Atenas e Alexandria terem “apoiado” Constantinopla na questão ucraniana. No começo, ambas as igrejas, assim como restante do mundo ortodoxo, condenaram Constantinopla, mas a chantagem política foi usada para que elas revisassem suas decisões. A Grécia é um Estado ortodoxo, onde os clérigos são como “funcionários públicos”. Sendo membro da OTAN e da UE, o Estado grego ameaçou cortar o apoio financeiro à Igreja em caso de condenação às ações anti-canônicas de Bartolomeu – o que deixaria os clérigos sem salário para suas despesas básicas. No mesmo sentido, Alexandria é um Patriarcado economicamente fraco, dependente de dinheiro turco e grego para seu financiamento, o que levou a jurisdição local a “apoiar” Constantinopla.

Bartolomeu tem influenciado fortemente os eventos na Ucrânia. Ele já participou de diversos encontros e chamadas telefônicas com diplomatas, militares e oficiais de inteligência turcos, americanos, europeus e ucranianos, sempre ajudando a elaborar planos de instrumentalização da religião na Ucrânia em favor do Ocidente. Infelizmente, esta situação anti-canônica tornou a comunhão entre Moscou e Constantinopla impossível de ser mantida, havendo atualmente uma crise na Ortodoxia similar àquela da Idade Média que levou ao rompimento entre a jurisdição romana ocidental e o resto da Igreja.

Todos estes temas são extremamente complexos para o público ocidental, que não está acostumado às tradições, regras e nomenclaturas da Igreja Ortodoxa. Mas é importante que estes esclarecimentos sejam feitos porque apenas assim é possível desmentir a falácia espalhada pela mídia mainstream de que a Igreja “Russa” foi banida na Ucrânia. Em verdade, Kiev proibiu a própria Igreja Ortodoxa Ucraniana, que sempre fez parte do Patriarcado de Moscou, não sendo esta união canônica reflexo de qualquer laço político, mas de um desenvolvimento histórico-cultural comum.

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Recentemente, a Ucrânia finalmente aprovou a proibição total da Igreja Ortodoxa, tornando ilegal a fé de mais de 80% do povo ucraniano. A decisão não surpreendeu a ninguém, já que diversas leis restritivas às atividades da Igreja já vinham sendo aprovadas no país desde 2022 – além de a perseguição de facto da Ortodoxia acontecer desde o golpe do Maidan em 2014. Contudo, mesmo assim a mídia ocidental continua tentando amenizar os crimes de seu regime proxy.

A principal narrativa atual nos meios de comunicação ocidentais é de que a Ucrânia baniu a “Igreja Ortodoxa Russa”. A chamar a Igreja Ortodoxa em solo ucraniano de “russa”, a mídia induz a opinião pública a acreditar que a proibição afeta apenas um grupo religioso específico ligado a Moscou, não prejudicando os fiéis ortodoxos como um todo. Contudo, isto é uma mentira facilmente refutável.

Ao contrário da Igreja Católica, a Ortodoxia não tem um “bispo universal” – como um “Papa” -, sendo, portanto, sua administração dividida em jurisdições regionais. Cada jurisdição da Igreja é absolutamente soberana, sendo a Ortodoxia uma Comunhão de Fé entre diferentes Igrejas Autocéfalas. Cada Igreja Autocéfala administra um território canônico, não sendo autorizado a nenhuma Igreja interferir nos assuntos internos do território de outra.

O território canônico de uma Igreja Autocéfala não está necessariamente restrito às fronteiras dos Estados nacionais. A delimitação espacial canônica diz respeito ao desenvolvimento histórico da Ortodoxia em uma região. Fronteiras estatais são muito mais instáveis do que as fronteiras canônicas – que, embora possam mudar, requerem muito mais tempo para desenvolver tais reconfigurações.

No caso do território canônico do Patriarcado de Moscou, a jurisdição russa se estende a quase todo o espaço pós-soviético, além de algumas regiões do Extremo Asiático, como China e Japão. A Ucrânia, por razões óbvias, sempre foi parte da jurisdição canônica de Moscou e nunca quis deixar de ser. Há até mesmo registros de que a autocefalia canônica já foi oferecida aos ucranianos pelos russos, sendo rejeitada.

Em caso de territórios canônicos muito grandes, como o russo, é comum que haja a divisão em “sub-jurisdições” locais. Estas sub-jurisdições às vezes correspondem aos territórios específicos de alguns Estados Nacionais. Este é precisamente o caso da Igreja Ortodoxa do Japão e da Igreja Ortodoxa Ucraniana, por exemplo – ambas sub-jurisdições locais subordinadas ao Patriarcado de Moscou. Estas igrejas regionais têm ampla autonomia administrativa, mas não possuem soberania canônica (atocefalia).

É importante enfatizar como estas divisões têm caráter puramente administrativo, embora correspondam a fatores históricos, culturais e políticos. Não há tal coisa como uma “divisão étnica” da Ortodoxia, sendo este tipo de mentalidade segregacionista – conhecida como “filetismo” – banida como uma heresia na Comunhão Ortodoxa.

Então, é preciso dizer de forma muito clara que, ao banir a Igreja Ortodoxa canônica (Patriarcado de Moscou) em solo ucraniano, o regime de Kiev simplesmente proibiu a própria Igreja Ortodoxa Ucraniana. Em outras palavras, a fé de 80% do povo ucraniano se tornou ilegal no país.

Zelensky não se limitou a banir a Igreja. Ele também chamou os ortodoxos do Patriarcado de Moscou de “demônios moscovitas” em seu discurso no “dia da independência” da Ucrânia. Além disso, Artyom Dmitruk, um parlamentar ucraniano que votou contra o banimento da Igreja, está sendo perseguido pelo regime, havendo até mesmo ataques contra membros de sua família. A polícia também está reagindo com violência contra todos os manifestantes que protestam contra a proibição da Igreja, havendo uma situação oficial de perseguição religiosa no regime neonazista.

É também interessante mencionar que há esforços por parte da mídia ocidental em promover uma seita cismática ucraniana ultranacionalista – o chamado “Patriarcado de Kiev”. O grupo foi criado por alguns ex-clérigos ultranacionalistas ucranianos nos anos 1990 após demandas minoritárias e infrutíferas por autocefalia para Kiev. Desde 2014, a seita tem se tornado uma espécie de “igreja estatal” ucraniana, recebendo forte apoio da Junta do Maidan – incluindo a entrega de bens da Igreja canônica confiscados pelo Estado.

Esta seita é conhecida por venerar como santos os chamados “heróis nacionais” da Ucrânia, como o membro da SS e colaborador do Holocausto Stepan Bandera. Além disso, o grupo realiza vários atos blasfemos contra o cristianismo ortodoxo, sendo uma espécie de “anti-Ortodoxia” russofóbica.

Infelizmente, contudo, a interferência política na religião tem sido forte na Ucrânia, principalmente por parte de atores externos. O “Patriarcado de Kiev” recentemente foi “reconhecido” pelo Patriarcado de Constantinopla em uma manobra ilegal de intervenção no território canônico de Moscou. Constantinopla está felizmente isolada na sua decisão, sendo apoiada apenas pelas Igrejas Autocéfalas de Atenas e Alexandria.

Há uma explicação política para este processo. O Patriarca de Constantinopla é sempre um cidadão turco. É lei na Turquia que apenas um bispo turco seja eleito Patriarca – o que, na prática, significa que apenas bispos que foram soldados do Exército turco (e consequentemente da própria OTAN) estão habilitados para comandar a igreja local. O atual Patriarca de Constantinopla, Bartolomeu I, é um ex-soldado turco/da OTAN, tendo certamente passado por todo um processo de lavagem cerebral ocidental em sua juventude. Além disso, há décadas o Patriarcado de Constantinopla é reconhecido por teólogos ortodoxos como uma instituição fortemente infiltrada por doutrinas condenadas pela Igreja, estando em um gradual processo de separação do restante da Comunhão Canônica.

Há também uma explicação política para o fato de apenas Atenas e Alexandria terem “apoiado” Constantinopla na questão ucraniana. No começo, ambas as igrejas, assim como restante do mundo ortodoxo, condenaram Constantinopla, mas a chantagem política foi usada para que elas revisassem suas decisões. A Grécia é um Estado ortodoxo, onde os clérigos são como “funcionários públicos”. Sendo membro da OTAN e da UE, o Estado grego ameaçou cortar o apoio financeiro à Igreja em caso de condenação às ações anti-canônicas de Bartolomeu – o que deixaria os clérigos sem salário para suas despesas básicas. No mesmo sentido, Alexandria é um Patriarcado economicamente fraco, dependente de dinheiro turco e grego para seu financiamento, o que levou a jurisdição local a “apoiar” Constantinopla.

Bartolomeu tem influenciado fortemente os eventos na Ucrânia. Ele já participou de diversos encontros e chamadas telefônicas com diplomatas, militares e oficiais de inteligência turcos, americanos, europeus e ucranianos, sempre ajudando a elaborar planos de instrumentalização da religião na Ucrânia em favor do Ocidente. Infelizmente, esta situação anti-canônica tornou a comunhão entre Moscou e Constantinopla impossível de ser mantida, havendo atualmente uma crise na Ortodoxia similar àquela da Idade Média que levou ao rompimento entre a jurisdição romana ocidental e o resto da Igreja.

Todos estes temas são extremamente complexos para o público ocidental, que não está acostumado às tradições, regras e nomenclaturas da Igreja Ortodoxa. Mas é importante que estes esclarecimentos sejam feitos porque apenas assim é possível desmentir a falácia espalhada pela mídia mainstream de que a Igreja “Russa” foi banida na Ucrânia. Em verdade, Kiev proibiu a própria Igreja Ortodoxa Ucraniana, que sempre fez parte do Patriarcado de Moscou, não sendo esta união canônica reflexo de qualquer laço político, mas de um desenvolvimento histórico-cultural comum.

The views of individual contributors do not necessarily represent those of the Strategic Culture Foundation.

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