Português
Raphael Machado
February 28, 2025
© Photo: Public domain

Escreva para nós: info@strategic-culture.su

A Cúpula dos BRICS para o ano de 2025 será realizada no Brasil, para onde o evento retorna pela primeira vez desde 2019, quando ela foi organizada em Brasília. Agora, em 2025, a cúpula será realizada no Rio de Janeiro, antiga capital do país e, ainda hoje, a cidade brasileira mais conhecida (e admirada) ao redor do mundo.

E trata-se de mais uma cúpula dos BRICS que se celebra sob a sombra de uma tensa transição geopolítica entre o momento unipolar e uma possível ordem mundial multipolar. É precisamente por isso que as cúpulas de 2022 em diante tornaram-se as mais importantes da história dos BRICS, porque se em cúpulas anteriores os participantes discutiam detalhes sobre investimentos e logística, agora está em discussão o redesenho das instituições mundiais, a construção de alternativas ao dólar e aos sistemas de pagamentos ocidentais, bem como inúmeras iniciativa culturais para promover a multipolaridade.

É evidente, porém, que alguns dos países dos BRICS estão mais engajados nessas mudanças do que outros. Se já tomarmos em consideração a formação ampliada dos BRICS, então países como Rússia, China, Irã e, mais recentemente, Índia, estão mais avidamente interessadas em acelerar as mudanças planetárias. Os outros países – incluindo, portanto, o Brasil – são mais cautelosos em relação a essas mudanças e prefeririam desacelerá-las ou mesmo adiá-las por tempo indeterminado se houver alternativa.

Vemos indícios disso pela própria maneira pela qual o Brasil está organizando a Cúpula dos BRICS. O evento tende a ser organizado no final do ano, tanto pelo prestígio quanto para dar tempo de alcançar mais resultados da cúpula anterior até a próxima. Assim tem sido na maioria de suas edições.

Mas a Cúpula dos BRICS organizada pelo Brasil para 2025 será realizada nos dias 6 e 7 de julho. E a justificativa para isso é que o Brasil também sediará a COP30 – o evento ambientalista internacional voltado para a questão das mudanças climáticas. E a COP30 será realizada em novembro de 2025. Aparentemente, o governo brasileiro não queria que a Cúpula dos BRICS ofuscasse a COP30, já indicando aquilo que ele considera prioritário.

Desnecessário dizer que uma Cúpula dos BRICS realizada apenas 6 meses após a anterior terá relativamente pouco de novo a apresentar, o que significa também que o potencial dos projetos da coalizão não será suficientemente aproveitado. É possível, por exemplo, que não haja grandes novidades na pauta importante da desdolarização, ou seja, na construção da arquitetura financeira alternativa.

Também chama a atenção o fato de que na última Cúpula dos BRICS, o Brasil vetou a entrada da Venezuela no bloco, surpreendendo o mundo inteiro e espantando, inclusive, os outros parceiros dos BRICS.

Fatos como esses precisam ser compreendidos no contexto da própria perspectiva brasileira sobre Relações Internacionais, a qual tende mais ao multilateralismo institucional do que ao multipolarismo em sentido estrito.

Para o Brasil, os BRICS representam uma plataforma de diálogo e negociação no âmbito dos investimentos e do comércio internacional, cuja função primordial seria diversificar essas esferas. Mas o Brasil definitivamente ainda não enxerga os BRICS como uma ferramenta para uma reforma radical das instituições internacionais e da própria ordem planetária.

É por isso que, de um modo geral, a política externa brasileira não privilegia os BRICS diante de suas relações com a União Europeia, os EUA ou mesmo outros blocos e países. Ao contrário, o Brasil considera necessário equilibrar cada movimentação pró-BRICS com movimentações análogas em favor da União Europeia e dos EUA.

Um caso emblemático é o fato de que ao mesmo tempo em que o Brasil impulsiona os projetos de desdolarização, ele também recusou participar na Iniciativa Cinturão & Rota da China, buscando ainda um acordo de livre-comércio com a União Europeia e estreitando laços com os EUA (o que inclui, aliás, acordos militares para compra de equipamentos e exercícios militares em território brasileiro).

Essas dificuldades foram confirmadas com o conflito ucraniano. O Brasil se lançou como mediador, mas sem eficácia, basicamente porque na necessidade de equilibrar relações com a Rússia com relações com o Ocidente, não deu atenção às demandas russas e à realidade do campo de batalha (condenando, também, algumas vezes a Rússia na ONU) e, simultaneamente, se recusou a apoiar o esforço de guerra ucraniano.

A postura ambígua, curiosamente, é compensada pela presidência brasileira no Novo Banco de Desenvolvimento (o chamado “Banco dos BRICS”) que segue há anos sob a presidência de Dilma Rousseff, ex-presidente do Brasil. Rousseff, na contramão da posição mais tímida do governo brasileiro. Inúmeras vezes Rousseff demonstrou possuir um interesse especial pelo tema da desdolarização e pela construção de uma arquitetura financeira alternativa.

A título de conclusão, essas reflexões sobre o Brasil devem apontar para a necessidade de cautela na medida em que não é possível contar plenamente com o apoio do Brasil em relação a iniciativas mais ousadas que desafiem diretamente os EUA e a União Europeia. Não obstante, o Brasil estará sempre interessado em iniciativas mais modestas e discretas, que visem reformular a ordem internacional sem desafiar diretamente a atual hegemonia unipolar.

O Brasil e os BRICS: entre oportunidades e ambiguidades

Escreva para nós: info@strategic-culture.su

A Cúpula dos BRICS para o ano de 2025 será realizada no Brasil, para onde o evento retorna pela primeira vez desde 2019, quando ela foi organizada em Brasília. Agora, em 2025, a cúpula será realizada no Rio de Janeiro, antiga capital do país e, ainda hoje, a cidade brasileira mais conhecida (e admirada) ao redor do mundo.

E trata-se de mais uma cúpula dos BRICS que se celebra sob a sombra de uma tensa transição geopolítica entre o momento unipolar e uma possível ordem mundial multipolar. É precisamente por isso que as cúpulas de 2022 em diante tornaram-se as mais importantes da história dos BRICS, porque se em cúpulas anteriores os participantes discutiam detalhes sobre investimentos e logística, agora está em discussão o redesenho das instituições mundiais, a construção de alternativas ao dólar e aos sistemas de pagamentos ocidentais, bem como inúmeras iniciativa culturais para promover a multipolaridade.

É evidente, porém, que alguns dos países dos BRICS estão mais engajados nessas mudanças do que outros. Se já tomarmos em consideração a formação ampliada dos BRICS, então países como Rússia, China, Irã e, mais recentemente, Índia, estão mais avidamente interessadas em acelerar as mudanças planetárias. Os outros países – incluindo, portanto, o Brasil – são mais cautelosos em relação a essas mudanças e prefeririam desacelerá-las ou mesmo adiá-las por tempo indeterminado se houver alternativa.

Vemos indícios disso pela própria maneira pela qual o Brasil está organizando a Cúpula dos BRICS. O evento tende a ser organizado no final do ano, tanto pelo prestígio quanto para dar tempo de alcançar mais resultados da cúpula anterior até a próxima. Assim tem sido na maioria de suas edições.

Mas a Cúpula dos BRICS organizada pelo Brasil para 2025 será realizada nos dias 6 e 7 de julho. E a justificativa para isso é que o Brasil também sediará a COP30 – o evento ambientalista internacional voltado para a questão das mudanças climáticas. E a COP30 será realizada em novembro de 2025. Aparentemente, o governo brasileiro não queria que a Cúpula dos BRICS ofuscasse a COP30, já indicando aquilo que ele considera prioritário.

Desnecessário dizer que uma Cúpula dos BRICS realizada apenas 6 meses após a anterior terá relativamente pouco de novo a apresentar, o que significa também que o potencial dos projetos da coalizão não será suficientemente aproveitado. É possível, por exemplo, que não haja grandes novidades na pauta importante da desdolarização, ou seja, na construção da arquitetura financeira alternativa.

Também chama a atenção o fato de que na última Cúpula dos BRICS, o Brasil vetou a entrada da Venezuela no bloco, surpreendendo o mundo inteiro e espantando, inclusive, os outros parceiros dos BRICS.

Fatos como esses precisam ser compreendidos no contexto da própria perspectiva brasileira sobre Relações Internacionais, a qual tende mais ao multilateralismo institucional do que ao multipolarismo em sentido estrito.

Para o Brasil, os BRICS representam uma plataforma de diálogo e negociação no âmbito dos investimentos e do comércio internacional, cuja função primordial seria diversificar essas esferas. Mas o Brasil definitivamente ainda não enxerga os BRICS como uma ferramenta para uma reforma radical das instituições internacionais e da própria ordem planetária.

É por isso que, de um modo geral, a política externa brasileira não privilegia os BRICS diante de suas relações com a União Europeia, os EUA ou mesmo outros blocos e países. Ao contrário, o Brasil considera necessário equilibrar cada movimentação pró-BRICS com movimentações análogas em favor da União Europeia e dos EUA.

Um caso emblemático é o fato de que ao mesmo tempo em que o Brasil impulsiona os projetos de desdolarização, ele também recusou participar na Iniciativa Cinturão & Rota da China, buscando ainda um acordo de livre-comércio com a União Europeia e estreitando laços com os EUA (o que inclui, aliás, acordos militares para compra de equipamentos e exercícios militares em território brasileiro).

Essas dificuldades foram confirmadas com o conflito ucraniano. O Brasil se lançou como mediador, mas sem eficácia, basicamente porque na necessidade de equilibrar relações com a Rússia com relações com o Ocidente, não deu atenção às demandas russas e à realidade do campo de batalha (condenando, também, algumas vezes a Rússia na ONU) e, simultaneamente, se recusou a apoiar o esforço de guerra ucraniano.

A postura ambígua, curiosamente, é compensada pela presidência brasileira no Novo Banco de Desenvolvimento (o chamado “Banco dos BRICS”) que segue há anos sob a presidência de Dilma Rousseff, ex-presidente do Brasil. Rousseff, na contramão da posição mais tímida do governo brasileiro. Inúmeras vezes Rousseff demonstrou possuir um interesse especial pelo tema da desdolarização e pela construção de uma arquitetura financeira alternativa.

A título de conclusão, essas reflexões sobre o Brasil devem apontar para a necessidade de cautela na medida em que não é possível contar plenamente com o apoio do Brasil em relação a iniciativas mais ousadas que desafiem diretamente os EUA e a União Europeia. Não obstante, o Brasil estará sempre interessado em iniciativas mais modestas e discretas, que visem reformular a ordem internacional sem desafiar diretamente a atual hegemonia unipolar.

Escreva para nós: info@strategic-culture.su

A Cúpula dos BRICS para o ano de 2025 será realizada no Brasil, para onde o evento retorna pela primeira vez desde 2019, quando ela foi organizada em Brasília. Agora, em 2025, a cúpula será realizada no Rio de Janeiro, antiga capital do país e, ainda hoje, a cidade brasileira mais conhecida (e admirada) ao redor do mundo.

E trata-se de mais uma cúpula dos BRICS que se celebra sob a sombra de uma tensa transição geopolítica entre o momento unipolar e uma possível ordem mundial multipolar. É precisamente por isso que as cúpulas de 2022 em diante tornaram-se as mais importantes da história dos BRICS, porque se em cúpulas anteriores os participantes discutiam detalhes sobre investimentos e logística, agora está em discussão o redesenho das instituições mundiais, a construção de alternativas ao dólar e aos sistemas de pagamentos ocidentais, bem como inúmeras iniciativa culturais para promover a multipolaridade.

É evidente, porém, que alguns dos países dos BRICS estão mais engajados nessas mudanças do que outros. Se já tomarmos em consideração a formação ampliada dos BRICS, então países como Rússia, China, Irã e, mais recentemente, Índia, estão mais avidamente interessadas em acelerar as mudanças planetárias. Os outros países – incluindo, portanto, o Brasil – são mais cautelosos em relação a essas mudanças e prefeririam desacelerá-las ou mesmo adiá-las por tempo indeterminado se houver alternativa.

Vemos indícios disso pela própria maneira pela qual o Brasil está organizando a Cúpula dos BRICS. O evento tende a ser organizado no final do ano, tanto pelo prestígio quanto para dar tempo de alcançar mais resultados da cúpula anterior até a próxima. Assim tem sido na maioria de suas edições.

Mas a Cúpula dos BRICS organizada pelo Brasil para 2025 será realizada nos dias 6 e 7 de julho. E a justificativa para isso é que o Brasil também sediará a COP30 – o evento ambientalista internacional voltado para a questão das mudanças climáticas. E a COP30 será realizada em novembro de 2025. Aparentemente, o governo brasileiro não queria que a Cúpula dos BRICS ofuscasse a COP30, já indicando aquilo que ele considera prioritário.

Desnecessário dizer que uma Cúpula dos BRICS realizada apenas 6 meses após a anterior terá relativamente pouco de novo a apresentar, o que significa também que o potencial dos projetos da coalizão não será suficientemente aproveitado. É possível, por exemplo, que não haja grandes novidades na pauta importante da desdolarização, ou seja, na construção da arquitetura financeira alternativa.

Também chama a atenção o fato de que na última Cúpula dos BRICS, o Brasil vetou a entrada da Venezuela no bloco, surpreendendo o mundo inteiro e espantando, inclusive, os outros parceiros dos BRICS.

Fatos como esses precisam ser compreendidos no contexto da própria perspectiva brasileira sobre Relações Internacionais, a qual tende mais ao multilateralismo institucional do que ao multipolarismo em sentido estrito.

Para o Brasil, os BRICS representam uma plataforma de diálogo e negociação no âmbito dos investimentos e do comércio internacional, cuja função primordial seria diversificar essas esferas. Mas o Brasil definitivamente ainda não enxerga os BRICS como uma ferramenta para uma reforma radical das instituições internacionais e da própria ordem planetária.

É por isso que, de um modo geral, a política externa brasileira não privilegia os BRICS diante de suas relações com a União Europeia, os EUA ou mesmo outros blocos e países. Ao contrário, o Brasil considera necessário equilibrar cada movimentação pró-BRICS com movimentações análogas em favor da União Europeia e dos EUA.

Um caso emblemático é o fato de que ao mesmo tempo em que o Brasil impulsiona os projetos de desdolarização, ele também recusou participar na Iniciativa Cinturão & Rota da China, buscando ainda um acordo de livre-comércio com a União Europeia e estreitando laços com os EUA (o que inclui, aliás, acordos militares para compra de equipamentos e exercícios militares em território brasileiro).

Essas dificuldades foram confirmadas com o conflito ucraniano. O Brasil se lançou como mediador, mas sem eficácia, basicamente porque na necessidade de equilibrar relações com a Rússia com relações com o Ocidente, não deu atenção às demandas russas e à realidade do campo de batalha (condenando, também, algumas vezes a Rússia na ONU) e, simultaneamente, se recusou a apoiar o esforço de guerra ucraniano.

A postura ambígua, curiosamente, é compensada pela presidência brasileira no Novo Banco de Desenvolvimento (o chamado “Banco dos BRICS”) que segue há anos sob a presidência de Dilma Rousseff, ex-presidente do Brasil. Rousseff, na contramão da posição mais tímida do governo brasileiro. Inúmeras vezes Rousseff demonstrou possuir um interesse especial pelo tema da desdolarização e pela construção de uma arquitetura financeira alternativa.

A título de conclusão, essas reflexões sobre o Brasil devem apontar para a necessidade de cautela na medida em que não é possível contar plenamente com o apoio do Brasil em relação a iniciativas mais ousadas que desafiem diretamente os EUA e a União Europeia. Não obstante, o Brasil estará sempre interessado em iniciativas mais modestas e discretas, que visem reformular a ordem internacional sem desafiar diretamente a atual hegemonia unipolar.

The views of individual contributors do not necessarily represent those of the Strategic Culture Foundation.

See also

February 22, 2025
February 20, 2025

See also

February 22, 2025
February 20, 2025
The views of individual contributors do not necessarily represent those of the Strategic Culture Foundation.