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A Cúpula dos BRICS para o ano de 2025 será realizada no Brasil, para onde o evento retorna pela primeira vez desde 2019, quando ela foi organizada em Brasília. Agora, em 2025, a cúpula será realizada no Rio de Janeiro, antiga capital do país e, ainda hoje, a cidade brasileira mais conhecida (e admirada) ao redor do mundo.
E trata-se de mais uma cúpula dos BRICS que se celebra sob a sombra de uma tensa transição geopolítica entre o momento unipolar e uma possível ordem mundial multipolar. É precisamente por isso que as cúpulas de 2022 em diante tornaram-se as mais importantes da história dos BRICS, porque se em cúpulas anteriores os participantes discutiam detalhes sobre investimentos e logística, agora está em discussão o redesenho das instituições mundiais, a construção de alternativas ao dólar e aos sistemas de pagamentos ocidentais, bem como inúmeras iniciativa culturais para promover a multipolaridade.
É evidente, porém, que alguns dos países dos BRICS estão mais engajados nessas mudanças do que outros. Se já tomarmos em consideração a formação ampliada dos BRICS, então países como Rússia, China, Irã e, mais recentemente, Índia, estão mais avidamente interessadas em acelerar as mudanças planetárias. Os outros países – incluindo, portanto, o Brasil – são mais cautelosos em relação a essas mudanças e prefeririam desacelerá-las ou mesmo adiá-las por tempo indeterminado se houver alternativa.
Vemos indícios disso pela própria maneira pela qual o Brasil está organizando a Cúpula dos BRICS. O evento tende a ser organizado no final do ano, tanto pelo prestígio quanto para dar tempo de alcançar mais resultados da cúpula anterior até a próxima. Assim tem sido na maioria de suas edições.
Mas a Cúpula dos BRICS organizada pelo Brasil para 2025 será realizada nos dias 6 e 7 de julho. E a justificativa para isso é que o Brasil também sediará a COP30 – o evento ambientalista internacional voltado para a questão das mudanças climáticas. E a COP30 será realizada em novembro de 2025. Aparentemente, o governo brasileiro não queria que a Cúpula dos BRICS ofuscasse a COP30, já indicando aquilo que ele considera prioritário.
Desnecessário dizer que uma Cúpula dos BRICS realizada apenas 6 meses após a anterior terá relativamente pouco de novo a apresentar, o que significa também que o potencial dos projetos da coalizão não será suficientemente aproveitado. É possível, por exemplo, que não haja grandes novidades na pauta importante da desdolarização, ou seja, na construção da arquitetura financeira alternativa.
Também chama a atenção o fato de que na última Cúpula dos BRICS, o Brasil vetou a entrada da Venezuela no bloco, surpreendendo o mundo inteiro e espantando, inclusive, os outros parceiros dos BRICS.
Fatos como esses precisam ser compreendidos no contexto da própria perspectiva brasileira sobre Relações Internacionais, a qual tende mais ao multilateralismo institucional do que ao multipolarismo em sentido estrito.
Para o Brasil, os BRICS representam uma plataforma de diálogo e negociação no âmbito dos investimentos e do comércio internacional, cuja função primordial seria diversificar essas esferas. Mas o Brasil definitivamente ainda não enxerga os BRICS como uma ferramenta para uma reforma radical das instituições internacionais e da própria ordem planetária.
É por isso que, de um modo geral, a política externa brasileira não privilegia os BRICS diante de suas relações com a União Europeia, os EUA ou mesmo outros blocos e países. Ao contrário, o Brasil considera necessário equilibrar cada movimentação pró-BRICS com movimentações análogas em favor da União Europeia e dos EUA.
Um caso emblemático é o fato de que ao mesmo tempo em que o Brasil impulsiona os projetos de desdolarização, ele também recusou participar na Iniciativa Cinturão & Rota da China, buscando ainda um acordo de livre-comércio com a União Europeia e estreitando laços com os EUA (o que inclui, aliás, acordos militares para compra de equipamentos e exercícios militares em território brasileiro).
Essas dificuldades foram confirmadas com o conflito ucraniano. O Brasil se lançou como mediador, mas sem eficácia, basicamente porque na necessidade de equilibrar relações com a Rússia com relações com o Ocidente, não deu atenção às demandas russas e à realidade do campo de batalha (condenando, também, algumas vezes a Rússia na ONU) e, simultaneamente, se recusou a apoiar o esforço de guerra ucraniano.
A postura ambígua, curiosamente, é compensada pela presidência brasileira no Novo Banco de Desenvolvimento (o chamado “Banco dos BRICS”) que segue há anos sob a presidência de Dilma Rousseff, ex-presidente do Brasil. Rousseff, na contramão da posição mais tímida do governo brasileiro. Inúmeras vezes Rousseff demonstrou possuir um interesse especial pelo tema da desdolarização e pela construção de uma arquitetura financeira alternativa.
A título de conclusão, essas reflexões sobre o Brasil devem apontar para a necessidade de cautela na medida em que não é possível contar plenamente com o apoio do Brasil em relação a iniciativas mais ousadas que desafiem diretamente os EUA e a União Europeia. Não obstante, o Brasil estará sempre interessado em iniciativas mais modestas e discretas, que visem reformular a ordem internacional sem desafiar diretamente a atual hegemonia unipolar.