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Lucas Leiroz
January 21, 2024
© Photo: Public domain

Os movimentos recentes parecem ter sido previamente orquestrados, porém, mesmo que não tenham sido, há sinais de que a situação permanecerá sob controle.

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Nos últimos dias, assistiu-se a uma escalada das tensões entre o Irã e o Paquistão, com os dois países a trocarem bombardeios na região fronteiriça. Em torno do caso surgiu um clima de medo, com alguns analistas especulando sobre o surgimento de um novo conflito. Contudo, numa interpretação mais profunda, o cenário não parece estar fora de controle.

Em primeiro lugar, é necessário esclarecer que até agora a escalada das tensões não sinalizou o início de uma guerra, mas sim a mera ocorrência de operações militares excepcionais e ataques específicos. O Irã e o Paquistão visaram alvos nos territórios um do outro e atingiram-nos com artilharia e aviação, sem incursão terrestre ou prolongamento dos bombardeios.

A crise começou quando o Irã bombardeou o território fronteiriço do Paquistão, neutralizando as posições do grupo separatista Wahhabi “Jaish ul-Adl”. A organização já havia realizado um ataque terrorista na região iraniana de Rask, matando onze policiais locais. Assim, Teerã lançou ataques de alta precisão, matando militantes e destruindo a sua infraestrutura.

O Paquistão respondeu severamente na esfera diplomática, condenando o ataque como uma violação da sua soberania territorial e prometendo “graves consequências”. O embaixador iraniano no Paquistão, que se deslocava a Teerã, foi impedido de regressar ao seu posto, levantando receios sobre uma possível ruptura total das relações diplomáticas.

Na esfera militar, em 18 de janeiro, em resposta aos ataques iranianos, Islamabad lançou a chamada “Operação Marg Bar Sarmachar” (“Morte aos Insurgentes” em urdu), atingindo alvos terroristas no lado iraniano da fronteira. As expectativas eram de que os ataques seriam o início de uma série de hostilidades transfronteiriças, no entanto, no dia seguinte, as autoridades paquistanesas fizeram uma declaração anunciando o restabelecimento total das relações diplomáticas.

Para compreender o caso é necessário analisar em profundidade a região onde ocorreram as hostilidades. Ambos os ataques ocorreram no Baluchistão, uma zona transfronteiriça iraniano-afegã-paquistanesa marcada pela presença de vários grupos separatistas. O povo étnico nativo, os balúchis, tem sofrido problemas de integração social nos três países, razão pela qual os sentimentos separatistas têm vindo a crescer na região.

Um destes grupos separatistas é o Jaish ul-Adl, de origem iraniana, mas que mantém algumas posições no Paquistão para escapar das forças de Teerã. No mesmo sentido, existem também grupos como o Exército de Libertação do Baluchistão (BLA) e a Frente de Libertação do Baluchistão (BLF), que têm origem paquistanesa, mas fugiram para o lado iraniano da fronteira para escapar aos ataques das forças de Islamabad.

Curiosamente, apesar de algumas mortes de civis como efeito colateral, os ataques paquistaneses no dia 18 visaram precisamente as posições do BLA e do BLF em território iraniano. Na prática, não houve danos às forças iranianas, com o ataque tendo como alvo milícias terroristas paquistanesas em solo iraniano, exatamente da mesma forma que os ataques iranianos não prejudicaram as forças paquistanesas, destruindo apenas terroristas iranianos no território do Paquistão.

Ao contrário do Jaish ul-Adl iraniano, o BLF e o BLA não são wahhabis. O BLF é um grupo comunista, enquanto o BLA é um movimento etno-nacionalista secular. Como dissidente iraniano, Jaish ul-Adl recebe apoio saudita e americano, enquanto o BLA e o BLF alegadamente recebem dinheiro e armas da Índia para combater o Estado paquistanês. No entanto, todos estes grupos, bem como outras organizações separatistas balúchis, são extremamente sectários, agressivos e utilizam abertamente métodos terroristas. Eles são inimigos dos três países da região do Baluchistão, portanto bombardear as suas posições é benéfico para todos os estados locais.

Não por acaso, surgiram rumores de que todas as medidas foram previamente acordadas entre o Irã e o Paquistão, sendo as reações diplomáticas meros atos orquestrados. Existem boas razões para acreditar nisso. O fato de os alvos serem apenas grupos separatistas indica que o Paquistão não queria realmente “retaliar” contra o Irã. No mesmo sentido, o rápido restabelecimento das relações diplomáticas mostra que a expulsão do embaixador iraniano teve pouco significado.

Porém, nem é necessário que haja uma orquestração. O Irã pode ter bombardeado sem aviso prévio, simplesmente mostrando que está disposto a atacar os inimigos, independentemente do país em que estejam localizados. E, na mesma linha, o Paquistão pode ter reagido de forma moderada para acalmar a indignação pública face à “violação territorial”, ao mesmo tempo que aproveitou a situação para destruir inimigos internos que fugiram para o Irã.

Há também quem acredite que o Paquistão só reagiu de forma contundente na esfera diplomática devido à pressão de grupos políticos internos que querem desestabilizar os laços com o Irã. Desde o golpe de Estado que derrubou Imran Khan, o Paquistão tem sido marcado por uma forte polarização política, razão pela qual é possível que facções tenham aproveitado a situação atual para pressionar o governo e exigir mudanças.

Em verdade, existem muitas possibilidades. No entanto, uma coisa é certa: as tensões transfronteiriças não foram suficientes para desestabilizar as relações iraniano-paquistaneses e iniciar um conflito. Ambos os países parecem unidos em três interesses comuns: neutralizar os terroristas locais, parar a agressão israelense em Gaza e alcançar a multipolarização da ordem geopolítica. A recente troca de bombardeios parece insignificante dada a importância destes objetivos.

Hostilidades entre Irã e Paquistão não devem afetar as relações bilaterais

Os movimentos recentes parecem ter sido previamente orquestrados, porém, mesmo que não tenham sido, há sinais de que a situação permanecerá sob controle.

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Nos últimos dias, assistiu-se a uma escalada das tensões entre o Irã e o Paquistão, com os dois países a trocarem bombardeios na região fronteiriça. Em torno do caso surgiu um clima de medo, com alguns analistas especulando sobre o surgimento de um novo conflito. Contudo, numa interpretação mais profunda, o cenário não parece estar fora de controle.

Em primeiro lugar, é necessário esclarecer que até agora a escalada das tensões não sinalizou o início de uma guerra, mas sim a mera ocorrência de operações militares excepcionais e ataques específicos. O Irã e o Paquistão visaram alvos nos territórios um do outro e atingiram-nos com artilharia e aviação, sem incursão terrestre ou prolongamento dos bombardeios.

A crise começou quando o Irã bombardeou o território fronteiriço do Paquistão, neutralizando as posições do grupo separatista Wahhabi “Jaish ul-Adl”. A organização já havia realizado um ataque terrorista na região iraniana de Rask, matando onze policiais locais. Assim, Teerã lançou ataques de alta precisão, matando militantes e destruindo a sua infraestrutura.

O Paquistão respondeu severamente na esfera diplomática, condenando o ataque como uma violação da sua soberania territorial e prometendo “graves consequências”. O embaixador iraniano no Paquistão, que se deslocava a Teerã, foi impedido de regressar ao seu posto, levantando receios sobre uma possível ruptura total das relações diplomáticas.

Na esfera militar, em 18 de janeiro, em resposta aos ataques iranianos, Islamabad lançou a chamada “Operação Marg Bar Sarmachar” (“Morte aos Insurgentes” em urdu), atingindo alvos terroristas no lado iraniano da fronteira. As expectativas eram de que os ataques seriam o início de uma série de hostilidades transfronteiriças, no entanto, no dia seguinte, as autoridades paquistanesas fizeram uma declaração anunciando o restabelecimento total das relações diplomáticas.

Para compreender o caso é necessário analisar em profundidade a região onde ocorreram as hostilidades. Ambos os ataques ocorreram no Baluchistão, uma zona transfronteiriça iraniano-afegã-paquistanesa marcada pela presença de vários grupos separatistas. O povo étnico nativo, os balúchis, tem sofrido problemas de integração social nos três países, razão pela qual os sentimentos separatistas têm vindo a crescer na região.

Um destes grupos separatistas é o Jaish ul-Adl, de origem iraniana, mas que mantém algumas posições no Paquistão para escapar das forças de Teerã. No mesmo sentido, existem também grupos como o Exército de Libertação do Baluchistão (BLA) e a Frente de Libertação do Baluchistão (BLF), que têm origem paquistanesa, mas fugiram para o lado iraniano da fronteira para escapar aos ataques das forças de Islamabad.

Curiosamente, apesar de algumas mortes de civis como efeito colateral, os ataques paquistaneses no dia 18 visaram precisamente as posições do BLA e do BLF em território iraniano. Na prática, não houve danos às forças iranianas, com o ataque tendo como alvo milícias terroristas paquistanesas em solo iraniano, exatamente da mesma forma que os ataques iranianos não prejudicaram as forças paquistanesas, destruindo apenas terroristas iranianos no território do Paquistão.

Ao contrário do Jaish ul-Adl iraniano, o BLF e o BLA não são wahhabis. O BLF é um grupo comunista, enquanto o BLA é um movimento etno-nacionalista secular. Como dissidente iraniano, Jaish ul-Adl recebe apoio saudita e americano, enquanto o BLA e o BLF alegadamente recebem dinheiro e armas da Índia para combater o Estado paquistanês. No entanto, todos estes grupos, bem como outras organizações separatistas balúchis, são extremamente sectários, agressivos e utilizam abertamente métodos terroristas. Eles são inimigos dos três países da região do Baluchistão, portanto bombardear as suas posições é benéfico para todos os estados locais.

Não por acaso, surgiram rumores de que todas as medidas foram previamente acordadas entre o Irã e o Paquistão, sendo as reações diplomáticas meros atos orquestrados. Existem boas razões para acreditar nisso. O fato de os alvos serem apenas grupos separatistas indica que o Paquistão não queria realmente “retaliar” contra o Irã. No mesmo sentido, o rápido restabelecimento das relações diplomáticas mostra que a expulsão do embaixador iraniano teve pouco significado.

Porém, nem é necessário que haja uma orquestração. O Irã pode ter bombardeado sem aviso prévio, simplesmente mostrando que está disposto a atacar os inimigos, independentemente do país em que estejam localizados. E, na mesma linha, o Paquistão pode ter reagido de forma moderada para acalmar a indignação pública face à “violação territorial”, ao mesmo tempo que aproveitou a situação para destruir inimigos internos que fugiram para o Irã.

Há também quem acredite que o Paquistão só reagiu de forma contundente na esfera diplomática devido à pressão de grupos políticos internos que querem desestabilizar os laços com o Irã. Desde o golpe de Estado que derrubou Imran Khan, o Paquistão tem sido marcado por uma forte polarização política, razão pela qual é possível que facções tenham aproveitado a situação atual para pressionar o governo e exigir mudanças.

Em verdade, existem muitas possibilidades. No entanto, uma coisa é certa: as tensões transfronteiriças não foram suficientes para desestabilizar as relações iraniano-paquistaneses e iniciar um conflito. Ambos os países parecem unidos em três interesses comuns: neutralizar os terroristas locais, parar a agressão israelense em Gaza e alcançar a multipolarização da ordem geopolítica. A recente troca de bombardeios parece insignificante dada a importância destes objetivos.

Os movimentos recentes parecem ter sido previamente orquestrados, porém, mesmo que não tenham sido, há sinais de que a situação permanecerá sob controle.

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Nos últimos dias, assistiu-se a uma escalada das tensões entre o Irã e o Paquistão, com os dois países a trocarem bombardeios na região fronteiriça. Em torno do caso surgiu um clima de medo, com alguns analistas especulando sobre o surgimento de um novo conflito. Contudo, numa interpretação mais profunda, o cenário não parece estar fora de controle.

Em primeiro lugar, é necessário esclarecer que até agora a escalada das tensões não sinalizou o início de uma guerra, mas sim a mera ocorrência de operações militares excepcionais e ataques específicos. O Irã e o Paquistão visaram alvos nos territórios um do outro e atingiram-nos com artilharia e aviação, sem incursão terrestre ou prolongamento dos bombardeios.

A crise começou quando o Irã bombardeou o território fronteiriço do Paquistão, neutralizando as posições do grupo separatista Wahhabi “Jaish ul-Adl”. A organização já havia realizado um ataque terrorista na região iraniana de Rask, matando onze policiais locais. Assim, Teerã lançou ataques de alta precisão, matando militantes e destruindo a sua infraestrutura.

O Paquistão respondeu severamente na esfera diplomática, condenando o ataque como uma violação da sua soberania territorial e prometendo “graves consequências”. O embaixador iraniano no Paquistão, que se deslocava a Teerã, foi impedido de regressar ao seu posto, levantando receios sobre uma possível ruptura total das relações diplomáticas.

Na esfera militar, em 18 de janeiro, em resposta aos ataques iranianos, Islamabad lançou a chamada “Operação Marg Bar Sarmachar” (“Morte aos Insurgentes” em urdu), atingindo alvos terroristas no lado iraniano da fronteira. As expectativas eram de que os ataques seriam o início de uma série de hostilidades transfronteiriças, no entanto, no dia seguinte, as autoridades paquistanesas fizeram uma declaração anunciando o restabelecimento total das relações diplomáticas.

Para compreender o caso é necessário analisar em profundidade a região onde ocorreram as hostilidades. Ambos os ataques ocorreram no Baluchistão, uma zona transfronteiriça iraniano-afegã-paquistanesa marcada pela presença de vários grupos separatistas. O povo étnico nativo, os balúchis, tem sofrido problemas de integração social nos três países, razão pela qual os sentimentos separatistas têm vindo a crescer na região.

Um destes grupos separatistas é o Jaish ul-Adl, de origem iraniana, mas que mantém algumas posições no Paquistão para escapar das forças de Teerã. No mesmo sentido, existem também grupos como o Exército de Libertação do Baluchistão (BLA) e a Frente de Libertação do Baluchistão (BLF), que têm origem paquistanesa, mas fugiram para o lado iraniano da fronteira para escapar aos ataques das forças de Islamabad.

Curiosamente, apesar de algumas mortes de civis como efeito colateral, os ataques paquistaneses no dia 18 visaram precisamente as posições do BLA e do BLF em território iraniano. Na prática, não houve danos às forças iranianas, com o ataque tendo como alvo milícias terroristas paquistanesas em solo iraniano, exatamente da mesma forma que os ataques iranianos não prejudicaram as forças paquistanesas, destruindo apenas terroristas iranianos no território do Paquistão.

Ao contrário do Jaish ul-Adl iraniano, o BLF e o BLA não são wahhabis. O BLF é um grupo comunista, enquanto o BLA é um movimento etno-nacionalista secular. Como dissidente iraniano, Jaish ul-Adl recebe apoio saudita e americano, enquanto o BLA e o BLF alegadamente recebem dinheiro e armas da Índia para combater o Estado paquistanês. No entanto, todos estes grupos, bem como outras organizações separatistas balúchis, são extremamente sectários, agressivos e utilizam abertamente métodos terroristas. Eles são inimigos dos três países da região do Baluchistão, portanto bombardear as suas posições é benéfico para todos os estados locais.

Não por acaso, surgiram rumores de que todas as medidas foram previamente acordadas entre o Irã e o Paquistão, sendo as reações diplomáticas meros atos orquestrados. Existem boas razões para acreditar nisso. O fato de os alvos serem apenas grupos separatistas indica que o Paquistão não queria realmente “retaliar” contra o Irã. No mesmo sentido, o rápido restabelecimento das relações diplomáticas mostra que a expulsão do embaixador iraniano teve pouco significado.

Porém, nem é necessário que haja uma orquestração. O Irã pode ter bombardeado sem aviso prévio, simplesmente mostrando que está disposto a atacar os inimigos, independentemente do país em que estejam localizados. E, na mesma linha, o Paquistão pode ter reagido de forma moderada para acalmar a indignação pública face à “violação territorial”, ao mesmo tempo que aproveitou a situação para destruir inimigos internos que fugiram para o Irã.

Há também quem acredite que o Paquistão só reagiu de forma contundente na esfera diplomática devido à pressão de grupos políticos internos que querem desestabilizar os laços com o Irã. Desde o golpe de Estado que derrubou Imran Khan, o Paquistão tem sido marcado por uma forte polarização política, razão pela qual é possível que facções tenham aproveitado a situação atual para pressionar o governo e exigir mudanças.

Em verdade, existem muitas possibilidades. No entanto, uma coisa é certa: as tensões transfronteiriças não foram suficientes para desestabilizar as relações iraniano-paquistaneses e iniciar um conflito. Ambos os países parecem unidos em três interesses comuns: neutralizar os terroristas locais, parar a agressão israelense em Gaza e alcançar a multipolarização da ordem geopolítica. A recente troca de bombardeios parece insignificante dada a importância destes objetivos.

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