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Eduardo Vasco
November 8, 2024
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O ex-chefe do Banco Central Europeu, Mario Draghi, recentemente apresentou um extenso relatório à União Europeia que demonstra como os europeus estão ficando para trás dos americanos – e até dos asiáticos – em questões-chave do desenvolvimento econômico.

Se, em 1990, o PIB per capita nos Estados Unidos era 16% maior do que na zona do euro, em 2023 essa diferença já havia aumentado para mais de 30%. Isso significa que os americanos estão cada vez mais ricos que os europeus.

Mas o gap entre os homens mais ricos dos EUA e da Europa também está aumentando. Apenas 10% dos empresários de alta tecnologia no top 30 e no top 500 do ranking de capitalização de mercado são europeus. Em comparação, 73% no primeiro e 56% no segundo são americanos.

Esses novos dados revelam novamente a devastação econômica da Europa. E suas origens estão diretamente ligadas com o poder americano.

Na década de 1930, os Estados Unidos haviam perdido toda a vantagem que haviam ganho sobre seus competidores europeus ao término da I Guerra Mundial. A Europa estava devastada e Washington havia surgido como a grande superpotência econômica do mundo. Contudo, a crise de 1929 levou essa pujança por água abaixo. A grande depressão parecia ter acabado com o sonho americano.

Assim como a I Guerra foi uma disputa entre as potências imperialistas pelo mercado mundial, a futura II Guerra precisava ser desencadeada para que os americanos retomassem o controle – perdido parcialmente para a Alemanha e o Japão no rastro da crise da década de 1930. Franklin D. Roosevelt liderou a reorganização da economia americana, expandindo vastamente os gastos federais e realizando grandes investimentos públicos graças a uma centralização ditatorial do poder econômico nas mãos de um pequeno monopólio de corporações.

O resultado foi um aumento inimaginável na produção industrial – voltado quase exclusivamente para a guerra. Pearl Harbor veio muito a calhar: era a desculpa que o regime precisava para eliminar a oposição à sua entrada no conflito. Entre 1941 e 1944, a produção de guerra dos EUA mais que triplicou, e em 1944 as suas fábricas já produziam o dobro do volume de Alemanha, Itália e Japão.

A produção industrial americana serviu a dois objetivos estratégicos entrelaçados: destruir a Europa e reconstruí-la à sua imagem e semelhança. Os EUA equiparam a Inglaterra com os armamentos necessários para fazer frente à Alemanha e ambos executaram a campanha de intensos bombardeios com a intenção explícita de destruir a economia alemã, o motor industrial da Europa. Foram despejadas quase 2,7 milhões de toneladas de bombas sobre a Alemanha e as regiões ocupadas pelos nazistas em outros países, particularmente França e Bélgica (completando o coração industrial da Europa). Os bombardeios aéreos americanos e ingleses mataram 305 mil alemães, feriram quase 800 mil, destruíram total ou parcialmente 5,5 milhões de moradias e deixaram 20 milhões sem os serviços essenciais de utilidade pública.

Foi um genocídio. Somado à matança imediata de 330.000 civis no Japão graças às bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki, os bombardeios dos Estados Unidos tiraram a vida de 635 mil pessoas.

A destruição da Europa pelos Estados Unidos foi um grande negócio que beneficiou os Estados Unidos de maneira decisiva para que pudessem garantir sua supremacia total na nova ordem mundial pós-guerra. O déficit dos países estrangeiros, em 1946-47, era de mais de 19 bilhões de dólares. Os EUA, que estavam intactos, ofereceram empréstimos para iniciar a reconstrução da Europa como uma forma branda de colonização, enquanto, ao mesmo tempo, castigavam severamente aqueles países. Nas palavras do insuspeito Arthur S. Link, historiador do establishment, “o Governo americano, mesmo durante os amargos dias da Reconstrução, jamais praticara tão terrível vingança contra antigos inimigos.” O povo e as instituições alemãs foram reformados “à imagem dos Estados Unidos”.

A Doutrina Truman e, principalmente, o Plano Marshall, foram o pilar da política de colonização da Europa pelos EUA pós-II Guerra Mundial: a primeira transformou toda a Europa Ocidental e parte do seu sudeste em uma enorme base militar americana, através da OTAN, policiando a política desses países. A segunda começou como uma política clientelista, concedendo esmolas para os famintos europeus (11 bilhões de dólares) para, no entanto, serem devolvidos com juros posteriormente, iniciando o processo de dependência econômica, política e social da Europa. Entre 1948 e 1951, outros 12 bilhões haviam sido gastos nesse sentido.

O combate à falsa ameaça da União Soviética era a desculpa encontrada pelo governo americano para capturar a Europa. “A maior nação da Terra”, declarou perante o Senado o republicado Arthur Vandenberg, “terá de justificar ou abandonar a sua liderança”. Foi assim que os Estados Unidos conseguiram se livrar de uma crise de superprodução e escoar suas mercadorias e armamentos, ao mesmo tempo deixando os europeus reféns das dívidas acumuladas. Os produtos americanos invadiram a Europa e a OTAN passou a controlar os exércitos nacionais.

Por um lado, o avassalamento da Europa pós-II Guerra teve como contrapartida para a estabilização social um relativo bem-estar da população. Contudo, a partir da segunda grande estratégia de colonização americana – a desindustrialização com a imposição das políticas neoliberais nas décadas de 1980 e 1990 –, esse estado de bem-estar foi desmontado para deixar os europeus completamente reféns dos EUA.

Em todos os países do mundo, o principal responsável pela pesquisa e desenvolvimento da ciência são as forças armadas. Contudo, os exércitos da Europa se tornaram vassalos dos Estados Unidos através da OTAN e sua capacidade foi reduzida para elevar a das forças americanas no continente. O relatório encomendado pela UE a Draghi destaca as consequências nefastas dessa submissão para a Europa.

Segundo o relatório, os europeus gastam metade do que os americanos em pesquisa e desenvolvimento em relação ao PIB, e muitos empresários europeus preferem migrar para os Estados Unidos a fim de desenvolver essas atividades. O gasto em P&D em relação ao PIB na União Europeia é também menor do que os da China, Reino Unido, Taiwan e Coreia do Sul. A UE já foi ultrapassada pela China no número de artigos publicados nas principais revistas científicas e Japão e Índia estão no seu encalço – enquanto os EUA continuam à frente. A capacidade econômica de inovação na Europa também permanece abaixo da de EUA e Japão. Ela já ficou para trás no desenvolvimento de tecnologia digital.

Draghi sugere uma série de “medidas drásticas” para combater o crescente gap entre EUA e Europa, de acordo com o Politico. No entanto, dificilmente essas medidas terão algum efeito, uma vez que a política da União Europeia continua absolutamente alinhada (isto é, dependente) à dos Estados Unidos e recentemente não foi adotada nenhuma medida relevante que indique um caminho distinto daquele que vem sendo tomado nas últimas décadas.

É por isso que há um descontentamento crescente, não apenas na população comum dos países do bloco, mas também entre setores influentes das elites políticas e econômicas europeias. O crescimento da extrema-direita na Alemanha, França, Itália, Holanda, Áustria, bem como a busca dos governos de Hungria e Eslováquia por uma maior soberania, são reflexos claros dessa tendência.

Reflexos da colonização da Europa pelos EUA

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O ex-chefe do Banco Central Europeu, Mario Draghi, recentemente apresentou um extenso relatório à União Europeia que demonstra como os europeus estão ficando para trás dos americanos – e até dos asiáticos – em questões-chave do desenvolvimento econômico.

Se, em 1990, o PIB per capita nos Estados Unidos era 16% maior do que na zona do euro, em 2023 essa diferença já havia aumentado para mais de 30%. Isso significa que os americanos estão cada vez mais ricos que os europeus.

Mas o gap entre os homens mais ricos dos EUA e da Europa também está aumentando. Apenas 10% dos empresários de alta tecnologia no top 30 e no top 500 do ranking de capitalização de mercado são europeus. Em comparação, 73% no primeiro e 56% no segundo são americanos.

Esses novos dados revelam novamente a devastação econômica da Europa. E suas origens estão diretamente ligadas com o poder americano.

Na década de 1930, os Estados Unidos haviam perdido toda a vantagem que haviam ganho sobre seus competidores europeus ao término da I Guerra Mundial. A Europa estava devastada e Washington havia surgido como a grande superpotência econômica do mundo. Contudo, a crise de 1929 levou essa pujança por água abaixo. A grande depressão parecia ter acabado com o sonho americano.

Assim como a I Guerra foi uma disputa entre as potências imperialistas pelo mercado mundial, a futura II Guerra precisava ser desencadeada para que os americanos retomassem o controle – perdido parcialmente para a Alemanha e o Japão no rastro da crise da década de 1930. Franklin D. Roosevelt liderou a reorganização da economia americana, expandindo vastamente os gastos federais e realizando grandes investimentos públicos graças a uma centralização ditatorial do poder econômico nas mãos de um pequeno monopólio de corporações.

O resultado foi um aumento inimaginável na produção industrial – voltado quase exclusivamente para a guerra. Pearl Harbor veio muito a calhar: era a desculpa que o regime precisava para eliminar a oposição à sua entrada no conflito. Entre 1941 e 1944, a produção de guerra dos EUA mais que triplicou, e em 1944 as suas fábricas já produziam o dobro do volume de Alemanha, Itália e Japão.

A produção industrial americana serviu a dois objetivos estratégicos entrelaçados: destruir a Europa e reconstruí-la à sua imagem e semelhança. Os EUA equiparam a Inglaterra com os armamentos necessários para fazer frente à Alemanha e ambos executaram a campanha de intensos bombardeios com a intenção explícita de destruir a economia alemã, o motor industrial da Europa. Foram despejadas quase 2,7 milhões de toneladas de bombas sobre a Alemanha e as regiões ocupadas pelos nazistas em outros países, particularmente França e Bélgica (completando o coração industrial da Europa). Os bombardeios aéreos americanos e ingleses mataram 305 mil alemães, feriram quase 800 mil, destruíram total ou parcialmente 5,5 milhões de moradias e deixaram 20 milhões sem os serviços essenciais de utilidade pública.

Foi um genocídio. Somado à matança imediata de 330.000 civis no Japão graças às bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki, os bombardeios dos Estados Unidos tiraram a vida de 635 mil pessoas.

A destruição da Europa pelos Estados Unidos foi um grande negócio que beneficiou os Estados Unidos de maneira decisiva para que pudessem garantir sua supremacia total na nova ordem mundial pós-guerra. O déficit dos países estrangeiros, em 1946-47, era de mais de 19 bilhões de dólares. Os EUA, que estavam intactos, ofereceram empréstimos para iniciar a reconstrução da Europa como uma forma branda de colonização, enquanto, ao mesmo tempo, castigavam severamente aqueles países. Nas palavras do insuspeito Arthur S. Link, historiador do establishment, “o Governo americano, mesmo durante os amargos dias da Reconstrução, jamais praticara tão terrível vingança contra antigos inimigos.” O povo e as instituições alemãs foram reformados “à imagem dos Estados Unidos”.

A Doutrina Truman e, principalmente, o Plano Marshall, foram o pilar da política de colonização da Europa pelos EUA pós-II Guerra Mundial: a primeira transformou toda a Europa Ocidental e parte do seu sudeste em uma enorme base militar americana, através da OTAN, policiando a política desses países. A segunda começou como uma política clientelista, concedendo esmolas para os famintos europeus (11 bilhões de dólares) para, no entanto, serem devolvidos com juros posteriormente, iniciando o processo de dependência econômica, política e social da Europa. Entre 1948 e 1951, outros 12 bilhões haviam sido gastos nesse sentido.

O combate à falsa ameaça da União Soviética era a desculpa encontrada pelo governo americano para capturar a Europa. “A maior nação da Terra”, declarou perante o Senado o republicado Arthur Vandenberg, “terá de justificar ou abandonar a sua liderança”. Foi assim que os Estados Unidos conseguiram se livrar de uma crise de superprodução e escoar suas mercadorias e armamentos, ao mesmo tempo deixando os europeus reféns das dívidas acumuladas. Os produtos americanos invadiram a Europa e a OTAN passou a controlar os exércitos nacionais.

Por um lado, o avassalamento da Europa pós-II Guerra teve como contrapartida para a estabilização social um relativo bem-estar da população. Contudo, a partir da segunda grande estratégia de colonização americana – a desindustrialização com a imposição das políticas neoliberais nas décadas de 1980 e 1990 –, esse estado de bem-estar foi desmontado para deixar os europeus completamente reféns dos EUA.

Em todos os países do mundo, o principal responsável pela pesquisa e desenvolvimento da ciência são as forças armadas. Contudo, os exércitos da Europa se tornaram vassalos dos Estados Unidos através da OTAN e sua capacidade foi reduzida para elevar a das forças americanas no continente. O relatório encomendado pela UE a Draghi destaca as consequências nefastas dessa submissão para a Europa.

Segundo o relatório, os europeus gastam metade do que os americanos em pesquisa e desenvolvimento em relação ao PIB, e muitos empresários europeus preferem migrar para os Estados Unidos a fim de desenvolver essas atividades. O gasto em P&D em relação ao PIB na União Europeia é também menor do que os da China, Reino Unido, Taiwan e Coreia do Sul. A UE já foi ultrapassada pela China no número de artigos publicados nas principais revistas científicas e Japão e Índia estão no seu encalço – enquanto os EUA continuam à frente. A capacidade econômica de inovação na Europa também permanece abaixo da de EUA e Japão. Ela já ficou para trás no desenvolvimento de tecnologia digital.

Draghi sugere uma série de “medidas drásticas” para combater o crescente gap entre EUA e Europa, de acordo com o Politico. No entanto, dificilmente essas medidas terão algum efeito, uma vez que a política da União Europeia continua absolutamente alinhada (isto é, dependente) à dos Estados Unidos e recentemente não foi adotada nenhuma medida relevante que indique um caminho distinto daquele que vem sendo tomado nas últimas décadas.

É por isso que há um descontentamento crescente, não apenas na população comum dos países do bloco, mas também entre setores influentes das elites políticas e econômicas europeias. O crescimento da extrema-direita na Alemanha, França, Itália, Holanda, Áustria, bem como a busca dos governos de Hungria e Eslováquia por uma maior soberania, são reflexos claros dessa tendência.

Escreva para nós: info@strategic-culture.su

O ex-chefe do Banco Central Europeu, Mario Draghi, recentemente apresentou um extenso relatório à União Europeia que demonstra como os europeus estão ficando para trás dos americanos – e até dos asiáticos – em questões-chave do desenvolvimento econômico.

Se, em 1990, o PIB per capita nos Estados Unidos era 16% maior do que na zona do euro, em 2023 essa diferença já havia aumentado para mais de 30%. Isso significa que os americanos estão cada vez mais ricos que os europeus.

Mas o gap entre os homens mais ricos dos EUA e da Europa também está aumentando. Apenas 10% dos empresários de alta tecnologia no top 30 e no top 500 do ranking de capitalização de mercado são europeus. Em comparação, 73% no primeiro e 56% no segundo são americanos.

Esses novos dados revelam novamente a devastação econômica da Europa. E suas origens estão diretamente ligadas com o poder americano.

Na década de 1930, os Estados Unidos haviam perdido toda a vantagem que haviam ganho sobre seus competidores europeus ao término da I Guerra Mundial. A Europa estava devastada e Washington havia surgido como a grande superpotência econômica do mundo. Contudo, a crise de 1929 levou essa pujança por água abaixo. A grande depressão parecia ter acabado com o sonho americano.

Assim como a I Guerra foi uma disputa entre as potências imperialistas pelo mercado mundial, a futura II Guerra precisava ser desencadeada para que os americanos retomassem o controle – perdido parcialmente para a Alemanha e o Japão no rastro da crise da década de 1930. Franklin D. Roosevelt liderou a reorganização da economia americana, expandindo vastamente os gastos federais e realizando grandes investimentos públicos graças a uma centralização ditatorial do poder econômico nas mãos de um pequeno monopólio de corporações.

O resultado foi um aumento inimaginável na produção industrial – voltado quase exclusivamente para a guerra. Pearl Harbor veio muito a calhar: era a desculpa que o regime precisava para eliminar a oposição à sua entrada no conflito. Entre 1941 e 1944, a produção de guerra dos EUA mais que triplicou, e em 1944 as suas fábricas já produziam o dobro do volume de Alemanha, Itália e Japão.

A produção industrial americana serviu a dois objetivos estratégicos entrelaçados: destruir a Europa e reconstruí-la à sua imagem e semelhança. Os EUA equiparam a Inglaterra com os armamentos necessários para fazer frente à Alemanha e ambos executaram a campanha de intensos bombardeios com a intenção explícita de destruir a economia alemã, o motor industrial da Europa. Foram despejadas quase 2,7 milhões de toneladas de bombas sobre a Alemanha e as regiões ocupadas pelos nazistas em outros países, particularmente França e Bélgica (completando o coração industrial da Europa). Os bombardeios aéreos americanos e ingleses mataram 305 mil alemães, feriram quase 800 mil, destruíram total ou parcialmente 5,5 milhões de moradias e deixaram 20 milhões sem os serviços essenciais de utilidade pública.

Foi um genocídio. Somado à matança imediata de 330.000 civis no Japão graças às bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki, os bombardeios dos Estados Unidos tiraram a vida de 635 mil pessoas.

A destruição da Europa pelos Estados Unidos foi um grande negócio que beneficiou os Estados Unidos de maneira decisiva para que pudessem garantir sua supremacia total na nova ordem mundial pós-guerra. O déficit dos países estrangeiros, em 1946-47, era de mais de 19 bilhões de dólares. Os EUA, que estavam intactos, ofereceram empréstimos para iniciar a reconstrução da Europa como uma forma branda de colonização, enquanto, ao mesmo tempo, castigavam severamente aqueles países. Nas palavras do insuspeito Arthur S. Link, historiador do establishment, “o Governo americano, mesmo durante os amargos dias da Reconstrução, jamais praticara tão terrível vingança contra antigos inimigos.” O povo e as instituições alemãs foram reformados “à imagem dos Estados Unidos”.

A Doutrina Truman e, principalmente, o Plano Marshall, foram o pilar da política de colonização da Europa pelos EUA pós-II Guerra Mundial: a primeira transformou toda a Europa Ocidental e parte do seu sudeste em uma enorme base militar americana, através da OTAN, policiando a política desses países. A segunda começou como uma política clientelista, concedendo esmolas para os famintos europeus (11 bilhões de dólares) para, no entanto, serem devolvidos com juros posteriormente, iniciando o processo de dependência econômica, política e social da Europa. Entre 1948 e 1951, outros 12 bilhões haviam sido gastos nesse sentido.

O combate à falsa ameaça da União Soviética era a desculpa encontrada pelo governo americano para capturar a Europa. “A maior nação da Terra”, declarou perante o Senado o republicado Arthur Vandenberg, “terá de justificar ou abandonar a sua liderança”. Foi assim que os Estados Unidos conseguiram se livrar de uma crise de superprodução e escoar suas mercadorias e armamentos, ao mesmo tempo deixando os europeus reféns das dívidas acumuladas. Os produtos americanos invadiram a Europa e a OTAN passou a controlar os exércitos nacionais.

Por um lado, o avassalamento da Europa pós-II Guerra teve como contrapartida para a estabilização social um relativo bem-estar da população. Contudo, a partir da segunda grande estratégia de colonização americana – a desindustrialização com a imposição das políticas neoliberais nas décadas de 1980 e 1990 –, esse estado de bem-estar foi desmontado para deixar os europeus completamente reféns dos EUA.

Em todos os países do mundo, o principal responsável pela pesquisa e desenvolvimento da ciência são as forças armadas. Contudo, os exércitos da Europa se tornaram vassalos dos Estados Unidos através da OTAN e sua capacidade foi reduzida para elevar a das forças americanas no continente. O relatório encomendado pela UE a Draghi destaca as consequências nefastas dessa submissão para a Europa.

Segundo o relatório, os europeus gastam metade do que os americanos em pesquisa e desenvolvimento em relação ao PIB, e muitos empresários europeus preferem migrar para os Estados Unidos a fim de desenvolver essas atividades. O gasto em P&D em relação ao PIB na União Europeia é também menor do que os da China, Reino Unido, Taiwan e Coreia do Sul. A UE já foi ultrapassada pela China no número de artigos publicados nas principais revistas científicas e Japão e Índia estão no seu encalço – enquanto os EUA continuam à frente. A capacidade econômica de inovação na Europa também permanece abaixo da de EUA e Japão. Ela já ficou para trás no desenvolvimento de tecnologia digital.

Draghi sugere uma série de “medidas drásticas” para combater o crescente gap entre EUA e Europa, de acordo com o Politico. No entanto, dificilmente essas medidas terão algum efeito, uma vez que a política da União Europeia continua absolutamente alinhada (isto é, dependente) à dos Estados Unidos e recentemente não foi adotada nenhuma medida relevante que indique um caminho distinto daquele que vem sendo tomado nas últimas décadas.

É por isso que há um descontentamento crescente, não apenas na população comum dos países do bloco, mas também entre setores influentes das elites políticas e econômicas europeias. O crescimento da extrema-direita na Alemanha, França, Itália, Holanda, Áustria, bem como a busca dos governos de Hungria e Eslováquia por uma maior soberania, são reflexos claros dessa tendência.

The views of individual contributors do not necessarily represent those of the Strategic Culture Foundation.

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