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Bruna Frascolla
September 11, 2024
© Photo: Public domain

Escreva para nós: info@strategic-culture.su

Existe ex-agente de inteligência? Se tal existir, Mike Benz é um, pois trabalhou para o Departamento de Estado dos EUA. E Mike Benz tem ganhado a atenção dos brasileiros porque, após largar oficialmente o emprego público, ele abriu uma ONG em defesa da liberdade de expressão e se dedicou a mostrar como seus ex-colegas de trabalho interferiram no Brasil. As revelações são interessantes porque sempre é bom saber detalhes, mas não são de modo algum surpreendentes. É óbvio que os EUA atuam por meio de seu guarda-chuva de ONGs para promover a censura politicamente correta no Brasil. Por isso mesmo, a coisa mais suspeita do mundo é um ex-agente de inteligência que abre uma ONG. É como largar o tráfico para se tornar bicheiro. Às vezes Elon Musk o retuíta.

Outra personagem estadunidense que ganhou holofotes no Brasil foi Michael Shellenberger, um jornalista e ongueiro defensor da liberdade de expressão e crítico da agenda verde. (Onde há ongueiros críticos da agenda verde, é provável que haja dinheiro dos Irmãos Koch.) Aqui, Shellenberger apresentou os Twitter Files Brazil junto com os jornalistas brasileiros David Ágape e Eli Vieira Jr (meus ex-colegas). Como se sabe, os Twitter Files consistiram na abertura dos documentos do Twitter por Elon Musk no fim de 2022, com o fito de mostrar a ingerência prévia do FBI na plataforma. No Brasil, os Twitter Files apareceram em abril de 2024, mais de um anos depois, e se dedicaram à exposição de Alexandre de Moraes. Um semelhança entre Estados Unidos e Brasil é que os Twitter Files, malgrado sua importância, foram levados a sério só por veículos e congressistas de direita.

À época dos Twitter Files Brasil, discuti com amigos quais seriam os interesses dos EUA nisso. A opinião comum, emitida por meios de comunicação brasileiros também, era a de que os trumpistas queriam usar o Brasil como um bicho papão dos Democratas: a ideia seria mostrar a censura que nos é imposta pelos seus e argumentar que, se os Democratas permanecessem na presidência, em breve o mesmo aconteceria com os EUA. Sem dúvida existe isso (veja o vídeo de Shellenberger em inglês, comunicando que vem ao Brasil protestar.) Mas há também uma evidente movimentação da direita brasileira (especialmente a liberal) para imitar a oposição venezuelana e pedir sanções ao Brasil. O nome mais proeminente nesse sentido é o do deputado Marcel Van Hattem, que anda para cima e para baixo com Shellenberger quando ele está no Brasil, e o encontra também nos estrangeiro, em eventos sobre liberdade de expressão.

Em virtude disso, eu sempre achei que a intenção da direita dos EUA, nessa movimentação, é impor sanções ao Brasil. Ora, nossa agricultura é forte concorrente do setor produtivo estadunidense. O setor produtivo tende a apoiar os Republicanos e está insatisfeito com devaneios de Green New Deal. Ao mesmo tempo, a militância de direita dos EUA é liberal ou libertária, e tende a ter, como artigos de fé, a crença no livre mercado e na livre expressão. Se os EUA sancionarem o Brasil em nome da liberdade de expressão, o caráter protecionista da medida é ocultado dos seus true believers.

Com o banimento do X, fiquei mais certa disso. Vocês podem ver aqui Mike Benz pedindo sanção ao Brasil. Jordan Peterson e Elon Musk já consideram que o banimento do X fez com que o Brasil se tornasse finalmente uma ditadura (decidiram chamar de ditadores Moraes e Lula, nesta ordem, embora Lula esteja último esteja quieto e o primeiro aja em acordo com os colegas do tribunal). Aquilo que era exagero retórico da oposição brasileira virou discurso de figurões da direita estadunidense. Que fazer com ditaduras? Sancionar, oras.

Mas é difícil saber se essa é a história toda. Depois de Elon Musk tirar a representação X do Brasil para fugir da justiça, Alexandre de Moraes bloqueou as contas da empresa Starlink, que é uma empresa diferente e não é só de Musk. Como bem apontou Mike Benz (no mesmo link que colei acima), o normal seria o governo dos Estados Unidos defender os interesses do seu cidadão. Por muito menos, outros países tomam sanções. Assim, isso só está acontecendo com a conivência dos EUA. Ele quer que acreditemos que se trata de uma oposição profunda e real entre Democratas e Republicanos, que faria com que um empresário trumpista fosse perseguido com a anuência do governo. Eu não acredito nisso – pois as empresas de Musk têm íntimas relações com o Estado.

Creio que agora ninguém tenha como saber, de fora, o que está acontecendo. Nesse angu, tem caroço.

A confusão do Twitter talvez sirva para impor sanções ao Brasil

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Existe ex-agente de inteligência? Se tal existir, Mike Benz é um, pois trabalhou para o Departamento de Estado dos EUA. E Mike Benz tem ganhado a atenção dos brasileiros porque, após largar oficialmente o emprego público, ele abriu uma ONG em defesa da liberdade de expressão e se dedicou a mostrar como seus ex-colegas de trabalho interferiram no Brasil. As revelações são interessantes porque sempre é bom saber detalhes, mas não são de modo algum surpreendentes. É óbvio que os EUA atuam por meio de seu guarda-chuva de ONGs para promover a censura politicamente correta no Brasil. Por isso mesmo, a coisa mais suspeita do mundo é um ex-agente de inteligência que abre uma ONG. É como largar o tráfico para se tornar bicheiro. Às vezes Elon Musk o retuíta.

Outra personagem estadunidense que ganhou holofotes no Brasil foi Michael Shellenberger, um jornalista e ongueiro defensor da liberdade de expressão e crítico da agenda verde. (Onde há ongueiros críticos da agenda verde, é provável que haja dinheiro dos Irmãos Koch.) Aqui, Shellenberger apresentou os Twitter Files Brazil junto com os jornalistas brasileiros David Ágape e Eli Vieira Jr (meus ex-colegas). Como se sabe, os Twitter Files consistiram na abertura dos documentos do Twitter por Elon Musk no fim de 2022, com o fito de mostrar a ingerência prévia do FBI na plataforma. No Brasil, os Twitter Files apareceram em abril de 2024, mais de um anos depois, e se dedicaram à exposição de Alexandre de Moraes. Um semelhança entre Estados Unidos e Brasil é que os Twitter Files, malgrado sua importância, foram levados a sério só por veículos e congressistas de direita.

À época dos Twitter Files Brasil, discuti com amigos quais seriam os interesses dos EUA nisso. A opinião comum, emitida por meios de comunicação brasileiros também, era a de que os trumpistas queriam usar o Brasil como um bicho papão dos Democratas: a ideia seria mostrar a censura que nos é imposta pelos seus e argumentar que, se os Democratas permanecessem na presidência, em breve o mesmo aconteceria com os EUA. Sem dúvida existe isso (veja o vídeo de Shellenberger em inglês, comunicando que vem ao Brasil protestar.) Mas há também uma evidente movimentação da direita brasileira (especialmente a liberal) para imitar a oposição venezuelana e pedir sanções ao Brasil. O nome mais proeminente nesse sentido é o do deputado Marcel Van Hattem, que anda para cima e para baixo com Shellenberger quando ele está no Brasil, e o encontra também nos estrangeiro, em eventos sobre liberdade de expressão.

Em virtude disso, eu sempre achei que a intenção da direita dos EUA, nessa movimentação, é impor sanções ao Brasil. Ora, nossa agricultura é forte concorrente do setor produtivo estadunidense. O setor produtivo tende a apoiar os Republicanos e está insatisfeito com devaneios de Green New Deal. Ao mesmo tempo, a militância de direita dos EUA é liberal ou libertária, e tende a ter, como artigos de fé, a crença no livre mercado e na livre expressão. Se os EUA sancionarem o Brasil em nome da liberdade de expressão, o caráter protecionista da medida é ocultado dos seus true believers.

Com o banimento do X, fiquei mais certa disso. Vocês podem ver aqui Mike Benz pedindo sanção ao Brasil. Jordan Peterson e Elon Musk já consideram que o banimento do X fez com que o Brasil se tornasse finalmente uma ditadura (decidiram chamar de ditadores Moraes e Lula, nesta ordem, embora Lula esteja último esteja quieto e o primeiro aja em acordo com os colegas do tribunal). Aquilo que era exagero retórico da oposição brasileira virou discurso de figurões da direita estadunidense. Que fazer com ditaduras? Sancionar, oras.

Mas é difícil saber se essa é a história toda. Depois de Elon Musk tirar a representação X do Brasil para fugir da justiça, Alexandre de Moraes bloqueou as contas da empresa Starlink, que é uma empresa diferente e não é só de Musk. Como bem apontou Mike Benz (no mesmo link que colei acima), o normal seria o governo dos Estados Unidos defender os interesses do seu cidadão. Por muito menos, outros países tomam sanções. Assim, isso só está acontecendo com a conivência dos EUA. Ele quer que acreditemos que se trata de uma oposição profunda e real entre Democratas e Republicanos, que faria com que um empresário trumpista fosse perseguido com a anuência do governo. Eu não acredito nisso – pois as empresas de Musk têm íntimas relações com o Estado.

Creio que agora ninguém tenha como saber, de fora, o que está acontecendo. Nesse angu, tem caroço.

Escreva para nós: info@strategic-culture.su

Existe ex-agente de inteligência? Se tal existir, Mike Benz é um, pois trabalhou para o Departamento de Estado dos EUA. E Mike Benz tem ganhado a atenção dos brasileiros porque, após largar oficialmente o emprego público, ele abriu uma ONG em defesa da liberdade de expressão e se dedicou a mostrar como seus ex-colegas de trabalho interferiram no Brasil. As revelações são interessantes porque sempre é bom saber detalhes, mas não são de modo algum surpreendentes. É óbvio que os EUA atuam por meio de seu guarda-chuva de ONGs para promover a censura politicamente correta no Brasil. Por isso mesmo, a coisa mais suspeita do mundo é um ex-agente de inteligência que abre uma ONG. É como largar o tráfico para se tornar bicheiro. Às vezes Elon Musk o retuíta.

Outra personagem estadunidense que ganhou holofotes no Brasil foi Michael Shellenberger, um jornalista e ongueiro defensor da liberdade de expressão e crítico da agenda verde. (Onde há ongueiros críticos da agenda verde, é provável que haja dinheiro dos Irmãos Koch.) Aqui, Shellenberger apresentou os Twitter Files Brazil junto com os jornalistas brasileiros David Ágape e Eli Vieira Jr (meus ex-colegas). Como se sabe, os Twitter Files consistiram na abertura dos documentos do Twitter por Elon Musk no fim de 2022, com o fito de mostrar a ingerência prévia do FBI na plataforma. No Brasil, os Twitter Files apareceram em abril de 2024, mais de um anos depois, e se dedicaram à exposição de Alexandre de Moraes. Um semelhança entre Estados Unidos e Brasil é que os Twitter Files, malgrado sua importância, foram levados a sério só por veículos e congressistas de direita.

À época dos Twitter Files Brasil, discuti com amigos quais seriam os interesses dos EUA nisso. A opinião comum, emitida por meios de comunicação brasileiros também, era a de que os trumpistas queriam usar o Brasil como um bicho papão dos Democratas: a ideia seria mostrar a censura que nos é imposta pelos seus e argumentar que, se os Democratas permanecessem na presidência, em breve o mesmo aconteceria com os EUA. Sem dúvida existe isso (veja o vídeo de Shellenberger em inglês, comunicando que vem ao Brasil protestar.) Mas há também uma evidente movimentação da direita brasileira (especialmente a liberal) para imitar a oposição venezuelana e pedir sanções ao Brasil. O nome mais proeminente nesse sentido é o do deputado Marcel Van Hattem, que anda para cima e para baixo com Shellenberger quando ele está no Brasil, e o encontra também nos estrangeiro, em eventos sobre liberdade de expressão.

Em virtude disso, eu sempre achei que a intenção da direita dos EUA, nessa movimentação, é impor sanções ao Brasil. Ora, nossa agricultura é forte concorrente do setor produtivo estadunidense. O setor produtivo tende a apoiar os Republicanos e está insatisfeito com devaneios de Green New Deal. Ao mesmo tempo, a militância de direita dos EUA é liberal ou libertária, e tende a ter, como artigos de fé, a crença no livre mercado e na livre expressão. Se os EUA sancionarem o Brasil em nome da liberdade de expressão, o caráter protecionista da medida é ocultado dos seus true believers.

Com o banimento do X, fiquei mais certa disso. Vocês podem ver aqui Mike Benz pedindo sanção ao Brasil. Jordan Peterson e Elon Musk já consideram que o banimento do X fez com que o Brasil se tornasse finalmente uma ditadura (decidiram chamar de ditadores Moraes e Lula, nesta ordem, embora Lula esteja último esteja quieto e o primeiro aja em acordo com os colegas do tribunal). Aquilo que era exagero retórico da oposição brasileira virou discurso de figurões da direita estadunidense. Que fazer com ditaduras? Sancionar, oras.

Mas é difícil saber se essa é a história toda. Depois de Elon Musk tirar a representação X do Brasil para fugir da justiça, Alexandre de Moraes bloqueou as contas da empresa Starlink, que é uma empresa diferente e não é só de Musk. Como bem apontou Mike Benz (no mesmo link que colei acima), o normal seria o governo dos Estados Unidos defender os interesses do seu cidadão. Por muito menos, outros países tomam sanções. Assim, isso só está acontecendo com a conivência dos EUA. Ele quer que acreditemos que se trata de uma oposição profunda e real entre Democratas e Republicanos, que faria com que um empresário trumpista fosse perseguido com a anuência do governo. Eu não acredito nisso – pois as empresas de Musk têm íntimas relações com o Estado.

Creio que agora ninguém tenha como saber, de fora, o que está acontecendo. Nesse angu, tem caroço.

The views of individual contributors do not necessarily represent those of the Strategic Culture Foundation.

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