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Terminada a conferência climática multilateral COP29, realizada em Baku, no Azerbaijão, o clima é de derrota. Quase 1 semana inteira de falatório e de reuniões intermináveis não parecem ter sido o bastante para alcançar um consenso razoável sobre uma série de medidas práticas em relação às quais havia expectativas.
Em um sentido específico, o debate sobre o financiamento das políticas climáticas naufragou. Os chamados “países em desenvolvimento” esperavam uma política de doação anual de pouco mais de 1 trilhão de dólares para políticas voltadas para a transição energética e para a mitigação dos efeitos das “mudanças climáticas”, mas só serão transferidos 300 bilhões ao ano. E isso sendo otimista. Até porque, esses 300 bilhões não constituirão, necessariamente, doações, podendo se dar também através de empréstimos e outras formas de financiamento que acarretam juros e endividamento.
A Índia denunciou o resultado final da COP29, sob os aplausos da Bolívia, de Cuba e da Nigéria, como sendo uma grande farsa e um insulto dos países desenvolvidos aos países em desenvolvimento.
Esse debate sobre financiamento ficará, agora, para a próxima COP30, no Brasil em 2025. O problema é que as chances da COP30 avançarem naquilo que a COP29 não conseguiu são muito baixas.
Apesar do alarmismo climático e do ecomundialismo fazerem, hoje, parte da ideologia oficial no Brasil, no resto do mundo essas crenças pós-modernas estão em refluxo.
Tomemos a questão do porquê foi impossível ampliar o financiamento para a “Agenda Verde” nos “países desenvolvidos”. Se observarmos o comportamento dos governos europeus desde o início da operação militar especial russa na Ucrânia veremos uma crescente dificuldade de avançar com as pautas da transição energética e do carbono zero.
A Alemanha, por exemplo, era um dos principais motores do alarmismo climático no mundo, chegando ao ponto de fechar as suas usinas nucleares “em prol do meio ambiente” (apesar das usinas nucleares serem bem menos poluentes do que a maioria das outras fontes energéticas). Mas hoje, afetada por uma crise energética gerada pela destruição do NordStream, a Alemanha está reabrindo as suas usinas de carvão.
A Suécia, por sua vez, que sempre esteve também na vanguarda do ativismo climático internacional passou a reverter a maioria das medidas ambientalistas de governos anteriores. O Ministério do Meio Ambiente foi desmontado e o governo passou a priorizar a garantia de combustível barato.
No Reino Unido, enquanto isso, o governo anterior do Primeiro-Ministro Rishi Sunak decidiu suspender a proibição da venda de carros a diesel, bem como decidiu deixar de promover a substituição dos aquecedores a gás. E poderíamos continuar dando exemplos de vários outros países.
Claramente, as sanções e a destruição do NordStream tornaram a situação energética europeia suficientemente difícil, aumentando o custo de vida, a ponto de convencer os governos europeus a reverter pelo menos algumas das suas medidas ambientalistas e reduzindo o seu entusiasmo pela promoção do alarmismo climático em escala mundial.
Esse recuo das nações europeias será composto pelo fato de que a partir de 2025 os EUA serão governados por Donald Trump, o qual possui uma postura crítica perante o alarmismo climático e promete, inclusive, a intensificação do fracking para a exploração de hidrocarbonetos no país. Tudo isso é confirmado pelas indicações de Chris Wright para Secretário da Energia e de Lee Zeldin para a Agência de Proteção Ambiental dos EUA.
No Brasil, a mídia revelou que o governo Lula teme um esvaziamento da COP30, a ser realizada no norte do país em 2025, na região amazônica, com os EUA sendo governados por Trump. Naturalmente, para os patriotas brasileiros, interessados na garantia da soberania brasileira sobre a Amazônia e na exploração do petróleo da Margem Equatorial, trata-se de uma boa notícia.
De fato, causa espanto a insistência do Brasil na adesão à “Agenda Verde”, considerando que ela frequentemente funciona como uma ferramenta de controle geopolítico que favorece grandes potências em detrimento das nações em desenvolvimento. A agenda climática muitas vezes impõe ao Brasil obrigações desproporcionais em relação à sua real contribuição para as emissões globais de gases de efeito estufa, que são significativamente menores do que as das economias mais industrializadas.
Com uma matriz energética majoritariamente renovável, o Brasil já é um exemplo de sustentabilidade e eficiência energética no mundo. Cerca de 84% da nossa energia elétrica é gerada por fontes limpas, como hidrelétricas, eólicas, solares e biomassa, um patamar que países como Estados Unidos e Alemanha estão longe de alcançar, apesar de liderarem os discursos climáticos globais.
Enquanto isso, países desenvolvidos que construíram sua riqueza explorando indiscriminadamente seus recursos naturais e poluindo o planeta agora pregam restrições ambientais que buscam limitar o crescimento de economias emergentes, como a brasileira. Essas imposições, muitas vezes, prejudicam setores estratégicos, como a exploração de petróleo e gás, a mineração e a agroindústria, fundamentais para o desenvolvimento e a soberania nacional.
Na prática, parece que estamos testemunhando a crise da “Agenda Verde” que tem dominado a política mundial já há alguns anos. Mas alguns países ainda parecem não ter entendido que toda essa agenda nunca foi nada além de uma nova estratégia das elites mundiais para a acumulação de capital e para a imposição de novas formas de controle social.