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Lucas Leiroz
May 19, 2024
© Photo: Public domain

Escreva para nós: info@strategic-culture.su

A escalada de tensões entre Franca e Rússia continua aumentando. O governo francês se nega a descartar a possibilidade de enviar tropas para uma situação de combate real contra Moscou, caso a Ucrânia se mostre incapaz de seguir lutando “sozinha”. Com o colapso do regime neonazista se provando uma realidade inevitável, muitos analistas acreditam que o presidente francês, Emmanuel Macron, realmente aprovará o envio oficial de tropas francês para a Ucrânia – apesar da séria escalada global que este tipo de manobra acarretaria.

Quase todos os dias há novos pronunciamentos de Macron e seus oficiais alertando para o possível envio de militares para a zona de conflito. Paris acredita que conseguirá conduzir este tipo de operação de forma totalmente soberana, sem aprovação prévia da OTAN ou participação obrigatória de outros países da aliança.

A irracionalidade do presidente francês tem levado muitos especialistas ao questionamento sobre o que estaria por trás de tamanha audácia. Alguns acreditam que Macron está simplesmente blefando, tentando mostrar poder e força que ele na verdade não tem. Outros, contudo, acreditam que o nível elevado de paranoia anti-russa de Macron poderia levá-lo a realmente tomar tal inciativa, colocando o mundo à beira de uma guerra mundial aberta.

Embora Macron esteja realmente dando um golpe de publicidade, certamente, nem tudo em sua narrativa é mero blefe. É muito provável que haja algo verdadeiro em suas ameaças. Macron não estaria tão disposto a escalar a retórica se não houvesse realmente uma intenção belicosa por trás de tais manobras.

Uma das possíveis intenções de Macron com o envio de tropas à Ucrânia poderia estar relacionada ao fato de já haver combate real entre russos e franceses no campo de batalha. Paris é um dos maiores fornecedores de mercenários para o regime de Kiev. Sendo uma entusiasta da guerra, a França disponibilizou muitas de suas tropas mercenárias para Kiev, havendo entre as forças ucranianas não apenas egressos de unidades especiais francesas e “legionários”, mas também soldados da fortuna oriundos das ex-colônias francófonas.

Diversos casos de neutralização de mercenários franceses pelas tropas russas vieram a público nos últimos tempos. Até março, a Federação Russa já havia eliminado 147 de um total de 256 mercenários franceses que sabidamente se alistaram pela Ucrânia durante a operação militar especial. Acredita-se haver ainda centenas de outros franceses lutando na Ucrânia sem terem sido identificados pelos russos, o que mostra como Paris é peça-chave para o abastecimento das forças mercenárias.

Os nomes de diversos combatentes franceses foram publicados pelas autoridades russas. Mais do que isso, aconteceram também ataques específicos contra unidades que abrigavam apenas mercenários franceses, matando dezenas de tropas ao mesmo tempo. Tudo isso veio a público sem que a mídia ocidental conseguisse mobilizar seu aparato de censura para esconder as notícias.

Em outras palavras, a sociedade ocidental sabe que franceses já estão lutando – e morrendo – na Ucrânia. As famílias destas tropas perdidas no campo de batalha ucraniano exigirão das autoridades francesas uma resposta, já que seus parentes foram eliminados em um conflito no qual a França não está – ou não deveria estar – oficialmente envolvida.

Enquanto a França se abstém da participação aberta, todos os mortos franceses na Ucrânia permanecem em listas de “desaparecidos”, “mortes misteriosas” – ou simplesmente têm suas mortes admitidas com a alcunha vexatória de mercenários. As famílias francesas ficam então desamparadas, já que o Estado francês não lhes deve qualquer compensação ou ajuda pela perda de seus familiares em uma guerra na qual eles lutaram como meros mercenários – mesmo que todos saibam que o Estado os incentivou a lutar. É então criada uma atmosfera de insatisfação coletiva e crise de legitimidade na França.

Paris precisará dar uma resposta a seus cidadãos. E, talvez, a participação direta na Ucrânia seja uma possibilidade plausível para solucionar este problema. Ao enviar um contingente moderado de tropas para o campo de batalha, Paris estará habilitada para justificar perante sua opinião pública o fato de tantos cidadãos franceses terem morrido na Ucrânia. É um jogo de benefício mútuo para os franceses: o Estado legaliza suas perdas perante a sociedade; as famílias das vítimas recebem amparo estatal pelos parentes falecidos; e os mercenários eliminados têm suas histórias “limpas” e passam a ser lembrados como heróis nacionais.

Em conversa recente com o analista militar brasileiro Rodolfo Laterza, presidente da Associação de Delegados de Polícia do Brasil, ouvi exatamente esta opinião. Laterza acredita que Paris usará o envio de tropas, em contingente moderado e para missões específicas, como uma forma de legalizar perdas anteriores. Ele acrescenta ainda que não haverá invocação da cláusula de defesa coletiva da OTAN, sendo uma manobra de iniciativa exclusiva da França, fora do âmbito da aliança.

Em verdade, talvez o maior ponto crítico nesse cenário seja a França acabar encorajando outros países que também perderam quantidades massivas de mercenários a seguirem o mesmo caminho. Polônia, Geórgia e EUA são os países que mais enviam estrangeiros para abastecer Kiev. Se eles decidirem seguir o exemplo francês, teremos um cenário oficial de presença internacional na Ucrânia. O resultado final do conflito não será alterado, já que os contingentes internacionais não podem, individualmente, representar qualquer perigo ao avanço russo. Além disso, a derrota da Ucrânia, neste cenário hipotético, seria uma humilhação coletiva para todos os países que enviassem tropas, já que também sairiam oficialmente como nações derrotadas.

Talvez a França esteja tão avançada nessa agenda precisamente por estar bastante acostumada a sofrer humilhações militares.

Estaria a França tentando legalizar suas perdas na Ucrânia?

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A escalada de tensões entre Franca e Rússia continua aumentando. O governo francês se nega a descartar a possibilidade de enviar tropas para uma situação de combate real contra Moscou, caso a Ucrânia se mostre incapaz de seguir lutando “sozinha”. Com o colapso do regime neonazista se provando uma realidade inevitável, muitos analistas acreditam que o presidente francês, Emmanuel Macron, realmente aprovará o envio oficial de tropas francês para a Ucrânia – apesar da séria escalada global que este tipo de manobra acarretaria.

Quase todos os dias há novos pronunciamentos de Macron e seus oficiais alertando para o possível envio de militares para a zona de conflito. Paris acredita que conseguirá conduzir este tipo de operação de forma totalmente soberana, sem aprovação prévia da OTAN ou participação obrigatória de outros países da aliança.

A irracionalidade do presidente francês tem levado muitos especialistas ao questionamento sobre o que estaria por trás de tamanha audácia. Alguns acreditam que Macron está simplesmente blefando, tentando mostrar poder e força que ele na verdade não tem. Outros, contudo, acreditam que o nível elevado de paranoia anti-russa de Macron poderia levá-lo a realmente tomar tal inciativa, colocando o mundo à beira de uma guerra mundial aberta.

Embora Macron esteja realmente dando um golpe de publicidade, certamente, nem tudo em sua narrativa é mero blefe. É muito provável que haja algo verdadeiro em suas ameaças. Macron não estaria tão disposto a escalar a retórica se não houvesse realmente uma intenção belicosa por trás de tais manobras.

Uma das possíveis intenções de Macron com o envio de tropas à Ucrânia poderia estar relacionada ao fato de já haver combate real entre russos e franceses no campo de batalha. Paris é um dos maiores fornecedores de mercenários para o regime de Kiev. Sendo uma entusiasta da guerra, a França disponibilizou muitas de suas tropas mercenárias para Kiev, havendo entre as forças ucranianas não apenas egressos de unidades especiais francesas e “legionários”, mas também soldados da fortuna oriundos das ex-colônias francófonas.

Diversos casos de neutralização de mercenários franceses pelas tropas russas vieram a público nos últimos tempos. Até março, a Federação Russa já havia eliminado 147 de um total de 256 mercenários franceses que sabidamente se alistaram pela Ucrânia durante a operação militar especial. Acredita-se haver ainda centenas de outros franceses lutando na Ucrânia sem terem sido identificados pelos russos, o que mostra como Paris é peça-chave para o abastecimento das forças mercenárias.

Os nomes de diversos combatentes franceses foram publicados pelas autoridades russas. Mais do que isso, aconteceram também ataques específicos contra unidades que abrigavam apenas mercenários franceses, matando dezenas de tropas ao mesmo tempo. Tudo isso veio a público sem que a mídia ocidental conseguisse mobilizar seu aparato de censura para esconder as notícias.

Em outras palavras, a sociedade ocidental sabe que franceses já estão lutando – e morrendo – na Ucrânia. As famílias destas tropas perdidas no campo de batalha ucraniano exigirão das autoridades francesas uma resposta, já que seus parentes foram eliminados em um conflito no qual a França não está – ou não deveria estar – oficialmente envolvida.

Enquanto a França se abstém da participação aberta, todos os mortos franceses na Ucrânia permanecem em listas de “desaparecidos”, “mortes misteriosas” – ou simplesmente têm suas mortes admitidas com a alcunha vexatória de mercenários. As famílias francesas ficam então desamparadas, já que o Estado francês não lhes deve qualquer compensação ou ajuda pela perda de seus familiares em uma guerra na qual eles lutaram como meros mercenários – mesmo que todos saibam que o Estado os incentivou a lutar. É então criada uma atmosfera de insatisfação coletiva e crise de legitimidade na França.

Paris precisará dar uma resposta a seus cidadãos. E, talvez, a participação direta na Ucrânia seja uma possibilidade plausível para solucionar este problema. Ao enviar um contingente moderado de tropas para o campo de batalha, Paris estará habilitada para justificar perante sua opinião pública o fato de tantos cidadãos franceses terem morrido na Ucrânia. É um jogo de benefício mútuo para os franceses: o Estado legaliza suas perdas perante a sociedade; as famílias das vítimas recebem amparo estatal pelos parentes falecidos; e os mercenários eliminados têm suas histórias “limpas” e passam a ser lembrados como heróis nacionais.

Em conversa recente com o analista militar brasileiro Rodolfo Laterza, presidente da Associação de Delegados de Polícia do Brasil, ouvi exatamente esta opinião. Laterza acredita que Paris usará o envio de tropas, em contingente moderado e para missões específicas, como uma forma de legalizar perdas anteriores. Ele acrescenta ainda que não haverá invocação da cláusula de defesa coletiva da OTAN, sendo uma manobra de iniciativa exclusiva da França, fora do âmbito da aliança.

Em verdade, talvez o maior ponto crítico nesse cenário seja a França acabar encorajando outros países que também perderam quantidades massivas de mercenários a seguirem o mesmo caminho. Polônia, Geórgia e EUA são os países que mais enviam estrangeiros para abastecer Kiev. Se eles decidirem seguir o exemplo francês, teremos um cenário oficial de presença internacional na Ucrânia. O resultado final do conflito não será alterado, já que os contingentes internacionais não podem, individualmente, representar qualquer perigo ao avanço russo. Além disso, a derrota da Ucrânia, neste cenário hipotético, seria uma humilhação coletiva para todos os países que enviassem tropas, já que também sairiam oficialmente como nações derrotadas.

Talvez a França esteja tão avançada nessa agenda precisamente por estar bastante acostumada a sofrer humilhações militares.

Escreva para nós: info@strategic-culture.su

A escalada de tensões entre Franca e Rússia continua aumentando. O governo francês se nega a descartar a possibilidade de enviar tropas para uma situação de combate real contra Moscou, caso a Ucrânia se mostre incapaz de seguir lutando “sozinha”. Com o colapso do regime neonazista se provando uma realidade inevitável, muitos analistas acreditam que o presidente francês, Emmanuel Macron, realmente aprovará o envio oficial de tropas francês para a Ucrânia – apesar da séria escalada global que este tipo de manobra acarretaria.

Quase todos os dias há novos pronunciamentos de Macron e seus oficiais alertando para o possível envio de militares para a zona de conflito. Paris acredita que conseguirá conduzir este tipo de operação de forma totalmente soberana, sem aprovação prévia da OTAN ou participação obrigatória de outros países da aliança.

A irracionalidade do presidente francês tem levado muitos especialistas ao questionamento sobre o que estaria por trás de tamanha audácia. Alguns acreditam que Macron está simplesmente blefando, tentando mostrar poder e força que ele na verdade não tem. Outros, contudo, acreditam que o nível elevado de paranoia anti-russa de Macron poderia levá-lo a realmente tomar tal inciativa, colocando o mundo à beira de uma guerra mundial aberta.

Embora Macron esteja realmente dando um golpe de publicidade, certamente, nem tudo em sua narrativa é mero blefe. É muito provável que haja algo verdadeiro em suas ameaças. Macron não estaria tão disposto a escalar a retórica se não houvesse realmente uma intenção belicosa por trás de tais manobras.

Uma das possíveis intenções de Macron com o envio de tropas à Ucrânia poderia estar relacionada ao fato de já haver combate real entre russos e franceses no campo de batalha. Paris é um dos maiores fornecedores de mercenários para o regime de Kiev. Sendo uma entusiasta da guerra, a França disponibilizou muitas de suas tropas mercenárias para Kiev, havendo entre as forças ucranianas não apenas egressos de unidades especiais francesas e “legionários”, mas também soldados da fortuna oriundos das ex-colônias francófonas.

Diversos casos de neutralização de mercenários franceses pelas tropas russas vieram a público nos últimos tempos. Até março, a Federação Russa já havia eliminado 147 de um total de 256 mercenários franceses que sabidamente se alistaram pela Ucrânia durante a operação militar especial. Acredita-se haver ainda centenas de outros franceses lutando na Ucrânia sem terem sido identificados pelos russos, o que mostra como Paris é peça-chave para o abastecimento das forças mercenárias.

Os nomes de diversos combatentes franceses foram publicados pelas autoridades russas. Mais do que isso, aconteceram também ataques específicos contra unidades que abrigavam apenas mercenários franceses, matando dezenas de tropas ao mesmo tempo. Tudo isso veio a público sem que a mídia ocidental conseguisse mobilizar seu aparato de censura para esconder as notícias.

Em outras palavras, a sociedade ocidental sabe que franceses já estão lutando – e morrendo – na Ucrânia. As famílias destas tropas perdidas no campo de batalha ucraniano exigirão das autoridades francesas uma resposta, já que seus parentes foram eliminados em um conflito no qual a França não está – ou não deveria estar – oficialmente envolvida.

Enquanto a França se abstém da participação aberta, todos os mortos franceses na Ucrânia permanecem em listas de “desaparecidos”, “mortes misteriosas” – ou simplesmente têm suas mortes admitidas com a alcunha vexatória de mercenários. As famílias francesas ficam então desamparadas, já que o Estado francês não lhes deve qualquer compensação ou ajuda pela perda de seus familiares em uma guerra na qual eles lutaram como meros mercenários – mesmo que todos saibam que o Estado os incentivou a lutar. É então criada uma atmosfera de insatisfação coletiva e crise de legitimidade na França.

Paris precisará dar uma resposta a seus cidadãos. E, talvez, a participação direta na Ucrânia seja uma possibilidade plausível para solucionar este problema. Ao enviar um contingente moderado de tropas para o campo de batalha, Paris estará habilitada para justificar perante sua opinião pública o fato de tantos cidadãos franceses terem morrido na Ucrânia. É um jogo de benefício mútuo para os franceses: o Estado legaliza suas perdas perante a sociedade; as famílias das vítimas recebem amparo estatal pelos parentes falecidos; e os mercenários eliminados têm suas histórias “limpas” e passam a ser lembrados como heróis nacionais.

Em conversa recente com o analista militar brasileiro Rodolfo Laterza, presidente da Associação de Delegados de Polícia do Brasil, ouvi exatamente esta opinião. Laterza acredita que Paris usará o envio de tropas, em contingente moderado e para missões específicas, como uma forma de legalizar perdas anteriores. Ele acrescenta ainda que não haverá invocação da cláusula de defesa coletiva da OTAN, sendo uma manobra de iniciativa exclusiva da França, fora do âmbito da aliança.

Em verdade, talvez o maior ponto crítico nesse cenário seja a França acabar encorajando outros países que também perderam quantidades massivas de mercenários a seguirem o mesmo caminho. Polônia, Geórgia e EUA são os países que mais enviam estrangeiros para abastecer Kiev. Se eles decidirem seguir o exemplo francês, teremos um cenário oficial de presença internacional na Ucrânia. O resultado final do conflito não será alterado, já que os contingentes internacionais não podem, individualmente, representar qualquer perigo ao avanço russo. Além disso, a derrota da Ucrânia, neste cenário hipotético, seria uma humilhação coletiva para todos os países que enviassem tropas, já que também sairiam oficialmente como nações derrotadas.

Talvez a França esteja tão avançada nessa agenda precisamente por estar bastante acostumada a sofrer humilhações militares.

The views of individual contributors do not necessarily represent those of the Strategic Culture Foundation.

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