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“Hitler era um chefe militar inigualável; o nazismo fez passar a Alemanha de um nível baixo a um nível económico e ideológico fantástico”
(Moshe Feiglin, dirigente do partido de Netanyahu e ex-vice-presidente do Parlamento de Israel)
Tal como monopolizou o judaísmo e o semitismo, o sionismo fê-lo também com as vítimas das atrocidades nazis ao tentar assumir, pelo menos propagandisticamente, o Holocausto de judeus como a única e grande hecatombe originada pelo regime terrorista de Hitler.
A “solução final” de Hitler foi adoptada com o objectivo declarado de exterminar “a raça judaica”. Pelos campos da morte e de batalha e pelas câmaras de gás passaram, porém, milhões de não-judeus e também muitos e muitos judeus que não foram vítimas directas das suas características etno-religiosas mas perderam a vida porque combateram o nazismo como trabalhadores, como cidadãos, como democratas. O nazismo nasceu com objectivos muito mais amplos do que o extermínio dos judeus e provavelmente a maioria dos seres humanos que pereceram ante a máquina de morte nazi na União Soviética, nos países do Leste da Europa, em França, Itália, na Grã-Bretanha, na Bélgica, em Espanha, na Áustria, na Alemanha, enfim, não eram judeus. E a maioria destes, certamente, não eram sionistas, provavelmente nunca tinham ouvido falar em tal doutrina. Quando a “solução final” foi decidida, no fim de Julho de 1941, milhões de pessoas tinham já perecido em consequência dos instrumentos de assassínio em massa desenvolvidos pelo regime de Hitler.
O sionismo não pode, portanto, reclamar o monopólio das vítimas do nazifascismo e não tem igualmente legitimidade para se apropriar da memória dos muitos judeus não-sionistas sacrificados no Holocausto. Do mesmo modo, o Estado de Israel, como obra do sionismo, não tem o direito de representar em bloco as vítimas do Holocausto porque está muito longe de ter soberania sobre os judeus de todo o mundo.
A apropriação do Holocausto pelo sionismo é uma hipocrisia de grande insensibilidade, no mínimo, e uma expressão do seu espírito totalitário.
Tanto mais que a História nos ensina, com exemplos abundantes, a cumplicidade do sionismo com o nazifascismo no doutrinamento e preparação operacional dos grupos paramilitares perpetradores da limpeza étnica que tornou possível a instauração do Estado de Israel e constituíram a base das actuais Forças de Defesa de Israel, o exército israelita. A génese de grupos terroristas como o Irgun, Betar, Haganah, Stern, Lehi esteve nas escolas e centros de treino de organizações fascistas na Itália de Mussolini e o exército de Israel tem demonstrado, como agora acontece em Gaza, que a herança dessa escola não se perdeu ao longo das décadas.
Quando implantou o “revisionismo” sionista a partir de 1925, Vladimir Jabotinsky dotou o movimento com um grupo militante subordinado a uma hierarquia militar, o Betar ou Beitar, designação hoje assumida por um clube de futebol de Jerusalém, com participação nas competições europeias, que tem como principal adepto o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e uma claque de arruaceiros que não esconde comportamentos fascistas. No início, só tinham acesso ao grupo Betar os militantes sionistas que fossem suficientemente antiárabes e antibritânicos, considerados estes os inimigos principais, plataforma em que convergiam o revisionismo sionista e o nazifascismo.
As hostes de Jabotinsky tinham uma cerrada orientação anticomunista que já vinha do início da década de vinte, quando o chefe revisionista, de origem ucraniana, se aliou com o dirigente nacionalista ucraniano Simon Petliura para atacar a União Soviética. Petliura era um antissemita assumido, organizador de numerosos pogroms nos quais foram assassinados centenas de judeus. Isso não representou qualquer problema para Jabotinsky que, na sequência do entendimento com Petliura nomeou um enviado, Maxim Slavinsky, para coordenar um “ataque branco” contra a União Soviética.
Esta aliança política e operacional com um militante e activista antissemita criou a Jabotinsky alguns problemas na direcção da Organização Sionista Mundial, cargo que abandonou, embora por pouco tempo. E nunca renegou as suas afinidades com o antissemita e chefe terrorista ucraniano, pai ideológico dos nacionalistas como Stepan Bandera que inspiram o nazismo actualmente dominante no regime de Kiev apoiado pela NATO e pelo chamado Ocidente colectivo. Para que não houvesse dúvidas, Jabotinsky declarou em 1923: “No meu epitáfio podem escrever: Este foi o homem que fez o pacto com Petliura’”.
Na esteira do anticomunismo vinha também o antissocialismo do revisionismo sionista, afinal uma outra manifestação de antissemitismo contra extractos judaicos. Jabotinsky criou a chamada Legião Judaica, igualmente um grupo paramilitar, que tinha entre as suas missões, conforme explicou, “exterminar fisicamente o Histadruth (central sindical fundada por Golda Meir) porque os seus membros são piores que os árabes e não possuem o espírito nacionalista dominante nos alemães porque nenhum deles é capaz de matar da maneira como Karl Liebknech e Rosa Luxemburgo foram mortos”. Afinal, o assassínio do primeiro-ministro Isaac Rabin inspirado pela direita sionista, muitas décadas depois, não foi um caso virgem de terrorismo político interno. No seu livro “Em três frentes”, de Agosto de 1939, Ben Gurion manifestou, ainda muito prematuramente, a sua experiência e inegável sabedoria, dir-se-ia profética, sobre as pulsões e os instintos criminosos do sionismo: “Do terrorismo judaico contra os árabes é um pequeno passo para o terrorismo judaico contra os judeus”.
De braço dado com Mussolini
A Legião Judaica criada por Jabotinsky foi a base da fundação do grupo Haganah, outro dos que conduziu a limpeza étnica na Palestina nos últimos anos da década de quarenta – depois integrado nas forças militares de Israel.
O principal discípulo de Vladimir Jabotinsky foi Menahem Begin, um judeu de Varsóvia que veio a ser primeiro-ministro de Israel entre 1977 e 1983, prémio Nobel da Paz e principal responsável pela carnificina do Verão de 1982 em Beirute, culminada com o massacre de milhares de idosos, mulheres e crianças nos campos de refugiados palestinianos de Sabra e Chatila.
Menahem Begin foi um dos principais responsáveis do grupo Betar, que deu origem à organização terrorista Irgun, da qual assumiu a direcção.
O revisionismo idealizado por Jabotinsky tornou-se dominante no interior da na Organização Sionista Mundial à medida que, no fim dos anos vinte e década de trinta, se foi aproximando do chefe fascista italiano Benito Mussolini. Esta convergência registou-se tanto nos domínios operacionais como ideológicos, conduzindo o topo do sionismo a enquadrar-se numa estrutura política ferozmente antissemita.
Por este caminho o sistema operacional sionista, numa época de grande proliferação na Europa de mecanismos de militarização da sociedade, acabou por beneficiar do apoio do aparelho fascista italiano aos seus grupos paramilitares.
No princípio dos anos trinta, Vladimir Jabotinsky fundou uma escola do seu movimento revisionista em Roma, onde os alunos eram doutrinados segundo as orientações fascistas. Os membros do Betar usavam camisas castanhas.
Em 1934 Mussolini enquadrou militarmente o Betar no fascismo italiano, transformando-o num esquadrão formado na Academia Naval de Citavecchia e depois colocado sob o comando da marinha militar do duce.
A apresentação do esquadrão sionista Betar, antecessor do Irgun, decorreu em Roma, em Março de 1936. Os seus membros terminaram o juramento com “Viva Itália, viva o rei, viva o duce”, seguindo-se a consagração religiosa pelo rabino da capital italiana, Aldo Lattes, invocando Deus, o rei e o duce em hebraico e italiano. A cerimónia terminou com os presentes entoando em coro a “Giovinezza”, o hino fascista.
Jabotinsky defendia, entretanto, que a Organização Sionista Mundial deveria “ter um único e principal comandante do movimento, um líder, um chefe”. O ideólogo sionista revisionista manifestou o seu “ódio” por “esta palavra; no entanto, acrescentou, “se tiver de haver um, então que haja um chefe”. No seu romance “Sansão”, cuja acção se passava em Gaza, território onde supostamente terá nascido a lendária figura bíblica, descreveu um herói “que teve neste espectáculo de milhares de pessoas obedecendo a um simples desejo o vislumbre do grande segredo de multidões politicamente mentalizadas”.
Vladimir Jabotinsky passou a ser conhecido como “duce” e solicitou a Mussolini a criação de condições para organizar em 1935, em Trieste, um Congresso Mundial da Organização Sionista, reunião que acabou por ser transferida para Viena. Nesse Congresso, presidido por Jacob de Hass, colaborador de confiança de Theodor Herzl e pouco antes convertido ao revisionismo, este declarou que “a democracia é um assunto morto em toda a Europa (…) Os delegados não são fascistas mas, tendo perdido a fé na democracia, não eram antifascistas; contudo, eram muito anticomunistas”.
Foi nessa altura que Mussolini disse a David Prato, que veio a ser rabino de Roma: “Para o sionismo ter êxito vocês necessitam de um Estado judaico, com uma bandeira judaica e uma língua judaica; a pessoa que realmente entende isso é o vosso fascista Jabotinsky”.
Desde então o revisionismo ficou conhecido vulgarmente por “fascismo sionista”; Ben Gurion falava muitas vezes de Jabotinsky como “Vladimir Hitler” e chamava aos nazis os “revisionistas alemães”. Isso não impediu aquele que é considerado o fundador do Estado de Israel de chegar a um acordo de pacificação interna do sionismo com Jabotinsky.
Os “betaris”, membros do Betar, ficaram conhecidos como “os judeus fascistas”. No Betar teve origem o Irgun, do qual Menahem Begin foi chefe; e do Irgun saiu uma dissidência que deu origem ao Gang Stern, chefiado por Avraham Stern que, tal como os outros terroristas que o acompanharam, Nathan Yalin-Mor e Abba Achimeir, eram amigos de Menahem Begin.
Já na Palestina, ainda no período do Mandato Britânico, Achimeir dirigiu o jornal “Diário de um Fascista”, que defendia a “união dos terroristas” segundo o modelo dos “squadristi” fascistas italianos.
Um dos principais dirigentes operacionais do Stern foi Isaac Shamir, que terá comandado, segundo a imprensa israelita, os atentados mortais contra Lorde Mayne, ministro residente britânico para o Médio Oriente, em 6 de Novembro de 1944; e contra o conde Folke Bernardotte, mediador da ONU na Palestina, em 17 de Setembro de 1948.
Estes factos regressaram à superfície em Israel quando em 1977 o primeiro- ministro Isaac Rabin nomeou Isaac Shamir como seu ministro dos Negócios Estrangeiros. Os dois principais cargos do governo de Israel ficaram, deste modo, entregues ao antigo chefe do grupo terrorista Irgun e a um dos comandantes operacionais do grupo terrorista Stern.
Isaac Shamir foi sucessor de Begin como primeiro-ministro, cargo que exerceu de forma intermitente até 1992 e lhe permitiu chefiar em Madrid, em Outubro de 1991, as primeiras negociações israelo-árabes sobre o futuro do Médio Oriente, designadamente da questão palestiniana. No último mandato, o porta-voz governamental de Isaac Shamir, papel onde granjeou grande popularidade, designadamente entre o aparelho internacional mediático corporativo, foi Benjamin Netanyahu. O filho de Benzion Netanyahu, secretário de Jabotinsky, chegava à área governativa israelita, onde pontifica há 30 anos, pela mão do antigo dirigente do grupo terrorista e filofascista Stern, Isaac Shamir.
A figura de Jabotinsky, “o fascista” segundo Ben Gurion, foi assim o pai ideológico e operacional da direita e extrema-direita actualmente no poder em Israel, nascidas do movimento revisionista do sionismo enquadrado, nos primórdios, pelo fascismo italiano nos planos doutrinário e militar.
“Nós, os revisionistas, temos uma grande admiração por Hitler”, declarou num tribunal de Jerusalém o advogado de Abba Achimeir quando este foi acusado de conspirar para assassinar dirigentes trabalhistas. “Hitler salvou a Alemanha”, acrescentou. “De outra maneira teria perecido em quatro anos”.
O revisionismo e os grupos terroristas formados no seu âmbito, designadamente os que foram treinados pelo aparelho fascista de Mussolini, são a génese do movimento político Herut, que por alturas da criação do Estado de Israel congregou toda a direita sionista.
Em Dezembro de 1948, várias figuras de elevado prestígio na comunidade judaica norte-americana e internacional como Albert Einstein, Hanna Arendt e Sydney Hook fizeram publicar, sob a única forma que lhes foi permitida, a de anúncio pago no “New York Times”, uma carta sobre Menahem Begin e a criação do Partido da Liberdade (Herut). “Trata-se de um partido estreitamente ligado, na sua organização, método, filosofia política e abordagem social aos partidos nazi e fascistas (…) um misto de ultranacionalismo, misticismo religioso e superioridade racial”, escreveram. “É imperioso que a verdade sobre Begin e o seu movimento seja conhecida neste país. (…) É trágico que a chefia do sionismo norte-americano tenha recusado fazer campanha contra Begin”.
Quase 30 anos depois, Menahem Begin, primeiro-ministro de Israel e chefe do Likud, o partido que na origem se chamou Herut, recebia o Prémio Nobel. O Likud, na linha sucessória directa do revisionismo de Jabotinsky, a quem chamavam “o duce” e que o duce italiano Mussolini, dirigindo-se a sionistas, qualificava como “o vosso fascista”, é agora chefiado por Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel durante a maior parte dos 30 anos transcorridos entre 1995 e 2024.
O escândalo estende-se ao nazismo
Esta corrente do sionismo, porém, está ainda marcada pelo enorme escândalo provocado pela descoberta na Embaixada alemã na Turquia, datado de 11 de Janeiro de 1941, de um documento no qual o Irgun de Begin propunha ser associado à resolução da questão judaica na Europa e participar neste processo ao lado da Alemanha.
O documento reconhecia a existência de “interesses comuns entre o estabelecimento de uma nova ordem na Europa segundo o conceito alemão e as verdadeiras aspirações nacionais do povo judeu, tal como são entendidas pelo Irgun”. E defendia o estabelecimento de um Estado judeu “segundo o modelo nacional e totalitário assegurado por um tratado com o Reich”, que “será no interesse da manutenção e reforço futuro das posições alemãs no Médio Oriente”.
Ainda de acordo com o texto, “a solução do problema judaico na Europa” seria “positiva e radical”, contribuiria para “estabelecer a base moral da nova ordem aos olhos de toda a humanidade”, à qual “o Irgun ficará intimamente ligado” no quadro do “movimento totalitário na Europa, sua ideologia e estrutura”.
O texto tinha como “pré-condição” a “evacuação das massas judaicas da Europa para a Palestina e a criação de um Estado hebreu nas suas fronteiras históricas”. E o Irgun “beneficiaria da boa vontade do Reich e das autoridades alemãs para as actividades sionistas e para os planos sionistas”. Enquanto isso, as “massas judaicas” que não tinham posses para negociar com as autoridades nazis a fuga para a Suíça e outros países eram sacrificadas nos campos de morte hitlerianos; e seis meses depois da data deste documento o Reich aprovava a “solução final”.
A cumplicidade com o nazifascismo, porém, não era um exclusivo de revisionismo sionista. O sionismo “original”, alegadamente “secular”, também teve as suas aproximações a Hitler no sentido da transferência dos judeus da Europa para a Palestina de maneira a acelerar a colonização. A colonização era mesmo prioritária em relação à vida de judeus, como ficou provado através da frase de Ben Gurion anteriormente citada: “Se tivesse sido possível salvar todas as crianças judaicas na Alemanha e transferi-las para Inglaterra ou salvar metade e transferi-las para Israel escolheríamos esta hipótese”; ou ainda, segundo Ben Gurion: “A catástrofe dos judeus europeus não é directamente assunto meu”.
O primeiro primeiro-ministro da história de Israel defendeu também que “o sionismo tem obrigações de Estado, por isso não pode iniciar uma batalha irresponsável contra Hitler”. Em 1933, a Organização Sionista Mundial tinha acordado com Hitler a Haavara, um pacto para a transferência de 60 mil judeus alemães em direcção à Palestina; a instalação dessa população seria financiada pelo movimento sionista com o dinheiro das pessoas transferidas e a quem Hitler permitiu a saída sem deixarem todos os seus bens na Alemanha.
O sionismo deu sempre prioridade, de facto, ao processo de colonização e não à vida das pessoas. David Greenbaum, então presidente do Comité de Salvação da Agência Judaica, assegurou que “não iria pedir” à sua organização “para reservar 100 mil ou 300 mil libras de modo a ajudar os judeus na Europa. Quem fizer tal coisa”, sublinhou, “comete um acto antissemita”. Ou, na maneira de ver de Ben Gurion, “as considerações sionistas prevalecem sobre os sentimentos judaicos”.
Apesar desta insensibilidade manifesta perante o sofrimento “das massas judaicas” às mãos de Hitler em comparação com os “interesses sionistas”, foram os fundadores das correntes direitistas que actualmente dominam o poder em Israel os verdadeiros colaboracionistas com o nazifascismo na Europa.
Essa direita, recorda-se, está no poder há 30 anos (com uma curta intermitência no início do século), período durante o qual adaptou a estrutura do Estado aos seus interesses e ideologia: reforço do totalitarismo em forma de ditadura militar, militarização da sociedade, adopção gradual da teocracia política, terrorismo interno e externo, extermínio cada vez mais acelerado do povo palestiniano.
Em 1995 foi a direita, com Benjamin Netanyahu e Ariel Sharon à cabeça, que contribuiu para o assassínio do primeiro-ministro trabalhista Isaac Rabin através da mobilização do extremismo dos colonos e do ultrafundamentalismo religioso. Na verdade, de nada valeu a Isaac Rabin o facto de ter alcançado, em pleno Intifada palestiniano, o grande objectivo sionista de dividir os palestinianos e a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) através da armadilha dos Acordos de Oslo e da autonomia. A estratégia contribuiu para isolar a direcção palestiniana; deixou-a à deriva num processo que ficou a meio, minado pelo boicote activo das negociações israelo-palestinianas conduzido pelo governo de Israel, os “mediadores” norte-americanos e a inércia ostensiva do Quarteto – Estados Unidos, Rússia, ONU e União Europeia – chefiado pelo burlão profissional Anthony Blair.
O início da Intifada palestiniana, em finais de 1988, trouxe também à superfície a cumplicidade sionista na criação do grupo fundamentalista islâmico Hamas, facto actualmente admitido por dirigentes e espiões israelitas e também em declarações proferidas pelo próprio Benjamin Netanyahu. O objectivo confessado foi igualmente o de dividir a OLP e quebrar a unidade do movimento de resistência que ficou conhecido como “a revolta das pedras”.
A direita, fiel ao espírito sionista dominante, não se contentou com o boicote e o fracasso das negociações com os palestinianos; não esteve para esperar e, através de uma multiplicidade de danças eleitorais e uma radicalização da sociedade conseguiu retirar praticamente de cena os trabalhistas e toda a esquerda, sionista ou não. Afinal, o Likud e os seus diversificados aliados de extrema-direita conseguiram alcançar politicamente o objectivo de “exterminar os trabalhistas” que motivou, em grande parte, o aparecimento do revisionismo sionista de Jabotinsky..
Iludem-se os que supõem que uma eventual demissão de Benjamin Netanyahu poderá, por exemplo, contribuir para conter o genocídio em Gaza. O problema não é Netanyahu; é muito mais vasto e entranhado – o problema é o sionismo, perante o qual nada podem, ou não querem poder, as organizações internacionais, ridicularizadas pelo domínio absurdo das coisas do mundo por um sistema assente em dons e leis supremacistas sobrenaturais, como tem vindo a constatar-se. Nem mesmo as angústias eleitorais do zombie Biden, insistindo na solução de dois Estados na Palestina, implorando por um cessar-fogo e prometendo grandes proezas humanitárias em Gaza, enquanto vai fornecendo armas a Israel para que o genocídio prossiga, conseguem fazer comichões no irredentismo blindado do poder sionista. Em plena insistência internacional na solução de dois Estados, uma grande maioria do Parlamento sionista aprovou uma decisão segundo a qual Israel nunca permitirá que essa possibilidade seja aplicada. Como sinal de desprezo total pelo direito internacional e desafiadora declaração de impunidade, o sionismo acertou mais uma vez em cheio.
Como já dizia o general Moshe Dayan há 50 anos, e continua a estar hoje na ordem do dia a propósito das tragédias conduzidas pelo sionismo em Gaza e na Cisjordânia, “até agora o método de punição colectiva tem-se revelado eficaz”.
“Quanto aos nossos amigos americanos”, ainda de acordo com Moshe Dayan, “oferecem-nos dinheiro, armas e conselhos; ficamos com o dinheiro, pegamos nas armas e recusamos os conselhos”. O general da Guerra dos Seis Dias disse-o, Netanyahu e a sua ditadura sionista terrorista seguem a lição e passam-na à prática.
Até quando? A interrogação levanta hipóteses dramáticas, sobretudo porque a chamada comunidade internacional permitiu que a impunidade do sionismo tenha chegado a uma situação que pode considerar-se limite.
Não esqueçamos nunca a frase letal proferida por Ariel Sharon, criminoso de guerra que, tal como Benjamin Netanyahu, trabalhou diligentemente para criar o ambiente favorável ao assassínio do seu compatriota e primeiro-ministro Isaac Rabin. Disse Sharon numa entrevista ao “Guardian” conduzida pelo conceituado David Hirst: “Temos capacidade para destruir o mundo e garanto que isso acontecerá antes de Israel se afundar”.
O espírito sionista profundo resumido por um dos mais encartados criminosos sionistas.