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Hugo Dionísio
March 4, 2024
© Photo: Public domain

Cúmulo da contradição: quanto mais chocados, mais desarmados nos quedamos!

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Observar a actualidade à luz da formulação revelada em “a Doutrina do Choque” de Astrid Klein, constitui um desafio iluminador e absolutamente revelador da importância histórica da análise que é realizada, mesmo que esta, na minha opinião, padeça de uma certa “pontualidade histórica”, relativamente aos momentos de aplicação de um processo que se convencionou apelidar de “Teoria do choque económico neoliberal”.

A análise de Klein, alicerçada em factos históricos conhecidos, relatando experiências secretas da CIA na área da psicologia e psiquiatria, à aplicação das técnicas no Chile de Pinochet e em muitos outros países (um deles a Rússia pós-soviética), e à doutrina neoliberal dos “Chicago Boys”, de Milton Friedman, relata-nos um processo, segundo o qual, a população é colocada em permanente estado de choque, de forma a deixá-la sem reacção (tal como sucedia nos tratamentos de lobotomia), para que, a coberto do amorfismo gerado, sejam aplicadas medidas extremamente impopulares e, acima de tudo, diametralmente opostas aos interesses na maioria. O próprio processo de descredibilização da política e dos políticos, funciona, também, como pretexto para o mesmo tipo de actuação. Vejamos o caso de Trump, Bolsonaro, Milei, Meloni, Duda ou Zelensky. O choque demagógico usado (corrupção, emigração em massa, etc.), dá lugar ao mesmo tipo de actuação.

Contudo, e tendo presente a inquestionável actualidade da abordagem, a análise do mundo actual segundo esta teoria, revela-nos uma verdade que vem, na minha opinião, negar a ideia de uma certa “pontualidade histórica”, do choque económico neoliberal. Na minha opinião, a abordagem de Astrid Klein, à data, mostrava-nos um mundo, em que os EUA desencadeavam – e desencadeiam – processos de transformação que visavam subverter a soberania nacional, popular, a democracia e liberdade dos povos, para colocar as respectivas nações ao serviço do processo de acumulação neoliberal e imperialista. Os sucessivos choques vão-se sucedendo em espaços nacionais circunscritos e numa cronologia, cuja origem remonta ao Chile de Pinochet, mas desprovida de uma certa continuidade, como se estivéssemos perante um gangue que ia saltando de país em país, sem nunca alcançar o todo.

Ora, se a abordagem de Klein propõe uma certa circunscrição nacional, os eventos históricos dos últimos 23 anos, remetem-nos para uma globalização ou internacionalização da doutrina do choque, para a sua continuidade histórica e para uma dimensão totalizadora, passando a abranger, à partida, e não apenas à chegada, todas as dimensões das nossas vidas.

Perante o que sabemos hoje, não posso deixar de pensar que os exemplos, cronologicamente encadeados, de aplicação da doutrina do choque, não constituem mais do que experiências, em constante aperfeiçoamento, que visam um epílogo, epílogo esse que estamos, hoje, a viver. O da globalização e internacionalização do choque neoliberal, a par da sua diversificação fenomenológica. Já não incide apenas sobre a componente económica ou social, incide sobre a saúde, o estado, a segurança, a defesa, a informação e propaganda. Trata-se da materialização clara de uma outra doutrina, a doutrina do “domínio de espectro total”.

Com a viragem para o século XXI, tudo mudou! Dia 11 de Setembro de 2001, o mundo fica em choque com um ataque terrorista, de proporções espectaculares, que culminou no derrube de três torres em Nova Yorque. Como se a Hollywood tivesse sido pedido a preparação de um ataque terrorista. Acto contínuo, população americana – e ocidental – em estado de choque, atónita, logo começámos a assistir ao desenrolar de ataques directos ao modo de vida que tantos consideravam ser eterno – lembrem-se de Fukuyama – e historicamente aperfeiçoado. Nos EUA assistimos à publicação do Patriot Act e ao início da Guerra ao terror.

A vigilância de estado passou a fazer parte das vidas americanas e, um pouco mais tarde, das europeias, nomeadamente após renovadas ondas de choque terrorista em Espanha, Inglaterra e França. À ligação comprovada entre os perpetradores dos actos terroristas – Al-Qaeda – e os seus criadores, muito poucos tomaram, ou quiseram tomar atenção. Hoje, entramos num supermercado, visitamos um museu, fazemos uma chamada telefónica ou tiramos uma fotografia e temos a garantia de que, algures no espaço, essa informação estará a ser objecto de tratamento, agregação, integração, análise e armazenamento. O terrorismo passou a fazer parte das nossas vidas e, sob tal pretexto, a vigilância em massa. Bin Laden passou a ser o diabo em pessoa, o demónio que aterrorizava os sonhos das nossas criancinhas, os quais seriam protegidos através do omnipresente pentágono e demais agências do “estado profundo”. Foi esse “estado profundo” que aproveitou a deixa para generalizar e normalizar a tortura, os campos de concentração como Guantánamo e as prisões secretas, ou menos secretas, onde prendem e mantêm, ainda hoje, todos os que se opõem aos desígnios imperiais. Foi a hora de internacionalizar o terror que o médio oriente sentia quase desde a fundação do ponta de lança anglo-saxónico na região, o estado sionista de Israel e a sua infame Mossad.

Já em 2008, o mundo ficou chocado com a crise do subprime. Supostamente, a banca americana estava em colapso, o que não tardou a acontecer com a europeia e com a de muitos outros países ao redor do mundo. O pretexto da crise da banca, logo de seguida associado ao choque da dívida soberana, criou o terreno social ideal para a aceitação de medidas de ataque desenfreado aos direitos dos trabalhadores e das suas famílias, como não havia memória nos países da europa ocidental. Os de leste já o haviam experimentado com a queda da URSS.

Salários, pensões, férias, contratação colectiva, liberdade sindical, direito à greve, empregos públicos, horários de trabalho, subsídios diversos, serviços públicos de saúde, educação, habitação, tudo foi cortado a direito, com uma ânsia destruidora, só ultrapassada pela insanidade demente de Milei. Facto histórico conhecido, documentado e comprovado pela degradação as condições de vida das vítimas: a distopia neoliberal nunca funcionou, nem sequer transitoriamente. Trata-se apenas e tão só da forma mais agressiva de acumulação, materializada na sucção, saque e na pilhagem directa, destruidora de valor e potencial social latente.

Estes dois momentos de choque, o de segurança em 2001 e o económico de 2008, ao contrário do que se ia passando, aqui e ali, até final dos anos 90, com as intervenções do Fundo Monetário Internacional, nos mais diversos países; estes dois casos representaram um salto ambicioso no modus operandi das elites dominantes; a pilhagem neoliberal passava a ser feita por atacado, em regime alargado, beneficiando da arquitectura institucional e normativa internacional, entretanto montada após a segunda guerra mundial, e dominada integralmente, após a queda da URSS.

Estava preparado o terreno para se passar do teste pontual, casuístico e circunscrito, à sua globalização. Ao invés de atacar país a pais, utilizando o FMI como catalisador do processo de dolarização e apropriação (mormente através das privatizações) de capital e influência financeira, ou com o pentágono como guarda avançada das forças da “liberdade e democracia”; com o 11/07/2001 e com a “crise do subprime”, todos pudemos assistir à internacionalização e globalização da doutrina do choque. As ondas de choque neoliberal passaram a ser transmitidas de forma transnacional e global. Poucos foram os países que resistiram aos seus efeitos e à sua utilização, como pretexto, para a imposição de medidas económicas e sociais draconianas. Os que o fizeram – e fazem – sofrem as “sanções do inferno”! Estava na hora de levar ao “jardim” de Borrel, a selvajaria criada noutros espaços.

Os povos ainda não haviam recuperado desses dois choques, quando acordámos sob os espasmos de um ainda superior, infinitamente mais forte e potente. A Pandemia de Covid-19. Se os anteriores haviam dado certo e ninguém relativamente capacitado se havia questionado e complicado as contas, porque razão não tentar algo ainda mais avassalador? As imagens de Wuhan percorreram o mundo, segundo as crónicas iriam morrer aos milhões, só na China… Tudo para sabermos, mais tarde, que foi precisamente aí que tal não aconteceu.

As vacinas passaram a fazer parte das nossas vidas como nunca, pagas a peso de ouro e preferencialmente provenientes de fonte estado-unidense. As que foram produzidas, um pouco por todo o mundo, não fizeram parte do cardápio ocidental, com muito poucas excepções e amplas reservas. Úrsula Von der Leyen negociou contratos à medida, hoje tornados secretos e fornecidos com rasuras, para que não possam ser lidos na sua integridade, tendo adquirido o equivalente a 5 vacinas por cidadão europeu, a maioria delas, ao laboratório chefiado pelo seu próprio marido. Foi o tempo de todos os dias, todos nós, acordámos ao som, ou com a leitura, dos relatórios diários de mortes e infecções. A sucessão de choques durou, literalmente, dois anos, e nunca, na humanidade, se havia experimentado um choque induzido desta dimensão.

Mas, se o valor arrecadado pelas farmacêuticas americanas, neste processo de globalização da saúde neoliberal, que prospera precisamente com a doença, atingiu recordes nunca antes obtidos pela Phizer, Moderna, Johnson&Johnson e outras; as ondas de choque não se limitaram a este acto de verdadeiro saque, em que o dinheiro dos contribuintes foi chamado a financiar o desenvolvimento, a aquisição, distribuição e administração das vacinas. Outra lotaria foi a dos exames de diagnóstico. Nunca os laboratórios privados de análises haviam lucrado tanto.

Mas desengane-se quem pensar que, a coberto das ondas de choque neoliberal, a pilhagem se ficou pelas vacinas e exames de diagnóstico. O mundo assistiu a toda uma onda de privatização dos cuidados de saúde, resultante do aumento de poder financeiro relativo da indústria farmacêutica e dos serviços de saúde. Com maior poder económico que nunca (e já era muito), resultante da pilhagem realizada, não tardou a que o usassem para colocar uma pressão inaudita sob os serviços públicos de saúde, procurando a sua privatização. Financiam partidos, pagam campanhas de informação, programas televisivos, conferências e até… Novas e possíveis pandemias!

 

Para adensar as ondas de choque, o medo e o terror, até a sociedade fechou portas, tal como se fazia na idade média, quando vinha a peste. Foi o tempo de grandes empresas lucrarem brutalmente com Lay-off pagos, pelos estados, nomeadamente europeus, a peso de ouro. Paravam, nada produziam, mas continuava a facturar… Algo melhor que isso? O choradinho, contudo, não parava, e, como sempre, choveram subsídios para empresas – à partida pequenas empresas – mas que foram, como sempre e à chegada, parar aos bolsos das grandes.

Uma vez mais, direitos laborais atropelados, liberdade de expressão, liberdade de opinião e até liberdade de imprensa e informação. Na imprensa dominante, nada se veiculou sobre a mais ínfima das críticas. Como revelaram as “Twitter files”, as grandes corporações da saúde não se pouparam a esforços para esconder o seu rasto de corrupção, doença e sangue. E, no final das contas, após tanta desinformação, censura e manipulação, já se começa, aos poucos, a admitir que as vacinas também matam, entrando os defensores desta terapia pandémica, em justificações falíveis sobre a suposta maior mortalidade do Covid-19.

Nos EUA, país que produziu as vacinas, foi onde mais se morreu. E não vejam aqui qualquer pretensão, da minha parte, em negar o papel importante das vacinas e das políticas públicas de vacinação, quando são justas e se dedicam a preservar a saúde, ao invés de lucrar com a doença. O que se passou aqui, foi algo de bem diferente: uma doença é introduzida, funcionando como uma onda de choque, para fazer baixar as guardas e vender caríssimas vacinas de origem duvidosa. Vacinas com testes acelerados e pouco fiáveis, resultados manipulados, escondidos e censurados, que foram impostas à generalidade das populações ocidentais. Violou-se o próprio direito de escolha, obrigando, por exemplo, quem viajava, a vacinar-se. Quando os esforços vão tão longe e tantos direitos são atropelados, pagando-se para esconder a informação existente, é porque algo está mal explicado.

De 2020 a 2022 foi tempo de globalização das experiências que já se sabiam fazer-se em países pobres, concretamente em àfrica. Se a Guerra ao Terror globalizou o choque terrorista como pretexto para invadir, pilhar, controlar, censurar, perseguir e monitorizar, processos que já haviam sido experimentados em países africanos, no médio oriente, ásia e américa latina; com o Covid-19, tratou-se de expandir o choque pandémico que antes havia sido experimentado em países empobrecidos. Países em que a pobreza é utilizada como pretexto para testar novos métodos de transmissão e inovadores tratamentos de choque. Não me choca nada, passe a redundância, que muito deste trabalho também encontre suporte teórico no infame relatório Kissinger, o qual se dedica a encontrar soluções de controlo da população mundial. Os laboratórios secretos quês e vão encontrando um pouco por todo o lado, não deixarão, certamente, de nos trazer novas ondas de choque.

Na actualidade, podemos dizer que, após anos e anos de testes um pouco por todo o mundo, chegou o momento da internacionalização e globalização da guerra. Após o Euromaindan entrou em andamento todo um processo de normalização da guerra, do medo e terror da guerra, no nosso dia a dia. Primeiro, com a forma como foi tratada a Operação Militar Especial, caracterizada como uma bárbara invasão, ao longo da qual foram induzidos novos choques na população ocidental, seja através das narrativas falsas como o “massacre de Bucha”, o bombardeamento de “escolas e hospitais”, o infame – e caricato – bombardeamento da NPP Zaporozhye, em que se consegue dizer que está cheia de soldados russos e, ao mesmo tempo, que é bombardeada pelos próprios; a possibilidade, sempre presente, de ataques químicos, biológicos e nucleares, pelos mesmos de sempre: os “infernais e malignos” russos.

A coberto das ondas de choque, normaliza-se a guerra, a distribuição de armas, o investimento no complexo militar industrial, enquanto a saúde, habitação, educação e os salários ficam para trás; a – anteriormente impossível – guerra nuclear entra, aos poucos, nas nossas mentes, concretamente, através da ameaçada constante de “invasão da NATO” pela Rússia. Ninguém fala da tolice que tal significa, nem tão pouco da inconsistência histórica e científica da hipótese. Não é tempo disso, é tempo de choque propagandístico.

E se o conflito na Ucrânia permitiu a internacionalização da guerra eterna, arrastando toda uma europa arregimentada para o seu próprio suicídio económico e social; o choque Ucraniano permitiu outra globalização, a da propaganda uniforme, a da narrativa única. Nunca, como antes, uma narrativa foi tão sólida no espaço internacional. Trata-se, outra vez, da mesma metodologia: incidir sucessivas doses de choque, tantas quantas as necessárias, até que, mesmo os mais críticos, fiquem sem reacção. Não porque a narrativa seja verdadeira, mas porque se torna asfixiante.

Este choque, deu origem a mais um pretexto para o ataque aos nossos direitos, desta feita incidindo directamente na liberdade de expressão e opinião. O facto é que, a herança com que ficamos desta terapia consiste na internacionalização e normalização da censura, seja directa, dos canais Russos, ou indirecta, de todos os oponentes, nas redes sociais. Nunca mais a informação circulará como antes, passando a filtrar-se sob pretexto da necessidade de nos defender da desinformação e propaganda. Ou seja, choques sucessivos de desinformação e propaganda, a darem origem à censura contra a verdade. Porque a censura, e que ninguém se engane, é sempre contra a verdade. Visa sempre esconder a verdade, a possibilidade de comparação, o movimento dialéctico na construção do pensamento.

Desta evolução, podemos retirar duas conclusões directas: o processo de aplicação da doutrina do choque evoluiu do estado nação, para o mundo inteiro; evoluiu também, da componente financeira, para outras mais vastas, como a guerra total; sempre numa lógica crescente de evolução do menos para o mais complexo, até, se não o impedirmos, à nossa destruição total.

Do particular para o geral, foi este o movimento que levou ao aperfeiçoamento, alargamento e globalização da doutrina do choque. Os países mais empobrecidos servem de cobaias, permitindo o teste que depois é generalizado a todo o mundo. Eis a essência da hegemonia americana e ocidental; eis porque está em contradição directa com o interesse dos povos!

E é assim que nos trazem para um mundo de choques induzidos de forma permanente, de internacional, multifacetada e totalizante, cujo pretexto da respectiva indução reside na “necessidade de protecção”; mas o resultado é inequívoco: a cada sessão, a cada camada, cada vez nos encontramos mais amordaçados, condicionados e empobrecidos. Não existe nada de protectivo nesta sucessão de espasmos provocados contra a nossa vontade; apenas de agressivo e dominador.

Cúmulo da contradição: quanto mais chocados, mais desarmados nos quedamos!

A internacionalização do choque neoliberal

Cúmulo da contradição: quanto mais chocados, mais desarmados nos quedamos!

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Escreva para nós: info@strategic-culture.su

Observar a actualidade à luz da formulação revelada em “a Doutrina do Choque” de Astrid Klein, constitui um desafio iluminador e absolutamente revelador da importância histórica da análise que é realizada, mesmo que esta, na minha opinião, padeça de uma certa “pontualidade histórica”, relativamente aos momentos de aplicação de um processo que se convencionou apelidar de “Teoria do choque económico neoliberal”.

A análise de Klein, alicerçada em factos históricos conhecidos, relatando experiências secretas da CIA na área da psicologia e psiquiatria, à aplicação das técnicas no Chile de Pinochet e em muitos outros países (um deles a Rússia pós-soviética), e à doutrina neoliberal dos “Chicago Boys”, de Milton Friedman, relata-nos um processo, segundo o qual, a população é colocada em permanente estado de choque, de forma a deixá-la sem reacção (tal como sucedia nos tratamentos de lobotomia), para que, a coberto do amorfismo gerado, sejam aplicadas medidas extremamente impopulares e, acima de tudo, diametralmente opostas aos interesses na maioria. O próprio processo de descredibilização da política e dos políticos, funciona, também, como pretexto para o mesmo tipo de actuação. Vejamos o caso de Trump, Bolsonaro, Milei, Meloni, Duda ou Zelensky. O choque demagógico usado (corrupção, emigração em massa, etc.), dá lugar ao mesmo tipo de actuação.

Contudo, e tendo presente a inquestionável actualidade da abordagem, a análise do mundo actual segundo esta teoria, revela-nos uma verdade que vem, na minha opinião, negar a ideia de uma certa “pontualidade histórica”, do choque económico neoliberal. Na minha opinião, a abordagem de Astrid Klein, à data, mostrava-nos um mundo, em que os EUA desencadeavam – e desencadeiam – processos de transformação que visavam subverter a soberania nacional, popular, a democracia e liberdade dos povos, para colocar as respectivas nações ao serviço do processo de acumulação neoliberal e imperialista. Os sucessivos choques vão-se sucedendo em espaços nacionais circunscritos e numa cronologia, cuja origem remonta ao Chile de Pinochet, mas desprovida de uma certa continuidade, como se estivéssemos perante um gangue que ia saltando de país em país, sem nunca alcançar o todo.

Ora, se a abordagem de Klein propõe uma certa circunscrição nacional, os eventos históricos dos últimos 23 anos, remetem-nos para uma globalização ou internacionalização da doutrina do choque, para a sua continuidade histórica e para uma dimensão totalizadora, passando a abranger, à partida, e não apenas à chegada, todas as dimensões das nossas vidas.

Perante o que sabemos hoje, não posso deixar de pensar que os exemplos, cronologicamente encadeados, de aplicação da doutrina do choque, não constituem mais do que experiências, em constante aperfeiçoamento, que visam um epílogo, epílogo esse que estamos, hoje, a viver. O da globalização e internacionalização do choque neoliberal, a par da sua diversificação fenomenológica. Já não incide apenas sobre a componente económica ou social, incide sobre a saúde, o estado, a segurança, a defesa, a informação e propaganda. Trata-se da materialização clara de uma outra doutrina, a doutrina do “domínio de espectro total”.

Com a viragem para o século XXI, tudo mudou! Dia 11 de Setembro de 2001, o mundo fica em choque com um ataque terrorista, de proporções espectaculares, que culminou no derrube de três torres em Nova Yorque. Como se a Hollywood tivesse sido pedido a preparação de um ataque terrorista. Acto contínuo, população americana – e ocidental – em estado de choque, atónita, logo começámos a assistir ao desenrolar de ataques directos ao modo de vida que tantos consideravam ser eterno – lembrem-se de Fukuyama – e historicamente aperfeiçoado. Nos EUA assistimos à publicação do Patriot Act e ao início da Guerra ao terror.

A vigilância de estado passou a fazer parte das vidas americanas e, um pouco mais tarde, das europeias, nomeadamente após renovadas ondas de choque terrorista em Espanha, Inglaterra e França. À ligação comprovada entre os perpetradores dos actos terroristas – Al-Qaeda – e os seus criadores, muito poucos tomaram, ou quiseram tomar atenção. Hoje, entramos num supermercado, visitamos um museu, fazemos uma chamada telefónica ou tiramos uma fotografia e temos a garantia de que, algures no espaço, essa informação estará a ser objecto de tratamento, agregação, integração, análise e armazenamento. O terrorismo passou a fazer parte das nossas vidas e, sob tal pretexto, a vigilância em massa. Bin Laden passou a ser o diabo em pessoa, o demónio que aterrorizava os sonhos das nossas criancinhas, os quais seriam protegidos através do omnipresente pentágono e demais agências do “estado profundo”. Foi esse “estado profundo” que aproveitou a deixa para generalizar e normalizar a tortura, os campos de concentração como Guantánamo e as prisões secretas, ou menos secretas, onde prendem e mantêm, ainda hoje, todos os que se opõem aos desígnios imperiais. Foi a hora de internacionalizar o terror que o médio oriente sentia quase desde a fundação do ponta de lança anglo-saxónico na região, o estado sionista de Israel e a sua infame Mossad.

Já em 2008, o mundo ficou chocado com a crise do subprime. Supostamente, a banca americana estava em colapso, o que não tardou a acontecer com a europeia e com a de muitos outros países ao redor do mundo. O pretexto da crise da banca, logo de seguida associado ao choque da dívida soberana, criou o terreno social ideal para a aceitação de medidas de ataque desenfreado aos direitos dos trabalhadores e das suas famílias, como não havia memória nos países da europa ocidental. Os de leste já o haviam experimentado com a queda da URSS.

Salários, pensões, férias, contratação colectiva, liberdade sindical, direito à greve, empregos públicos, horários de trabalho, subsídios diversos, serviços públicos de saúde, educação, habitação, tudo foi cortado a direito, com uma ânsia destruidora, só ultrapassada pela insanidade demente de Milei. Facto histórico conhecido, documentado e comprovado pela degradação as condições de vida das vítimas: a distopia neoliberal nunca funcionou, nem sequer transitoriamente. Trata-se apenas e tão só da forma mais agressiva de acumulação, materializada na sucção, saque e na pilhagem directa, destruidora de valor e potencial social latente.

Estes dois momentos de choque, o de segurança em 2001 e o económico de 2008, ao contrário do que se ia passando, aqui e ali, até final dos anos 90, com as intervenções do Fundo Monetário Internacional, nos mais diversos países; estes dois casos representaram um salto ambicioso no modus operandi das elites dominantes; a pilhagem neoliberal passava a ser feita por atacado, em regime alargado, beneficiando da arquitectura institucional e normativa internacional, entretanto montada após a segunda guerra mundial, e dominada integralmente, após a queda da URSS.

Estava preparado o terreno para se passar do teste pontual, casuístico e circunscrito, à sua globalização. Ao invés de atacar país a pais, utilizando o FMI como catalisador do processo de dolarização e apropriação (mormente através das privatizações) de capital e influência financeira, ou com o pentágono como guarda avançada das forças da “liberdade e democracia”; com o 11/07/2001 e com a “crise do subprime”, todos pudemos assistir à internacionalização e globalização da doutrina do choque. As ondas de choque neoliberal passaram a ser transmitidas de forma transnacional e global. Poucos foram os países que resistiram aos seus efeitos e à sua utilização, como pretexto, para a imposição de medidas económicas e sociais draconianas. Os que o fizeram – e fazem – sofrem as “sanções do inferno”! Estava na hora de levar ao “jardim” de Borrel, a selvajaria criada noutros espaços.

Os povos ainda não haviam recuperado desses dois choques, quando acordámos sob os espasmos de um ainda superior, infinitamente mais forte e potente. A Pandemia de Covid-19. Se os anteriores haviam dado certo e ninguém relativamente capacitado se havia questionado e complicado as contas, porque razão não tentar algo ainda mais avassalador? As imagens de Wuhan percorreram o mundo, segundo as crónicas iriam morrer aos milhões, só na China… Tudo para sabermos, mais tarde, que foi precisamente aí que tal não aconteceu.

As vacinas passaram a fazer parte das nossas vidas como nunca, pagas a peso de ouro e preferencialmente provenientes de fonte estado-unidense. As que foram produzidas, um pouco por todo o mundo, não fizeram parte do cardápio ocidental, com muito poucas excepções e amplas reservas. Úrsula Von der Leyen negociou contratos à medida, hoje tornados secretos e fornecidos com rasuras, para que não possam ser lidos na sua integridade, tendo adquirido o equivalente a 5 vacinas por cidadão europeu, a maioria delas, ao laboratório chefiado pelo seu próprio marido. Foi o tempo de todos os dias, todos nós, acordámos ao som, ou com a leitura, dos relatórios diários de mortes e infecções. A sucessão de choques durou, literalmente, dois anos, e nunca, na humanidade, se havia experimentado um choque induzido desta dimensão.

Mas, se o valor arrecadado pelas farmacêuticas americanas, neste processo de globalização da saúde neoliberal, que prospera precisamente com a doença, atingiu recordes nunca antes obtidos pela Phizer, Moderna, Johnson&Johnson e outras; as ondas de choque não se limitaram a este acto de verdadeiro saque, em que o dinheiro dos contribuintes foi chamado a financiar o desenvolvimento, a aquisição, distribuição e administração das vacinas. Outra lotaria foi a dos exames de diagnóstico. Nunca os laboratórios privados de análises haviam lucrado tanto.

Mas desengane-se quem pensar que, a coberto das ondas de choque neoliberal, a pilhagem se ficou pelas vacinas e exames de diagnóstico. O mundo assistiu a toda uma onda de privatização dos cuidados de saúde, resultante do aumento de poder financeiro relativo da indústria farmacêutica e dos serviços de saúde. Com maior poder económico que nunca (e já era muito), resultante da pilhagem realizada, não tardou a que o usassem para colocar uma pressão inaudita sob os serviços públicos de saúde, procurando a sua privatização. Financiam partidos, pagam campanhas de informação, programas televisivos, conferências e até… Novas e possíveis pandemias!

 

Para adensar as ondas de choque, o medo e o terror, até a sociedade fechou portas, tal como se fazia na idade média, quando vinha a peste. Foi o tempo de grandes empresas lucrarem brutalmente com Lay-off pagos, pelos estados, nomeadamente europeus, a peso de ouro. Paravam, nada produziam, mas continuava a facturar… Algo melhor que isso? O choradinho, contudo, não parava, e, como sempre, choveram subsídios para empresas – à partida pequenas empresas – mas que foram, como sempre e à chegada, parar aos bolsos das grandes.

Uma vez mais, direitos laborais atropelados, liberdade de expressão, liberdade de opinião e até liberdade de imprensa e informação. Na imprensa dominante, nada se veiculou sobre a mais ínfima das críticas. Como revelaram as “Twitter files”, as grandes corporações da saúde não se pouparam a esforços para esconder o seu rasto de corrupção, doença e sangue. E, no final das contas, após tanta desinformação, censura e manipulação, já se começa, aos poucos, a admitir que as vacinas também matam, entrando os defensores desta terapia pandémica, em justificações falíveis sobre a suposta maior mortalidade do Covid-19.

Nos EUA, país que produziu as vacinas, foi onde mais se morreu. E não vejam aqui qualquer pretensão, da minha parte, em negar o papel importante das vacinas e das políticas públicas de vacinação, quando são justas e se dedicam a preservar a saúde, ao invés de lucrar com a doença. O que se passou aqui, foi algo de bem diferente: uma doença é introduzida, funcionando como uma onda de choque, para fazer baixar as guardas e vender caríssimas vacinas de origem duvidosa. Vacinas com testes acelerados e pouco fiáveis, resultados manipulados, escondidos e censurados, que foram impostas à generalidade das populações ocidentais. Violou-se o próprio direito de escolha, obrigando, por exemplo, quem viajava, a vacinar-se. Quando os esforços vão tão longe e tantos direitos são atropelados, pagando-se para esconder a informação existente, é porque algo está mal explicado.

De 2020 a 2022 foi tempo de globalização das experiências que já se sabiam fazer-se em países pobres, concretamente em àfrica. Se a Guerra ao Terror globalizou o choque terrorista como pretexto para invadir, pilhar, controlar, censurar, perseguir e monitorizar, processos que já haviam sido experimentados em países africanos, no médio oriente, ásia e américa latina; com o Covid-19, tratou-se de expandir o choque pandémico que antes havia sido experimentado em países empobrecidos. Países em que a pobreza é utilizada como pretexto para testar novos métodos de transmissão e inovadores tratamentos de choque. Não me choca nada, passe a redundância, que muito deste trabalho também encontre suporte teórico no infame relatório Kissinger, o qual se dedica a encontrar soluções de controlo da população mundial. Os laboratórios secretos quês e vão encontrando um pouco por todo o lado, não deixarão, certamente, de nos trazer novas ondas de choque.

Na actualidade, podemos dizer que, após anos e anos de testes um pouco por todo o mundo, chegou o momento da internacionalização e globalização da guerra. Após o Euromaindan entrou em andamento todo um processo de normalização da guerra, do medo e terror da guerra, no nosso dia a dia. Primeiro, com a forma como foi tratada a Operação Militar Especial, caracterizada como uma bárbara invasão, ao longo da qual foram induzidos novos choques na população ocidental, seja através das narrativas falsas como o “massacre de Bucha”, o bombardeamento de “escolas e hospitais”, o infame – e caricato – bombardeamento da NPP Zaporozhye, em que se consegue dizer que está cheia de soldados russos e, ao mesmo tempo, que é bombardeada pelos próprios; a possibilidade, sempre presente, de ataques químicos, biológicos e nucleares, pelos mesmos de sempre: os “infernais e malignos” russos.

A coberto das ondas de choque, normaliza-se a guerra, a distribuição de armas, o investimento no complexo militar industrial, enquanto a saúde, habitação, educação e os salários ficam para trás; a – anteriormente impossível – guerra nuclear entra, aos poucos, nas nossas mentes, concretamente, através da ameaçada constante de “invasão da NATO” pela Rússia. Ninguém fala da tolice que tal significa, nem tão pouco da inconsistência histórica e científica da hipótese. Não é tempo disso, é tempo de choque propagandístico.

E se o conflito na Ucrânia permitiu a internacionalização da guerra eterna, arrastando toda uma europa arregimentada para o seu próprio suicídio económico e social; o choque Ucraniano permitiu outra globalização, a da propaganda uniforme, a da narrativa única. Nunca, como antes, uma narrativa foi tão sólida no espaço internacional. Trata-se, outra vez, da mesma metodologia: incidir sucessivas doses de choque, tantas quantas as necessárias, até que, mesmo os mais críticos, fiquem sem reacção. Não porque a narrativa seja verdadeira, mas porque se torna asfixiante.

Este choque, deu origem a mais um pretexto para o ataque aos nossos direitos, desta feita incidindo directamente na liberdade de expressão e opinião. O facto é que, a herança com que ficamos desta terapia consiste na internacionalização e normalização da censura, seja directa, dos canais Russos, ou indirecta, de todos os oponentes, nas redes sociais. Nunca mais a informação circulará como antes, passando a filtrar-se sob pretexto da necessidade de nos defender da desinformação e propaganda. Ou seja, choques sucessivos de desinformação e propaganda, a darem origem à censura contra a verdade. Porque a censura, e que ninguém se engane, é sempre contra a verdade. Visa sempre esconder a verdade, a possibilidade de comparação, o movimento dialéctico na construção do pensamento.

Desta evolução, podemos retirar duas conclusões directas: o processo de aplicação da doutrina do choque evoluiu do estado nação, para o mundo inteiro; evoluiu também, da componente financeira, para outras mais vastas, como a guerra total; sempre numa lógica crescente de evolução do menos para o mais complexo, até, se não o impedirmos, à nossa destruição total.

Do particular para o geral, foi este o movimento que levou ao aperfeiçoamento, alargamento e globalização da doutrina do choque. Os países mais empobrecidos servem de cobaias, permitindo o teste que depois é generalizado a todo o mundo. Eis a essência da hegemonia americana e ocidental; eis porque está em contradição directa com o interesse dos povos!

E é assim que nos trazem para um mundo de choques induzidos de forma permanente, de internacional, multifacetada e totalizante, cujo pretexto da respectiva indução reside na “necessidade de protecção”; mas o resultado é inequívoco: a cada sessão, a cada camada, cada vez nos encontramos mais amordaçados, condicionados e empobrecidos. Não existe nada de protectivo nesta sucessão de espasmos provocados contra a nossa vontade; apenas de agressivo e dominador.

Cúmulo da contradição: quanto mais chocados, mais desarmados nos quedamos!

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Observar a actualidade à luz da formulação revelada em “a Doutrina do Choque” de Astrid Klein, constitui um desafio iluminador e absolutamente revelador da importância histórica da análise que é realizada, mesmo que esta, na minha opinião, padeça de uma certa “pontualidade histórica”, relativamente aos momentos de aplicação de um processo que se convencionou apelidar de “Teoria do choque económico neoliberal”.

A análise de Klein, alicerçada em factos históricos conhecidos, relatando experiências secretas da CIA na área da psicologia e psiquiatria, à aplicação das técnicas no Chile de Pinochet e em muitos outros países (um deles a Rússia pós-soviética), e à doutrina neoliberal dos “Chicago Boys”, de Milton Friedman, relata-nos um processo, segundo o qual, a população é colocada em permanente estado de choque, de forma a deixá-la sem reacção (tal como sucedia nos tratamentos de lobotomia), para que, a coberto do amorfismo gerado, sejam aplicadas medidas extremamente impopulares e, acima de tudo, diametralmente opostas aos interesses na maioria. O próprio processo de descredibilização da política e dos políticos, funciona, também, como pretexto para o mesmo tipo de actuação. Vejamos o caso de Trump, Bolsonaro, Milei, Meloni, Duda ou Zelensky. O choque demagógico usado (corrupção, emigração em massa, etc.), dá lugar ao mesmo tipo de actuação.

Contudo, e tendo presente a inquestionável actualidade da abordagem, a análise do mundo actual segundo esta teoria, revela-nos uma verdade que vem, na minha opinião, negar a ideia de uma certa “pontualidade histórica”, do choque económico neoliberal. Na minha opinião, a abordagem de Astrid Klein, à data, mostrava-nos um mundo, em que os EUA desencadeavam – e desencadeiam – processos de transformação que visavam subverter a soberania nacional, popular, a democracia e liberdade dos povos, para colocar as respectivas nações ao serviço do processo de acumulação neoliberal e imperialista. Os sucessivos choques vão-se sucedendo em espaços nacionais circunscritos e numa cronologia, cuja origem remonta ao Chile de Pinochet, mas desprovida de uma certa continuidade, como se estivéssemos perante um gangue que ia saltando de país em país, sem nunca alcançar o todo.

Ora, se a abordagem de Klein propõe uma certa circunscrição nacional, os eventos históricos dos últimos 23 anos, remetem-nos para uma globalização ou internacionalização da doutrina do choque, para a sua continuidade histórica e para uma dimensão totalizadora, passando a abranger, à partida, e não apenas à chegada, todas as dimensões das nossas vidas.

Perante o que sabemos hoje, não posso deixar de pensar que os exemplos, cronologicamente encadeados, de aplicação da doutrina do choque, não constituem mais do que experiências, em constante aperfeiçoamento, que visam um epílogo, epílogo esse que estamos, hoje, a viver. O da globalização e internacionalização do choque neoliberal, a par da sua diversificação fenomenológica. Já não incide apenas sobre a componente económica ou social, incide sobre a saúde, o estado, a segurança, a defesa, a informação e propaganda. Trata-se da materialização clara de uma outra doutrina, a doutrina do “domínio de espectro total”.

Com a viragem para o século XXI, tudo mudou! Dia 11 de Setembro de 2001, o mundo fica em choque com um ataque terrorista, de proporções espectaculares, que culminou no derrube de três torres em Nova Yorque. Como se a Hollywood tivesse sido pedido a preparação de um ataque terrorista. Acto contínuo, população americana – e ocidental – em estado de choque, atónita, logo começámos a assistir ao desenrolar de ataques directos ao modo de vida que tantos consideravam ser eterno – lembrem-se de Fukuyama – e historicamente aperfeiçoado. Nos EUA assistimos à publicação do Patriot Act e ao início da Guerra ao terror.

A vigilância de estado passou a fazer parte das vidas americanas e, um pouco mais tarde, das europeias, nomeadamente após renovadas ondas de choque terrorista em Espanha, Inglaterra e França. À ligação comprovada entre os perpetradores dos actos terroristas – Al-Qaeda – e os seus criadores, muito poucos tomaram, ou quiseram tomar atenção. Hoje, entramos num supermercado, visitamos um museu, fazemos uma chamada telefónica ou tiramos uma fotografia e temos a garantia de que, algures no espaço, essa informação estará a ser objecto de tratamento, agregação, integração, análise e armazenamento. O terrorismo passou a fazer parte das nossas vidas e, sob tal pretexto, a vigilância em massa. Bin Laden passou a ser o diabo em pessoa, o demónio que aterrorizava os sonhos das nossas criancinhas, os quais seriam protegidos através do omnipresente pentágono e demais agências do “estado profundo”. Foi esse “estado profundo” que aproveitou a deixa para generalizar e normalizar a tortura, os campos de concentração como Guantánamo e as prisões secretas, ou menos secretas, onde prendem e mantêm, ainda hoje, todos os que se opõem aos desígnios imperiais. Foi a hora de internacionalizar o terror que o médio oriente sentia quase desde a fundação do ponta de lança anglo-saxónico na região, o estado sionista de Israel e a sua infame Mossad.

Já em 2008, o mundo ficou chocado com a crise do subprime. Supostamente, a banca americana estava em colapso, o que não tardou a acontecer com a europeia e com a de muitos outros países ao redor do mundo. O pretexto da crise da banca, logo de seguida associado ao choque da dívida soberana, criou o terreno social ideal para a aceitação de medidas de ataque desenfreado aos direitos dos trabalhadores e das suas famílias, como não havia memória nos países da europa ocidental. Os de leste já o haviam experimentado com a queda da URSS.

Salários, pensões, férias, contratação colectiva, liberdade sindical, direito à greve, empregos públicos, horários de trabalho, subsídios diversos, serviços públicos de saúde, educação, habitação, tudo foi cortado a direito, com uma ânsia destruidora, só ultrapassada pela insanidade demente de Milei. Facto histórico conhecido, documentado e comprovado pela degradação as condições de vida das vítimas: a distopia neoliberal nunca funcionou, nem sequer transitoriamente. Trata-se apenas e tão só da forma mais agressiva de acumulação, materializada na sucção, saque e na pilhagem directa, destruidora de valor e potencial social latente.

Estes dois momentos de choque, o de segurança em 2001 e o económico de 2008, ao contrário do que se ia passando, aqui e ali, até final dos anos 90, com as intervenções do Fundo Monetário Internacional, nos mais diversos países; estes dois casos representaram um salto ambicioso no modus operandi das elites dominantes; a pilhagem neoliberal passava a ser feita por atacado, em regime alargado, beneficiando da arquitectura institucional e normativa internacional, entretanto montada após a segunda guerra mundial, e dominada integralmente, após a queda da URSS.

Estava preparado o terreno para se passar do teste pontual, casuístico e circunscrito, à sua globalização. Ao invés de atacar país a pais, utilizando o FMI como catalisador do processo de dolarização e apropriação (mormente através das privatizações) de capital e influência financeira, ou com o pentágono como guarda avançada das forças da “liberdade e democracia”; com o 11/07/2001 e com a “crise do subprime”, todos pudemos assistir à internacionalização e globalização da doutrina do choque. As ondas de choque neoliberal passaram a ser transmitidas de forma transnacional e global. Poucos foram os países que resistiram aos seus efeitos e à sua utilização, como pretexto, para a imposição de medidas económicas e sociais draconianas. Os que o fizeram – e fazem – sofrem as “sanções do inferno”! Estava na hora de levar ao “jardim” de Borrel, a selvajaria criada noutros espaços.

Os povos ainda não haviam recuperado desses dois choques, quando acordámos sob os espasmos de um ainda superior, infinitamente mais forte e potente. A Pandemia de Covid-19. Se os anteriores haviam dado certo e ninguém relativamente capacitado se havia questionado e complicado as contas, porque razão não tentar algo ainda mais avassalador? As imagens de Wuhan percorreram o mundo, segundo as crónicas iriam morrer aos milhões, só na China… Tudo para sabermos, mais tarde, que foi precisamente aí que tal não aconteceu.

As vacinas passaram a fazer parte das nossas vidas como nunca, pagas a peso de ouro e preferencialmente provenientes de fonte estado-unidense. As que foram produzidas, um pouco por todo o mundo, não fizeram parte do cardápio ocidental, com muito poucas excepções e amplas reservas. Úrsula Von der Leyen negociou contratos à medida, hoje tornados secretos e fornecidos com rasuras, para que não possam ser lidos na sua integridade, tendo adquirido o equivalente a 5 vacinas por cidadão europeu, a maioria delas, ao laboratório chefiado pelo seu próprio marido. Foi o tempo de todos os dias, todos nós, acordámos ao som, ou com a leitura, dos relatórios diários de mortes e infecções. A sucessão de choques durou, literalmente, dois anos, e nunca, na humanidade, se havia experimentado um choque induzido desta dimensão.

Mas, se o valor arrecadado pelas farmacêuticas americanas, neste processo de globalização da saúde neoliberal, que prospera precisamente com a doença, atingiu recordes nunca antes obtidos pela Phizer, Moderna, Johnson&Johnson e outras; as ondas de choque não se limitaram a este acto de verdadeiro saque, em que o dinheiro dos contribuintes foi chamado a financiar o desenvolvimento, a aquisição, distribuição e administração das vacinas. Outra lotaria foi a dos exames de diagnóstico. Nunca os laboratórios privados de análises haviam lucrado tanto.

Mas desengane-se quem pensar que, a coberto das ondas de choque neoliberal, a pilhagem se ficou pelas vacinas e exames de diagnóstico. O mundo assistiu a toda uma onda de privatização dos cuidados de saúde, resultante do aumento de poder financeiro relativo da indústria farmacêutica e dos serviços de saúde. Com maior poder económico que nunca (e já era muito), resultante da pilhagem realizada, não tardou a que o usassem para colocar uma pressão inaudita sob os serviços públicos de saúde, procurando a sua privatização. Financiam partidos, pagam campanhas de informação, programas televisivos, conferências e até… Novas e possíveis pandemias!

 

Para adensar as ondas de choque, o medo e o terror, até a sociedade fechou portas, tal como se fazia na idade média, quando vinha a peste. Foi o tempo de grandes empresas lucrarem brutalmente com Lay-off pagos, pelos estados, nomeadamente europeus, a peso de ouro. Paravam, nada produziam, mas continuava a facturar… Algo melhor que isso? O choradinho, contudo, não parava, e, como sempre, choveram subsídios para empresas – à partida pequenas empresas – mas que foram, como sempre e à chegada, parar aos bolsos das grandes.

Uma vez mais, direitos laborais atropelados, liberdade de expressão, liberdade de opinião e até liberdade de imprensa e informação. Na imprensa dominante, nada se veiculou sobre a mais ínfima das críticas. Como revelaram as “Twitter files”, as grandes corporações da saúde não se pouparam a esforços para esconder o seu rasto de corrupção, doença e sangue. E, no final das contas, após tanta desinformação, censura e manipulação, já se começa, aos poucos, a admitir que as vacinas também matam, entrando os defensores desta terapia pandémica, em justificações falíveis sobre a suposta maior mortalidade do Covid-19.

Nos EUA, país que produziu as vacinas, foi onde mais se morreu. E não vejam aqui qualquer pretensão, da minha parte, em negar o papel importante das vacinas e das políticas públicas de vacinação, quando são justas e se dedicam a preservar a saúde, ao invés de lucrar com a doença. O que se passou aqui, foi algo de bem diferente: uma doença é introduzida, funcionando como uma onda de choque, para fazer baixar as guardas e vender caríssimas vacinas de origem duvidosa. Vacinas com testes acelerados e pouco fiáveis, resultados manipulados, escondidos e censurados, que foram impostas à generalidade das populações ocidentais. Violou-se o próprio direito de escolha, obrigando, por exemplo, quem viajava, a vacinar-se. Quando os esforços vão tão longe e tantos direitos são atropelados, pagando-se para esconder a informação existente, é porque algo está mal explicado.

De 2020 a 2022 foi tempo de globalização das experiências que já se sabiam fazer-se em países pobres, concretamente em àfrica. Se a Guerra ao Terror globalizou o choque terrorista como pretexto para invadir, pilhar, controlar, censurar, perseguir e monitorizar, processos que já haviam sido experimentados em países africanos, no médio oriente, ásia e américa latina; com o Covid-19, tratou-se de expandir o choque pandémico que antes havia sido experimentado em países empobrecidos. Países em que a pobreza é utilizada como pretexto para testar novos métodos de transmissão e inovadores tratamentos de choque. Não me choca nada, passe a redundância, que muito deste trabalho também encontre suporte teórico no infame relatório Kissinger, o qual se dedica a encontrar soluções de controlo da população mundial. Os laboratórios secretos quês e vão encontrando um pouco por todo o lado, não deixarão, certamente, de nos trazer novas ondas de choque.

Na actualidade, podemos dizer que, após anos e anos de testes um pouco por todo o mundo, chegou o momento da internacionalização e globalização da guerra. Após o Euromaindan entrou em andamento todo um processo de normalização da guerra, do medo e terror da guerra, no nosso dia a dia. Primeiro, com a forma como foi tratada a Operação Militar Especial, caracterizada como uma bárbara invasão, ao longo da qual foram induzidos novos choques na população ocidental, seja através das narrativas falsas como o “massacre de Bucha”, o bombardeamento de “escolas e hospitais”, o infame – e caricato – bombardeamento da NPP Zaporozhye, em que se consegue dizer que está cheia de soldados russos e, ao mesmo tempo, que é bombardeada pelos próprios; a possibilidade, sempre presente, de ataques químicos, biológicos e nucleares, pelos mesmos de sempre: os “infernais e malignos” russos.

A coberto das ondas de choque, normaliza-se a guerra, a distribuição de armas, o investimento no complexo militar industrial, enquanto a saúde, habitação, educação e os salários ficam para trás; a – anteriormente impossível – guerra nuclear entra, aos poucos, nas nossas mentes, concretamente, através da ameaçada constante de “invasão da NATO” pela Rússia. Ninguém fala da tolice que tal significa, nem tão pouco da inconsistência histórica e científica da hipótese. Não é tempo disso, é tempo de choque propagandístico.

E se o conflito na Ucrânia permitiu a internacionalização da guerra eterna, arrastando toda uma europa arregimentada para o seu próprio suicídio económico e social; o choque Ucraniano permitiu outra globalização, a da propaganda uniforme, a da narrativa única. Nunca, como antes, uma narrativa foi tão sólida no espaço internacional. Trata-se, outra vez, da mesma metodologia: incidir sucessivas doses de choque, tantas quantas as necessárias, até que, mesmo os mais críticos, fiquem sem reacção. Não porque a narrativa seja verdadeira, mas porque se torna asfixiante.

Este choque, deu origem a mais um pretexto para o ataque aos nossos direitos, desta feita incidindo directamente na liberdade de expressão e opinião. O facto é que, a herança com que ficamos desta terapia consiste na internacionalização e normalização da censura, seja directa, dos canais Russos, ou indirecta, de todos os oponentes, nas redes sociais. Nunca mais a informação circulará como antes, passando a filtrar-se sob pretexto da necessidade de nos defender da desinformação e propaganda. Ou seja, choques sucessivos de desinformação e propaganda, a darem origem à censura contra a verdade. Porque a censura, e que ninguém se engane, é sempre contra a verdade. Visa sempre esconder a verdade, a possibilidade de comparação, o movimento dialéctico na construção do pensamento.

Desta evolução, podemos retirar duas conclusões directas: o processo de aplicação da doutrina do choque evoluiu do estado nação, para o mundo inteiro; evoluiu também, da componente financeira, para outras mais vastas, como a guerra total; sempre numa lógica crescente de evolução do menos para o mais complexo, até, se não o impedirmos, à nossa destruição total.

Do particular para o geral, foi este o movimento que levou ao aperfeiçoamento, alargamento e globalização da doutrina do choque. Os países mais empobrecidos servem de cobaias, permitindo o teste que depois é generalizado a todo o mundo. Eis a essência da hegemonia americana e ocidental; eis porque está em contradição directa com o interesse dos povos!

E é assim que nos trazem para um mundo de choques induzidos de forma permanente, de internacional, multifacetada e totalizante, cujo pretexto da respectiva indução reside na “necessidade de protecção”; mas o resultado é inequívoco: a cada sessão, a cada camada, cada vez nos encontramos mais amordaçados, condicionados e empobrecidos. Não existe nada de protectivo nesta sucessão de espasmos provocados contra a nossa vontade; apenas de agressivo e dominador.

Cúmulo da contradição: quanto mais chocados, mais desarmados nos quedamos!

The views of individual contributors do not necessarily represent those of the Strategic Culture Foundation.

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