Português
Eduardo Vasco
September 30, 2025
© Photo: Public domain

Olham para a Coreia e o que está à sua frente não passa de um espelho.

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Escreva para nós: info@strategic-culture.su

Já tive a oportunidade, aqui na SCF, de denunciar o mecanismo de desinformação, propaganda e mentiras contra a República Popular Democrática da Coreia. Esse mecanismo é tão antigo quanto o próprio país, já que a própria revolução coreana, que libertou a península em 1945, foi contrária aos interesses imperialistas dos Estados Unidos.

Uma das principais fontes de notícias sobre a RPDC é a Radio Free Asia, fundada pela CIA no início da guerra fria e mantida com verba do Congresso americano. Sua principal tarefa é trabalhar diariamente para levar a propaganda imperialista aos povos da Ásia a fim de convencê-los que os EUA são os seus melhores amigos, que devem se distanciar de China e Rússia, que governos minimamente independentes são ditaduras e que aqueles que vivem em países assim devem fazer revoluções coloridas. Além disso, com sua cobertura pretensamente jornalística, cria fake news que são espalhadas por outros veículos de propaganda imperialista mundo afora.

A rádio e seu site de notícias veiculam reportagens invariavelmente negativas sobre a RPDC e o tipo de fontes que eles mais gostam são as “anônimas”. De pouco críveis em sua reputação de esgoto, suas reportagens costumam ser muito contraditórias com elas mesmas. Vejamos um caso.

Um artigo intitulado “Fed up with corruption, North Koreans are attacking police, secret documents show” (“Cansados de corrupção, norte-coreanos estão atacando a polícia, mostram documentos secretos”), assinado por Ahn Chang Gyu e publicado em 2 de junho de 2023, cita testemunhas anônimas que mencionam episódios em que cidadãos cansados da “tirania” da polícia resolvem acertar as contas individualmente com agentes policiais.

“Um residente do condado de Paegam e seu filho encurralaram um policial no acostamento de uma estrada e ele infligiu diversos hematomas na cabeça do policial”, disse um oficial administrativo da província de Ryanggang à RFA sob a condição de anonimato. “Dizem que foi uma revanche porque o policial insultou sua mulher ao tratá-la como uma criminosa em seu local de trabalho ao forçá-la a confessar que era responsável por uma perda ocorrida no local de trabalho.”

Em resumo: a notícia trata de um espancamento de policial por parte de um cidadão comum. Vejam bem: foram um cidadão comum e seu filho que espancaram o policial. Alguém já viu isso acontecer em alguma parte do planeta? No Brasil, ninguém tem coragem de olhar torto para um policial, porque sabe que, por motivo nenhum, a polícia já mata. Só quem pode “acertar as contas” com a polícia no Brasil são as maiores facções do crime organizado, e isso sabendo que haverá consequências. É absolutamente impensável para um cidadão comum, como no suposto caso coreano, “acertar as contas” com um policial, ainda mais estando desarmado.

E aqui surge a grande contradição da RFA. Como é possível que em uma “ditadura militar” – muitas vezes descrita como a pior ditadura militar do mundo –, onde, segundo a própria reportagem da RFA, a polícia é “tirana”, um policial seja espancado por um mero trabalhador desarmado? Em uma ditadura militar tão tirana, não se pode crer que a polícia ande desarmada e sem equipamentos de segurança. Como funciona, então, essa tirania da polícia, se os agentes estão desarmados? No Brasil os policiais usam armas até quando estão à paisana, mas na Coreia do Norte eles não usam armas nem quando estão em serviço? Que tipo de ditadura militar é essa, que tipo de polícia tirana é essa que apanha de um civil desarmado? Até agora, pensava-se que os cidadãos coreanos tinham medo da própria sombra devido à vigilância e repressão do regime, como então um cidadão sente-se tão livre a ponto de bater na polícia?

Um outro residente de Ryanggang, logicamente também “anônimo”, disse à mesma reportagem que, “quando você vai ao mercado, pode-se ver frequentemente mulheres protestando ou discutindo em voz alta, e apontando o dedo para o policial”, podendo inclusive ocorrer brigas. No Brasil, ou mesmo nos Estados Unidos, uma situação como essa nunca é tolerada pela polícia “democrática”. Há menos de um mês um entregador de comida tomou um tiro por discutir com um policial só porque ele se recusou a levar a comida ao apartamento do agente e pediu para que ele fosse buscar na portaria do prédio. No melhor dos casos, se alguém ousa levantar a voz contra um policial, é levado à delegacia por desacato.

Onde, afinal, existe tirania policial?

Se diz que a RPDC é o “país mais fechado do mundo”, onde as pessoas são proibidas de se comunicar com o exterior e onde qualquer tentativa de burlar a proibição é punida pelo regime. Como a Radio Free Asia conseguiu entrar em contato com essas duas fontes diretas? As duas testemunhas “anônimas” têm medo de fornecer seus nomes para a reportagem, mas os moradores de Ryanggang não têm medo de brigar e bater na polícia “tirana”?

Essa é apenas uma das milhares de notícias absolutamente inconsistentes e contraditórias sobre a República Popular Democrática da Coreia. Os veículos de propaganda imperialista e seus partidários veem na RPDC os próprios males que afetam seus regimes. Acusam a Coreia de ter miséria, fome, repressão policial, censura, enquanto tudo isso é inerente às sociedades capitalistas da nossa época, não a uma sociedade como a da RPDC.

Olham para a Coreia e o que está à sua frente não passa de um espelho. Aquilo que falam sobre esse país é o que ocorre neles próprios. Não querem (e não podem) tirar esse espelho de sua frente para enxergar a verdadeira Coreia, porque ao fazerem isso os mitos que eles criaram sobre si próprios desmoronariam.

Coreia do Norte: uma polícia tirana que apanha do povo?

Olham para a Coreia e o que está à sua frente não passa de um espelho.

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Já tive a oportunidade, aqui na SCF, de denunciar o mecanismo de desinformação, propaganda e mentiras contra a República Popular Democrática da Coreia. Esse mecanismo é tão antigo quanto o próprio país, já que a própria revolução coreana, que libertou a península em 1945, foi contrária aos interesses imperialistas dos Estados Unidos.

Uma das principais fontes de notícias sobre a RPDC é a Radio Free Asia, fundada pela CIA no início da guerra fria e mantida com verba do Congresso americano. Sua principal tarefa é trabalhar diariamente para levar a propaganda imperialista aos povos da Ásia a fim de convencê-los que os EUA são os seus melhores amigos, que devem se distanciar de China e Rússia, que governos minimamente independentes são ditaduras e que aqueles que vivem em países assim devem fazer revoluções coloridas. Além disso, com sua cobertura pretensamente jornalística, cria fake news que são espalhadas por outros veículos de propaganda imperialista mundo afora.

A rádio e seu site de notícias veiculam reportagens invariavelmente negativas sobre a RPDC e o tipo de fontes que eles mais gostam são as “anônimas”. De pouco críveis em sua reputação de esgoto, suas reportagens costumam ser muito contraditórias com elas mesmas. Vejamos um caso.

Um artigo intitulado “Fed up with corruption, North Koreans are attacking police, secret documents show” (“Cansados de corrupção, norte-coreanos estão atacando a polícia, mostram documentos secretos”), assinado por Ahn Chang Gyu e publicado em 2 de junho de 2023, cita testemunhas anônimas que mencionam episódios em que cidadãos cansados da “tirania” da polícia resolvem acertar as contas individualmente com agentes policiais.

“Um residente do condado de Paegam e seu filho encurralaram um policial no acostamento de uma estrada e ele infligiu diversos hematomas na cabeça do policial”, disse um oficial administrativo da província de Ryanggang à RFA sob a condição de anonimato. “Dizem que foi uma revanche porque o policial insultou sua mulher ao tratá-la como uma criminosa em seu local de trabalho ao forçá-la a confessar que era responsável por uma perda ocorrida no local de trabalho.”

Em resumo: a notícia trata de um espancamento de policial por parte de um cidadão comum. Vejam bem: foram um cidadão comum e seu filho que espancaram o policial. Alguém já viu isso acontecer em alguma parte do planeta? No Brasil, ninguém tem coragem de olhar torto para um policial, porque sabe que, por motivo nenhum, a polícia já mata. Só quem pode “acertar as contas” com a polícia no Brasil são as maiores facções do crime organizado, e isso sabendo que haverá consequências. É absolutamente impensável para um cidadão comum, como no suposto caso coreano, “acertar as contas” com um policial, ainda mais estando desarmado.

E aqui surge a grande contradição da RFA. Como é possível que em uma “ditadura militar” – muitas vezes descrita como a pior ditadura militar do mundo –, onde, segundo a própria reportagem da RFA, a polícia é “tirana”, um policial seja espancado por um mero trabalhador desarmado? Em uma ditadura militar tão tirana, não se pode crer que a polícia ande desarmada e sem equipamentos de segurança. Como funciona, então, essa tirania da polícia, se os agentes estão desarmados? No Brasil os policiais usam armas até quando estão à paisana, mas na Coreia do Norte eles não usam armas nem quando estão em serviço? Que tipo de ditadura militar é essa, que tipo de polícia tirana é essa que apanha de um civil desarmado? Até agora, pensava-se que os cidadãos coreanos tinham medo da própria sombra devido à vigilância e repressão do regime, como então um cidadão sente-se tão livre a ponto de bater na polícia?

Um outro residente de Ryanggang, logicamente também “anônimo”, disse à mesma reportagem que, “quando você vai ao mercado, pode-se ver frequentemente mulheres protestando ou discutindo em voz alta, e apontando o dedo para o policial”, podendo inclusive ocorrer brigas. No Brasil, ou mesmo nos Estados Unidos, uma situação como essa nunca é tolerada pela polícia “democrática”. Há menos de um mês um entregador de comida tomou um tiro por discutir com um policial só porque ele se recusou a levar a comida ao apartamento do agente e pediu para que ele fosse buscar na portaria do prédio. No melhor dos casos, se alguém ousa levantar a voz contra um policial, é levado à delegacia por desacato.

Onde, afinal, existe tirania policial?

Se diz que a RPDC é o “país mais fechado do mundo”, onde as pessoas são proibidas de se comunicar com o exterior e onde qualquer tentativa de burlar a proibição é punida pelo regime. Como a Radio Free Asia conseguiu entrar em contato com essas duas fontes diretas? As duas testemunhas “anônimas” têm medo de fornecer seus nomes para a reportagem, mas os moradores de Ryanggang não têm medo de brigar e bater na polícia “tirana”?

Essa é apenas uma das milhares de notícias absolutamente inconsistentes e contraditórias sobre a República Popular Democrática da Coreia. Os veículos de propaganda imperialista e seus partidários veem na RPDC os próprios males que afetam seus regimes. Acusam a Coreia de ter miséria, fome, repressão policial, censura, enquanto tudo isso é inerente às sociedades capitalistas da nossa época, não a uma sociedade como a da RPDC.

Olham para a Coreia e o que está à sua frente não passa de um espelho. Aquilo que falam sobre esse país é o que ocorre neles próprios. Não querem (e não podem) tirar esse espelho de sua frente para enxergar a verdadeira Coreia, porque ao fazerem isso os mitos que eles criaram sobre si próprios desmoronariam.

Olham para a Coreia e o que está à sua frente não passa de um espelho.

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Já tive a oportunidade, aqui na SCF, de denunciar o mecanismo de desinformação, propaganda e mentiras contra a República Popular Democrática da Coreia. Esse mecanismo é tão antigo quanto o próprio país, já que a própria revolução coreana, que libertou a península em 1945, foi contrária aos interesses imperialistas dos Estados Unidos.

Uma das principais fontes de notícias sobre a RPDC é a Radio Free Asia, fundada pela CIA no início da guerra fria e mantida com verba do Congresso americano. Sua principal tarefa é trabalhar diariamente para levar a propaganda imperialista aos povos da Ásia a fim de convencê-los que os EUA são os seus melhores amigos, que devem se distanciar de China e Rússia, que governos minimamente independentes são ditaduras e que aqueles que vivem em países assim devem fazer revoluções coloridas. Além disso, com sua cobertura pretensamente jornalística, cria fake news que são espalhadas por outros veículos de propaganda imperialista mundo afora.

A rádio e seu site de notícias veiculam reportagens invariavelmente negativas sobre a RPDC e o tipo de fontes que eles mais gostam são as “anônimas”. De pouco críveis em sua reputação de esgoto, suas reportagens costumam ser muito contraditórias com elas mesmas. Vejamos um caso.

Um artigo intitulado “Fed up with corruption, North Koreans are attacking police, secret documents show” (“Cansados de corrupção, norte-coreanos estão atacando a polícia, mostram documentos secretos”), assinado por Ahn Chang Gyu e publicado em 2 de junho de 2023, cita testemunhas anônimas que mencionam episódios em que cidadãos cansados da “tirania” da polícia resolvem acertar as contas individualmente com agentes policiais.

“Um residente do condado de Paegam e seu filho encurralaram um policial no acostamento de uma estrada e ele infligiu diversos hematomas na cabeça do policial”, disse um oficial administrativo da província de Ryanggang à RFA sob a condição de anonimato. “Dizem que foi uma revanche porque o policial insultou sua mulher ao tratá-la como uma criminosa em seu local de trabalho ao forçá-la a confessar que era responsável por uma perda ocorrida no local de trabalho.”

Em resumo: a notícia trata de um espancamento de policial por parte de um cidadão comum. Vejam bem: foram um cidadão comum e seu filho que espancaram o policial. Alguém já viu isso acontecer em alguma parte do planeta? No Brasil, ninguém tem coragem de olhar torto para um policial, porque sabe que, por motivo nenhum, a polícia já mata. Só quem pode “acertar as contas” com a polícia no Brasil são as maiores facções do crime organizado, e isso sabendo que haverá consequências. É absolutamente impensável para um cidadão comum, como no suposto caso coreano, “acertar as contas” com um policial, ainda mais estando desarmado.

E aqui surge a grande contradição da RFA. Como é possível que em uma “ditadura militar” – muitas vezes descrita como a pior ditadura militar do mundo –, onde, segundo a própria reportagem da RFA, a polícia é “tirana”, um policial seja espancado por um mero trabalhador desarmado? Em uma ditadura militar tão tirana, não se pode crer que a polícia ande desarmada e sem equipamentos de segurança. Como funciona, então, essa tirania da polícia, se os agentes estão desarmados? No Brasil os policiais usam armas até quando estão à paisana, mas na Coreia do Norte eles não usam armas nem quando estão em serviço? Que tipo de ditadura militar é essa, que tipo de polícia tirana é essa que apanha de um civil desarmado? Até agora, pensava-se que os cidadãos coreanos tinham medo da própria sombra devido à vigilância e repressão do regime, como então um cidadão sente-se tão livre a ponto de bater na polícia?

Um outro residente de Ryanggang, logicamente também “anônimo”, disse à mesma reportagem que, “quando você vai ao mercado, pode-se ver frequentemente mulheres protestando ou discutindo em voz alta, e apontando o dedo para o policial”, podendo inclusive ocorrer brigas. No Brasil, ou mesmo nos Estados Unidos, uma situação como essa nunca é tolerada pela polícia “democrática”. Há menos de um mês um entregador de comida tomou um tiro por discutir com um policial só porque ele se recusou a levar a comida ao apartamento do agente e pediu para que ele fosse buscar na portaria do prédio. No melhor dos casos, se alguém ousa levantar a voz contra um policial, é levado à delegacia por desacato.

Onde, afinal, existe tirania policial?

Se diz que a RPDC é o “país mais fechado do mundo”, onde as pessoas são proibidas de se comunicar com o exterior e onde qualquer tentativa de burlar a proibição é punida pelo regime. Como a Radio Free Asia conseguiu entrar em contato com essas duas fontes diretas? As duas testemunhas “anônimas” têm medo de fornecer seus nomes para a reportagem, mas os moradores de Ryanggang não têm medo de brigar e bater na polícia “tirana”?

Essa é apenas uma das milhares de notícias absolutamente inconsistentes e contraditórias sobre a República Popular Democrática da Coreia. Os veículos de propaganda imperialista e seus partidários veem na RPDC os próprios males que afetam seus regimes. Acusam a Coreia de ter miséria, fome, repressão policial, censura, enquanto tudo isso é inerente às sociedades capitalistas da nossa época, não a uma sociedade como a da RPDC.

Olham para a Coreia e o que está à sua frente não passa de um espelho. Aquilo que falam sobre esse país é o que ocorre neles próprios. Não querem (e não podem) tirar esse espelho de sua frente para enxergar a verdadeira Coreia, porque ao fazerem isso os mitos que eles criaram sobre si próprios desmoronariam.

The views of individual contributors do not necessarily represent those of the Strategic Culture Foundation.

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