Como poderia este cadáver adiado, perceber que, com o ataque sionista ao Irão, pode estar em causa a última estocada na sua própria existência?
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Se a EU ainda não percebeu o que está em causa na agressão movida por Israel contra o Irão é grave e não pode descansar-nos. Se percebeu e persiste no erro, é ainda mais preocupante. Quer dizer que a União Europeia é um corpo dominado por uma coluna vertebral – o eixo franco-germano-britânico –, que ao invés de coordenar e equilibrar os seus membros, antes os aliena, descoordena e sem dúvida deles se alimenta e alimentará, num futuro em que nada mais sobrará, senão o próprio corpo.
Estamos todos a viver na pele, no bolso, no estomago, o resultado da forma como a direita revanchista, neofascista e reacionária se aproveita da imigração, para influenciar a política nacional, europeia, e chegar ao poder.
Num quadro destes, em que a influência neofascista e neonazi se faz sentir no ataque à imigração, na xenofobia contra asiáticos, muçulmanos ou africanos, na violência contra minorias e opositores políticos, estará a EU preparada para uma onda migratória incontida e absolutamente massiva, para, no meio de uma crise energética sem igual, acompanhada do aumento brutal dos preços, receber – “ser invadida” como dizem – por milhões de pessoas legitimamente desesperadas em procura de trabalho e melhores condições de vida?
A provar a gravidade civilizacional do momento em que vivemos, está a forma como Trump se comportou, uma vez na presidência. A sua atitude é representativa de como funciona o fascismo, sob a versão neofascista, de fato Armani e camisinha branca, ou não. Vale tudo para chegar ao poder e, uma vez lá chegados, esquece-se “o povo”, “o trabalhador”, e honram-se as lealdades para com a oligarquia doadora de fundos eleitorais, apoiando os monopólios, libertando os mais ricos da carga fiscal e agravando os impostos dos mais pobres.
Consequentemente, o presidente eleito para parar com as guerras eternas que esgotam o orçamento dos EUA, afinal, é aquele que mais se está a esforçar por nos trazer a terceira guerra mundial. Nada de novo: já Zelensky assim tinha chegado ao poder. Face ao desespero dos povos europeus por melhores condições de vida e estabilidade, tornou-se demasiado fácil manipular as vontades e obter resultados eleitorais expressivos.
Esta EU, ela própria em processo de reconquista neofascista, formal ou materialmente, não soube perceber que a guerra da Ucrânia, alimentada com o incumprimento de Minsk e a entrada da NATO naquele país, era uma guerra contra ela própria. Passados três anos, como se esperaria, a EU está pior em tudo. O Euro mais fraco, ultrapassado pelo Yuan como moeda mais procurada para reserva e troca; economia débil e anémica; perda de mercados importantes; perda de recursos energéticos e matérias primas essenciais em qualidade e quantidade e sem perspetivas de substituição à vista; perda do comboio da revolução industrial 4.0.
Valha-nos que temos Kaja Kallas contentar-se com o facto de que “a Federação Russa tem perdido bilhões com as sanções”, “enquanto a EU é o maior contribuinte para a causa Ucraniana”. Parco prémio: estar no 1.º lugar do pódio dos que mais bilhões perdem com a derrota Ucraniana!
Como se não fosse já o suficiente, à incapacidade para impedir que se gerasse um desentendimento com a Federação Russa, a EU foi incapaz de prever que a destruição de Líbia, Síria, Iraque, Líbano e o fim do JCPOA em Trump 1.0, provocaria uma onda migratória massiva, de refugiados e imigrantes “económicos”, não apenas impossível de ser contida – como provam as balsas no mediterrâneo -, como subitamente aproveitada por traficantes, patronato ávido de mão de obra barata e pela direita revanchista e neofascista, cujos financiadores tanto os exploram, como exploram as disrupções provocadas pelo súbito incremento de procura de trabalho e serviços públicos, para chegar ao poder e tornar tudo ainda mais caótico.
Esta EU, que já vinha de um processo austeritário que havia destruído e reduzido a mínimos a capacidade dos serviços públicos, não quis saber das tensões que esta onda migratória provocaria numa população autóctone já massacrada de promessas incumpridas. O processo de reconstrução do poder oligárquico e de reconstituição do pacto social pré segunda guerra mundial estava em curso e nada o poderia parar.
Em todas as fases deste processo, da guerra ao terror, em que fomos assistindo à intrusão na vida privada e à instalação do estado de vigilância em massa, à antagonização da Federação Russa, através do alargamento da NATO e da fanatização das populações não russófonas dos países da ex-URSS e do ex-Pacto de Varsóvia, a EU nunca soube ou quis proteger os seus povos. Não apenas se deixou conduzir para um perigoso processo de militarização, como assistiu ao recrudescimento do nazismo e do fascismo, mascarado sob a forma de “nova direita” ou “partidos anti-imigração”.
O interessante é que das únicas vezes que estes partidos foram, de alguma forma, hostilizados, tal se deveu ao seu “eurocepticismo”. Já os casos de acusação de ideologia “pró russa” acabaram, nalguns casos, com a ilegalização, demonstrando que a verdadeira linha ideológica subjacente à orientação belicista, revisionista e fascizante assumida como “moderada” e “democrática” reside no antagonismo anti-russo. Apenas a forma como olham para a Rússia, para os LGBTQ+ e o “aquecimento global”, separa verdadeiramente as “forças moderadas” das forças “populistas”. O exemplo está na forma como a EU olha para Orban ou Meloni. Como ostraciza um e aceita o outro.
Agravando a sua dependência energética, paradoxalmente, continuando a consumir gás e petróleo russos, mas comprados a intermediários, evitando a relação direta; privando a industria europeia de um fornecedor poderoso e decisivo de reservas minerais absolutamente necessárias para a industria; entregando um fornecedor de décadas aos competidores estratégicos como China e EUA; a EU prosseguiu o seu caminho de auto-flagelação.
A Comissão, o Parlamento e o Conselho, nunca mostraram a mínima capacidade para antecipar os acontecimentos. As dezenas de “atos” que a Comissão von der Leyen produziu, todos pecaram por tardiamente reativos, demonstrando que o uso da palavra “ato” para, de forma americanizada, descrever o termo “Lei” está longe de constituir uma mera coincidência formal. A verdade é que a necessidade da procura de anuências transatlânticas transformou a EU e o seu eixo franco-germano-britânico num corpo sem vontade própria. E tal é o hábito que, o corpo, perdendo o cérebro de Biden – que já era… -, se tornou ainda mais errático e descoordenado. A EU passou a sofrer de Trumpite aguda!
O antes e o depois de von der Leyen não enganará, mas o que realmente ficará registado na história é a acefalia, a incapacidade para pensar e tomar decisões independentes. A EU é como aquele touro enraivecido por anos de cativeiro que vai sendo conduzido através de picadas, bandeiras vermelhas e estonteantes estocadas. Sem saber antecipar de onde vêm, a EU passou a marrar sempre para o mesmo lado, ou seja, sempre contra a Federação Russa.
Tal o estado de mortificação – a EU e o seu G5, agora que o Reino Unido de facto voltou – que quando confrontada com mais um sério risco à sua integridade, à sua existência, logo se prontificou a mimetizar os mais perigosos, aventureiros e desesperados comportamentos de Trump. A atitude da EU e do eixo franco-germano-britânico face ao crime a ser cometido em Gaza já era algo de absolutamente doentio, tal a incapacidade para conciliar, sequer, o discurso assumido com as ações encetadas. Mas, no caso do Irão, a EU e o seu eixo central, assume um novo nível de desconexão nervosa: esta espinha dorsal franco-germano-britânica é, simplesmente, tetraplégica, não sendo capaz de dar cumprimento independente ao mínimo dos pensamentos.
É assim que este cadáver adiado que é a EU, consegue condenar um estado por invadir outro, sancionar um por se dizer que quer invadir outro e defender outro ainda, por ter invadido e atacado outros cinco. É absolutamente impressionante.
Como poderia, então, este cadáver adiado, perceber que, com o ataque sionista ao Irão, pode estar em causa a última estocada na sua própria existência? O ataque ao Irão, a ser bem sucedido, a produzir os resultados pretendidos por Israel, e sancionados por Washington – não apenas por Trump – e anuídos pelo cadáver adiado europeu, acabará com uma nação milenar, com mais de 90 milhões de indivíduos, em que uma grande parte são jovens altamente qualificados, que ficarão desempregados, desocupados, sem futuro. A onda migratória que daí resultaria seria brutal e tornaria a queda da Líbia e Síria uma piada, quando em comparação.
Estará a EU preparada para mais uma onda migratória sem fim e ainda maior do que a atual? Estará preparada a EU para as consequências que daí advirão? Estará a EU preparada para a onda migratória que se dará após a instabilidade total da ásia ocidental, que daqui resultará? Onde julga a EU integrar tantos muçulmanos? Tantas famílias de homens, mulheres e crianças, com as vidas destruídas? Nas habitações que faltam aos europeus? Nos empregos industriais que não poderão ser criados por falta de matéria prima?
Podemos dizer que a EU, a braços com uma crise demográfica profunda, que a tornará, sem medidas adequadas, uma terra de gente idosa e miserável, estaria interessada em importar o PIB humano que resultará de uma crise estrutural em toda a ásia ocidental. Sem dúvida que estes jovens qualificados e suas famílias poderiam dar muito jeito aos países europeus. Mas o que sucederá com os estados membros mais afetados pelos tais “partidos anti imigração”? O que acontecerá com a aclamada “coesão europeia”? Que remédios tem uma EU perdida e moralmente falida, para um cancro social deste tipo? Estará a EU capaz de aproveitar tal crise “numa oportunidade”, como gostam tanto de esgrimir os produtores de crises em massa?
Mesmo que os estados-membros da UE, dominados ou não por partidos “anti-imigração”, recebam tais migrantes, por deles necessitarem, a questão fundamental será a de saber onde esta gente trabalhará. Sem energia barata, matérias primas e minerais críticos, a EU não poderá montar a sua indústria de “defesa”, para a qual tem preparados 800 mil milhões de Euros. Até porque, persistindo o ataque ao Irão, o resultado será que a China cortará os fornecimentos de terras raras e minerais críticos para armas, tal como o fará a própria Federação Russa. Não faria sentido ver um aliado ser atacado pelos inimigos, saber que o ataque, em ultima análise, se destina a si próprio, e continuar a fornecer matérias essenciais para tal ataque.
Mesmo que a EU se fechasse ao comércio internacional e enveredasse por uma política ainda mais protecionista do que a que tem assumido, de forma a conter a entrada de produtos mais baratos, tentando assim mitigar os elevados preços da energia e promover a sua industria interna; o fecho do seu mercado aos outros países industrializados, provocaria ricochete e levaria, a prazo, ao fechamento económico e, consequentemente, ao atraso. Para uma EU que já perdeu a dianteira da revolução tecnológica, perder também o que resta do seu espaço comercial, financeiro e cultural, seria mortal.
E é aqui que encrava toda a estratégia. A China detém o poder de punir, de forma efetiva, os responsáveis por este conflito, leia-se, os EUA, a EU e Israel. Dir-me-ão que a China também sofrerá e é verdade, contudo, podemos sempre dizer que com o mal dos outros… Mas, acresce que apenas 15 a 17% da produção industrial chinesa é para exportação e, como tem ocorrido este ano, o mercado interno chinês está em crescimento. Por outro lado, estrategicamente unida à Federação Russa, a China possui tudo o que necessita, ao passo que a EU necessita de quase tudo, quase nada possuindo. Alguém quer experimentar ver quem cai primeiro?
Agora, imagine-se este quadro em que a EU permanece de “portas abertas” à imigração? De “portas abertas”? Sim! A sugestão que Comissão fez recentemente a Portugal, em matéria de equilíbrio de contas públicas, passa pela importação de PIB, ou seja, pela entrada e integração de mais imigrantes.
É claro que, sendo a população iraniana uma população muito jovem e qualificada, pode estar aqui em marcha um processo inconfessável de pilhagem do PIB humano potencial, contudo, este processo emperra num fator praticamente inamovível: a forma como o ocidente prescindiu da industria e deixou a finança destruir a economia real. Agora, é fácil atirar as culpas a quem não apenas não o deixou acontecer, como quem dirigiu a sua economia precisamente para o crescimento industrial e tecnológico. A China e a Ásia, em geral.
Pensar que a China não reagirá a esta situação é ainda mais criminoso. A China tem muito interesse no Irão e é sobretudo esse interesse que conduz ao interesse de Trump em seguir o aventureirismo criminoso de Netanyahu. Petróleo e gás, mercado de 90 milhões de seres humanos, as novas rotas da seda, acesso à Eurasia e à ásia ocidental, os EUA sabem que a queda do Irão seria um poderoso golpe na China, nos BRICS, na BRI e até na SCO. Neste sentido, China e Rússia, dificilmente deixarão cair o Irão. E como já se viu que a “revolução colorida” falhou perante o fervor soberano e patriota da população, apenas uma guerra sem fim e com potencial para uma terceira guerra mundial levaria à queda do regime político iraniano.
É, portanto, um poço sem fundo o buraco em que a EU se está a deixar enterrar. Quando as ondas de choque nos atingirem, não venham depois dizer que os culpados são os de sempre: os outros! E nesses “outros” não deixará de estar a carne para canhão que serão os imigrantes, os trabalhadores. Algo que denuncia estas “políticas anti-imigração” do ocidente, é a sua incapacidade para atacar os interesses oligárquicos e monopolistas que promovem a guerra, optando por atacar as suas vítimas, os povos cuja vida foi destruída, a quem o desenvolvimento foi negado. Não se pense é que tal desenvolvimento é apenas negado aos povos do sul global; esse desenvolvimento também começa a ser negado aos próprios trabalhadores ocidentais, provando que tais políticas afetam todos os trabalhadores. Que o digam os MAGA, agora abandonados por Trump.
Em conclusão, apenas o governo por uma geração mimada, iludida com a sua falsa grandeza, com um orgulho doentio desmedido e um complexo de superioridade construído nos “melhores” colégios e universidades que o dinheiro compra, sob a capa de um falso “mérito”, pode justificar uma cegueira e cobardia tão grandes.
Se tudo isto se sabe, se tudo isto é corroborável e comprovável com dados e factos à nossa disposição; se a previsibilidade destes acontecimentos é tão visível que se torna inegável; o que justifica que os órgãos da EU e os “líderes” do eixo franco-germano-britânico não o vejam? O que justifica que não constatem que este é também um ataque à europa, à sua independência, autonomia e liberdade?
Já os estou a ver queixar-se e justificarem a sua incompetência com os danos da guerra entre Israel e o Irão… E vocês? Não o viram com a Ucrânia? E o tanto que foram avisados então… E como trataram mal quem os avisou! E agora?
Não há tratamento pior, do que não sermos ouvidos!