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Raphael Machado
January 16, 2025
© Photo: Public domain

Escreva para nós: info@strategic-culture.su

Nicolás Maduro foi empossado, há alguns dias, Presidente da Venezuela uma vez mais, prevendo-se que governará o país até 2031. A posse do presidente representa uma vitória significativa para a Venezuela, porque setores da oposição e, inclusive, atores políticos estrangeiros haviam chegado a prometer que Maduro jamais seria empossado.

Às vésperas da posse de Nicolás Maduro, Edmundo González e Maria Corina Machado tentaram uma mobilização popular com o objetivo de impedir a cerimônia. Mas, segundo todas as informações disponíveis, nas ruas de Caracas apenas uns poucos milhares de militantes da oposição se fizeram presentes para reivindicar a posse de González.

A agitação foi rapidamente dissolvida e Maria Corina Machado foi presa – não por protestar contra Maduro, mas porque sobre ela pendem, além de condenações por atos praticados anos atrás, durante a tentativa de golpe do Juan Guaidó, acusações novas e graves de tentativa de desestabilização e de golpe contra o seu próprio país.

Essas agitações nas ruas, naturalmente, vêm após ondas de protestos desencadeadas após as eleições presidenciais, bem como da prisão de diversos mercenários estrangeiros aparentemente envolvidos em uma conspiração para a realização de atentados terroristas em território venezuelano. No fim das contas, porém, todos esses vários planos, os quais se somam ainda às sanções, fracassaram em impedir a posse de Maduro.

Naturalmente, ainda é cedo para dizer se Maduro conseguirá permanecer no cargo até o fim de seu mandato. Isso porque a tendência é que a pressão sobre ele seja grande, ainda mais no atual contexto internacional conflituoso e com Marco Rubio como Secretário de Estado dos EUA.

Não obstante, não deixa de ser notável o fato de que Maduro conseguiu resistir a sanções, tentativas de assassinato, tentativas de infiltração, revoluções coloridas, tentativas de golpe, e vários outros tipos de ações de desestabilização e mudança de regime, para assumir a presidência pela 3ª vez.

Naturalmente, precisamos nos perguntar como tem sido possível, nos últimos anos, que Maduro tenha resistido a tudo isso. Ainda mais considerando o fato de que muitos analistas e jornalistas vaticinaram que Nicolás Maduro viria a ser um presidente mais fraco do que seu antecessor, o mítico Hugo Chávez.

Em primeiro lugar, é necessário apontar que Maduro hoje, apesar da campanha contrária, desfruta de uma credibilidade internacional maior do que em anos anteriores. Se voltarmos nossa atenção para a questão do reconhecimento internacional do resultado da eleição em 2018 e compararmos com o reconhecimento do resultado da eleição em 2024, perceberemos um aumento no número de países que reconheceram os resultados. É claro que muitos países que não reconheceram oficialmente os resultados continuaram a manter relações normais com a Venezuela de forma tácita, mas o pronunciamento oficial de reconhecimento por autoridades estrangeiras também serve como um termômetro internacional.

A título de exemplo, países como Qatar, Laos, Uzbequistão, Azerbaijão e Sérvia, que não se pronunciaram oficialmente nas eleições anteriores, dessa vez rapidamente reconheceram publicamente a vitória de Nicolás Maduro. Um caso interessante é o de Honduras, que não reconheceu o resultado de seis anos atrás, mas agora o fez.

Também é interessante que muitos países africanos reconheceram publicamente a vitória de Nicolás Maduro: Sudão, Mali, Zimbábue, Namíbia, Moçambique, Madagascar, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, entre outros, parabenizaram Maduro pela continuidade de seu governo.

Naturalmente, é sempre importante observar que países como Rússia, China, Irã, Turquia, Cuba e Bolívia reconheceram os resultados das eleições tanto em 2018 quanto em 2024.

Desfrutando de um maior reconhecimento internacional, a posição da Venezuela no mundo hoje acaba sendo um pouco mais estável do que em anos anteriores.

Outro fator decisivo para o fracasso da oposição é sua incapacidade de se apresentar como uma alternativa unificada. Desde a ascensão de Maduro, a oposição tem sido marcada por divisões internas entre partidos e lideranças com visões divergentes sobre como abordar a crise venezuelana. Enquanto alguns setores defendem o diálogo, outros insistem em estratégias de confronto direto, incluindo tentativas de golpe e apelos à intervenção estrangeira.

Essas divisões enfraquecem a credibilidade da oposição junto ao eleitorado. Muitos venezuelanos que estão insatisfeitos com a situação atual não veem na oposição uma liderança confiável ou uma proposta clara de reconstrução nacional. Além disso, figuras como Juan Guaidó, que chegaram a ser amplamente apoiadas por governos estrangeiros, acabaram perdendo força ao longo do tempo devido a promessas não cumpridas e à falta de resultados concretos.

O caso emblemático é o da tentativa de substituição de Maria Corina Machado por Corina Yoris para a disputa presidencial de 2024. A candidatura de Corina Yoris, porém, foi rejeitada e o motivo da rejeição é que ela não atendia ao requisito de apoio necessário por partidos políticos registrados. A oposição tinha seus próprios candidatos, entre eles Edmundo González, que se recusou a apoiar Yoris e impôs a Maria Corina a própria candidatura.

Outros partidos da oposição, por sua vez, se recusaram a apoiar González e lançaram seus próprios candidatos. Nessas condições sectárias e fragmentadas, sempre foi bastante difícil construir uma mobilização unificada da oposição e isso, obviamente, beneficia a Maduro.

Simultaneamente, a modesta – mas perceptível – melhora econômica venezuelana também dilui um pouco o tipo de atmosfera que é favorável a revoltas, golpes e outros atos de insubordinação e insurreição. A produção de petróleo que atingiu seus níveis mais baixos em 2020 e que se manteve em níveis semelhantemente baixos pelos anos seguintes, voltou a alcançar o patamar de 2019, de aproximadamente 1 milhão de barris por dia.

Por sua vez, a inflação acumulada, que chegou a alcançar a cifra de 1.698.488% em 2018, caiu gradualmente até chegar a 86%, melhor índice desde 2014. O país, por sua vez, cresceu 6.2% em 2024, alcançando aproximadamente $102 bilhões, se aproximando do nível de 2017. A pobreza extrema, a qual inclui insegurança alimentar, também teria caído para aproximadamente 50%, patamar semelhante a 2015-2016.

O país segue com profundos problemas, ainda longe do período em que teve seus melhores índices econômicos entre 2009 e 2012. Mas as melhorias atuais já representam uma situação significativamente diferente para uma população que tem estado há uma década em uma das piores crises econômicas da história.

Finalmente, as Forças Armadas, em particular, desempenham um papel crucial. Maduro soube cultivar uma relação de lealdade com os militares, garantindo-lhes privilégios econômicos e políticos, além de integrá-los ao projeto bolivariano. Esse apoio militar é um fator chave para sua permanência no poder, já que garante estabilidade frente a crises internas e externas.

um diferencial se encontra na educação militar venezuelana, especialmente a partir do Plano Andrés Bello, de 1971, mesmo ano em que Chávez inicia sua educação militar.

Por esse projeto pedagógico, a Academia Militar da Venezuela deveria operar como uma instituição de ensino superior, oferecendo não uma educação técnico-militar apolítica, mas também uma educação em disciplinas humanísticas (história, ciência política, sociologia, etc.), mas com um viés nacionalista.

Enquanto isso, nos outros países do continente, o currículo militar era ou puramente técnico, feito para formar idiotas obedientes, ou então permeado de conteúdo ideológico atlantista. De um jeito ou de outro, excetuando na Venezuela, as academias militares de todo o continente estavam organizadas segundo inspiração e influência estadunidense.

Nesse sentido, o Chávez não é um fenômeno individual. Toda a sua geração de oficiais, bem como dos oficiais que se seguiram, foram gerações de oficiais nacionalistas com um amplo conhecimento em vários campos do conhecimento e um vínculo profundo com os interesses de sua pátria e o projeto de Simón Bolívar, de quem se consideravam herdeiros.

Todos esses elementos não foram senão reforçados pelo próprio Hugo Chávez a partir do momento em que ele chegou ao poder – ora, o próprio Chávez sendo um alto oficial militar.

O resultado é um sistema sincrético cívico-militar, com a politização dos militares (que segundo Chávez deveriam ser soldados políticos) e a militarização da sociedade.

Na Venezuela, por exemplo, muitos ministérios e outros cargos administrativos são ocupados por militares, os quais segundo o Judiciário, aliás, podem participar livremente de atividades políticas. A polícia é, também, controlada por militares, bem como o são os órgãos de inteligência – por se considerar que como o país está sob cerco e ameaça constante, só sob mando militar esses aparatos podem funcionar com certa eficiência.

Os militares, ademais, têm importante papel econômico, dirigindo a PDVSA e várias outras empresas estratégicas, tanto da indústria bélica como de setores logísticos, transportes e outros.

Necessário, também, mencionar – já que falamos em militarização da sociedade – a Milícia Bolivariana, um corpo de cidadãos armados que conta com centenas de milhares de membros.

Nessas condições, o que vemos é um sistema sui generis em que as forças políticas fundamentais são: Presidente-Exército-Povo.

O resultado final de todos esses fatores é uma Venezuela mais resiliente às pressões internas e externas. Apesar disso, o ano de 2025 apresentará uma nova fase de desafios, na medida em que é possível esperar novas formas de pressão sob o governo Trump.

Por que Maduro não caiu?

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Nicolás Maduro foi empossado, há alguns dias, Presidente da Venezuela uma vez mais, prevendo-se que governará o país até 2031. A posse do presidente representa uma vitória significativa para a Venezuela, porque setores da oposição e, inclusive, atores políticos estrangeiros haviam chegado a prometer que Maduro jamais seria empossado.

Às vésperas da posse de Nicolás Maduro, Edmundo González e Maria Corina Machado tentaram uma mobilização popular com o objetivo de impedir a cerimônia. Mas, segundo todas as informações disponíveis, nas ruas de Caracas apenas uns poucos milhares de militantes da oposição se fizeram presentes para reivindicar a posse de González.

A agitação foi rapidamente dissolvida e Maria Corina Machado foi presa – não por protestar contra Maduro, mas porque sobre ela pendem, além de condenações por atos praticados anos atrás, durante a tentativa de golpe do Juan Guaidó, acusações novas e graves de tentativa de desestabilização e de golpe contra o seu próprio país.

Essas agitações nas ruas, naturalmente, vêm após ondas de protestos desencadeadas após as eleições presidenciais, bem como da prisão de diversos mercenários estrangeiros aparentemente envolvidos em uma conspiração para a realização de atentados terroristas em território venezuelano. No fim das contas, porém, todos esses vários planos, os quais se somam ainda às sanções, fracassaram em impedir a posse de Maduro.

Naturalmente, ainda é cedo para dizer se Maduro conseguirá permanecer no cargo até o fim de seu mandato. Isso porque a tendência é que a pressão sobre ele seja grande, ainda mais no atual contexto internacional conflituoso e com Marco Rubio como Secretário de Estado dos EUA.

Não obstante, não deixa de ser notável o fato de que Maduro conseguiu resistir a sanções, tentativas de assassinato, tentativas de infiltração, revoluções coloridas, tentativas de golpe, e vários outros tipos de ações de desestabilização e mudança de regime, para assumir a presidência pela 3ª vez.

Naturalmente, precisamos nos perguntar como tem sido possível, nos últimos anos, que Maduro tenha resistido a tudo isso. Ainda mais considerando o fato de que muitos analistas e jornalistas vaticinaram que Nicolás Maduro viria a ser um presidente mais fraco do que seu antecessor, o mítico Hugo Chávez.

Em primeiro lugar, é necessário apontar que Maduro hoje, apesar da campanha contrária, desfruta de uma credibilidade internacional maior do que em anos anteriores. Se voltarmos nossa atenção para a questão do reconhecimento internacional do resultado da eleição em 2018 e compararmos com o reconhecimento do resultado da eleição em 2024, perceberemos um aumento no número de países que reconheceram os resultados. É claro que muitos países que não reconheceram oficialmente os resultados continuaram a manter relações normais com a Venezuela de forma tácita, mas o pronunciamento oficial de reconhecimento por autoridades estrangeiras também serve como um termômetro internacional.

A título de exemplo, países como Qatar, Laos, Uzbequistão, Azerbaijão e Sérvia, que não se pronunciaram oficialmente nas eleições anteriores, dessa vez rapidamente reconheceram publicamente a vitória de Nicolás Maduro. Um caso interessante é o de Honduras, que não reconheceu o resultado de seis anos atrás, mas agora o fez.

Também é interessante que muitos países africanos reconheceram publicamente a vitória de Nicolás Maduro: Sudão, Mali, Zimbábue, Namíbia, Moçambique, Madagascar, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, entre outros, parabenizaram Maduro pela continuidade de seu governo.

Naturalmente, é sempre importante observar que países como Rússia, China, Irã, Turquia, Cuba e Bolívia reconheceram os resultados das eleições tanto em 2018 quanto em 2024.

Desfrutando de um maior reconhecimento internacional, a posição da Venezuela no mundo hoje acaba sendo um pouco mais estável do que em anos anteriores.

Outro fator decisivo para o fracasso da oposição é sua incapacidade de se apresentar como uma alternativa unificada. Desde a ascensão de Maduro, a oposição tem sido marcada por divisões internas entre partidos e lideranças com visões divergentes sobre como abordar a crise venezuelana. Enquanto alguns setores defendem o diálogo, outros insistem em estratégias de confronto direto, incluindo tentativas de golpe e apelos à intervenção estrangeira.

Essas divisões enfraquecem a credibilidade da oposição junto ao eleitorado. Muitos venezuelanos que estão insatisfeitos com a situação atual não veem na oposição uma liderança confiável ou uma proposta clara de reconstrução nacional. Além disso, figuras como Juan Guaidó, que chegaram a ser amplamente apoiadas por governos estrangeiros, acabaram perdendo força ao longo do tempo devido a promessas não cumpridas e à falta de resultados concretos.

O caso emblemático é o da tentativa de substituição de Maria Corina Machado por Corina Yoris para a disputa presidencial de 2024. A candidatura de Corina Yoris, porém, foi rejeitada e o motivo da rejeição é que ela não atendia ao requisito de apoio necessário por partidos políticos registrados. A oposição tinha seus próprios candidatos, entre eles Edmundo González, que se recusou a apoiar Yoris e impôs a Maria Corina a própria candidatura.

Outros partidos da oposição, por sua vez, se recusaram a apoiar González e lançaram seus próprios candidatos. Nessas condições sectárias e fragmentadas, sempre foi bastante difícil construir uma mobilização unificada da oposição e isso, obviamente, beneficia a Maduro.

Simultaneamente, a modesta – mas perceptível – melhora econômica venezuelana também dilui um pouco o tipo de atmosfera que é favorável a revoltas, golpes e outros atos de insubordinação e insurreição. A produção de petróleo que atingiu seus níveis mais baixos em 2020 e que se manteve em níveis semelhantemente baixos pelos anos seguintes, voltou a alcançar o patamar de 2019, de aproximadamente 1 milhão de barris por dia.

Por sua vez, a inflação acumulada, que chegou a alcançar a cifra de 1.698.488% em 2018, caiu gradualmente até chegar a 86%, melhor índice desde 2014. O país, por sua vez, cresceu 6.2% em 2024, alcançando aproximadamente $102 bilhões, se aproximando do nível de 2017. A pobreza extrema, a qual inclui insegurança alimentar, também teria caído para aproximadamente 50%, patamar semelhante a 2015-2016.

O país segue com profundos problemas, ainda longe do período em que teve seus melhores índices econômicos entre 2009 e 2012. Mas as melhorias atuais já representam uma situação significativamente diferente para uma população que tem estado há uma década em uma das piores crises econômicas da história.

Finalmente, as Forças Armadas, em particular, desempenham um papel crucial. Maduro soube cultivar uma relação de lealdade com os militares, garantindo-lhes privilégios econômicos e políticos, além de integrá-los ao projeto bolivariano. Esse apoio militar é um fator chave para sua permanência no poder, já que garante estabilidade frente a crises internas e externas.

um diferencial se encontra na educação militar venezuelana, especialmente a partir do Plano Andrés Bello, de 1971, mesmo ano em que Chávez inicia sua educação militar.

Por esse projeto pedagógico, a Academia Militar da Venezuela deveria operar como uma instituição de ensino superior, oferecendo não uma educação técnico-militar apolítica, mas também uma educação em disciplinas humanísticas (história, ciência política, sociologia, etc.), mas com um viés nacionalista.

Enquanto isso, nos outros países do continente, o currículo militar era ou puramente técnico, feito para formar idiotas obedientes, ou então permeado de conteúdo ideológico atlantista. De um jeito ou de outro, excetuando na Venezuela, as academias militares de todo o continente estavam organizadas segundo inspiração e influência estadunidense.

Nesse sentido, o Chávez não é um fenômeno individual. Toda a sua geração de oficiais, bem como dos oficiais que se seguiram, foram gerações de oficiais nacionalistas com um amplo conhecimento em vários campos do conhecimento e um vínculo profundo com os interesses de sua pátria e o projeto de Simón Bolívar, de quem se consideravam herdeiros.

Todos esses elementos não foram senão reforçados pelo próprio Hugo Chávez a partir do momento em que ele chegou ao poder – ora, o próprio Chávez sendo um alto oficial militar.

O resultado é um sistema sincrético cívico-militar, com a politização dos militares (que segundo Chávez deveriam ser soldados políticos) e a militarização da sociedade.

Na Venezuela, por exemplo, muitos ministérios e outros cargos administrativos são ocupados por militares, os quais segundo o Judiciário, aliás, podem participar livremente de atividades políticas. A polícia é, também, controlada por militares, bem como o são os órgãos de inteligência – por se considerar que como o país está sob cerco e ameaça constante, só sob mando militar esses aparatos podem funcionar com certa eficiência.

Os militares, ademais, têm importante papel econômico, dirigindo a PDVSA e várias outras empresas estratégicas, tanto da indústria bélica como de setores logísticos, transportes e outros.

Necessário, também, mencionar – já que falamos em militarização da sociedade – a Milícia Bolivariana, um corpo de cidadãos armados que conta com centenas de milhares de membros.

Nessas condições, o que vemos é um sistema sui generis em que as forças políticas fundamentais são: Presidente-Exército-Povo.

O resultado final de todos esses fatores é uma Venezuela mais resiliente às pressões internas e externas. Apesar disso, o ano de 2025 apresentará uma nova fase de desafios, na medida em que é possível esperar novas formas de pressão sob o governo Trump.

Escreva para nós: info@strategic-culture.su

Nicolás Maduro foi empossado, há alguns dias, Presidente da Venezuela uma vez mais, prevendo-se que governará o país até 2031. A posse do presidente representa uma vitória significativa para a Venezuela, porque setores da oposição e, inclusive, atores políticos estrangeiros haviam chegado a prometer que Maduro jamais seria empossado.

Às vésperas da posse de Nicolás Maduro, Edmundo González e Maria Corina Machado tentaram uma mobilização popular com o objetivo de impedir a cerimônia. Mas, segundo todas as informações disponíveis, nas ruas de Caracas apenas uns poucos milhares de militantes da oposição se fizeram presentes para reivindicar a posse de González.

A agitação foi rapidamente dissolvida e Maria Corina Machado foi presa – não por protestar contra Maduro, mas porque sobre ela pendem, além de condenações por atos praticados anos atrás, durante a tentativa de golpe do Juan Guaidó, acusações novas e graves de tentativa de desestabilização e de golpe contra o seu próprio país.

Essas agitações nas ruas, naturalmente, vêm após ondas de protestos desencadeadas após as eleições presidenciais, bem como da prisão de diversos mercenários estrangeiros aparentemente envolvidos em uma conspiração para a realização de atentados terroristas em território venezuelano. No fim das contas, porém, todos esses vários planos, os quais se somam ainda às sanções, fracassaram em impedir a posse de Maduro.

Naturalmente, ainda é cedo para dizer se Maduro conseguirá permanecer no cargo até o fim de seu mandato. Isso porque a tendência é que a pressão sobre ele seja grande, ainda mais no atual contexto internacional conflituoso e com Marco Rubio como Secretário de Estado dos EUA.

Não obstante, não deixa de ser notável o fato de que Maduro conseguiu resistir a sanções, tentativas de assassinato, tentativas de infiltração, revoluções coloridas, tentativas de golpe, e vários outros tipos de ações de desestabilização e mudança de regime, para assumir a presidência pela 3ª vez.

Naturalmente, precisamos nos perguntar como tem sido possível, nos últimos anos, que Maduro tenha resistido a tudo isso. Ainda mais considerando o fato de que muitos analistas e jornalistas vaticinaram que Nicolás Maduro viria a ser um presidente mais fraco do que seu antecessor, o mítico Hugo Chávez.

Em primeiro lugar, é necessário apontar que Maduro hoje, apesar da campanha contrária, desfruta de uma credibilidade internacional maior do que em anos anteriores. Se voltarmos nossa atenção para a questão do reconhecimento internacional do resultado da eleição em 2018 e compararmos com o reconhecimento do resultado da eleição em 2024, perceberemos um aumento no número de países que reconheceram os resultados. É claro que muitos países que não reconheceram oficialmente os resultados continuaram a manter relações normais com a Venezuela de forma tácita, mas o pronunciamento oficial de reconhecimento por autoridades estrangeiras também serve como um termômetro internacional.

A título de exemplo, países como Qatar, Laos, Uzbequistão, Azerbaijão e Sérvia, que não se pronunciaram oficialmente nas eleições anteriores, dessa vez rapidamente reconheceram publicamente a vitória de Nicolás Maduro. Um caso interessante é o de Honduras, que não reconheceu o resultado de seis anos atrás, mas agora o fez.

Também é interessante que muitos países africanos reconheceram publicamente a vitória de Nicolás Maduro: Sudão, Mali, Zimbábue, Namíbia, Moçambique, Madagascar, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, entre outros, parabenizaram Maduro pela continuidade de seu governo.

Naturalmente, é sempre importante observar que países como Rússia, China, Irã, Turquia, Cuba e Bolívia reconheceram os resultados das eleições tanto em 2018 quanto em 2024.

Desfrutando de um maior reconhecimento internacional, a posição da Venezuela no mundo hoje acaba sendo um pouco mais estável do que em anos anteriores.

Outro fator decisivo para o fracasso da oposição é sua incapacidade de se apresentar como uma alternativa unificada. Desde a ascensão de Maduro, a oposição tem sido marcada por divisões internas entre partidos e lideranças com visões divergentes sobre como abordar a crise venezuelana. Enquanto alguns setores defendem o diálogo, outros insistem em estratégias de confronto direto, incluindo tentativas de golpe e apelos à intervenção estrangeira.

Essas divisões enfraquecem a credibilidade da oposição junto ao eleitorado. Muitos venezuelanos que estão insatisfeitos com a situação atual não veem na oposição uma liderança confiável ou uma proposta clara de reconstrução nacional. Além disso, figuras como Juan Guaidó, que chegaram a ser amplamente apoiadas por governos estrangeiros, acabaram perdendo força ao longo do tempo devido a promessas não cumpridas e à falta de resultados concretos.

O caso emblemático é o da tentativa de substituição de Maria Corina Machado por Corina Yoris para a disputa presidencial de 2024. A candidatura de Corina Yoris, porém, foi rejeitada e o motivo da rejeição é que ela não atendia ao requisito de apoio necessário por partidos políticos registrados. A oposição tinha seus próprios candidatos, entre eles Edmundo González, que se recusou a apoiar Yoris e impôs a Maria Corina a própria candidatura.

Outros partidos da oposição, por sua vez, se recusaram a apoiar González e lançaram seus próprios candidatos. Nessas condições sectárias e fragmentadas, sempre foi bastante difícil construir uma mobilização unificada da oposição e isso, obviamente, beneficia a Maduro.

Simultaneamente, a modesta – mas perceptível – melhora econômica venezuelana também dilui um pouco o tipo de atmosfera que é favorável a revoltas, golpes e outros atos de insubordinação e insurreição. A produção de petróleo que atingiu seus níveis mais baixos em 2020 e que se manteve em níveis semelhantemente baixos pelos anos seguintes, voltou a alcançar o patamar de 2019, de aproximadamente 1 milhão de barris por dia.

Por sua vez, a inflação acumulada, que chegou a alcançar a cifra de 1.698.488% em 2018, caiu gradualmente até chegar a 86%, melhor índice desde 2014. O país, por sua vez, cresceu 6.2% em 2024, alcançando aproximadamente $102 bilhões, se aproximando do nível de 2017. A pobreza extrema, a qual inclui insegurança alimentar, também teria caído para aproximadamente 50%, patamar semelhante a 2015-2016.

O país segue com profundos problemas, ainda longe do período em que teve seus melhores índices econômicos entre 2009 e 2012. Mas as melhorias atuais já representam uma situação significativamente diferente para uma população que tem estado há uma década em uma das piores crises econômicas da história.

Finalmente, as Forças Armadas, em particular, desempenham um papel crucial. Maduro soube cultivar uma relação de lealdade com os militares, garantindo-lhes privilégios econômicos e políticos, além de integrá-los ao projeto bolivariano. Esse apoio militar é um fator chave para sua permanência no poder, já que garante estabilidade frente a crises internas e externas.

um diferencial se encontra na educação militar venezuelana, especialmente a partir do Plano Andrés Bello, de 1971, mesmo ano em que Chávez inicia sua educação militar.

Por esse projeto pedagógico, a Academia Militar da Venezuela deveria operar como uma instituição de ensino superior, oferecendo não uma educação técnico-militar apolítica, mas também uma educação em disciplinas humanísticas (história, ciência política, sociologia, etc.), mas com um viés nacionalista.

Enquanto isso, nos outros países do continente, o currículo militar era ou puramente técnico, feito para formar idiotas obedientes, ou então permeado de conteúdo ideológico atlantista. De um jeito ou de outro, excetuando na Venezuela, as academias militares de todo o continente estavam organizadas segundo inspiração e influência estadunidense.

Nesse sentido, o Chávez não é um fenômeno individual. Toda a sua geração de oficiais, bem como dos oficiais que se seguiram, foram gerações de oficiais nacionalistas com um amplo conhecimento em vários campos do conhecimento e um vínculo profundo com os interesses de sua pátria e o projeto de Simón Bolívar, de quem se consideravam herdeiros.

Todos esses elementos não foram senão reforçados pelo próprio Hugo Chávez a partir do momento em que ele chegou ao poder – ora, o próprio Chávez sendo um alto oficial militar.

O resultado é um sistema sincrético cívico-militar, com a politização dos militares (que segundo Chávez deveriam ser soldados políticos) e a militarização da sociedade.

Na Venezuela, por exemplo, muitos ministérios e outros cargos administrativos são ocupados por militares, os quais segundo o Judiciário, aliás, podem participar livremente de atividades políticas. A polícia é, também, controlada por militares, bem como o são os órgãos de inteligência – por se considerar que como o país está sob cerco e ameaça constante, só sob mando militar esses aparatos podem funcionar com certa eficiência.

Os militares, ademais, têm importante papel econômico, dirigindo a PDVSA e várias outras empresas estratégicas, tanto da indústria bélica como de setores logísticos, transportes e outros.

Necessário, também, mencionar – já que falamos em militarização da sociedade – a Milícia Bolivariana, um corpo de cidadãos armados que conta com centenas de milhares de membros.

Nessas condições, o que vemos é um sistema sui generis em que as forças políticas fundamentais são: Presidente-Exército-Povo.

O resultado final de todos esses fatores é uma Venezuela mais resiliente às pressões internas e externas. Apesar disso, o ano de 2025 apresentará uma nova fase de desafios, na medida em que é possível esperar novas formas de pressão sob o governo Trump.

The views of individual contributors do not necessarily represent those of the Strategic Culture Foundation.

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