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Eduardo Vasco
January 30, 2024
© Photo: Public domain

Há um processo revolucionário em curso no Oriente Médio, cujo estopim foi o início da Operação Tempestade de al-Aqsa em 7 de outubro de 2023

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Há um processo revolucionário em curso no Oriente Médio, cujo estopim foi o início da Operação Tempestade de al-Aqsa em 7 de outubro de 2023 e que está sendo espalhado por toda a região conforme o genocídio de Israel em Gaza gera respostas exemplares do Eixo da Resistência.

O último grande e generalizado levante popular ocorrido na região, a Primavera Árabe de 2011, pode se repetir conforme a situação evolui para rebeliões de massas contra as potências imperialistas, Israel e seus regimes vassalos e traidores.

A Primavera Árabe começou como uma gigantesca revolta popular contra os regimes putrefatos do norte da África, a maioria deles vassalos do imperialismo, e chegou mesmo a derrocar alguns deles, como os da Tunísia e do Egito (onde a popular Irmandade Muçulmana tomou o poder). Mas, por ser um movimento espontâneo e desorganizado, acabou sucumbindo diante das manipulações do imperialismo, que logo reverteu a maioria das conquistas da Primavera, sacando a Irmandade Muçulmana do poder e devolvendo-o aos seus capachos na Tunísia e no Egito, bem como destruindo a Líbia e a Síria (os dois únicos países onde a Primavera Árabe eclodiu que não eram alinhados com os EUA).

Desta vez será mais difícil para as potências imperialistas manipularem as massas. No início da década passada, as reivindicações eram essencialmente econômicas e as que eram políticas visavam reformas democráticas e a saída dos governantes, sem, no entanto, ter claro qual era o inimigo principal a ser combatido: o domínio do imperialismo sobre aqueles regimes. Agora a consciência popular evoluiu e o sentimento anti-imperialista é mais forte: o povo árabe sabe que sua necessidade imediata é libertar-se do controle imperialista e essa é sua luta principal.

Nos países do Eixo da Resistência o processo revolucionário é mais evidente e está mais desenvolvido, destacadamente na Palestina, onde o Hamas e seus aliados impõem uma derrota inevitável aos invasores israelenses, mas também no Líbano e, principalmente, no Iraque, onde a resistência armada está expulsando as tropas americanas. No Iêmen, os revolucionários já estão no poder em parte do país e é questão de tempo para completarem a revolução nacional.

Gaza: o cemitério do sionismo

Quase quatro meses de invasão e genocídio não serviram de nada para as tropas israelenses. Segundo o Wall Street Journal, 80% dos túneis do Hamas estão intactos, o que significa que a infraestrutura da Resistência praticamente não sofreu danos, assim como os seus efetivos. Três quartos dos palestinos acreditam na vitória, o que indica um moral muito alto dentro das forças da Resistência.

O mesmo não pode ser dito das forças invasoras. Suas baixas fatais já estão na casa das 220, a maior da história de Israel nas guerras contra a Resistência Palestina – um índice “histórico”, na definição do Washington Post. Conforme o tempo passa, vai aumentando a agonia das “Forças de Defesa de Israel” na areia movediça de Gaza. Esses índices elevam-se a um ritmo muito mais acelerado do que no começo das operações (incluindo 21 soldados mortos em um único ataque do Hamas, em 23 de janeiro) e ao mesmo tempo os invasores estão perdendo as posições conquistadas no norte de Gaza.

Essa situação favorável para as forças que combatem Israel em Gaza se dá graças ao apoio da população à guerra revolucionária. Segundo um estudo do grupo de Pesquisa e Desenvolvimento do Mundo Árabe, ¾ dos palestinos apoiam a Tempestade de al-Aqsa e acreditam num papel positivo desempenhado pelo Hamas. Ao menos a metade dos palestinos também crê que o Hamas luta por sua liberdade. O Centro Palestino de Política e Pesquisas de Opinião chegou à mesma conclusão. Levantamento do Washington Institute também comprova que a maioria dos palestinos apoia o Hamas e os outros grupos da Resistência.

Outra pesquisa, do Barômetro Árabe, indica que a Tempestade de al-Aqsa não é resultado de uma atitude isolada do Hamas, mas sim da pressão que o povo palestino exerce sobre as lideranças da Resistência: antes de 7 de outubro a maioria dos palestinos criticava o Hamas por não fazer o suficiente contra a ocupação.

Aos aproximadamente 40.000 militantes do Hamas, somam-se os milhares de combatentes da Jihad Islâmica, da Frente Popular pela Libertação da Palestina, da Frente Popular pela Libertação da Palestina – Comando Geral, da Frente Democrática pela Libertação da Palestina e de outras tantas organizações envolvidas diretamente na luta contra o ocupante, que formam a Resistência Palestina. Assim, conforme os próprios números revelados pelo exército israelense, sua operação não chegou a eliminar nem cinco por cento dos combatentes.

A consciência política do povo palestino está evoluindo rapidamente graças aos ensinamentos da guerra. Conforme estatísticas publicadas no The Cradle, somente 41% dos palestinos de Gaza têm uma visão positiva das atitudes do Irã, o que provavelmente significa que esperavam uma política mais enérgica de Teerã contra Israel e em sua proteção, já que o país dos aiatolás é o grande baluarte da luta anti-imperialista e antissionista no Oriente Médio. A popularidade dos houthis (68%) e do Hezbollah (63%) – movimentos populares independentes da classe dominante –, por exemplo, é bem maior. Somente 11% têm uma opinião favorável sobre o papel desempenhado pela ONU.

Mas não foram só os palestinos comuns que elevaram seu nível de consciência política. O mesmo pode ser dito da direção revolucionária. A Resistência Palestina não confia nas instituições internacionais, como a Corte Internacional de Justiça, e só aceita o fim de suas operações atuais com a retirada total de Israel de Gaza. Israel está cada vez mais inclinado a aceitar as condições da Resistência, diante das derrotas sucessivas no campo de batalha e do bloqueio econômico espetacular imposto pelos houthis.

Uma Terceira Intifada prestes a ocorrer na Cisjordânia

Todos os jornais que cobrem os acontecimentos na área admitem que está se gestando uma terceira intifada na Cisjordânia. As ações de Israel, como a asfixia econômica, o corte da colaboração com a Autoridade Palestina e a expansão das atividades dos colonos estão inflamando os ânimos do povo cisjordano, bem como, principalmente, as operações dos soldados que invadem casas, executam jovens e sequestram moradores para levar para as prisões israelenses. Desde 7 de outubro, 6.330 palestinos da Cisjordânia foram raptados e detidos nas masmorras israelenses.

A Resistência Palestina também está presente ali, lutando contra as tropas israelenses que lançam incursões para reprimir e perseguir os habitantes. As próprias autoridades israelenses se preocupam com a deterioração das condições na Cisjordânia e a redução da popularidade da Autoridade Palestina devido à intensa crise econômica e ao altíssimo desemprego. De fato, a AP é, literalmente, uma agência governamental de Tel Aviv, pois os próprios salários dos membros da AP são pagos por Israel. A AP é uma autoridade apenas no nome, pois 92% dos cidadãos da Cisjordânia querem a renúncia de Mahmoud Abbas e 60% querem que ela seja extinta, segundo o Centro Palestino de Política e Pesquisas de Opinião. O apoio ao Hamas é crescente entre os habitantes da Cisjordânia.

Amos Harel, colunista militar do Haaretz, confirma essa avaliação: “a Autoridade Palestina, apesar de tudo o que está acontecendo em Gaza, ainda mantém um grau de coordenação em segurança com Israel e ainda prende de vez em quando ativistas do Hamas e da Jihad Islâmica em seu território. Sob as atuais circunstâncias, isso não vai durar muito, e pode causar uma explosão que irá varrer os ativistas armados do Fatah e as forças de segurança.”

A descrença nas instituições internacionais e nos governos é ainda maior do que em Gaza: ínfimos 3% têm uma visão positiva sobre as atitudes da ONU e 30% sobre as atitudes do Irã, enquanto sobre o Hezbollah a taxa é de 39% e sobre os houthis de impressionantes 89%.

Um antigo alto funcionário da inteligência israelense, Shalom Ben Hanan, disse ao Wall Street Journal que o sentimento de revolta na Cisjordânia está no seu maior nível desde a Segunda Intifada, em 2000, e que esse sentimento fica mais forte a cada dia, gerando alertas dos serviços de espionagem israelenses de ataques iminentes ao estilo da Tempestade de al-Aqsa. As autoridades de segurança admitem que a Cisjordânia está “à beira da explosão”.

O povo palestino já ultrapassou a fase das revoltas desorganizadas. A Resistência está mais articulada, unida e preparada do que nunca. A Autoridade Palestina tenta conter as massas na Cisjordânia, mas isso está cada vez mais impossível. Ela controla apenas o governo, enquanto o povo está ao lado do Hamas e da resistência armada.

O exército popular libanês vai à guerra

As forças israelenses consideram que a probabilidade de guerra com o Hezbollah é muito grande e se isso acontecer ninguém acha que Israel vai sair vitorioso – pelo contrário, poderá sofrer até 15 mil baixas.

O Hezbollah tem uma infraestrutura imensamente maior que a do Hamas, com 100 mil milicianos e 150 mil mísseis apontados para Israel, e já derrotou a entidade sionista duas vezes, em 2000 e em 2006.

É um verdadeiro exército popular. O Partido de Deus constitui, na prática, um poder paralelo cuja legitimidade e popularidade são muito maiores que as do próprio governo libanês. E sua popularidade é crescente, até mesmo entre os sunitas e cristãos. De acordo com pesquisa do Washington Institute de 14 de novembro a 6 de dezembro de 2023, 93% dos xiitas, 34% dos sunitas e 29% dos cristãos têm uma visão positiva do Hezbollah. É muito relevante o fato de que, na pesquisa anterior (2020), esse índice tenha sido de 89% dos xiitas, 7% dos sunitas e 16% dos cristãos. Ou seja, o apoio ao Hezbollah (um partido xiita) aumentou cinco vezes entre os sunitas e quase dobrou entre os cristãos.

Outras organizações revolucionárias islâmicas também são populares entre os libaneses: 79% de todos os libaneses têm uma visão positiva sobre o Hamas e mesmo a Irmandade Muçulmana (que também é sunita) é vista positivamente por ⅕ dos cristãos, 45% dos xiitas e 53% dos sunitas.

Além disso, o sentimento anti-imperialista está diretamente relacionado com o apoio ao Hezbollah e à Resistência Palestina, o que demonstra que não se trata de uma questão religiosa – como comprovado pelas estatísticas acima citadas. Metade da população acredita que o Líbano deveria trocar os EUA por parceiros como Rússia e China, em comparação com ⅓ de dois anos antes.

A pesquisa sinaliza ainda não somente um sentimento genérico de apoio à Resistência e rechaço ao imperialismo, mas um respaldo à luta armada de libertação das forças opressoras. Quando questionados, 75% dos xiitas, 44% dos sunitas e 24% dos cristãos discordam que a solução para o conflito palestino-israelense seja política e não militar. O percentual de quaisquer desses três grupos libaneses é maior do que os revelados pelas pesquisas do mesmo instituto na Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Kuwait, Catar, Egito e Jordânia, onde o índice dos que discordam que a solução seja política e não militar é muito menor. No total, cerca de 47% dos libaneses discordam e 53% acreditam que a solução é política e não militar, o que consiste em um empate técnico.

Isso mostra que a revolução se desenvolve em um dos países mais bem preparados para a luta de libertação nacional dentro do Oriente Médio.

Uma repetição da revolução talibã?

São diários os ataques da resistência iraquiana contra as bases militares americanas dentro do país. Os EUA ainda mantêm cerca de 2.500 soldados estacionados no Iraque e essas forças de ocupação, cuja presença por si só já é um acinte à soberania nacional do país, estão bombardeando os próprios cidadãos iraquianos.

Logo, os ataques diários da resistência às bases americanas aumentam a popularidade da resistência armada e eles, junto com as represálias americanas, geraram pressão sobre o governo para que acabasse com a ocupação. O governo tomou iniciativas tímidas nesse sentido, mas se a situação continuar escalando e os EUA demorarem para sair, podem ser expulsos à força como no Afeganistão – e nada indica que os governos dos EUA e do Iraque irão concordar em retirar as tropas ocidentais a curto prazo, mas isso pode demorar anos.

O atual governo é resultado da ocupação americana e portanto está comprometido com os EUA, mesmo se aproximando do Irã nos últimos anos. Por isso a medida de expulsão é tímida: as autoridades não querem expulsar os EUA de uma vez por todas porque dependem de certa forma dos EUA para controlar o país. Se os EUA forem expulsos por obra direta da resistência, esse governo se enfraquecerá e poderá cair e os grupos da resistência tomarão o poder, o que é muito pior para os EUA do que a manutenção do atual governo.

A declaração do Movimento al-Nujaba da resistência iraquiana comprova essa análise: “a resistência tem uma visão integrada da presença americana em todas as suas formas e uma visão clara de sua independência e libertação da dependência dos EUA. A resistência, inclusive se completada a expulsão militar do ocupante, não está ausente de sua influência e domínio nas articulações do Estado.”

A resistência, assim como no Líbano, tem representantes no parlamento. O líder do movimento Hoquq, Hussein Mouanes, pertence à maioria parlamentar que aprovou há quatro anos a retirada das tropas. Até agora nada foi feito nesse sentido, o que prova que o governo iraquiano está receoso em levar isso adiante, pressionado pelos EUA. Ele declarou que após a expulsão das forças imperialistas, o Iraque deve formar uma aliança regional contra Israel.

A aceitação (ao menos formal) de uma retirada dos EUA é resultado direto das ações da resistência, o que prova que só a guerra de libertação nacional pode libertar os povos. A guerra, como ensinou Clausewitz, resolve o que não se conseguiu resolver pela política e a diplomacia. E como disse a resistência iraquiana por meio de um comunicado, o imperialismo “só entende a linguagem da força”. A resistência assegurou que não vai cessar seus ataques só porque os EUA declararam formalmente que aceitam sair do país, porque sabe que a palavra do Tio Sam não é de confiança. Ela deixou implícito (talvez nem tanto) que poderá mesmo derrubar o governo caso ele não atenda plenamente as reivindicações de retirar as tropas e os drones ocidentais, pôr um fim na presença dos oficiais americanos e entregar o controle do Comando de Operações Conjuntas aos iraquianos. Se o governo proteger os invasores, isso será “uma traição histórica ao Iraque e ao sangue de seus mártires”, reporta al-Mayadeen.

Portanto, a conciliação do governo com os EUA e sua reticência em retirar imediatamente as tropas imperialistas está polarizando a política do Iraque e aumentando as contradições com as forças populares de resistência. A pressão sobre o governo vai aumentar a cada dia que passa. A resistência não quer diálogo nenhum com os ocupantes, ao contrário do governo.

Os iraquianos podem se apoiar em precedentes recentes: a expulsão das forças americanas do Afeganistão em 2021 e das forças francesas do Mali e de Burkina Faso em 2022 e do Níger em 2023. Esses quatro exemplos foram dirigidos por movimentos armados que derrubaram os governos colaboracionistas.

As ações da resistência iraquiana também podem levar à retirada das tropas americanas da Síria. Mais de 150 ataques contra as forças americanas foram realizados até agora no Iraque e na Síria – neste último, a maioria dos ataques também foi feita pela resistência iraquiana. Há cerca de 900 soldados americanos na Síria, roubando o seu petróleo, e eles parecem estar evacuando algumas bases, conforme relatos publicados na imprensa.

O risco de manter as tropas na Síria tem sido muito alto e os EUA poderiam se retirar, segundo fontes da Foreign Policy. Mas isso dificilmente ocorreria a curto prazo. Portanto, se a resistência expulsar à força as tropas ocupantes no Iraque, provavelmente isso vai forçar uma retirada imediata dos americanos da Síria.

A expulsão dos EUA na Síria levará à derrota dos grupos apoiados por Washington e possivelmente a um acordo para que a Turquia também desocupe o país, ratificando a Síria sob o controle de Bashar al-Assad, o que naturalmente fortalecerá o Eixo da Resistência. Mais do que isso: as forças revolucionárias da resistência armada e popular terão enorme poder de pressão sobre o regime de Assad, empurrando-o para uma política mais radical do que a atual, que é conservadora. Caso contrário, ele mesmo poderá perder apoio da população e até mesmo cair por obra da mobilização popular.

Uma nova e verdadeira Primavera Árabe

Há um processo revolucionário em curso no Oriente Médio, cujo estopim foi o início da Operação Tempestade de al-Aqsa em 7 de outubro de 2023

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Escreva para nós: info@strategic-culture.su

Há um processo revolucionário em curso no Oriente Médio, cujo estopim foi o início da Operação Tempestade de al-Aqsa em 7 de outubro de 2023 e que está sendo espalhado por toda a região conforme o genocídio de Israel em Gaza gera respostas exemplares do Eixo da Resistência.

O último grande e generalizado levante popular ocorrido na região, a Primavera Árabe de 2011, pode se repetir conforme a situação evolui para rebeliões de massas contra as potências imperialistas, Israel e seus regimes vassalos e traidores.

A Primavera Árabe começou como uma gigantesca revolta popular contra os regimes putrefatos do norte da África, a maioria deles vassalos do imperialismo, e chegou mesmo a derrocar alguns deles, como os da Tunísia e do Egito (onde a popular Irmandade Muçulmana tomou o poder). Mas, por ser um movimento espontâneo e desorganizado, acabou sucumbindo diante das manipulações do imperialismo, que logo reverteu a maioria das conquistas da Primavera, sacando a Irmandade Muçulmana do poder e devolvendo-o aos seus capachos na Tunísia e no Egito, bem como destruindo a Líbia e a Síria (os dois únicos países onde a Primavera Árabe eclodiu que não eram alinhados com os EUA).

Desta vez será mais difícil para as potências imperialistas manipularem as massas. No início da década passada, as reivindicações eram essencialmente econômicas e as que eram políticas visavam reformas democráticas e a saída dos governantes, sem, no entanto, ter claro qual era o inimigo principal a ser combatido: o domínio do imperialismo sobre aqueles regimes. Agora a consciência popular evoluiu e o sentimento anti-imperialista é mais forte: o povo árabe sabe que sua necessidade imediata é libertar-se do controle imperialista e essa é sua luta principal.

Nos países do Eixo da Resistência o processo revolucionário é mais evidente e está mais desenvolvido, destacadamente na Palestina, onde o Hamas e seus aliados impõem uma derrota inevitável aos invasores israelenses, mas também no Líbano e, principalmente, no Iraque, onde a resistência armada está expulsando as tropas americanas. No Iêmen, os revolucionários já estão no poder em parte do país e é questão de tempo para completarem a revolução nacional.

Gaza: o cemitério do sionismo

Quase quatro meses de invasão e genocídio não serviram de nada para as tropas israelenses. Segundo o Wall Street Journal, 80% dos túneis do Hamas estão intactos, o que significa que a infraestrutura da Resistência praticamente não sofreu danos, assim como os seus efetivos. Três quartos dos palestinos acreditam na vitória, o que indica um moral muito alto dentro das forças da Resistência.

O mesmo não pode ser dito das forças invasoras. Suas baixas fatais já estão na casa das 220, a maior da história de Israel nas guerras contra a Resistência Palestina – um índice “histórico”, na definição do Washington Post. Conforme o tempo passa, vai aumentando a agonia das “Forças de Defesa de Israel” na areia movediça de Gaza. Esses índices elevam-se a um ritmo muito mais acelerado do que no começo das operações (incluindo 21 soldados mortos em um único ataque do Hamas, em 23 de janeiro) e ao mesmo tempo os invasores estão perdendo as posições conquistadas no norte de Gaza.

Essa situação favorável para as forças que combatem Israel em Gaza se dá graças ao apoio da população à guerra revolucionária. Segundo um estudo do grupo de Pesquisa e Desenvolvimento do Mundo Árabe, ¾ dos palestinos apoiam a Tempestade de al-Aqsa e acreditam num papel positivo desempenhado pelo Hamas. Ao menos a metade dos palestinos também crê que o Hamas luta por sua liberdade. O Centro Palestino de Política e Pesquisas de Opinião chegou à mesma conclusão. Levantamento do Washington Institute também comprova que a maioria dos palestinos apoia o Hamas e os outros grupos da Resistência.

Outra pesquisa, do Barômetro Árabe, indica que a Tempestade de al-Aqsa não é resultado de uma atitude isolada do Hamas, mas sim da pressão que o povo palestino exerce sobre as lideranças da Resistência: antes de 7 de outubro a maioria dos palestinos criticava o Hamas por não fazer o suficiente contra a ocupação.

Aos aproximadamente 40.000 militantes do Hamas, somam-se os milhares de combatentes da Jihad Islâmica, da Frente Popular pela Libertação da Palestina, da Frente Popular pela Libertação da Palestina – Comando Geral, da Frente Democrática pela Libertação da Palestina e de outras tantas organizações envolvidas diretamente na luta contra o ocupante, que formam a Resistência Palestina. Assim, conforme os próprios números revelados pelo exército israelense, sua operação não chegou a eliminar nem cinco por cento dos combatentes.

A consciência política do povo palestino está evoluindo rapidamente graças aos ensinamentos da guerra. Conforme estatísticas publicadas no The Cradle, somente 41% dos palestinos de Gaza têm uma visão positiva das atitudes do Irã, o que provavelmente significa que esperavam uma política mais enérgica de Teerã contra Israel e em sua proteção, já que o país dos aiatolás é o grande baluarte da luta anti-imperialista e antissionista no Oriente Médio. A popularidade dos houthis (68%) e do Hezbollah (63%) – movimentos populares independentes da classe dominante –, por exemplo, é bem maior. Somente 11% têm uma opinião favorável sobre o papel desempenhado pela ONU.

Mas não foram só os palestinos comuns que elevaram seu nível de consciência política. O mesmo pode ser dito da direção revolucionária. A Resistência Palestina não confia nas instituições internacionais, como a Corte Internacional de Justiça, e só aceita o fim de suas operações atuais com a retirada total de Israel de Gaza. Israel está cada vez mais inclinado a aceitar as condições da Resistência, diante das derrotas sucessivas no campo de batalha e do bloqueio econômico espetacular imposto pelos houthis.

Uma Terceira Intifada prestes a ocorrer na Cisjordânia

Todos os jornais que cobrem os acontecimentos na área admitem que está se gestando uma terceira intifada na Cisjordânia. As ações de Israel, como a asfixia econômica, o corte da colaboração com a Autoridade Palestina e a expansão das atividades dos colonos estão inflamando os ânimos do povo cisjordano, bem como, principalmente, as operações dos soldados que invadem casas, executam jovens e sequestram moradores para levar para as prisões israelenses. Desde 7 de outubro, 6.330 palestinos da Cisjordânia foram raptados e detidos nas masmorras israelenses.

A Resistência Palestina também está presente ali, lutando contra as tropas israelenses que lançam incursões para reprimir e perseguir os habitantes. As próprias autoridades israelenses se preocupam com a deterioração das condições na Cisjordânia e a redução da popularidade da Autoridade Palestina devido à intensa crise econômica e ao altíssimo desemprego. De fato, a AP é, literalmente, uma agência governamental de Tel Aviv, pois os próprios salários dos membros da AP são pagos por Israel. A AP é uma autoridade apenas no nome, pois 92% dos cidadãos da Cisjordânia querem a renúncia de Mahmoud Abbas e 60% querem que ela seja extinta, segundo o Centro Palestino de Política e Pesquisas de Opinião. O apoio ao Hamas é crescente entre os habitantes da Cisjordânia.

Amos Harel, colunista militar do Haaretz, confirma essa avaliação: “a Autoridade Palestina, apesar de tudo o que está acontecendo em Gaza, ainda mantém um grau de coordenação em segurança com Israel e ainda prende de vez em quando ativistas do Hamas e da Jihad Islâmica em seu território. Sob as atuais circunstâncias, isso não vai durar muito, e pode causar uma explosão que irá varrer os ativistas armados do Fatah e as forças de segurança.”

A descrença nas instituições internacionais e nos governos é ainda maior do que em Gaza: ínfimos 3% têm uma visão positiva sobre as atitudes da ONU e 30% sobre as atitudes do Irã, enquanto sobre o Hezbollah a taxa é de 39% e sobre os houthis de impressionantes 89%.

Um antigo alto funcionário da inteligência israelense, Shalom Ben Hanan, disse ao Wall Street Journal que o sentimento de revolta na Cisjordânia está no seu maior nível desde a Segunda Intifada, em 2000, e que esse sentimento fica mais forte a cada dia, gerando alertas dos serviços de espionagem israelenses de ataques iminentes ao estilo da Tempestade de al-Aqsa. As autoridades de segurança admitem que a Cisjordânia está “à beira da explosão”.

O povo palestino já ultrapassou a fase das revoltas desorganizadas. A Resistência está mais articulada, unida e preparada do que nunca. A Autoridade Palestina tenta conter as massas na Cisjordânia, mas isso está cada vez mais impossível. Ela controla apenas o governo, enquanto o povo está ao lado do Hamas e da resistência armada.

O exército popular libanês vai à guerra

As forças israelenses consideram que a probabilidade de guerra com o Hezbollah é muito grande e se isso acontecer ninguém acha que Israel vai sair vitorioso – pelo contrário, poderá sofrer até 15 mil baixas.

O Hezbollah tem uma infraestrutura imensamente maior que a do Hamas, com 100 mil milicianos e 150 mil mísseis apontados para Israel, e já derrotou a entidade sionista duas vezes, em 2000 e em 2006.

É um verdadeiro exército popular. O Partido de Deus constitui, na prática, um poder paralelo cuja legitimidade e popularidade são muito maiores que as do próprio governo libanês. E sua popularidade é crescente, até mesmo entre os sunitas e cristãos. De acordo com pesquisa do Washington Institute de 14 de novembro a 6 de dezembro de 2023, 93% dos xiitas, 34% dos sunitas e 29% dos cristãos têm uma visão positiva do Hezbollah. É muito relevante o fato de que, na pesquisa anterior (2020), esse índice tenha sido de 89% dos xiitas, 7% dos sunitas e 16% dos cristãos. Ou seja, o apoio ao Hezbollah (um partido xiita) aumentou cinco vezes entre os sunitas e quase dobrou entre os cristãos.

Outras organizações revolucionárias islâmicas também são populares entre os libaneses: 79% de todos os libaneses têm uma visão positiva sobre o Hamas e mesmo a Irmandade Muçulmana (que também é sunita) é vista positivamente por ⅕ dos cristãos, 45% dos xiitas e 53% dos sunitas.

Além disso, o sentimento anti-imperialista está diretamente relacionado com o apoio ao Hezbollah e à Resistência Palestina, o que demonstra que não se trata de uma questão religiosa – como comprovado pelas estatísticas acima citadas. Metade da população acredita que o Líbano deveria trocar os EUA por parceiros como Rússia e China, em comparação com ⅓ de dois anos antes.

A pesquisa sinaliza ainda não somente um sentimento genérico de apoio à Resistência e rechaço ao imperialismo, mas um respaldo à luta armada de libertação das forças opressoras. Quando questionados, 75% dos xiitas, 44% dos sunitas e 24% dos cristãos discordam que a solução para o conflito palestino-israelense seja política e não militar. O percentual de quaisquer desses três grupos libaneses é maior do que os revelados pelas pesquisas do mesmo instituto na Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Kuwait, Catar, Egito e Jordânia, onde o índice dos que discordam que a solução seja política e não militar é muito menor. No total, cerca de 47% dos libaneses discordam e 53% acreditam que a solução é política e não militar, o que consiste em um empate técnico.

Isso mostra que a revolução se desenvolve em um dos países mais bem preparados para a luta de libertação nacional dentro do Oriente Médio.

Uma repetição da revolução talibã?

São diários os ataques da resistência iraquiana contra as bases militares americanas dentro do país. Os EUA ainda mantêm cerca de 2.500 soldados estacionados no Iraque e essas forças de ocupação, cuja presença por si só já é um acinte à soberania nacional do país, estão bombardeando os próprios cidadãos iraquianos.

Logo, os ataques diários da resistência às bases americanas aumentam a popularidade da resistência armada e eles, junto com as represálias americanas, geraram pressão sobre o governo para que acabasse com a ocupação. O governo tomou iniciativas tímidas nesse sentido, mas se a situação continuar escalando e os EUA demorarem para sair, podem ser expulsos à força como no Afeganistão – e nada indica que os governos dos EUA e do Iraque irão concordar em retirar as tropas ocidentais a curto prazo, mas isso pode demorar anos.

O atual governo é resultado da ocupação americana e portanto está comprometido com os EUA, mesmo se aproximando do Irã nos últimos anos. Por isso a medida de expulsão é tímida: as autoridades não querem expulsar os EUA de uma vez por todas porque dependem de certa forma dos EUA para controlar o país. Se os EUA forem expulsos por obra direta da resistência, esse governo se enfraquecerá e poderá cair e os grupos da resistência tomarão o poder, o que é muito pior para os EUA do que a manutenção do atual governo.

A declaração do Movimento al-Nujaba da resistência iraquiana comprova essa análise: “a resistência tem uma visão integrada da presença americana em todas as suas formas e uma visão clara de sua independência e libertação da dependência dos EUA. A resistência, inclusive se completada a expulsão militar do ocupante, não está ausente de sua influência e domínio nas articulações do Estado.”

A resistência, assim como no Líbano, tem representantes no parlamento. O líder do movimento Hoquq, Hussein Mouanes, pertence à maioria parlamentar que aprovou há quatro anos a retirada das tropas. Até agora nada foi feito nesse sentido, o que prova que o governo iraquiano está receoso em levar isso adiante, pressionado pelos EUA. Ele declarou que após a expulsão das forças imperialistas, o Iraque deve formar uma aliança regional contra Israel.

A aceitação (ao menos formal) de uma retirada dos EUA é resultado direto das ações da resistência, o que prova que só a guerra de libertação nacional pode libertar os povos. A guerra, como ensinou Clausewitz, resolve o que não se conseguiu resolver pela política e a diplomacia. E como disse a resistência iraquiana por meio de um comunicado, o imperialismo “só entende a linguagem da força”. A resistência assegurou que não vai cessar seus ataques só porque os EUA declararam formalmente que aceitam sair do país, porque sabe que a palavra do Tio Sam não é de confiança. Ela deixou implícito (talvez nem tanto) que poderá mesmo derrubar o governo caso ele não atenda plenamente as reivindicações de retirar as tropas e os drones ocidentais, pôr um fim na presença dos oficiais americanos e entregar o controle do Comando de Operações Conjuntas aos iraquianos. Se o governo proteger os invasores, isso será “uma traição histórica ao Iraque e ao sangue de seus mártires”, reporta al-Mayadeen.

Portanto, a conciliação do governo com os EUA e sua reticência em retirar imediatamente as tropas imperialistas está polarizando a política do Iraque e aumentando as contradições com as forças populares de resistência. A pressão sobre o governo vai aumentar a cada dia que passa. A resistência não quer diálogo nenhum com os ocupantes, ao contrário do governo.

Os iraquianos podem se apoiar em precedentes recentes: a expulsão das forças americanas do Afeganistão em 2021 e das forças francesas do Mali e de Burkina Faso em 2022 e do Níger em 2023. Esses quatro exemplos foram dirigidos por movimentos armados que derrubaram os governos colaboracionistas.

As ações da resistência iraquiana também podem levar à retirada das tropas americanas da Síria. Mais de 150 ataques contra as forças americanas foram realizados até agora no Iraque e na Síria – neste último, a maioria dos ataques também foi feita pela resistência iraquiana. Há cerca de 900 soldados americanos na Síria, roubando o seu petróleo, e eles parecem estar evacuando algumas bases, conforme relatos publicados na imprensa.

O risco de manter as tropas na Síria tem sido muito alto e os EUA poderiam se retirar, segundo fontes da Foreign Policy. Mas isso dificilmente ocorreria a curto prazo. Portanto, se a resistência expulsar à força as tropas ocupantes no Iraque, provavelmente isso vai forçar uma retirada imediata dos americanos da Síria.

A expulsão dos EUA na Síria levará à derrota dos grupos apoiados por Washington e possivelmente a um acordo para que a Turquia também desocupe o país, ratificando a Síria sob o controle de Bashar al-Assad, o que naturalmente fortalecerá o Eixo da Resistência. Mais do que isso: as forças revolucionárias da resistência armada e popular terão enorme poder de pressão sobre o regime de Assad, empurrando-o para uma política mais radical do que a atual, que é conservadora. Caso contrário, ele mesmo poderá perder apoio da população e até mesmo cair por obra da mobilização popular.

Há um processo revolucionário em curso no Oriente Médio, cujo estopim foi o início da Operação Tempestade de al-Aqsa em 7 de outubro de 2023

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Há um processo revolucionário em curso no Oriente Médio, cujo estopim foi o início da Operação Tempestade de al-Aqsa em 7 de outubro de 2023 e que está sendo espalhado por toda a região conforme o genocídio de Israel em Gaza gera respostas exemplares do Eixo da Resistência.

O último grande e generalizado levante popular ocorrido na região, a Primavera Árabe de 2011, pode se repetir conforme a situação evolui para rebeliões de massas contra as potências imperialistas, Israel e seus regimes vassalos e traidores.

A Primavera Árabe começou como uma gigantesca revolta popular contra os regimes putrefatos do norte da África, a maioria deles vassalos do imperialismo, e chegou mesmo a derrocar alguns deles, como os da Tunísia e do Egito (onde a popular Irmandade Muçulmana tomou o poder). Mas, por ser um movimento espontâneo e desorganizado, acabou sucumbindo diante das manipulações do imperialismo, que logo reverteu a maioria das conquistas da Primavera, sacando a Irmandade Muçulmana do poder e devolvendo-o aos seus capachos na Tunísia e no Egito, bem como destruindo a Líbia e a Síria (os dois únicos países onde a Primavera Árabe eclodiu que não eram alinhados com os EUA).

Desta vez será mais difícil para as potências imperialistas manipularem as massas. No início da década passada, as reivindicações eram essencialmente econômicas e as que eram políticas visavam reformas democráticas e a saída dos governantes, sem, no entanto, ter claro qual era o inimigo principal a ser combatido: o domínio do imperialismo sobre aqueles regimes. Agora a consciência popular evoluiu e o sentimento anti-imperialista é mais forte: o povo árabe sabe que sua necessidade imediata é libertar-se do controle imperialista e essa é sua luta principal.

Nos países do Eixo da Resistência o processo revolucionário é mais evidente e está mais desenvolvido, destacadamente na Palestina, onde o Hamas e seus aliados impõem uma derrota inevitável aos invasores israelenses, mas também no Líbano e, principalmente, no Iraque, onde a resistência armada está expulsando as tropas americanas. No Iêmen, os revolucionários já estão no poder em parte do país e é questão de tempo para completarem a revolução nacional.

Gaza: o cemitério do sionismo

Quase quatro meses de invasão e genocídio não serviram de nada para as tropas israelenses. Segundo o Wall Street Journal, 80% dos túneis do Hamas estão intactos, o que significa que a infraestrutura da Resistência praticamente não sofreu danos, assim como os seus efetivos. Três quartos dos palestinos acreditam na vitória, o que indica um moral muito alto dentro das forças da Resistência.

O mesmo não pode ser dito das forças invasoras. Suas baixas fatais já estão na casa das 220, a maior da história de Israel nas guerras contra a Resistência Palestina – um índice “histórico”, na definição do Washington Post. Conforme o tempo passa, vai aumentando a agonia das “Forças de Defesa de Israel” na areia movediça de Gaza. Esses índices elevam-se a um ritmo muito mais acelerado do que no começo das operações (incluindo 21 soldados mortos em um único ataque do Hamas, em 23 de janeiro) e ao mesmo tempo os invasores estão perdendo as posições conquistadas no norte de Gaza.

Essa situação favorável para as forças que combatem Israel em Gaza se dá graças ao apoio da população à guerra revolucionária. Segundo um estudo do grupo de Pesquisa e Desenvolvimento do Mundo Árabe, ¾ dos palestinos apoiam a Tempestade de al-Aqsa e acreditam num papel positivo desempenhado pelo Hamas. Ao menos a metade dos palestinos também crê que o Hamas luta por sua liberdade. O Centro Palestino de Política e Pesquisas de Opinião chegou à mesma conclusão. Levantamento do Washington Institute também comprova que a maioria dos palestinos apoia o Hamas e os outros grupos da Resistência.

Outra pesquisa, do Barômetro Árabe, indica que a Tempestade de al-Aqsa não é resultado de uma atitude isolada do Hamas, mas sim da pressão que o povo palestino exerce sobre as lideranças da Resistência: antes de 7 de outubro a maioria dos palestinos criticava o Hamas por não fazer o suficiente contra a ocupação.

Aos aproximadamente 40.000 militantes do Hamas, somam-se os milhares de combatentes da Jihad Islâmica, da Frente Popular pela Libertação da Palestina, da Frente Popular pela Libertação da Palestina – Comando Geral, da Frente Democrática pela Libertação da Palestina e de outras tantas organizações envolvidas diretamente na luta contra o ocupante, que formam a Resistência Palestina. Assim, conforme os próprios números revelados pelo exército israelense, sua operação não chegou a eliminar nem cinco por cento dos combatentes.

A consciência política do povo palestino está evoluindo rapidamente graças aos ensinamentos da guerra. Conforme estatísticas publicadas no The Cradle, somente 41% dos palestinos de Gaza têm uma visão positiva das atitudes do Irã, o que provavelmente significa que esperavam uma política mais enérgica de Teerã contra Israel e em sua proteção, já que o país dos aiatolás é o grande baluarte da luta anti-imperialista e antissionista no Oriente Médio. A popularidade dos houthis (68%) e do Hezbollah (63%) – movimentos populares independentes da classe dominante –, por exemplo, é bem maior. Somente 11% têm uma opinião favorável sobre o papel desempenhado pela ONU.

Mas não foram só os palestinos comuns que elevaram seu nível de consciência política. O mesmo pode ser dito da direção revolucionária. A Resistência Palestina não confia nas instituições internacionais, como a Corte Internacional de Justiça, e só aceita o fim de suas operações atuais com a retirada total de Israel de Gaza. Israel está cada vez mais inclinado a aceitar as condições da Resistência, diante das derrotas sucessivas no campo de batalha e do bloqueio econômico espetacular imposto pelos houthis.

Uma Terceira Intifada prestes a ocorrer na Cisjordânia

Todos os jornais que cobrem os acontecimentos na área admitem que está se gestando uma terceira intifada na Cisjordânia. As ações de Israel, como a asfixia econômica, o corte da colaboração com a Autoridade Palestina e a expansão das atividades dos colonos estão inflamando os ânimos do povo cisjordano, bem como, principalmente, as operações dos soldados que invadem casas, executam jovens e sequestram moradores para levar para as prisões israelenses. Desde 7 de outubro, 6.330 palestinos da Cisjordânia foram raptados e detidos nas masmorras israelenses.

A Resistência Palestina também está presente ali, lutando contra as tropas israelenses que lançam incursões para reprimir e perseguir os habitantes. As próprias autoridades israelenses se preocupam com a deterioração das condições na Cisjordânia e a redução da popularidade da Autoridade Palestina devido à intensa crise econômica e ao altíssimo desemprego. De fato, a AP é, literalmente, uma agência governamental de Tel Aviv, pois os próprios salários dos membros da AP são pagos por Israel. A AP é uma autoridade apenas no nome, pois 92% dos cidadãos da Cisjordânia querem a renúncia de Mahmoud Abbas e 60% querem que ela seja extinta, segundo o Centro Palestino de Política e Pesquisas de Opinião. O apoio ao Hamas é crescente entre os habitantes da Cisjordânia.

Amos Harel, colunista militar do Haaretz, confirma essa avaliação: “a Autoridade Palestina, apesar de tudo o que está acontecendo em Gaza, ainda mantém um grau de coordenação em segurança com Israel e ainda prende de vez em quando ativistas do Hamas e da Jihad Islâmica em seu território. Sob as atuais circunstâncias, isso não vai durar muito, e pode causar uma explosão que irá varrer os ativistas armados do Fatah e as forças de segurança.”

A descrença nas instituições internacionais e nos governos é ainda maior do que em Gaza: ínfimos 3% têm uma visão positiva sobre as atitudes da ONU e 30% sobre as atitudes do Irã, enquanto sobre o Hezbollah a taxa é de 39% e sobre os houthis de impressionantes 89%.

Um antigo alto funcionário da inteligência israelense, Shalom Ben Hanan, disse ao Wall Street Journal que o sentimento de revolta na Cisjordânia está no seu maior nível desde a Segunda Intifada, em 2000, e que esse sentimento fica mais forte a cada dia, gerando alertas dos serviços de espionagem israelenses de ataques iminentes ao estilo da Tempestade de al-Aqsa. As autoridades de segurança admitem que a Cisjordânia está “à beira da explosão”.

O povo palestino já ultrapassou a fase das revoltas desorganizadas. A Resistência está mais articulada, unida e preparada do que nunca. A Autoridade Palestina tenta conter as massas na Cisjordânia, mas isso está cada vez mais impossível. Ela controla apenas o governo, enquanto o povo está ao lado do Hamas e da resistência armada.

O exército popular libanês vai à guerra

As forças israelenses consideram que a probabilidade de guerra com o Hezbollah é muito grande e se isso acontecer ninguém acha que Israel vai sair vitorioso – pelo contrário, poderá sofrer até 15 mil baixas.

O Hezbollah tem uma infraestrutura imensamente maior que a do Hamas, com 100 mil milicianos e 150 mil mísseis apontados para Israel, e já derrotou a entidade sionista duas vezes, em 2000 e em 2006.

É um verdadeiro exército popular. O Partido de Deus constitui, na prática, um poder paralelo cuja legitimidade e popularidade são muito maiores que as do próprio governo libanês. E sua popularidade é crescente, até mesmo entre os sunitas e cristãos. De acordo com pesquisa do Washington Institute de 14 de novembro a 6 de dezembro de 2023, 93% dos xiitas, 34% dos sunitas e 29% dos cristãos têm uma visão positiva do Hezbollah. É muito relevante o fato de que, na pesquisa anterior (2020), esse índice tenha sido de 89% dos xiitas, 7% dos sunitas e 16% dos cristãos. Ou seja, o apoio ao Hezbollah (um partido xiita) aumentou cinco vezes entre os sunitas e quase dobrou entre os cristãos.

Outras organizações revolucionárias islâmicas também são populares entre os libaneses: 79% de todos os libaneses têm uma visão positiva sobre o Hamas e mesmo a Irmandade Muçulmana (que também é sunita) é vista positivamente por ⅕ dos cristãos, 45% dos xiitas e 53% dos sunitas.

Além disso, o sentimento anti-imperialista está diretamente relacionado com o apoio ao Hezbollah e à Resistência Palestina, o que demonstra que não se trata de uma questão religiosa – como comprovado pelas estatísticas acima citadas. Metade da população acredita que o Líbano deveria trocar os EUA por parceiros como Rússia e China, em comparação com ⅓ de dois anos antes.

A pesquisa sinaliza ainda não somente um sentimento genérico de apoio à Resistência e rechaço ao imperialismo, mas um respaldo à luta armada de libertação das forças opressoras. Quando questionados, 75% dos xiitas, 44% dos sunitas e 24% dos cristãos discordam que a solução para o conflito palestino-israelense seja política e não militar. O percentual de quaisquer desses três grupos libaneses é maior do que os revelados pelas pesquisas do mesmo instituto na Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Kuwait, Catar, Egito e Jordânia, onde o índice dos que discordam que a solução seja política e não militar é muito menor. No total, cerca de 47% dos libaneses discordam e 53% acreditam que a solução é política e não militar, o que consiste em um empate técnico.

Isso mostra que a revolução se desenvolve em um dos países mais bem preparados para a luta de libertação nacional dentro do Oriente Médio.

Uma repetição da revolução talibã?

São diários os ataques da resistência iraquiana contra as bases militares americanas dentro do país. Os EUA ainda mantêm cerca de 2.500 soldados estacionados no Iraque e essas forças de ocupação, cuja presença por si só já é um acinte à soberania nacional do país, estão bombardeando os próprios cidadãos iraquianos.

Logo, os ataques diários da resistência às bases americanas aumentam a popularidade da resistência armada e eles, junto com as represálias americanas, geraram pressão sobre o governo para que acabasse com a ocupação. O governo tomou iniciativas tímidas nesse sentido, mas se a situação continuar escalando e os EUA demorarem para sair, podem ser expulsos à força como no Afeganistão – e nada indica que os governos dos EUA e do Iraque irão concordar em retirar as tropas ocidentais a curto prazo, mas isso pode demorar anos.

O atual governo é resultado da ocupação americana e portanto está comprometido com os EUA, mesmo se aproximando do Irã nos últimos anos. Por isso a medida de expulsão é tímida: as autoridades não querem expulsar os EUA de uma vez por todas porque dependem de certa forma dos EUA para controlar o país. Se os EUA forem expulsos por obra direta da resistência, esse governo se enfraquecerá e poderá cair e os grupos da resistência tomarão o poder, o que é muito pior para os EUA do que a manutenção do atual governo.

A declaração do Movimento al-Nujaba da resistência iraquiana comprova essa análise: “a resistência tem uma visão integrada da presença americana em todas as suas formas e uma visão clara de sua independência e libertação da dependência dos EUA. A resistência, inclusive se completada a expulsão militar do ocupante, não está ausente de sua influência e domínio nas articulações do Estado.”

A resistência, assim como no Líbano, tem representantes no parlamento. O líder do movimento Hoquq, Hussein Mouanes, pertence à maioria parlamentar que aprovou há quatro anos a retirada das tropas. Até agora nada foi feito nesse sentido, o que prova que o governo iraquiano está receoso em levar isso adiante, pressionado pelos EUA. Ele declarou que após a expulsão das forças imperialistas, o Iraque deve formar uma aliança regional contra Israel.

A aceitação (ao menos formal) de uma retirada dos EUA é resultado direto das ações da resistência, o que prova que só a guerra de libertação nacional pode libertar os povos. A guerra, como ensinou Clausewitz, resolve o que não se conseguiu resolver pela política e a diplomacia. E como disse a resistência iraquiana por meio de um comunicado, o imperialismo “só entende a linguagem da força”. A resistência assegurou que não vai cessar seus ataques só porque os EUA declararam formalmente que aceitam sair do país, porque sabe que a palavra do Tio Sam não é de confiança. Ela deixou implícito (talvez nem tanto) que poderá mesmo derrubar o governo caso ele não atenda plenamente as reivindicações de retirar as tropas e os drones ocidentais, pôr um fim na presença dos oficiais americanos e entregar o controle do Comando de Operações Conjuntas aos iraquianos. Se o governo proteger os invasores, isso será “uma traição histórica ao Iraque e ao sangue de seus mártires”, reporta al-Mayadeen.

Portanto, a conciliação do governo com os EUA e sua reticência em retirar imediatamente as tropas imperialistas está polarizando a política do Iraque e aumentando as contradições com as forças populares de resistência. A pressão sobre o governo vai aumentar a cada dia que passa. A resistência não quer diálogo nenhum com os ocupantes, ao contrário do governo.

Os iraquianos podem se apoiar em precedentes recentes: a expulsão das forças americanas do Afeganistão em 2021 e das forças francesas do Mali e de Burkina Faso em 2022 e do Níger em 2023. Esses quatro exemplos foram dirigidos por movimentos armados que derrubaram os governos colaboracionistas.

As ações da resistência iraquiana também podem levar à retirada das tropas americanas da Síria. Mais de 150 ataques contra as forças americanas foram realizados até agora no Iraque e na Síria – neste último, a maioria dos ataques também foi feita pela resistência iraquiana. Há cerca de 900 soldados americanos na Síria, roubando o seu petróleo, e eles parecem estar evacuando algumas bases, conforme relatos publicados na imprensa.

O risco de manter as tropas na Síria tem sido muito alto e os EUA poderiam se retirar, segundo fontes da Foreign Policy. Mas isso dificilmente ocorreria a curto prazo. Portanto, se a resistência expulsar à força as tropas ocupantes no Iraque, provavelmente isso vai forçar uma retirada imediata dos americanos da Síria.

A expulsão dos EUA na Síria levará à derrota dos grupos apoiados por Washington e possivelmente a um acordo para que a Turquia também desocupe o país, ratificando a Síria sob o controle de Bashar al-Assad, o que naturalmente fortalecerá o Eixo da Resistência. Mais do que isso: as forças revolucionárias da resistência armada e popular terão enorme poder de pressão sobre o regime de Assad, empurrando-o para uma política mais radical do que a atual, que é conservadora. Caso contrário, ele mesmo poderá perder apoio da população e até mesmo cair por obra da mobilização popular.

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