Ocidentais abandonaram os civis à sua sorte. Elas apenas se preocupam em manter o seu domínio sobre o mundo. Aquilo que se joga agora em Gaza já não é a questão palestiniana, mas sim a ordem internacional. Após a derrota da OTAN na Ucrânia, a de Israel em Gaza marcaria o fim de um marco. Nunca, desde há três quartos de século, estivemos tão perto da confrontação geral.
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O MASSACRE
AForça Aérea israelita (israelense-br) continua a bombardear a cidade de Gaza em retaliação pelo ataque da Resistência palestiniana unida (salvo a Fatah) de 7 de Outubro. As bombas caem sobre toda a cidade matando os habitantes aos milhares. Segundo uma sondagem [1] realizada em Junho de 2022 pelo Palestinian Center for Policy and Survey Research, apenas 34 % dos Palestinianos votariam pelo Hamas contra 31 % pela Fatah se tivessem lugar eleições legislativas. Quase dois terços das vítimas dos bombardeamentos israelitas são pois hostis ao Hamas. Em simultâneo, são 71 % a apoiar a luta armada contra a ocupação israelita. Deste ponto de vista, há 56 % a preferir Ismail Haniyeh (Hamas) a Mahmud Abbas (Fatah).
Portanto, Israel não pode pretender que desta maneira visa erradicar o Hamas, mas sim eliminar a população de Gaza que lhe resiste.
A EXPULSÃO DOS GAZENSES
Três quartos do Exército israelita continuam estacionados em frente do Muro de Separação, esperando a ordem de o atravessar para acabar com os sobreviventes dos bombardeamentos. Oficialmente, os Estados Unidos esperam evitar um genocídio incitando Israel à moderação. Na realidade, Washington sabe que esta operação não era inicialmente dirigida contra o Hamas, mas visava resolver a questão palestiniana expulsando toda a sua população. Assim, o Departamento de Estado propôs ao Egipto anular toda a sua dívida externa (135 mil milhões de dólares) se ele abrigasse e naturalizasse os 2,2 milhões de Gazenses.
De momento, o Marechal Al-Sissi recusa. O Cairo atém-se à Resolução da Liga Árabe que, após a Guerra dos Seis Dias, afirmou que deslocar os Palestinianos e naturalizá-los não era nada mais do que uma manobra, falsamente compassiva, para liquidar a causa palestiniana.
Durante a sua audição pelo Knesset, o General Yitzhak Brik traçou um balanço catastrófico das capacidades do Exército israelita.
A FRAQUEZA DO EXÉRCITO ISRAELITA
Desde o começo desta guerra, ou melhor, deste episódio de uma longa guerra, os Israelitas percebem a actual fraqueza das suas Forças Armadas. Desde 2015, a imprensa especializada evoca a decadência do Tsahal (FDI-ndT), mas só em 2018 é que a classe política tomou consciência disso. À época, o Knesset (Parlamento) ouviu o General Yitzhak Brik. Ele explicou aos atordoados deputados que os soldados tinham perdido a ideia de defender o país, que os oficiais não hesitavam em mentir para se protegerem em caso de problemas e que os generais faziam carreiras políticas e não militares. Cinco anos mais tarde, não apenas nada mudou, como tudo piorou.
A imprensa israelita volta por estes dias às declarações do General Yitzhak Brik segundo quem os Israelitas seriam forçados a defender-se por si próprios, sem poder esperar socorro das suas tropas, aquando de uma próxima guerra. Foi precisamente o que aconteceu em 7 de Outubro.
O Primeiro-Ministro foi consultar o General, em 22 de Outubro, mas nenhum comunicado, nem declaração, permite saber o que os dois homens conversaram. No máximo sabe-se que o General Brik exigiu a demissão do Director da Inteligência Militar (Aman) e do Chefe do Comando Sul.
E não é tudo. Pela primeira vez, os adversários da colonização dispõem de armas eficazes. O estudo dos vídeos do Hamas é claro. A organização dispõe de lança-mísseis anti-tanque FGM-148 Javelin (fabrico nos EUA) e NLAW (de fabrico sueco) e de lança-foguetes AT4 (de fabrico sueco ou nos EUA). Quanto ao Hezbolla libanês, ele dispõe de um stock (estoque-br) impressionante de mísseis de médio alcance que, com o treino dos seus homens, faz dele um poder militar eficiente muito superior ao dos Estados árabes.
As armas do Hamas são norte-americanas ou suecas. Elas foram comprados na Ucrânia junto de oficiais corruptos. As do Hezbollah provêm do Irão, via Iraque e Síria. Ninguém sabe quantas é que o Hamas possui.
O Secretário-Geral do Hezbolla, Hassan Nasrallah, recebeu o numero dois do Hamas, Saleh el-Arouri, e o chefe da Jihad islâmica, Ziad el-Nakhala.
Para já, o conflito está circunscrito à Faixa de Gaza. Os Palestinianos da Cisjordânia e de Israel não se revoltaram. Os refugiados da Jordânia e do Líbano também não. O Hezbolla está constrangido pela Resolução 1701 que os seus ministros assinaram no fim da guerra israelo-libanesa de 2006 [2]. Ele não pode atravessar o rio Litani e entrar no território israelita sem violar a sua palavra, o que, ao contrário dos Ocidentais, conta para ele. Este compromisso não se manterá se Israel atacar o Líbano. Por enquanto, portanto, o Hezbollah mantêm-se de prontidão e destruiu uma a uma as câmaras de vigilância e os radares israelitas ao longo da fronteira. Desta maneira, ele poderá apanhar o Exército israelita de surpresa se decidir entrar na guerra.
OS OCIDENTAIS ESCOLHERAM SACRIFICAR OS GAZENSES
Como não ficar estupefacto que os Estados Unidos, a França e o Reino Unido tenham vetado uma proposta de cessar-fogo humanitário imediato? Como não interpretar isto como um desejo de prolongar o conflito, iniciado há já 76 anos? Deste ponto de vista, a análise do Presidente Recep Tayyip Erdoğan é válida. Perante o seu grupo parlamentar, ele declarou : « Aqueles que causam o problema, é claro, não querem uma solução », fazendo alusão à maneira como o Império Francês e o Império Britânico criaram a questão palestiniana sem solução.
«Quanto mais a crise se agrava, mais ela se enraiza, melhor é para os seus interesses (…) Eles querem que a questão israelo-palestiniana se agrave… Eles querem que a paz e a estabilidade nunca cheguem a esta região… Eles querem que a sombra da guerra nunca largue o Mediterrâneo Oriental… Eles querem que os povos que aí vivem desde há milhares de anos não beneficiem dos recursos destas terras… Eles querem que o seu sistema de exploração baseado no sangue, na perseguição e nas lágrimas continue… É a isso que nós nos opomos. Nós rejeitamos este sistema de exploração pelo qual todas os povos da região, muçulmanos, cristãos e judeus, pagam o preço ».
A Primeira-Ministro francesa defendeu, em 23 de Outubro, uma posição equilibrada sobre o conflito israelo-palestiniano. No entanto, ela tentou mascarar o veto francês à proposta de cessar-fogo humanitário imediato. Ao fazê-lo, ela mostrou que já não tinha mão na situação. A sequência dos acontecimentos escapa ao seu governo.
É vergonhoso que a Primeira-Ministro francesa, Élisabeth Borne, falando na tribuna da Assembleia Nacional, acusasse a propaganda russa de imputar “erradamente” à França a oposição de um veto a uma proposta [russa] para um cessar-fogo humanitário imediato… citando a proposta brasileira, que ela [pelo contrário] votou. Com efeito, houve duas propostas diferentes : a russa, limitando-se à estrita neutralidade que impõe a acção humanitária, apresentada durante uma sessão à porta fechada no dia 17 de Outubro, e a brasileira, condenando o Hamas pelos seus actos de barbárie, apresentada durante uma sessão pública em 25 de Outubro.
A França não utilizava o seu veto desde 1976 (para prosseguir a sua colonização de Mayotte), mas desta vez utilizou-o tal como reconheceu o seu representante permanente no Conselho de Segurança, Nicolas de Rivière. A resolução brasileira era inaplicável porque condenava uma das partes. A França sabia bem disso ao votá-la.
O FIM DO OCIDENTE
Há, no entanto, uma outra explicação. Os Estados Unidos primeiro chamaram Israel à moderação. Depois, encaminharam dois grupos navais para lá e estabeleceram uma ponte aérea com 97 aviões de transporte para encaminhar grandes quantidades de munições para o local (para Israel, mas também para a Jordânia e Chipre). Por fim, bombardearam milícias pró-iranianas no Iraque e na Síria. Washington avaliou as possíveis consequências de uma derrota israelita em Gaza após a derrota da OTAN na Ucrânia. O Ocidente não mais seria temido. Todas as regras impostas fora do Direito Internacional seriam subitamente postas em questão. Todos os povos que o Ocidente mantêm no fundo desde há séculos, ou explora sem vergonha, se revoltariam. Isto seria uma mudança completa de paradigma.
O rancor acumulado ao longo de décadas deixa prever uma selvajaria incontrolável nesta revolta tal como na de que o Hamas fez prova. Assim, as grandes potências ocidentais decidiram fechar os olhos ao massacre em curso. Elas tem consciência de permitir e de facilitar um genocídio, mas ainda temem mais ter de prestar contas pelos seus crimes passados e actuais.
Aquilo que se joga em Gaza não é pois mais a questão palestiniana, mas a supremacia ocidental, o reinado das suas regras, e os benefícios indevidos que os Ocidentais daí tiram.
Jamais a tensão foi tão forte desde a Segunda Guerra Mundial. A Rússia está ciente disso e prepara-se para uma possível guerra nuclear. Desde o início da guerra em Gaza, ela realizou dois exercícios militares de grande envergadura com disparos de mísseis balísticos intercontinentais. Não se trata mais de um jogo : Ela simulou a morte de um terço da sua própria população e a transformação de uma parte do seu território numa zona interdita devido às radiações atómicas.