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October 18, 2023
© Photo: Public domain

Com prolongamento do conflito, população dos EUA passa a rejeitar maior envolvimento do país

Glenn GREENWALD

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Ha mais de 70 anos, as guerras travadas pelos EUA seguem um mesmo padrao: cada vez que uma nova guerra ё proposta, о bombardeio de propaganda midiatica e estatal e tao grande que a maioria do publico se une em apoio.

Inevitavelmente, esse apoio vai se erodindo. Enquanto о conflito se arrasta, as promessas vao deixando de ser cumpridas e as provisoes de uma vitdria facil sao desmentidas pela realidade; a populagao comep a perceber que a guerra foi um erro, repensa о apoio e comega a exigir о seu fim.

Assim foi no Vietna, no Iraque, no Afeganistao, na Siria e na Libia. Aos poucos, esse padrao lamentavel se repete na Ucrania. Enquanto um ter^o da popula^ao americana se dizia favoravel a apoiar a Ucrania nos meses seguintes a invasao russa, uma pesquisa recentemente realizada pela CNN traz um cenario diferente: “Maioria dos americanos sao contra mais ajuda a Ucrania na guerra com a Russia”.

Ja о presidente Joe Biden segue comprometido com a manuten^ao do envolvimento dos EUA no conflito, tendo em agosto solicitado ao Congresso о envio de um novo pacote de US$ 24 bilhoes — alem dos mais de US$ 100 bilhoes que os EUA ja empenharam na manutengao desse conflito.

A participa^ao no conflito na Ucrania tambem obedece a outro padrao histdrico nos EUA a respeito de guerras: nao ha diferenga nenhuma entre os establishments republicance democrata.

Todos os democratas — desde Bernie Sanders, senador independente de Vermont, a congressista “de esquerda” Alexandria Ocasio-Cortez, de Nova York — vein sendo unanimes em seu apoio a politica de Biden de envio de bilhoes e bilhoes de dolares para fabricantes de annas сото Raytheon e Boeing (o chamado complexo industrial-militar), para a CIA e para о notoriamente corrupto sistema politico ucraniano.

O mesmo e verdade quando se trata dos setores tradicionais do Partido Republicano, que vein apoiando Biden de forma igualmente fervorosa, postura que pode ser exemplificada pelo lider do Senado, Mitch McConnell, politico conservador traditional e historico no partido. Nao se ouve nenhuma sinalizacao, por superficial que seja, no sentido de resolver о conflito diplomaticamente.
Mas, se ё possivel identificar a repeticao de velhas dinamicas, ha desta vez uma novidade: о surgimento de uma ala populista e, ao menos pretensamente, antiguerra no Partido Republicano, liderada pelo ex-presidente Donald Trump, que vein sendo о unico setor na politica dos EUA a se colocar contra esse conflito desde о principio.

Cerca de 70 republicanos, na Camara e no Senado — de modo geral, os que se colocam сото alinhados a Trump — vem manifestando sua oposigao ao envolvimento na guerra, um numero que so deve crescer a medida que mais e mais americanos comecem a se opor ao envio de mais recursos.

Essa estranha dinamica politica dos EUA pode ser vista no posicionamento dos candidatos presidenciais. Dois dos candidates concorrendo a esquerda de Biden se opoem veementemente ao envio de mais armamentos e recursos para a Ucrania: о desafiante democrata Robert E Kennedy Jr. e о ativista e candidate independente Cornel West.

Por outro lado, os candidatos republicanos tradicionais, сото о antigo vice de Trump, Mike Pence, e a governadora e ex-embaixadora na ONU Nikki Haley, apoiam fervorosamente a politica de Biden.

Nao e so na opiniao piiblica que se pode perceber mudancas: a realidade da guerra cm si mudou radicalmente desde a invasao russa. Desde о inicio de 2023, cerca de 20% do territorio ucraniano vem sendo ocupado pela Russia, inclusive a peninsula da Crimeia, ocupada pela Russia desde 2014.

Para manter о apoio da opiniao publica nos EUA e na Europa, “especialistas” insistiram que os ucranianos provavelmente reconquistariam grande parte de seu territorio neste ano. Рогёт, о que se ve é о oposto: “as linlias de frente na Ucrania nao mudaram quase nada no ultimo inverno”, reporta о New York Times, acrescentando que, “apesar de nove meses de conflito sangrento, menos de 1.300 km2 de territorio mudaram de lado desde о inicio do ano”.

Enquanto о Ocidente estava soterrado em propaganda inspiradora sobre os bravos ucranianos ansiosos por lutar por sua liberdade, mais e mais homens ucranianos vein tentando fugir do pais desesperadamente para evitar uma guerra em que sabem que podem ser mortos.

О presidente do pais, Volodimir Zelenski, luta nao com um exercito de voluntaries, mas com um exercito de conscritos. Ou seja: dezenas de milhares de j ovens ucranianos que nunca quiseram participar da guerra forain mortos so neste ano em troca de nenhum beneficio estrategico.

Os apoiadores da guerra nos EUA ja nem se preocupam mais em fingir que essa e uma guerra virtuosa, visando defender a democracia: ja se fala, cada vez mais abertamente, que a Ucrania nao esta sendo salva, mas destruida, mas que isso deve ser apoiado assim mesmo porque ajuda no objetivo de enfraquecer a Russia.

Em outras palavras, essa guerra e igual a todas as outras em sua dimensao mais importante: uma quantidade enorme de pessoas sem nenhum poder e levada a lutar e morrer, tudo para satisfazer os objetivos de uma parcela minima das elites americanas, para quern a quantidade de mortos e os rastros de destruicao nao passam de uma nota de rodape inconveniente.

folha.uol.com.br

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Ucranianos morrem para satisfazer elite americana pró-guerra

Com prolongamento do conflito, população dos EUA passa a rejeitar maior envolvimento do país

Glenn GREENWALD

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Ha mais de 70 anos, as guerras travadas pelos EUA seguem um mesmo padrao: cada vez que uma nova guerra ё proposta, о bombardeio de propaganda midiatica e estatal e tao grande que a maioria do publico se une em apoio.

Inevitavelmente, esse apoio vai se erodindo. Enquanto о conflito se arrasta, as promessas vao deixando de ser cumpridas e as provisoes de uma vitdria facil sao desmentidas pela realidade; a populagao comep a perceber que a guerra foi um erro, repensa о apoio e comega a exigir о seu fim.

Assim foi no Vietna, no Iraque, no Afeganistao, na Siria e na Libia. Aos poucos, esse padrao lamentavel se repete na Ucrania. Enquanto um ter^o da popula^ao americana se dizia favoravel a apoiar a Ucrania nos meses seguintes a invasao russa, uma pesquisa recentemente realizada pela CNN traz um cenario diferente: “Maioria dos americanos sao contra mais ajuda a Ucrania na guerra com a Russia”.

Ja о presidente Joe Biden segue comprometido com a manuten^ao do envolvimento dos EUA no conflito, tendo em agosto solicitado ao Congresso о envio de um novo pacote de US$ 24 bilhoes — alem dos mais de US$ 100 bilhoes que os EUA ja empenharam na manutengao desse conflito.

A participa^ao no conflito na Ucrania tambem obedece a outro padrao histdrico nos EUA a respeito de guerras: nao ha diferenga nenhuma entre os establishments republicance democrata.

Todos os democratas — desde Bernie Sanders, senador independente de Vermont, a congressista “de esquerda” Alexandria Ocasio-Cortez, de Nova York — vein sendo unanimes em seu apoio a politica de Biden de envio de bilhoes e bilhoes de dolares para fabricantes de annas сото Raytheon e Boeing (o chamado complexo industrial-militar), para a CIA e para о notoriamente corrupto sistema politico ucraniano.

O mesmo e verdade quando se trata dos setores tradicionais do Partido Republicano, que vein apoiando Biden de forma igualmente fervorosa, postura que pode ser exemplificada pelo lider do Senado, Mitch McConnell, politico conservador traditional e historico no partido. Nao se ouve nenhuma sinalizacao, por superficial que seja, no sentido de resolver о conflito diplomaticamente.
Mas, se ё possivel identificar a repeticao de velhas dinamicas, ha desta vez uma novidade: о surgimento de uma ala populista e, ao menos pretensamente, antiguerra no Partido Republicano, liderada pelo ex-presidente Donald Trump, que vein sendo о unico setor na politica dos EUA a se colocar contra esse conflito desde о principio.

Cerca de 70 republicanos, na Camara e no Senado — de modo geral, os que se colocam сото alinhados a Trump — vem manifestando sua oposigao ao envolvimento na guerra, um numero que so deve crescer a medida que mais e mais americanos comecem a se opor ao envio de mais recursos.

Essa estranha dinamica politica dos EUA pode ser vista no posicionamento dos candidatos presidenciais. Dois dos candidates concorrendo a esquerda de Biden se opoem veementemente ao envio de mais armamentos e recursos para a Ucrania: о desafiante democrata Robert E Kennedy Jr. e о ativista e candidate independente Cornel West.

Por outro lado, os candidatos republicanos tradicionais, сото о antigo vice de Trump, Mike Pence, e a governadora e ex-embaixadora na ONU Nikki Haley, apoiam fervorosamente a politica de Biden.

Nao e so na opiniao piiblica que se pode perceber mudancas: a realidade da guerra cm si mudou radicalmente desde a invasao russa. Desde о inicio de 2023, cerca de 20% do territorio ucraniano vem sendo ocupado pela Russia, inclusive a peninsula da Crimeia, ocupada pela Russia desde 2014.

Para manter о apoio da opiniao publica nos EUA e na Europa, “especialistas” insistiram que os ucranianos provavelmente reconquistariam grande parte de seu territorio neste ano. Рогёт, о que se ve é о oposto: “as linlias de frente na Ucrania nao mudaram quase nada no ultimo inverno”, reporta о New York Times, acrescentando que, “apesar de nove meses de conflito sangrento, menos de 1.300 km2 de territorio mudaram de lado desde о inicio do ano”.

Enquanto о Ocidente estava soterrado em propaganda inspiradora sobre os bravos ucranianos ansiosos por lutar por sua liberdade, mais e mais homens ucranianos vein tentando fugir do pais desesperadamente para evitar uma guerra em que sabem que podem ser mortos.

О presidente do pais, Volodimir Zelenski, luta nao com um exercito de voluntaries, mas com um exercito de conscritos. Ou seja: dezenas de milhares de j ovens ucranianos que nunca quiseram participar da guerra forain mortos so neste ano em troca de nenhum beneficio estrategico.

Os apoiadores da guerra nos EUA ja nem se preocupam mais em fingir que essa e uma guerra virtuosa, visando defender a democracia: ja se fala, cada vez mais abertamente, que a Ucrania nao esta sendo salva, mas destruida, mas que isso deve ser apoiado assim mesmo porque ajuda no objetivo de enfraquecer a Russia.

Em outras palavras, essa guerra e igual a todas as outras em sua dimensao mais importante: uma quantidade enorme de pessoas sem nenhum poder e levada a lutar e morrer, tudo para satisfazer os objetivos de uma parcela minima das elites americanas, para quern a quantidade de mortos e os rastros de destruicao nao passam de uma nota de rodape inconveniente.

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