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Bruna Frascolla
December 26, 2025
© Photo: Public domain

Parece que a rede pedófila na cúpula do poder ocidental fez mesmo tanta fumaça, que até os doidos do QAnon conseguiram apontar para o lugar certo da fogueira

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No fim do primeiro governo Trump, as mídias ocidentais estavam em polvorosa denunciando a mais nova teoria conspiratória da extrema-direita, o QAnon. Um tal Anônimo Q, abreviado em inglês como QAnon, havia revelado que o mundo é controlado por uma rede de pedófilos satanistas que promovem tráfico internacional de crianças. Como qualquer coisa que envolva boataria, há inúmeras variantes nas versões que circulam, mas o ponto fundamental é esse. Outra coisa relevante é que os adeptos do QAnon acreditavam que Donald Trump era um inimigo dessa rede de pedófilos que controlavam o Deep State (e o mundo), de modo que a liberação da documentação do caso Epstein foi mesmo uma promessa de campanha.

É muito fácil desacreditar boatos de internet. Difícil é explicar por que eles se espalham, e por que tanta gente acredita neles. Aí entra em cena a pseudociência social que esteve na crista da onda durante a década passada: o wokismo. Os EUA têm muitos brancos. Os homens são, em geral, mais politicamente ativos do que as mulheres, e muitos homens são trumpistas. Dado que homem = mau, branco = mau e crer no QAnon = mau, então o QAnon encontrou muita credibilidade porque os homens brancos são homens brancos, e há muitos homens brancos nos EUA. O problema não seria resolvido com um Estado que guardasse menos segredos (como a lista de clientes de Epstein), mas sim com cursos de letramento racial e livros de Robin DiAngelo.

Com a vitória de Donald Trump, os Arquivos Epstein foram enfim abertos – ainda que com atraso e com uma porção de tarjas pretas. Viu-se que de fato uma rede de pedófilos controla, se não o mundo, as mais altas esferas da política ocidental. O Congresso dos EUA começou a publicar partes dos Arquivos Epstein em setembro, e em outubro o enroladíssimo Príncipe André da Inglaterra, outrora um notório filantropo, perdeu os títulos de nobreza.

Falando em notórios filantropos, o elefante na sala dos Arquivos Epstein é Bill Clinton. Ainda que não tenha aparecido nenhum arquivo provando que Hillary Clinton escalpela crianças vivas para extrair adenocromo e se manter jovem (como diz a internet), o que se viu é que seu esposo era uma figurinha mais que carimbada nos Arquivos Epstein, como bem notou o New York Times. Ainda assim, a mídia mainstream não explica a perturbadora decoração da casa de Epstein, que inclui um quadro com Bill Clinton travesti, apontando para o expectador. De nada adianta saber que a pintora do quadro tinha intenções satíricas: o que importa é a intenção do comprador, que tinha mais de uma peça artística com Bill Clinton, e cujo gosto era evidentemente macabro (vide as máscaras na parede).

Quanto mais coisas aparecem, menos impressão temos de saber a verdade. Isso, evidentemente, nos leva a fazer especulações – que podem ser mais ou menos ousada. E aí entendemos por que os Estados Unidos são tão pródigos em teorias da conspiração. No país do MK Ultra, qualquer pessoa com vida cerebral relevante sabe que a inteligência militar saiu de controle do povo há muito tempo, que há uma relação promíscua entre a inteligência militar e a “filantropia” de empresários como Rockefeller, e que a comunicação de massa tem relações promíscuas com ambos os setores. Os EUA são uma nação tocada por empresários mafiosos cheios de segredo que financiam cientistas loucos dados à experimentação social. Como não fazer conjecturas malucas?

Diante dessa atmosfera de segredo, é da natureza humana fazer especulações. É da natureza humana, também, amar as histórias sensacionalistas e querer passá-las adiante. Assim, é muito mais fácil tornar conhecida, sem provas, a história de que Hillary Clinton escalpela crianças vivas para extrair um elixir da juventude do que a denúncia de que o governo britânico tem uma rede e abrigos para crianças ucranianas mal fiscalizada, a qual abastece pedófilos com gravações de estupro infantil por meio de ONGs (entre as quais se conta a ONG da filha do Príncipe André). E como a maioria da população não é politizada, aquele que quiser abafar todas as suspeitas do público terá o interesse em dar publicidade à história maluca, para descredibilizar todos os céticos. A denúncia plausível cai no esquecimento e aquele que tiver perguntas passa por doido diante das pessoas menos politizadas.

Por tudo isso, era de esperar que o QAnon se tornasse um mero folclore urbano a ocupar as notas de rodapé dos livros de História, mesmo que guardasse um fundo de verdade. Mas parece que essa rede pedófila na cúpula do poder ocidental fez mesmo tanta fumaça, que até os doidos do QAnon conseguiram apontar para o lugar certo da fogueira. Decerto a essa altura estão desiludidos com Trump – seja por causa da demora em soltar os arquivos, seja pelo fato de ele aparecer ali. Isso só prova que nem os teóricos da conspiração mais malucos puderam imaginar o tamanho do problema.

Enquanto eles faziam campanha permanente por Trump, Steve Bannon abraçava Noam Chomsky diante das lentes de Epstein. Se algum doido de chapéu de alumínio lhes dissesse isso, responderiam que aí já é demais.

Epstein: O QAnon estava errado, mas estava certo

Parece que a rede pedófila na cúpula do poder ocidental fez mesmo tanta fumaça, que até os doidos do QAnon conseguiram apontar para o lugar certo da fogueira

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No fim do primeiro governo Trump, as mídias ocidentais estavam em polvorosa denunciando a mais nova teoria conspiratória da extrema-direita, o QAnon. Um tal Anônimo Q, abreviado em inglês como QAnon, havia revelado que o mundo é controlado por uma rede de pedófilos satanistas que promovem tráfico internacional de crianças. Como qualquer coisa que envolva boataria, há inúmeras variantes nas versões que circulam, mas o ponto fundamental é esse. Outra coisa relevante é que os adeptos do QAnon acreditavam que Donald Trump era um inimigo dessa rede de pedófilos que controlavam o Deep State (e o mundo), de modo que a liberação da documentação do caso Epstein foi mesmo uma promessa de campanha.

É muito fácil desacreditar boatos de internet. Difícil é explicar por que eles se espalham, e por que tanta gente acredita neles. Aí entra em cena a pseudociência social que esteve na crista da onda durante a década passada: o wokismo. Os EUA têm muitos brancos. Os homens são, em geral, mais politicamente ativos do que as mulheres, e muitos homens são trumpistas. Dado que homem = mau, branco = mau e crer no QAnon = mau, então o QAnon encontrou muita credibilidade porque os homens brancos são homens brancos, e há muitos homens brancos nos EUA. O problema não seria resolvido com um Estado que guardasse menos segredos (como a lista de clientes de Epstein), mas sim com cursos de letramento racial e livros de Robin DiAngelo.

Com a vitória de Donald Trump, os Arquivos Epstein foram enfim abertos – ainda que com atraso e com uma porção de tarjas pretas. Viu-se que de fato uma rede de pedófilos controla, se não o mundo, as mais altas esferas da política ocidental. O Congresso dos EUA começou a publicar partes dos Arquivos Epstein em setembro, e em outubro o enroladíssimo Príncipe André da Inglaterra, outrora um notório filantropo, perdeu os títulos de nobreza.

Falando em notórios filantropos, o elefante na sala dos Arquivos Epstein é Bill Clinton. Ainda que não tenha aparecido nenhum arquivo provando que Hillary Clinton escalpela crianças vivas para extrair adenocromo e se manter jovem (como diz a internet), o que se viu é que seu esposo era uma figurinha mais que carimbada nos Arquivos Epstein, como bem notou o New York Times. Ainda assim, a mídia mainstream não explica a perturbadora decoração da casa de Epstein, que inclui um quadro com Bill Clinton travesti, apontando para o expectador. De nada adianta saber que a pintora do quadro tinha intenções satíricas: o que importa é a intenção do comprador, que tinha mais de uma peça artística com Bill Clinton, e cujo gosto era evidentemente macabro (vide as máscaras na parede).

Quanto mais coisas aparecem, menos impressão temos de saber a verdade. Isso, evidentemente, nos leva a fazer especulações – que podem ser mais ou menos ousada. E aí entendemos por que os Estados Unidos são tão pródigos em teorias da conspiração. No país do MK Ultra, qualquer pessoa com vida cerebral relevante sabe que a inteligência militar saiu de controle do povo há muito tempo, que há uma relação promíscua entre a inteligência militar e a “filantropia” de empresários como Rockefeller, e que a comunicação de massa tem relações promíscuas com ambos os setores. Os EUA são uma nação tocada por empresários mafiosos cheios de segredo que financiam cientistas loucos dados à experimentação social. Como não fazer conjecturas malucas?

Diante dessa atmosfera de segredo, é da natureza humana fazer especulações. É da natureza humana, também, amar as histórias sensacionalistas e querer passá-las adiante. Assim, é muito mais fácil tornar conhecida, sem provas, a história de que Hillary Clinton escalpela crianças vivas para extrair um elixir da juventude do que a denúncia de que o governo britânico tem uma rede e abrigos para crianças ucranianas mal fiscalizada, a qual abastece pedófilos com gravações de estupro infantil por meio de ONGs (entre as quais se conta a ONG da filha do Príncipe André). E como a maioria da população não é politizada, aquele que quiser abafar todas as suspeitas do público terá o interesse em dar publicidade à história maluca, para descredibilizar todos os céticos. A denúncia plausível cai no esquecimento e aquele que tiver perguntas passa por doido diante das pessoas menos politizadas.

Por tudo isso, era de esperar que o QAnon se tornasse um mero folclore urbano a ocupar as notas de rodapé dos livros de História, mesmo que guardasse um fundo de verdade. Mas parece que essa rede pedófila na cúpula do poder ocidental fez mesmo tanta fumaça, que até os doidos do QAnon conseguiram apontar para o lugar certo da fogueira. Decerto a essa altura estão desiludidos com Trump – seja por causa da demora em soltar os arquivos, seja pelo fato de ele aparecer ali. Isso só prova que nem os teóricos da conspiração mais malucos puderam imaginar o tamanho do problema.

Enquanto eles faziam campanha permanente por Trump, Steve Bannon abraçava Noam Chomsky diante das lentes de Epstein. Se algum doido de chapéu de alumínio lhes dissesse isso, responderiam que aí já é demais.

Parece que a rede pedófila na cúpula do poder ocidental fez mesmo tanta fumaça, que até os doidos do QAnon conseguiram apontar para o lugar certo da fogueira

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No fim do primeiro governo Trump, as mídias ocidentais estavam em polvorosa denunciando a mais nova teoria conspiratória da extrema-direita, o QAnon. Um tal Anônimo Q, abreviado em inglês como QAnon, havia revelado que o mundo é controlado por uma rede de pedófilos satanistas que promovem tráfico internacional de crianças. Como qualquer coisa que envolva boataria, há inúmeras variantes nas versões que circulam, mas o ponto fundamental é esse. Outra coisa relevante é que os adeptos do QAnon acreditavam que Donald Trump era um inimigo dessa rede de pedófilos que controlavam o Deep State (e o mundo), de modo que a liberação da documentação do caso Epstein foi mesmo uma promessa de campanha.

É muito fácil desacreditar boatos de internet. Difícil é explicar por que eles se espalham, e por que tanta gente acredita neles. Aí entra em cena a pseudociência social que esteve na crista da onda durante a década passada: o wokismo. Os EUA têm muitos brancos. Os homens são, em geral, mais politicamente ativos do que as mulheres, e muitos homens são trumpistas. Dado que homem = mau, branco = mau e crer no QAnon = mau, então o QAnon encontrou muita credibilidade porque os homens brancos são homens brancos, e há muitos homens brancos nos EUA. O problema não seria resolvido com um Estado que guardasse menos segredos (como a lista de clientes de Epstein), mas sim com cursos de letramento racial e livros de Robin DiAngelo.

Com a vitória de Donald Trump, os Arquivos Epstein foram enfim abertos – ainda que com atraso e com uma porção de tarjas pretas. Viu-se que de fato uma rede de pedófilos controla, se não o mundo, as mais altas esferas da política ocidental. O Congresso dos EUA começou a publicar partes dos Arquivos Epstein em setembro, e em outubro o enroladíssimo Príncipe André da Inglaterra, outrora um notório filantropo, perdeu os títulos de nobreza.

Falando em notórios filantropos, o elefante na sala dos Arquivos Epstein é Bill Clinton. Ainda que não tenha aparecido nenhum arquivo provando que Hillary Clinton escalpela crianças vivas para extrair adenocromo e se manter jovem (como diz a internet), o que se viu é que seu esposo era uma figurinha mais que carimbada nos Arquivos Epstein, como bem notou o New York Times. Ainda assim, a mídia mainstream não explica a perturbadora decoração da casa de Epstein, que inclui um quadro com Bill Clinton travesti, apontando para o expectador. De nada adianta saber que a pintora do quadro tinha intenções satíricas: o que importa é a intenção do comprador, que tinha mais de uma peça artística com Bill Clinton, e cujo gosto era evidentemente macabro (vide as máscaras na parede).

Quanto mais coisas aparecem, menos impressão temos de saber a verdade. Isso, evidentemente, nos leva a fazer especulações – que podem ser mais ou menos ousada. E aí entendemos por que os Estados Unidos são tão pródigos em teorias da conspiração. No país do MK Ultra, qualquer pessoa com vida cerebral relevante sabe que a inteligência militar saiu de controle do povo há muito tempo, que há uma relação promíscua entre a inteligência militar e a “filantropia” de empresários como Rockefeller, e que a comunicação de massa tem relações promíscuas com ambos os setores. Os EUA são uma nação tocada por empresários mafiosos cheios de segredo que financiam cientistas loucos dados à experimentação social. Como não fazer conjecturas malucas?

Diante dessa atmosfera de segredo, é da natureza humana fazer especulações. É da natureza humana, também, amar as histórias sensacionalistas e querer passá-las adiante. Assim, é muito mais fácil tornar conhecida, sem provas, a história de que Hillary Clinton escalpela crianças vivas para extrair um elixir da juventude do que a denúncia de que o governo britânico tem uma rede e abrigos para crianças ucranianas mal fiscalizada, a qual abastece pedófilos com gravações de estupro infantil por meio de ONGs (entre as quais se conta a ONG da filha do Príncipe André). E como a maioria da população não é politizada, aquele que quiser abafar todas as suspeitas do público terá o interesse em dar publicidade à história maluca, para descredibilizar todos os céticos. A denúncia plausível cai no esquecimento e aquele que tiver perguntas passa por doido diante das pessoas menos politizadas.

Por tudo isso, era de esperar que o QAnon se tornasse um mero folclore urbano a ocupar as notas de rodapé dos livros de História, mesmo que guardasse um fundo de verdade. Mas parece que essa rede pedófila na cúpula do poder ocidental fez mesmo tanta fumaça, que até os doidos do QAnon conseguiram apontar para o lugar certo da fogueira. Decerto a essa altura estão desiludidos com Trump – seja por causa da demora em soltar os arquivos, seja pelo fato de ele aparecer ali. Isso só prova que nem os teóricos da conspiração mais malucos puderam imaginar o tamanho do problema.

Enquanto eles faziam campanha permanente por Trump, Steve Bannon abraçava Noam Chomsky diante das lentes de Epstein. Se algum doido de chapéu de alumínio lhes dissesse isso, responderiam que aí já é demais.

The views of individual contributors do not necessarily represent those of the Strategic Culture Foundation.

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