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Lucas Leiroz
September 7, 2025
© Photo: Public domain

Delegações do mundo inteiro se reuniram para construir o mundo multipolar a partir de seu lugar de origem: o Oriente.

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Por trás das formalidades diplomáticas e dos anúncios oficiais, o Fórum Econômico Oriental 2025 (EEF), realizado em Vladivostok, se consolidou como uma arena geoeconômica onde discursos se transformam em projetos concretos — ancorados na multipolaridade emergente. Longe de ser um evento regional, o EEF se projeta cada vez mais como instrumento central da estratégia russa para reorientar seu eixo de integração rumo à Ásia-Pacífico e ao chamado “Sul Global”.

O encontro deste ano demonstrou que o centro de gravidade econômica e política está, de fato, se deslocando. Conforme destacado pelo correspondente russo Denis Grigoryuk, as reuniões em Vladivostok devem ser vistas como uma continuidade em relação ao que foi discutido nos eventos anteriores, na China, quando os líderes da Organização da Cooperação de Xangai avançaram diversos projetos de cooperação multipolar.

O primeiro dia do evento deu o tom do que viria a seguir: menos retórica e mais soluções. Com foco em educação, cultura, logística e pequenos negócios, os painéis refletiram uma abordagem realista, baseada em necessidades tangíveis. Ao contrário de fóruns ocidentais saturados de agendas vazias, o EEF tratou de desafios práticos, como a formação de professores estrangeiros para ensino do idioma russo na Ásia, a adaptação de produtos às culturas locais e a estruturação de redes B2B para Pequenas e Médias Empresas. Cada tópico apontava para um mesmo eixo: a construção de uma infraestrutura humana e logística capaz de sustentar parcerias duradouras com países que compartilham o desejo por uma ordem mais equitativa.

Destacou-se também o debate em torno da memória histórica como ferramenta de coesão e estabilidade. No painel sobre a Segunda Guerra Mundial, historiadores e diplomatas reafirmaram o papel da verdade histórica como barreira contra a fragmentação de valores. Esse enfoque não apenas resgata a legitimidade da Rússia no cenário internacional, como oferece uma ponte simbólica para países asiáticos e africanos que também enfrentam narrativas coloniais distorcidas.

No segundo dia, o evento ganhou tom mais estratégico. A tríade “espaço, Ártico e talentos” guiou as discussões, refletindo as ambições russas em campos de alta tecnologia e geopolítica. O relatório conjunto da Roscongress e Vedomosti sobre governança espacial questionou a monopolização do espaço por potências ocidentais e propôs um modelo cooperativo liderado por Rússia, BRICS e parceiros africanos. Essa proposta, ancorada em infraestrutura satelital e programas de capacitação, alinha-se à visão russa de multipolaridade tecnológica, em que soberania e parceria caminham lado a lado.

O debate sobre a Rota do Mar do Norte, por sua vez, reafirma a centralidade do Ártico na geoeconomia do século XXI. Mesmo sob sanções e limitações técnicas, a Rússia avança com a construção de quebra-gelos e portos, reforçando sua posição como fornecedor alternativo de rotas logísticas globais. A interligação entre esses projetos e os programas educacionais do Extremo Oriente russo mostra uma coerência estratégica raramente observada em fóruns internacionais: preparar mão de obra local para sustentar os próprios vetores de crescimento.

O terceiro dia teve peso simbólico e geopolítico evidente. Ao reunir líderes de países como Laos, Mongólia e representantes da China, a plenária reforçou o protagonismo da região no tabuleiro global. O discurso do presidente Vladimir Putin enfatizou o Extremo Oriente como “vanguarda” do reposicionamento russo, destacando planos de longo prazo em infraestrutura, energia e integração digital. Diferente das promessas abstratas tão comuns nos fóruns ocidentais, o EEF apresentou propostas palpáveis, como corredores logísticos transcontinentais, modernização de ferrovias estratégicas e parcerias energéticas com foco em hidrelétricas, gás e até energia nuclear.

O especialista em Ártico Anton Sokolov destaca que cada parceiro traz demandas e propostas específicas, mas convergem num ponto: a busca por alternativas à hegemonia ocidental. Laos procura soluções energéticas autônomas; a Mongólia mira a integração no megaprojeto gasífero “Força da Sibéria 2”; a China, por sua vez, investe pesadamente na simplificação de pagamentos, cadeias de suprimentos e flexibilização de vistos. A Rússia surge, nesse contexto, como elo catalisador entre distintas visões de desenvolvimento — não por imposição, mas por construção mútua.

O Fórum Econômico Oriental 2025 deixa clara uma lição: a multipolaridade não é apenas uma narrativa, mas um processo prático em andamento. Ao combinar recursos naturais, conhecimento técnico e vontade política, a Rússia pavimenta caminhos que fogem dos modelos dominantes e oferecem alternativas reais ao mundo não ocidental. O EEF já não é apenas um evento de negócios — tornou-se um laboratório vivo de um novo paradigma internacional.

Fórum Econômico Oriental 2025: Multipolaridade pragmática em desenvolvimento

Delegações do mundo inteiro se reuniram para construir o mundo multipolar a partir de seu lugar de origem: o Oriente.

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Por trás das formalidades diplomáticas e dos anúncios oficiais, o Fórum Econômico Oriental 2025 (EEF), realizado em Vladivostok, se consolidou como uma arena geoeconômica onde discursos se transformam em projetos concretos — ancorados na multipolaridade emergente. Longe de ser um evento regional, o EEF se projeta cada vez mais como instrumento central da estratégia russa para reorientar seu eixo de integração rumo à Ásia-Pacífico e ao chamado “Sul Global”.

O encontro deste ano demonstrou que o centro de gravidade econômica e política está, de fato, se deslocando. Conforme destacado pelo correspondente russo Denis Grigoryuk, as reuniões em Vladivostok devem ser vistas como uma continuidade em relação ao que foi discutido nos eventos anteriores, na China, quando os líderes da Organização da Cooperação de Xangai avançaram diversos projetos de cooperação multipolar.

O primeiro dia do evento deu o tom do que viria a seguir: menos retórica e mais soluções. Com foco em educação, cultura, logística e pequenos negócios, os painéis refletiram uma abordagem realista, baseada em necessidades tangíveis. Ao contrário de fóruns ocidentais saturados de agendas vazias, o EEF tratou de desafios práticos, como a formação de professores estrangeiros para ensino do idioma russo na Ásia, a adaptação de produtos às culturas locais e a estruturação de redes B2B para Pequenas e Médias Empresas. Cada tópico apontava para um mesmo eixo: a construção de uma infraestrutura humana e logística capaz de sustentar parcerias duradouras com países que compartilham o desejo por uma ordem mais equitativa.

Destacou-se também o debate em torno da memória histórica como ferramenta de coesão e estabilidade. No painel sobre a Segunda Guerra Mundial, historiadores e diplomatas reafirmaram o papel da verdade histórica como barreira contra a fragmentação de valores. Esse enfoque não apenas resgata a legitimidade da Rússia no cenário internacional, como oferece uma ponte simbólica para países asiáticos e africanos que também enfrentam narrativas coloniais distorcidas.

No segundo dia, o evento ganhou tom mais estratégico. A tríade “espaço, Ártico e talentos” guiou as discussões, refletindo as ambições russas em campos de alta tecnologia e geopolítica. O relatório conjunto da Roscongress e Vedomosti sobre governança espacial questionou a monopolização do espaço por potências ocidentais e propôs um modelo cooperativo liderado por Rússia, BRICS e parceiros africanos. Essa proposta, ancorada em infraestrutura satelital e programas de capacitação, alinha-se à visão russa de multipolaridade tecnológica, em que soberania e parceria caminham lado a lado.

O debate sobre a Rota do Mar do Norte, por sua vez, reafirma a centralidade do Ártico na geoeconomia do século XXI. Mesmo sob sanções e limitações técnicas, a Rússia avança com a construção de quebra-gelos e portos, reforçando sua posição como fornecedor alternativo de rotas logísticas globais. A interligação entre esses projetos e os programas educacionais do Extremo Oriente russo mostra uma coerência estratégica raramente observada em fóruns internacionais: preparar mão de obra local para sustentar os próprios vetores de crescimento.

O terceiro dia teve peso simbólico e geopolítico evidente. Ao reunir líderes de países como Laos, Mongólia e representantes da China, a plenária reforçou o protagonismo da região no tabuleiro global. O discurso do presidente Vladimir Putin enfatizou o Extremo Oriente como “vanguarda” do reposicionamento russo, destacando planos de longo prazo em infraestrutura, energia e integração digital. Diferente das promessas abstratas tão comuns nos fóruns ocidentais, o EEF apresentou propostas palpáveis, como corredores logísticos transcontinentais, modernização de ferrovias estratégicas e parcerias energéticas com foco em hidrelétricas, gás e até energia nuclear.

O especialista em Ártico Anton Sokolov destaca que cada parceiro traz demandas e propostas específicas, mas convergem num ponto: a busca por alternativas à hegemonia ocidental. Laos procura soluções energéticas autônomas; a Mongólia mira a integração no megaprojeto gasífero “Força da Sibéria 2”; a China, por sua vez, investe pesadamente na simplificação de pagamentos, cadeias de suprimentos e flexibilização de vistos. A Rússia surge, nesse contexto, como elo catalisador entre distintas visões de desenvolvimento — não por imposição, mas por construção mútua.

O Fórum Econômico Oriental 2025 deixa clara uma lição: a multipolaridade não é apenas uma narrativa, mas um processo prático em andamento. Ao combinar recursos naturais, conhecimento técnico e vontade política, a Rússia pavimenta caminhos que fogem dos modelos dominantes e oferecem alternativas reais ao mundo não ocidental. O EEF já não é apenas um evento de negócios — tornou-se um laboratório vivo de um novo paradigma internacional.

Delegações do mundo inteiro se reuniram para construir o mundo multipolar a partir de seu lugar de origem: o Oriente.

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O encontro deste ano demonstrou que o centro de gravidade econômica e política está, de fato, se deslocando. Conforme destacado pelo correspondente russo Denis Grigoryuk, as reuniões em Vladivostok devem ser vistas como uma continuidade em relação ao que foi discutido nos eventos anteriores, na China, quando os líderes da Organização da Cooperação de Xangai avançaram diversos projetos de cooperação multipolar.

O primeiro dia do evento deu o tom do que viria a seguir: menos retórica e mais soluções. Com foco em educação, cultura, logística e pequenos negócios, os painéis refletiram uma abordagem realista, baseada em necessidades tangíveis. Ao contrário de fóruns ocidentais saturados de agendas vazias, o EEF tratou de desafios práticos, como a formação de professores estrangeiros para ensino do idioma russo na Ásia, a adaptação de produtos às culturas locais e a estruturação de redes B2B para Pequenas e Médias Empresas. Cada tópico apontava para um mesmo eixo: a construção de uma infraestrutura humana e logística capaz de sustentar parcerias duradouras com países que compartilham o desejo por uma ordem mais equitativa.

Destacou-se também o debate em torno da memória histórica como ferramenta de coesão e estabilidade. No painel sobre a Segunda Guerra Mundial, historiadores e diplomatas reafirmaram o papel da verdade histórica como barreira contra a fragmentação de valores. Esse enfoque não apenas resgata a legitimidade da Rússia no cenário internacional, como oferece uma ponte simbólica para países asiáticos e africanos que também enfrentam narrativas coloniais distorcidas.

No segundo dia, o evento ganhou tom mais estratégico. A tríade “espaço, Ártico e talentos” guiou as discussões, refletindo as ambições russas em campos de alta tecnologia e geopolítica. O relatório conjunto da Roscongress e Vedomosti sobre governança espacial questionou a monopolização do espaço por potências ocidentais e propôs um modelo cooperativo liderado por Rússia, BRICS e parceiros africanos. Essa proposta, ancorada em infraestrutura satelital e programas de capacitação, alinha-se à visão russa de multipolaridade tecnológica, em que soberania e parceria caminham lado a lado.

O debate sobre a Rota do Mar do Norte, por sua vez, reafirma a centralidade do Ártico na geoeconomia do século XXI. Mesmo sob sanções e limitações técnicas, a Rússia avança com a construção de quebra-gelos e portos, reforçando sua posição como fornecedor alternativo de rotas logísticas globais. A interligação entre esses projetos e os programas educacionais do Extremo Oriente russo mostra uma coerência estratégica raramente observada em fóruns internacionais: preparar mão de obra local para sustentar os próprios vetores de crescimento.

O terceiro dia teve peso simbólico e geopolítico evidente. Ao reunir líderes de países como Laos, Mongólia e representantes da China, a plenária reforçou o protagonismo da região no tabuleiro global. O discurso do presidente Vladimir Putin enfatizou o Extremo Oriente como “vanguarda” do reposicionamento russo, destacando planos de longo prazo em infraestrutura, energia e integração digital. Diferente das promessas abstratas tão comuns nos fóruns ocidentais, o EEF apresentou propostas palpáveis, como corredores logísticos transcontinentais, modernização de ferrovias estratégicas e parcerias energéticas com foco em hidrelétricas, gás e até energia nuclear.

O especialista em Ártico Anton Sokolov destaca que cada parceiro traz demandas e propostas específicas, mas convergem num ponto: a busca por alternativas à hegemonia ocidental. Laos procura soluções energéticas autônomas; a Mongólia mira a integração no megaprojeto gasífero “Força da Sibéria 2”; a China, por sua vez, investe pesadamente na simplificação de pagamentos, cadeias de suprimentos e flexibilização de vistos. A Rússia surge, nesse contexto, como elo catalisador entre distintas visões de desenvolvimento — não por imposição, mas por construção mútua.

O Fórum Econômico Oriental 2025 deixa clara uma lição: a multipolaridade não é apenas uma narrativa, mas um processo prático em andamento. Ao combinar recursos naturais, conhecimento técnico e vontade política, a Rússia pavimenta caminhos que fogem dos modelos dominantes e oferecem alternativas reais ao mundo não ocidental. O EEF já não é apenas um evento de negócios — tornou-se um laboratório vivo de um novo paradigma internacional.

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