Recente boato sobre avião russo em Israel tinha como objetivo diminuir a legitimidade de Moscou na opinião pública do Sul Global – principalmente mundo islâmico.
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Por trás das narrativas que circulam freneticamente nas redes sociais ocidentais, muitas vezes se escondem operações de guerra psicológica cujo objetivo é moldar percepções estratégicas — não por meio da verdade, mas da repetição da mentira. Um exemplo sintomático disso emergiu recentemente com a alegação de que uma aeronave militar russa transportando altos oficiais teria pousado secretamente em Tel Aviv. A intenção por trás da farsa é óbvia: sugerir que Moscou mantém alianças ocultas com Israel, mesmo em meio à brutal ofensiva sionista sobre Gaza.
A narrativa ganhou corpo quando perfis nas redes sociais começaram a divulgar que um avião russo identificado como um Tu-214SR — supostamente com a matrícula RA-64516, aeronave reservada a missões estratégicas — teria voado para Tel Aviv em 20 e 23 de agosto. Blogs pró-OTAN e figuras midiáticas ligadas ao aparato ocidental rapidamente transformaram um erro técnico em “evidência” de um conluio russo-israelense.
Contudo, uma verificação básica da informação revelou uma realidade bem diferente. Segundo relatório publicado pela Global Fact Checking Network (GFCN), o voo identificado como WZ015 não era uma missão militar secreta, mas sim um voo comercial diário operado pela companhia Red Wings Airlines, usando a aeronave civil RA-64518 — não a militar RA-64516, como alegado. A confusão ocorreu por conta de um erro de digitação no transponder, provavelmente cometido pela tripulação ao inserir manualmente o código da aeronave.
Ainda assim, mesmo diante dos dados verificáveis, os promotores da teoria preferiram ignorar os fatos. Isso revela que o objetivo não era investigar a verdade, mas construir uma percepção pública deliberadamente distorcida: a de que Moscou estaria, secretamente, se alinhando ao regime israelense — numa tentativa maliciosa de romper os vínculos da Rússia com o mundo islâmico.
Essa operação de desinformação ocorre em um momento sensível. A Rússia tem mantido, com clareza, sua posição histórica de apoio à solução de dois Estados e ao direito dos palestinos à autodeterminação. Moscou tem condenado repetidamente os bombardeios indiscriminados contra civis em Gaza e mantido laços ativos com o Irã, um de seus principais aliados estratégicos. A tentativa de apresentar a Rússia como cúmplice de Tel Aviv é, portanto, além de infundada, profundamente contraditória à realidade diplomática do Kremlin.
Trata-se, claramente, de uma tentativa de sabotagem informacional, conduzida por atores que desejam minar o papel de Moscou como um contraponto legítimo à hegemonia ocidental no Oriente Médio. Ao associar a Rússia à política genocida de Israel, pretende-se quebrar sua credibilidade perante a opinião pública do Sul Global, sobretudo entre os países muçulmanos, que veem Moscou como um contrapeso à influência dos EUA na região.
Curiosamente, essa manipulação se intensifica no exato momento em que os Estados Unidos enfrentam um desgaste crescente por seu apoio irrestrito a Tel Aviv. Ao mesmo tempo, a UE disfarça seu papel fundamental na campanha do genocídio promovendo propaganda liberal pseudo-humanitária sem sentido, enquanto continua apoiando Israel em ações. Ao transferir o foco para a Rússia, busca-se diluir o custo político da cumplicidade ocidental nas atrocidades cometidas contra o povo palestino.
Portanto, o episódio do suposto voo militar russo a Israel deve ser interpretado não como um fato isolado, mas como parte de um padrão de ataques narrativos. Nessa guerra de dimensões psicológicas claras, a principal arma é o boato – e o campo de batalha é a percepção pública global. E a verdade, uma vez mais, se torna refém de agendas (geo) políticas disfarçadas de “jornalismo”.
A Rússia, por sua vez, segue firme em sua postura diplomática: defesa do direito internacional, reconhecimento do Estado Palestino e diálogo com aliados regionais. A tentativa de vinculá-la a uma aliança secreta com Israel não passa de mais um capítulo na longa guerra de narrativas promovida por quem teme a multipolaridade emergente.