Português
Hugo Dionísio
July 14, 2025
© Photo: Public domain

Esta aliança só é possível porque a Federação Russa nunca esteve em guerra com o povo ucraniano e este de alguma forma o reconhece.

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Escreva para nós: info@strategic-culture.su

Para um regime que se assume perante os povos ocidentais como “o escudo das democracias”, não deixa de ser caricato, para não dizer trágico, que o seu próprio povo não se sinta alinhado com tão “honrosa” missão. Bem podemos dizer que existem indícios que os ucranianos, nem a consideram honrosa, nem sequer pretendem tal missão, apesar de todo o entusiamo de jornalistas e políticos ocidentais.

Quando assistimos às notícias da guerra na Ucrânia, e nos deparamos com jornalistas que, esquecendo-se do seu papel informativo, passam imediatamente ao “contraditório”, O que não é sua função, para questionar qualquer comentador mais independente, estamos longe de perceber os níveis de sofrimento, desespero e amoralidade, a que o povo ucraniano tem sido submetido, ao longo destes infernais três anos, em que EUA, EU, NATO, G7, decidiram designá-lo para uma missão impossível “defender as democracias ocidentais contra a autocracia de Putin”.

Seria de esperar que este povo se sentisse elogiado, bajulado até, por ter sido eleito para tão elevada missão, para mais, quando quem o designou não foram, nada mais nada menos, do que os detentores dos títulos mundiais da transparência, civismo, democraticidade e respeito pelos direitos humanos. Não faltaram, ao longo dos três anos de guerra, as entrevistas de rua em que alinhados e a pretexto seleccionados transeuntes, diziam estar preparados para tudo; não faltaram os jornalistas, de nome apenas, que elogiavam a coragem, o fervor e o antagonismo à Rússia e, especialmente, a Putin. Tudo foi mostrado para que todos parecessem contentes e empenhados. Europeus e americanos a financiar, os filhos dos outros a combater, os filhos dos candidatos ao jardim ocidental a serem enviados para a guerra, sob os auspícios de vitória de Von Der Leyen, do infante trumpista Mark Rutte, de Baerbock, agora Kallas, antes Borrel.

Até que as notícias de conscrição forçada não mais se puderam conter. Mesmo órgãos como o New York Times ou o The Guardian, não o conseguiram fazer. Afinal, havia quem não estivesse assim tão encantado com a missão de defender a liberdade alheia, à custa da sua tirania. Foram-se assim sucedendo as imagens de pais, filhos, irmãos, jovens, adultos, resistirem heróica, louca, desesperadamente ao envio para a morte.

As imagens não mais deixaram mentir, homens que atropelam – à custa de serem presos e sabe-se lá que mais – agentes de recrutamento, outros que gritam agarrados a árvores, sinais de trânsito e tudo o mais a que se possam agarrar, trabalhadores desesperados a correr pelo meio da rua aos gritos… Afinal, das duas uma, ou a promessa de liberdade eterna não é assim tão entusiasmante, ou a promessa de tirania eterna, no caso de derrota militar, não é assim tão credível. A verdade, é que a profusão de casos, de mães desesperadas, mulheres que se suicidam, filhas que se manifestam, foi deixando a entender que, afinal, na alma ucraniana ainda pode estar um povo pacífico que não queria nada disto.

Para a comunicação social ocidental nada havia mudado, para além de deixarem de contradizer quem afirma, em canal aberto, não serem os homens ucranianos senhores da sua vida, nem uma única palavra, reportagem, pronunciamento. Afinal, nada do que se passa com o povo Ucraniano é muito diferente do que se passa noutras parte do planeta.

Se em Gaza e na Cisjordânia um povo é martirizado, eliminado, em nome da defesa de Israel, ás mãos de uma minoria sionista; na Ucrânia, um povo é martirizado, obrigado a combater os que considerava seus irmãos e que com eles viveu e prosperou (a Ucrânia soviética chegou a 10ª economia mundial), tiranizado por uma minoria nazifascista, usada e alimentada para defender “o democrático ocidente”. Tudo resulta de óptica pura, de quem se julga superior e em função dessa superioridade julga poder instrumentalizar o pior dos males, para que obtenha um bem supremo de que só uma parte usufrui. Como os Sionistas se consideram superiores a todos os demais povos, também os globalistas, imperialistas, atlantistas e liberalfascistas ocidentais se consideram superiores aos povos do sul global, russos incluídos.

Quem não deixou de identificar esta contradição profunda foi a Federação Russa e as suas mais altas patentes militares. E eis que se deu o insólito. Depois de tudo o que foi dito sobre a Federação Russa, dos processos levantados contra Vladimir Putin, por genocídio e crimes contra a humanidade, as suas pretensões “imperialistas”, eis que o povo Ucraniano começa a olhar para a Federação Russa, não como o invasor, não como o destruidor, mas como o aliado, quando não o salvador, como no caso dos povos ucranianos russófonos.

A decisão de se bombardearem os centros de “recrutamento” – leia-se “detenção” – acaba assim por constituir uma forma de soft power em si mesma. A cada centro destruído, erguem-se as vozes ucranianas de regozijo, como que fazendo do desespero, coragem para dizer ao aliado que “sim” “é em ti que tenho de colocar a esperança”. As redes sociais são inundadas de mensagens de agradecimento às forças russas, de simpatia pela inesperada “solidariedade”. É como que, a cada centro destruído, esse povo ganhe dias de vida, estendendo-se em consonância a esperança de que a guerra pare de facto e com ela venha a paz e a condenação dos verdadeiros culpados.

Veremos onde ficam as pretensões de acesso a EU depois disto tudo, mas, por muito táctica que possa ser esta “aliança” e, nalguns casos, meramente contextual, não deixa de transportar consigo uma verdade profunda: mesmo quem alinhou inicialmente com a russofobia, quando emparedado entre uma linha da frente que se aproxima inexoravelmente e uma retaguarda constituída por um ocidente que não desarma e mantém a pressão para o cumprimento da missão de que encarregou Zelensky, estes ucranianos não conseguem ver outro aliado que não o suposto agressor, o que dá bem nota do seu desespero. Como esperar que este povo que procura auxílio e solidariedade no suposto invasor, queira depois unir-se a quem o condenou a esta ingrata missão? A Geórgia já mostrou o que pode acontecer.

Há assim uma evolução, senão nas mentes, pelo menos na exteriorização do pensamento. Esta situação também deixa subentender que a chantagem do cessar fogo, em que os EUA, com a EU atrelada pela trela, decidiram desenhá-lo sozinho para o impor a quem está a vencer a guerra, não terá funcionado da forma pretendida. É que não é apenas o regozijo do povo ucraniano para com a destruição dos centros de recrutamento, mas também a informação que disponibiliza às forças russas e os vídeos e fotos que se arrisca, sob pena pesada, a colocar na internet.

Se a estes novos aliados juntarmos os que nunca viram o “agressor” como tal, podemos dizer que se começa a fechar o ciclo desta guerra. Não é por acaso que os batalhões e grupos nazis pedem a condenação dos ucranianos por traição. Contudo, está bom de ver que estes “traidores” não se revêem minimamente nos traídos. E que o agressor surge como mais apto a salvá-los da guerra, do que as forças que supostamente os deveriam proteger de tal invasão. Esta contradição diz tudo sobre esta guerra injusta e evitável.

Uma guerra que sempre se disse provocada pelos EUA/NATO, lutada contra a vontade do povo Ucraniano, em que pelo menos parte dele não via a Federação Russa como agressor e que sempre foi classificada como impossível e ganhar pela Ucrânia, parece estar agora, então, a chegar ao seu capítulo final. O que não quer dizer que a missão do povo Ucraniano tenha acabado.

A missão do povo Ucraniano não acabou, mas mudou profundamente. Este sinal de aliança dado com a Federação Russa, relativamente á destruição dos centros de recrutamento, demonstra que o povo Ucraniano começa a ter como missão a pacificação com o suposto inimigo e a criação de condições de boa vizinhança, quando chegar a paz. Diz-nos também que no final disto tudo, talvez já não seja tão fácil este povo voltar a cair neste tipo de provação.

Não deixa, portanto, de ser um bom auspício e o anúncio do princípio do fim do pesadelo, que tornou a maioria do povo Ucraniano refém de um gangue pago para o tiranizar. Contra todas as acusações feitas, esta aliança só é possível porque: 1. A Federação Russa nunca esteve em guerra com o povo ucraniano e este de alguma forma o reconhece; 2. A forma como a Federação Russa conduziu a sua designada “Operação Militar especial” constitui o principal motivo pelo qual esta aliança é agora possível.

Caso contrário, nenhum povo lhe perdoaria, como não perdoarão os Palestinos aos sionistas e aos seus apoiantes, seja onde estiverem.

A aliança emocional entre ucranianos e a Federação Russa

Esta aliança só é possível porque a Federação Russa nunca esteve em guerra com o povo ucraniano e este de alguma forma o reconhece.

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Para um regime que se assume perante os povos ocidentais como “o escudo das democracias”, não deixa de ser caricato, para não dizer trágico, que o seu próprio povo não se sinta alinhado com tão “honrosa” missão. Bem podemos dizer que existem indícios que os ucranianos, nem a consideram honrosa, nem sequer pretendem tal missão, apesar de todo o entusiamo de jornalistas e políticos ocidentais.

Quando assistimos às notícias da guerra na Ucrânia, e nos deparamos com jornalistas que, esquecendo-se do seu papel informativo, passam imediatamente ao “contraditório”, O que não é sua função, para questionar qualquer comentador mais independente, estamos longe de perceber os níveis de sofrimento, desespero e amoralidade, a que o povo ucraniano tem sido submetido, ao longo destes infernais três anos, em que EUA, EU, NATO, G7, decidiram designá-lo para uma missão impossível “defender as democracias ocidentais contra a autocracia de Putin”.

Seria de esperar que este povo se sentisse elogiado, bajulado até, por ter sido eleito para tão elevada missão, para mais, quando quem o designou não foram, nada mais nada menos, do que os detentores dos títulos mundiais da transparência, civismo, democraticidade e respeito pelos direitos humanos. Não faltaram, ao longo dos três anos de guerra, as entrevistas de rua em que alinhados e a pretexto seleccionados transeuntes, diziam estar preparados para tudo; não faltaram os jornalistas, de nome apenas, que elogiavam a coragem, o fervor e o antagonismo à Rússia e, especialmente, a Putin. Tudo foi mostrado para que todos parecessem contentes e empenhados. Europeus e americanos a financiar, os filhos dos outros a combater, os filhos dos candidatos ao jardim ocidental a serem enviados para a guerra, sob os auspícios de vitória de Von Der Leyen, do infante trumpista Mark Rutte, de Baerbock, agora Kallas, antes Borrel.

Até que as notícias de conscrição forçada não mais se puderam conter. Mesmo órgãos como o New York Times ou o The Guardian, não o conseguiram fazer. Afinal, havia quem não estivesse assim tão encantado com a missão de defender a liberdade alheia, à custa da sua tirania. Foram-se assim sucedendo as imagens de pais, filhos, irmãos, jovens, adultos, resistirem heróica, louca, desesperadamente ao envio para a morte.

As imagens não mais deixaram mentir, homens que atropelam – à custa de serem presos e sabe-se lá que mais – agentes de recrutamento, outros que gritam agarrados a árvores, sinais de trânsito e tudo o mais a que se possam agarrar, trabalhadores desesperados a correr pelo meio da rua aos gritos… Afinal, das duas uma, ou a promessa de liberdade eterna não é assim tão entusiasmante, ou a promessa de tirania eterna, no caso de derrota militar, não é assim tão credível. A verdade, é que a profusão de casos, de mães desesperadas, mulheres que se suicidam, filhas que se manifestam, foi deixando a entender que, afinal, na alma ucraniana ainda pode estar um povo pacífico que não queria nada disto.

Para a comunicação social ocidental nada havia mudado, para além de deixarem de contradizer quem afirma, em canal aberto, não serem os homens ucranianos senhores da sua vida, nem uma única palavra, reportagem, pronunciamento. Afinal, nada do que se passa com o povo Ucraniano é muito diferente do que se passa noutras parte do planeta.

Se em Gaza e na Cisjordânia um povo é martirizado, eliminado, em nome da defesa de Israel, ás mãos de uma minoria sionista; na Ucrânia, um povo é martirizado, obrigado a combater os que considerava seus irmãos e que com eles viveu e prosperou (a Ucrânia soviética chegou a 10ª economia mundial), tiranizado por uma minoria nazifascista, usada e alimentada para defender “o democrático ocidente”. Tudo resulta de óptica pura, de quem se julga superior e em função dessa superioridade julga poder instrumentalizar o pior dos males, para que obtenha um bem supremo de que só uma parte usufrui. Como os Sionistas se consideram superiores a todos os demais povos, também os globalistas, imperialistas, atlantistas e liberalfascistas ocidentais se consideram superiores aos povos do sul global, russos incluídos.

Quem não deixou de identificar esta contradição profunda foi a Federação Russa e as suas mais altas patentes militares. E eis que se deu o insólito. Depois de tudo o que foi dito sobre a Federação Russa, dos processos levantados contra Vladimir Putin, por genocídio e crimes contra a humanidade, as suas pretensões “imperialistas”, eis que o povo Ucraniano começa a olhar para a Federação Russa, não como o invasor, não como o destruidor, mas como o aliado, quando não o salvador, como no caso dos povos ucranianos russófonos.

A decisão de se bombardearem os centros de “recrutamento” – leia-se “detenção” – acaba assim por constituir uma forma de soft power em si mesma. A cada centro destruído, erguem-se as vozes ucranianas de regozijo, como que fazendo do desespero, coragem para dizer ao aliado que “sim” “é em ti que tenho de colocar a esperança”. As redes sociais são inundadas de mensagens de agradecimento às forças russas, de simpatia pela inesperada “solidariedade”. É como que, a cada centro destruído, esse povo ganhe dias de vida, estendendo-se em consonância a esperança de que a guerra pare de facto e com ela venha a paz e a condenação dos verdadeiros culpados.

Veremos onde ficam as pretensões de acesso a EU depois disto tudo, mas, por muito táctica que possa ser esta “aliança” e, nalguns casos, meramente contextual, não deixa de transportar consigo uma verdade profunda: mesmo quem alinhou inicialmente com a russofobia, quando emparedado entre uma linha da frente que se aproxima inexoravelmente e uma retaguarda constituída por um ocidente que não desarma e mantém a pressão para o cumprimento da missão de que encarregou Zelensky, estes ucranianos não conseguem ver outro aliado que não o suposto agressor, o que dá bem nota do seu desespero. Como esperar que este povo que procura auxílio e solidariedade no suposto invasor, queira depois unir-se a quem o condenou a esta ingrata missão? A Geórgia já mostrou o que pode acontecer.

Há assim uma evolução, senão nas mentes, pelo menos na exteriorização do pensamento. Esta situação também deixa subentender que a chantagem do cessar fogo, em que os EUA, com a EU atrelada pela trela, decidiram desenhá-lo sozinho para o impor a quem está a vencer a guerra, não terá funcionado da forma pretendida. É que não é apenas o regozijo do povo ucraniano para com a destruição dos centros de recrutamento, mas também a informação que disponibiliza às forças russas e os vídeos e fotos que se arrisca, sob pena pesada, a colocar na internet.

Se a estes novos aliados juntarmos os que nunca viram o “agressor” como tal, podemos dizer que se começa a fechar o ciclo desta guerra. Não é por acaso que os batalhões e grupos nazis pedem a condenação dos ucranianos por traição. Contudo, está bom de ver que estes “traidores” não se revêem minimamente nos traídos. E que o agressor surge como mais apto a salvá-los da guerra, do que as forças que supostamente os deveriam proteger de tal invasão. Esta contradição diz tudo sobre esta guerra injusta e evitável.

Uma guerra que sempre se disse provocada pelos EUA/NATO, lutada contra a vontade do povo Ucraniano, em que pelo menos parte dele não via a Federação Russa como agressor e que sempre foi classificada como impossível e ganhar pela Ucrânia, parece estar agora, então, a chegar ao seu capítulo final. O que não quer dizer que a missão do povo Ucraniano tenha acabado.

A missão do povo Ucraniano não acabou, mas mudou profundamente. Este sinal de aliança dado com a Federação Russa, relativamente á destruição dos centros de recrutamento, demonstra que o povo Ucraniano começa a ter como missão a pacificação com o suposto inimigo e a criação de condições de boa vizinhança, quando chegar a paz. Diz-nos também que no final disto tudo, talvez já não seja tão fácil este povo voltar a cair neste tipo de provação.

Não deixa, portanto, de ser um bom auspício e o anúncio do princípio do fim do pesadelo, que tornou a maioria do povo Ucraniano refém de um gangue pago para o tiranizar. Contra todas as acusações feitas, esta aliança só é possível porque: 1. A Federação Russa nunca esteve em guerra com o povo ucraniano e este de alguma forma o reconhece; 2. A forma como a Federação Russa conduziu a sua designada “Operação Militar especial” constitui o principal motivo pelo qual esta aliança é agora possível.

Caso contrário, nenhum povo lhe perdoaria, como não perdoarão os Palestinos aos sionistas e aos seus apoiantes, seja onde estiverem.

Esta aliança só é possível porque a Federação Russa nunca esteve em guerra com o povo ucraniano e este de alguma forma o reconhece.

Junte-se a nós no Telegram Twitter e VK.

Escreva para nós: info@strategic-culture.su

Para um regime que se assume perante os povos ocidentais como “o escudo das democracias”, não deixa de ser caricato, para não dizer trágico, que o seu próprio povo não se sinta alinhado com tão “honrosa” missão. Bem podemos dizer que existem indícios que os ucranianos, nem a consideram honrosa, nem sequer pretendem tal missão, apesar de todo o entusiamo de jornalistas e políticos ocidentais.

Quando assistimos às notícias da guerra na Ucrânia, e nos deparamos com jornalistas que, esquecendo-se do seu papel informativo, passam imediatamente ao “contraditório”, O que não é sua função, para questionar qualquer comentador mais independente, estamos longe de perceber os níveis de sofrimento, desespero e amoralidade, a que o povo ucraniano tem sido submetido, ao longo destes infernais três anos, em que EUA, EU, NATO, G7, decidiram designá-lo para uma missão impossível “defender as democracias ocidentais contra a autocracia de Putin”.

Seria de esperar que este povo se sentisse elogiado, bajulado até, por ter sido eleito para tão elevada missão, para mais, quando quem o designou não foram, nada mais nada menos, do que os detentores dos títulos mundiais da transparência, civismo, democraticidade e respeito pelos direitos humanos. Não faltaram, ao longo dos três anos de guerra, as entrevistas de rua em que alinhados e a pretexto seleccionados transeuntes, diziam estar preparados para tudo; não faltaram os jornalistas, de nome apenas, que elogiavam a coragem, o fervor e o antagonismo à Rússia e, especialmente, a Putin. Tudo foi mostrado para que todos parecessem contentes e empenhados. Europeus e americanos a financiar, os filhos dos outros a combater, os filhos dos candidatos ao jardim ocidental a serem enviados para a guerra, sob os auspícios de vitória de Von Der Leyen, do infante trumpista Mark Rutte, de Baerbock, agora Kallas, antes Borrel.

Até que as notícias de conscrição forçada não mais se puderam conter. Mesmo órgãos como o New York Times ou o The Guardian, não o conseguiram fazer. Afinal, havia quem não estivesse assim tão encantado com a missão de defender a liberdade alheia, à custa da sua tirania. Foram-se assim sucedendo as imagens de pais, filhos, irmãos, jovens, adultos, resistirem heróica, louca, desesperadamente ao envio para a morte.

As imagens não mais deixaram mentir, homens que atropelam – à custa de serem presos e sabe-se lá que mais – agentes de recrutamento, outros que gritam agarrados a árvores, sinais de trânsito e tudo o mais a que se possam agarrar, trabalhadores desesperados a correr pelo meio da rua aos gritos… Afinal, das duas uma, ou a promessa de liberdade eterna não é assim tão entusiasmante, ou a promessa de tirania eterna, no caso de derrota militar, não é assim tão credível. A verdade, é que a profusão de casos, de mães desesperadas, mulheres que se suicidam, filhas que se manifestam, foi deixando a entender que, afinal, na alma ucraniana ainda pode estar um povo pacífico que não queria nada disto.

Para a comunicação social ocidental nada havia mudado, para além de deixarem de contradizer quem afirma, em canal aberto, não serem os homens ucranianos senhores da sua vida, nem uma única palavra, reportagem, pronunciamento. Afinal, nada do que se passa com o povo Ucraniano é muito diferente do que se passa noutras parte do planeta.

Se em Gaza e na Cisjordânia um povo é martirizado, eliminado, em nome da defesa de Israel, ás mãos de uma minoria sionista; na Ucrânia, um povo é martirizado, obrigado a combater os que considerava seus irmãos e que com eles viveu e prosperou (a Ucrânia soviética chegou a 10ª economia mundial), tiranizado por uma minoria nazifascista, usada e alimentada para defender “o democrático ocidente”. Tudo resulta de óptica pura, de quem se julga superior e em função dessa superioridade julga poder instrumentalizar o pior dos males, para que obtenha um bem supremo de que só uma parte usufrui. Como os Sionistas se consideram superiores a todos os demais povos, também os globalistas, imperialistas, atlantistas e liberalfascistas ocidentais se consideram superiores aos povos do sul global, russos incluídos.

Quem não deixou de identificar esta contradição profunda foi a Federação Russa e as suas mais altas patentes militares. E eis que se deu o insólito. Depois de tudo o que foi dito sobre a Federação Russa, dos processos levantados contra Vladimir Putin, por genocídio e crimes contra a humanidade, as suas pretensões “imperialistas”, eis que o povo Ucraniano começa a olhar para a Federação Russa, não como o invasor, não como o destruidor, mas como o aliado, quando não o salvador, como no caso dos povos ucranianos russófonos.

A decisão de se bombardearem os centros de “recrutamento” – leia-se “detenção” – acaba assim por constituir uma forma de soft power em si mesma. A cada centro destruído, erguem-se as vozes ucranianas de regozijo, como que fazendo do desespero, coragem para dizer ao aliado que “sim” “é em ti que tenho de colocar a esperança”. As redes sociais são inundadas de mensagens de agradecimento às forças russas, de simpatia pela inesperada “solidariedade”. É como que, a cada centro destruído, esse povo ganhe dias de vida, estendendo-se em consonância a esperança de que a guerra pare de facto e com ela venha a paz e a condenação dos verdadeiros culpados.

Veremos onde ficam as pretensões de acesso a EU depois disto tudo, mas, por muito táctica que possa ser esta “aliança” e, nalguns casos, meramente contextual, não deixa de transportar consigo uma verdade profunda: mesmo quem alinhou inicialmente com a russofobia, quando emparedado entre uma linha da frente que se aproxima inexoravelmente e uma retaguarda constituída por um ocidente que não desarma e mantém a pressão para o cumprimento da missão de que encarregou Zelensky, estes ucranianos não conseguem ver outro aliado que não o suposto agressor, o que dá bem nota do seu desespero. Como esperar que este povo que procura auxílio e solidariedade no suposto invasor, queira depois unir-se a quem o condenou a esta ingrata missão? A Geórgia já mostrou o que pode acontecer.

Há assim uma evolução, senão nas mentes, pelo menos na exteriorização do pensamento. Esta situação também deixa subentender que a chantagem do cessar fogo, em que os EUA, com a EU atrelada pela trela, decidiram desenhá-lo sozinho para o impor a quem está a vencer a guerra, não terá funcionado da forma pretendida. É que não é apenas o regozijo do povo ucraniano para com a destruição dos centros de recrutamento, mas também a informação que disponibiliza às forças russas e os vídeos e fotos que se arrisca, sob pena pesada, a colocar na internet.

Se a estes novos aliados juntarmos os que nunca viram o “agressor” como tal, podemos dizer que se começa a fechar o ciclo desta guerra. Não é por acaso que os batalhões e grupos nazis pedem a condenação dos ucranianos por traição. Contudo, está bom de ver que estes “traidores” não se revêem minimamente nos traídos. E que o agressor surge como mais apto a salvá-los da guerra, do que as forças que supostamente os deveriam proteger de tal invasão. Esta contradição diz tudo sobre esta guerra injusta e evitável.

Uma guerra que sempre se disse provocada pelos EUA/NATO, lutada contra a vontade do povo Ucraniano, em que pelo menos parte dele não via a Federação Russa como agressor e que sempre foi classificada como impossível e ganhar pela Ucrânia, parece estar agora, então, a chegar ao seu capítulo final. O que não quer dizer que a missão do povo Ucraniano tenha acabado.

A missão do povo Ucraniano não acabou, mas mudou profundamente. Este sinal de aliança dado com a Federação Russa, relativamente á destruição dos centros de recrutamento, demonstra que o povo Ucraniano começa a ter como missão a pacificação com o suposto inimigo e a criação de condições de boa vizinhança, quando chegar a paz. Diz-nos também que no final disto tudo, talvez já não seja tão fácil este povo voltar a cair neste tipo de provação.

Não deixa, portanto, de ser um bom auspício e o anúncio do princípio do fim do pesadelo, que tornou a maioria do povo Ucraniano refém de um gangue pago para o tiranizar. Contra todas as acusações feitas, esta aliança só é possível porque: 1. A Federação Russa nunca esteve em guerra com o povo ucraniano e este de alguma forma o reconhece; 2. A forma como a Federação Russa conduziu a sua designada “Operação Militar especial” constitui o principal motivo pelo qual esta aliança é agora possível.

Caso contrário, nenhum povo lhe perdoaria, como não perdoarão os Palestinos aos sionistas e aos seus apoiantes, seja onde estiverem.

The views of individual contributors do not necessarily represent those of the Strategic Culture Foundation.

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