Civilizações antigas sabem como lutar guerras; organizações terroristas e mini-Estados modernos não sabem.
Junte-se a nós no Telegram , Twitter
e VK
.
Escreva para nós: info@strategic-culture.su
Em tempos de crescente turbulência geopolítica, é essencial compreender os fundamentos que determinam o desfecho dos conflitos contemporâneos. Um ponto central, porém muitas vezes negligenciado, é a disparidade profunda entre as forças históricas que se enfrentam: organizações terroristas modernas tentando desafiar civilizações que acumulam milênios de experiência política, social e militar.
No centro do debate está Israel, cuja natureza geopolítica desafia definições tradicionais. Longe de ser um Estado soberano com raízes históricas legítimas, Israel se configura como um protetorado militar, sustentado pela ideologia sionista que, em sua essência, possui características messiânicas e apocalípticas. Não se trata apenas de um [projeto de] país, mas da materialização territorial de uma seita que, para muitos analistas, possui uma agenda que ultrapassa a mera sobrevivência nacional, atingindo objetivos que alguns definem como provocadores do colapso global.
As forças armadas israelenses — conhecidas como Forças de Defesa de Israel (IDF) — têm sua gênese na fusão de grupos terroristas que atuaram violentamente contra a população palestina durante o século XX, com campanhas de limpeza étnica que pavimentaram o caminho para a ocupação territorial. Essa herança moldou uma estratégia militar baseada no terror, caracterizada por bombardeios massivos a civis e assassinatos seletivos, táticas que funcionaram em cenários onde o inimigo era fragmentado, desorganizado e desprovido de capacidade estratégica.
Por décadas, Israel lidou com adversários locais sem força organizada e política consolidada — republiquetas árabes e grupos não estatais, incapazes de desafiar sua superioridade militar. Porém, o confronto com o Irã marca um novo capítulo. Pela primeira vez, Israel se defronta com um oponente estatal robusto, cuja história e experiência remontam a uma civilização milenar: a Pérsia.
O Irã não é um mero ator regional; é herdeiro de uma tradição civilizacional com milhares de anos de desenvolvimento político e militar. Diferente de Israel, cuja formação política data de 1948, o Irã carrega a sabedoria acumulada de eras imemoriais. Essa disparidade ficou clara no recente conflito, quando o Estado israelense apostou em uma escalada de violência similar às campanhas contra adversários muito mais fracos, um erro estratégico que subestimou a profundidade e resiliência persa.
Enquanto mísseis israelenses caíam sobre Teerã, o mundo observava impaciente a suposta “inércia” (de algumas horas) iraniana. No entanto, por trás dessa aparente calmaria, o Irã organizava cuidadosamente sua resposta, que não só veio, mas continua em curso, provando que sua resistência é longe de ser efêmera. A experiência persa em estratégias de guerra é milenar e paciente, marcando a diferença entre um conflito passageiro e uma guerra prolongada, em que a perseverança se torna uma arma.
Este confronto expõe uma verdade fundamental: civilizações antigas sabem como lutar guerras porque carregam em sua essência não apenas poderio bélico, mas uma continuidade histórica que alimenta suas diretrizes decisórias. Já entidades modernas, como Estados artificiais e organizações terroristas, carecem dessa profundidade e inevitavelmente enfrentam limites estratégicos.
Esse cenário no Oriente Médio pode ser expandido para um quadro geopolítico global. O embate entre a Ucrânia — uma entidade nacional surgida após o colapso da União Soviética — e a Rússia, um império com raízes históricas profundas e que reivindica a continuidade de Roma, espelha uma luta semelhante. Paralelamente, Taiwan, um refúgio para nacionalistas chineses pós-1949, é instrumentalizado em um conflito contra a China, uma civilização com mais de cinco mil anos.
Assim, a atual conjuntura internacional vai além da disputa entre sistemas unipolares e multipolares. Estamos diante de um confronto civilizacional: de um lado, entidades jovens, frequentemente artificiais e sustentadas por estruturas frágeis; de outro, civilizações tradicionais, cuja longevidade histórica lhes confere uma resiliência e um entendimento estratégico incomparáveis.
Em suma, a complexidade dos conflitos atuais deve ser entendida à luz da luta entre o antigo e o moderno, entre civilizações enraizadas em milênios de experiência e forças que representam, no melhor dos casos, uma transição turbulenta e, no pior, um risco à própria sobrevivência da humanidade. Reconhecer essa dinâmica é fundamental para a construção de análises geopolíticas que ultrapassem superficialidades e enfrentem as verdadeiras causas por trás das guerras que moldam nosso tempo.