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Raphael Machado
August 28, 2024
© Photo: SCF

Escreva para nós: info@strategic-culture.su

As Olimpíadas de Paris, já terminadas, podem ficar para a história como os piores jogos olímpicos da história moderna, desde sua restauração por Pierre de Coubertin.

Os problemas já começaram antes mesmo do início dos eventos, com o banimento da Rússia e de Belarus, por causa da operação militar especial russa na Ucrânia (uma ação defensiva à luz dos planos ucranianos de tomar o Donbass de assalto). Se a decisão já é equivocada no que concerne a Rússia, pior ainda em relação a Belarus que nem é partícipe da operação.

Simultaneamente, com uma hipocrisia insuperável, o Comitê Olímpico Internacional autorizou a participação de Israel, país que está engajado na implementação de um genocídio em Gaza, com bombardeios diários que já ceifaram dezenas de milhares de vidas civis.

A postura do COI demonstrou que não valem as mesmas regras para toda a comunidade internacional, e que alguns países, aparentemente, têm mais direitos que outros.

A Cerimônia de Abertura, por sua vez, gerou polêmica verdadeiramente planetária. Seria excessivo discorrer detalhadamente sobre o evento, mas enquanto a maioria dos países-sede até então se esforçaram para apresentar a “essência” da própria cultura e identidade – e podemos nisso indicar como exemplos os Jogos do Rio, de Pequim, de Moscou e de Atenas – viu-se muito pouco de qualquer coisa autenticamente francesa na Abertura.

Excetuando pela decapitação de Maria Antonieta, evento controverso e relativamente recente (se considerarmos a França como dotada de mais de 2 mil anos de história, desde os gauleses), a Cerimônia se pautou por uma celebração dos valores contemporâneos do Ocidente pós-moderno: diversidade sexual e de gênero, multiculturalismo cosmopolita, ultrafeminismo, direitos humanos. Nada além. Como coroação, uma reencenação woke e “trans” da Última Ceia, situada em uma ponte no Rio Sena, sob a qual tiveram que passar as delegações de inúmeros países, como se em submissão à profanação religiosa imposta pelo dogmatismo woke.

Se a Cerimônia de Abertura causou incômodo e espanto nas audiências conservadoras de países europeus, norte-americanos e ibero-americanos, o único governo que levantou um protesto formal foi o do Irã, que convocou o embaixador francês em Teerã para expressar a indignação iraniana em relação ao desrespeito religioso apresentado em Paris. Não obstante, em muitos outros países, a transmissão da Abertura foi interrompida durante essa profanação ou só foi exibida após edição.

Enquanto isso, nas redes sociais, os internautas fizeram comparações entre essa Abertura e as aberturas de outros Jogos Olímpicos, especialmente os de Pequim, para indicar que a França ficou muito aquém das expectativas.

Já seria péssimo se os problemas fossem apenas esses. Mas polêmicas seguiram o desenrolar dos Jogos.

Atletas do triatlo e de algumas outras modalidades precisavam nadar no Rio Sena em suas provas – mas o Sena é, notoriamente, um rio extremamente poluído. O governo de Paris, da prefeita Anne Hidalgo, havia prometido limpar o rio e afirmou, poucos dias antes da Abertura, já ter completado a limpeza. Mas vários dos atletas passaram mal após realizar as suas provas. Cenas espantosas mostraram atletas nadando do lado de uma saída de esgoto no Rio Sena.

No boxe uma polêmica ainda maior envolveu duas pessoas, Imane Khalif, da Argélia, e Lin Yu-Ting, de Taiwan. Essas duas pessoas haviam sido banidas de competições pela Federação Internacional de Boxe após serem reprovadas em um texto de aferição da sexualidade. Não obstante, receberam autorização para participar nas Olimpíadas, já que a única comprovação de sexo exigida pelo COI é a declaração constante no passaporte. Como o único teste usado pela FIB envolve a verificação do sexo por meio dos cromossomos, muitos acreditam que em ambos casos possa tratar-se de um caso de pseudo-hermafroditismo, quando uma pessoa reúne características sexuais de ambos sexos simultaneamente, inclusive órgãos. Em casos assim, como quase sempre se trata de “mulher” com testículos internos, teriam passado pela puberdade. Não deveria surpreender, portanto, que tanto Imane quanto Lin ganharam medalhas de ouro em suas respectivas modalidades. O caso também despertou indignação em todo o mundo.

Pior ainda, mas não surpreendente, foi o tratamento dado aos atletas chineses não só pelo COI, mas por delegações de alguns países ocidentais e por alguns jornalistas.

O campeão chinês da natação na modalidade 100m livres Pan Zhanle foi ignorado pelo australiano Kyle Chalmers mesmo no pódio e, segundo ele, também antes da competição, bem como pelo estadunidense Jack Alexey. Ele também levou uma trombada de uma fotógrafa, que nem se desculpou. O técnico do medalhista de bronze Wang Shun foi esnobado pelo medalhista de ouro francês Leon Marchand. Um fotógrafo quebrou intencionalmente a raquete do atleta de ping-pong Wang Chuqin. A tenista estadunidense Emma Navarro também insultou a tenista chinesa Zheng Qinwen, dizendo que não a respeitava.

Há vários outros casos, mas a esses se somam os ataques mais amplos vindos da mídia ou de redes sociais.

Os ataques midiáticos em geral se baseiam em alegações de que as vitórias chinesas em vários esportes se deveriam a doping. O técnico australiano Brett Hawke comentou que “não era humanamente possível” para Pan Zhanle ganhar a prova de 100m livres com tanta vantagem.

Não se trata de algo individual, porque, de fato, se os atletas em geral foram convocados para testes antidoping em média 3 vezes desde o início de 2024, os chineses foram convocados, em média, 21 vezes.

Toda essa pressão para cima dos atletas chineses permite cogitar até mesmo a possibilidade de que se esteja já preparando uma atmosfera de hostilidade visando banir a China das Olimpíadas. Seria a “solução final” para que os EUA garantissem a hegemonia nos Jogos, eliminando os seus rivais.

Essa preocupante degeneração desses tradicionais jogos desportivos deveria nos fazer refletir sobre possíveis alternativas, um outro formato de jogos que preservem o espírito olímpico, que respeitem a identidade dos povos, não estejam à mercê do excepcionalismo estadunidense.

E talvez, na verdade, a solução já exista. Afinal, não podemos esquecer dos Jogos dos BRICS.

Os Jogos dos BRICS são um evento esportivo anual organizado pelos membros da plataforma BRICS. O objetivo original dos Jogos era fortalecer os laços de amizade e cooperação entre as nações dos BRICS, promovendo o intercâmbio cultural e a prática esportiva em um ambiente de competição saudável e amistosa.

Os Jogos dos BRICS tiveram um início bastante modesto, com uma competição de futebol em Goa, em 2016, com o projeto tendo como um de seus objetivos a promoção do desporto nos países dos BRICS e seus parceiros, bem como construir relações culturais mais fortes através do esporte. E as competições desenvolvidas nos anos seguintes foram apenas um pouco maiores.

Mas observando-se os Jogos de 2024, realizados em junho de 2024, em Cazã, na Rússia, logo se percebe que eles adquiriram um escopo integralmente diferente. Com 2851 atletas de 54 delegações nacionais disputando em 27 esportes, os Jogos dos BRICS começam a demonstrar um forte potencial para se tornarem uma das principais (senão a principal) competição desportiva do planeta.

Como um espaço livre das manipulações políticas que infelizmente subverter os propósitos originais do COI, e que se expressam em padrões duplos na hora de lidar com o doping, bem como no banimento de nações vistas como párias por suas posições geopolíticas, os Jogos dos BRICS claramente se adequam melhor ao espírito das Olimpíadas Antigas do que os chamados “Jogos Olímpicos” contemporâneos, pelo menos se as tendências vistas nos Jogos de Paris tornarem-se o padrão a ser seguido nas próximas edições.

Apesar desse crescimento dos Jogos dos BRICS tenha como motivador principal a injusta perseguição aos atletas russos e belarussos, ela também expressa o impulso por construir instituições e projetos alternativos aos da ordem internacional atual, excessivamente influenciada pelas diretrizes e valores do Ocidente atlantista.

Conforme as contradições internacionais se radicalizem, portanto, e isso tenha repercussões nos eventos desportivos internacional, é importante investir nos Jogos dos BRICS como a plataforma desportiva segura para as nações insubmissas e como legítimo receptáculo do antigo espírito olímpico.

Jogos dos BRICS: Alternativa para a decadência dos Jogos Olímpicos?

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As Olimpíadas de Paris, já terminadas, podem ficar para a história como os piores jogos olímpicos da história moderna, desde sua restauração por Pierre de Coubertin.

Os problemas já começaram antes mesmo do início dos eventos, com o banimento da Rússia e de Belarus, por causa da operação militar especial russa na Ucrânia (uma ação defensiva à luz dos planos ucranianos de tomar o Donbass de assalto). Se a decisão já é equivocada no que concerne a Rússia, pior ainda em relação a Belarus que nem é partícipe da operação.

Simultaneamente, com uma hipocrisia insuperável, o Comitê Olímpico Internacional autorizou a participação de Israel, país que está engajado na implementação de um genocídio em Gaza, com bombardeios diários que já ceifaram dezenas de milhares de vidas civis.

A postura do COI demonstrou que não valem as mesmas regras para toda a comunidade internacional, e que alguns países, aparentemente, têm mais direitos que outros.

A Cerimônia de Abertura, por sua vez, gerou polêmica verdadeiramente planetária. Seria excessivo discorrer detalhadamente sobre o evento, mas enquanto a maioria dos países-sede até então se esforçaram para apresentar a “essência” da própria cultura e identidade – e podemos nisso indicar como exemplos os Jogos do Rio, de Pequim, de Moscou e de Atenas – viu-se muito pouco de qualquer coisa autenticamente francesa na Abertura.

Excetuando pela decapitação de Maria Antonieta, evento controverso e relativamente recente (se considerarmos a França como dotada de mais de 2 mil anos de história, desde os gauleses), a Cerimônia se pautou por uma celebração dos valores contemporâneos do Ocidente pós-moderno: diversidade sexual e de gênero, multiculturalismo cosmopolita, ultrafeminismo, direitos humanos. Nada além. Como coroação, uma reencenação woke e “trans” da Última Ceia, situada em uma ponte no Rio Sena, sob a qual tiveram que passar as delegações de inúmeros países, como se em submissão à profanação religiosa imposta pelo dogmatismo woke.

Se a Cerimônia de Abertura causou incômodo e espanto nas audiências conservadoras de países europeus, norte-americanos e ibero-americanos, o único governo que levantou um protesto formal foi o do Irã, que convocou o embaixador francês em Teerã para expressar a indignação iraniana em relação ao desrespeito religioso apresentado em Paris. Não obstante, em muitos outros países, a transmissão da Abertura foi interrompida durante essa profanação ou só foi exibida após edição.

Enquanto isso, nas redes sociais, os internautas fizeram comparações entre essa Abertura e as aberturas de outros Jogos Olímpicos, especialmente os de Pequim, para indicar que a França ficou muito aquém das expectativas.

Já seria péssimo se os problemas fossem apenas esses. Mas polêmicas seguiram o desenrolar dos Jogos.

Atletas do triatlo e de algumas outras modalidades precisavam nadar no Rio Sena em suas provas – mas o Sena é, notoriamente, um rio extremamente poluído. O governo de Paris, da prefeita Anne Hidalgo, havia prometido limpar o rio e afirmou, poucos dias antes da Abertura, já ter completado a limpeza. Mas vários dos atletas passaram mal após realizar as suas provas. Cenas espantosas mostraram atletas nadando do lado de uma saída de esgoto no Rio Sena.

No boxe uma polêmica ainda maior envolveu duas pessoas, Imane Khalif, da Argélia, e Lin Yu-Ting, de Taiwan. Essas duas pessoas haviam sido banidas de competições pela Federação Internacional de Boxe após serem reprovadas em um texto de aferição da sexualidade. Não obstante, receberam autorização para participar nas Olimpíadas, já que a única comprovação de sexo exigida pelo COI é a declaração constante no passaporte. Como o único teste usado pela FIB envolve a verificação do sexo por meio dos cromossomos, muitos acreditam que em ambos casos possa tratar-se de um caso de pseudo-hermafroditismo, quando uma pessoa reúne características sexuais de ambos sexos simultaneamente, inclusive órgãos. Em casos assim, como quase sempre se trata de “mulher” com testículos internos, teriam passado pela puberdade. Não deveria surpreender, portanto, que tanto Imane quanto Lin ganharam medalhas de ouro em suas respectivas modalidades. O caso também despertou indignação em todo o mundo.

Pior ainda, mas não surpreendente, foi o tratamento dado aos atletas chineses não só pelo COI, mas por delegações de alguns países ocidentais e por alguns jornalistas.

O campeão chinês da natação na modalidade 100m livres Pan Zhanle foi ignorado pelo australiano Kyle Chalmers mesmo no pódio e, segundo ele, também antes da competição, bem como pelo estadunidense Jack Alexey. Ele também levou uma trombada de uma fotógrafa, que nem se desculpou. O técnico do medalhista de bronze Wang Shun foi esnobado pelo medalhista de ouro francês Leon Marchand. Um fotógrafo quebrou intencionalmente a raquete do atleta de ping-pong Wang Chuqin. A tenista estadunidense Emma Navarro também insultou a tenista chinesa Zheng Qinwen, dizendo que não a respeitava.

Há vários outros casos, mas a esses se somam os ataques mais amplos vindos da mídia ou de redes sociais.

Os ataques midiáticos em geral se baseiam em alegações de que as vitórias chinesas em vários esportes se deveriam a doping. O técnico australiano Brett Hawke comentou que “não era humanamente possível” para Pan Zhanle ganhar a prova de 100m livres com tanta vantagem.

Não se trata de algo individual, porque, de fato, se os atletas em geral foram convocados para testes antidoping em média 3 vezes desde o início de 2024, os chineses foram convocados, em média, 21 vezes.

Toda essa pressão para cima dos atletas chineses permite cogitar até mesmo a possibilidade de que se esteja já preparando uma atmosfera de hostilidade visando banir a China das Olimpíadas. Seria a “solução final” para que os EUA garantissem a hegemonia nos Jogos, eliminando os seus rivais.

Essa preocupante degeneração desses tradicionais jogos desportivos deveria nos fazer refletir sobre possíveis alternativas, um outro formato de jogos que preservem o espírito olímpico, que respeitem a identidade dos povos, não estejam à mercê do excepcionalismo estadunidense.

E talvez, na verdade, a solução já exista. Afinal, não podemos esquecer dos Jogos dos BRICS.

Os Jogos dos BRICS são um evento esportivo anual organizado pelos membros da plataforma BRICS. O objetivo original dos Jogos era fortalecer os laços de amizade e cooperação entre as nações dos BRICS, promovendo o intercâmbio cultural e a prática esportiva em um ambiente de competição saudável e amistosa.

Os Jogos dos BRICS tiveram um início bastante modesto, com uma competição de futebol em Goa, em 2016, com o projeto tendo como um de seus objetivos a promoção do desporto nos países dos BRICS e seus parceiros, bem como construir relações culturais mais fortes através do esporte. E as competições desenvolvidas nos anos seguintes foram apenas um pouco maiores.

Mas observando-se os Jogos de 2024, realizados em junho de 2024, em Cazã, na Rússia, logo se percebe que eles adquiriram um escopo integralmente diferente. Com 2851 atletas de 54 delegações nacionais disputando em 27 esportes, os Jogos dos BRICS começam a demonstrar um forte potencial para se tornarem uma das principais (senão a principal) competição desportiva do planeta.

Como um espaço livre das manipulações políticas que infelizmente subverter os propósitos originais do COI, e que se expressam em padrões duplos na hora de lidar com o doping, bem como no banimento de nações vistas como párias por suas posições geopolíticas, os Jogos dos BRICS claramente se adequam melhor ao espírito das Olimpíadas Antigas do que os chamados “Jogos Olímpicos” contemporâneos, pelo menos se as tendências vistas nos Jogos de Paris tornarem-se o padrão a ser seguido nas próximas edições.

Apesar desse crescimento dos Jogos dos BRICS tenha como motivador principal a injusta perseguição aos atletas russos e belarussos, ela também expressa o impulso por construir instituições e projetos alternativos aos da ordem internacional atual, excessivamente influenciada pelas diretrizes e valores do Ocidente atlantista.

Conforme as contradições internacionais se radicalizem, portanto, e isso tenha repercussões nos eventos desportivos internacional, é importante investir nos Jogos dos BRICS como a plataforma desportiva segura para as nações insubmissas e como legítimo receptáculo do antigo espírito olímpico.

Escreva para nós: info@strategic-culture.su

As Olimpíadas de Paris, já terminadas, podem ficar para a história como os piores jogos olímpicos da história moderna, desde sua restauração por Pierre de Coubertin.

Os problemas já começaram antes mesmo do início dos eventos, com o banimento da Rússia e de Belarus, por causa da operação militar especial russa na Ucrânia (uma ação defensiva à luz dos planos ucranianos de tomar o Donbass de assalto). Se a decisão já é equivocada no que concerne a Rússia, pior ainda em relação a Belarus que nem é partícipe da operação.

Simultaneamente, com uma hipocrisia insuperável, o Comitê Olímpico Internacional autorizou a participação de Israel, país que está engajado na implementação de um genocídio em Gaza, com bombardeios diários que já ceifaram dezenas de milhares de vidas civis.

A postura do COI demonstrou que não valem as mesmas regras para toda a comunidade internacional, e que alguns países, aparentemente, têm mais direitos que outros.

A Cerimônia de Abertura, por sua vez, gerou polêmica verdadeiramente planetária. Seria excessivo discorrer detalhadamente sobre o evento, mas enquanto a maioria dos países-sede até então se esforçaram para apresentar a “essência” da própria cultura e identidade – e podemos nisso indicar como exemplos os Jogos do Rio, de Pequim, de Moscou e de Atenas – viu-se muito pouco de qualquer coisa autenticamente francesa na Abertura.

Excetuando pela decapitação de Maria Antonieta, evento controverso e relativamente recente (se considerarmos a França como dotada de mais de 2 mil anos de história, desde os gauleses), a Cerimônia se pautou por uma celebração dos valores contemporâneos do Ocidente pós-moderno: diversidade sexual e de gênero, multiculturalismo cosmopolita, ultrafeminismo, direitos humanos. Nada além. Como coroação, uma reencenação woke e “trans” da Última Ceia, situada em uma ponte no Rio Sena, sob a qual tiveram que passar as delegações de inúmeros países, como se em submissão à profanação religiosa imposta pelo dogmatismo woke.

Se a Cerimônia de Abertura causou incômodo e espanto nas audiências conservadoras de países europeus, norte-americanos e ibero-americanos, o único governo que levantou um protesto formal foi o do Irã, que convocou o embaixador francês em Teerã para expressar a indignação iraniana em relação ao desrespeito religioso apresentado em Paris. Não obstante, em muitos outros países, a transmissão da Abertura foi interrompida durante essa profanação ou só foi exibida após edição.

Enquanto isso, nas redes sociais, os internautas fizeram comparações entre essa Abertura e as aberturas de outros Jogos Olímpicos, especialmente os de Pequim, para indicar que a França ficou muito aquém das expectativas.

Já seria péssimo se os problemas fossem apenas esses. Mas polêmicas seguiram o desenrolar dos Jogos.

Atletas do triatlo e de algumas outras modalidades precisavam nadar no Rio Sena em suas provas – mas o Sena é, notoriamente, um rio extremamente poluído. O governo de Paris, da prefeita Anne Hidalgo, havia prometido limpar o rio e afirmou, poucos dias antes da Abertura, já ter completado a limpeza. Mas vários dos atletas passaram mal após realizar as suas provas. Cenas espantosas mostraram atletas nadando do lado de uma saída de esgoto no Rio Sena.

No boxe uma polêmica ainda maior envolveu duas pessoas, Imane Khalif, da Argélia, e Lin Yu-Ting, de Taiwan. Essas duas pessoas haviam sido banidas de competições pela Federação Internacional de Boxe após serem reprovadas em um texto de aferição da sexualidade. Não obstante, receberam autorização para participar nas Olimpíadas, já que a única comprovação de sexo exigida pelo COI é a declaração constante no passaporte. Como o único teste usado pela FIB envolve a verificação do sexo por meio dos cromossomos, muitos acreditam que em ambos casos possa tratar-se de um caso de pseudo-hermafroditismo, quando uma pessoa reúne características sexuais de ambos sexos simultaneamente, inclusive órgãos. Em casos assim, como quase sempre se trata de “mulher” com testículos internos, teriam passado pela puberdade. Não deveria surpreender, portanto, que tanto Imane quanto Lin ganharam medalhas de ouro em suas respectivas modalidades. O caso também despertou indignação em todo o mundo.

Pior ainda, mas não surpreendente, foi o tratamento dado aos atletas chineses não só pelo COI, mas por delegações de alguns países ocidentais e por alguns jornalistas.

O campeão chinês da natação na modalidade 100m livres Pan Zhanle foi ignorado pelo australiano Kyle Chalmers mesmo no pódio e, segundo ele, também antes da competição, bem como pelo estadunidense Jack Alexey. Ele também levou uma trombada de uma fotógrafa, que nem se desculpou. O técnico do medalhista de bronze Wang Shun foi esnobado pelo medalhista de ouro francês Leon Marchand. Um fotógrafo quebrou intencionalmente a raquete do atleta de ping-pong Wang Chuqin. A tenista estadunidense Emma Navarro também insultou a tenista chinesa Zheng Qinwen, dizendo que não a respeitava.

Há vários outros casos, mas a esses se somam os ataques mais amplos vindos da mídia ou de redes sociais.

Os ataques midiáticos em geral se baseiam em alegações de que as vitórias chinesas em vários esportes se deveriam a doping. O técnico australiano Brett Hawke comentou que “não era humanamente possível” para Pan Zhanle ganhar a prova de 100m livres com tanta vantagem.

Não se trata de algo individual, porque, de fato, se os atletas em geral foram convocados para testes antidoping em média 3 vezes desde o início de 2024, os chineses foram convocados, em média, 21 vezes.

Toda essa pressão para cima dos atletas chineses permite cogitar até mesmo a possibilidade de que se esteja já preparando uma atmosfera de hostilidade visando banir a China das Olimpíadas. Seria a “solução final” para que os EUA garantissem a hegemonia nos Jogos, eliminando os seus rivais.

Essa preocupante degeneração desses tradicionais jogos desportivos deveria nos fazer refletir sobre possíveis alternativas, um outro formato de jogos que preservem o espírito olímpico, que respeitem a identidade dos povos, não estejam à mercê do excepcionalismo estadunidense.

E talvez, na verdade, a solução já exista. Afinal, não podemos esquecer dos Jogos dos BRICS.

Os Jogos dos BRICS são um evento esportivo anual organizado pelos membros da plataforma BRICS. O objetivo original dos Jogos era fortalecer os laços de amizade e cooperação entre as nações dos BRICS, promovendo o intercâmbio cultural e a prática esportiva em um ambiente de competição saudável e amistosa.

Os Jogos dos BRICS tiveram um início bastante modesto, com uma competição de futebol em Goa, em 2016, com o projeto tendo como um de seus objetivos a promoção do desporto nos países dos BRICS e seus parceiros, bem como construir relações culturais mais fortes através do esporte. E as competições desenvolvidas nos anos seguintes foram apenas um pouco maiores.

Mas observando-se os Jogos de 2024, realizados em junho de 2024, em Cazã, na Rússia, logo se percebe que eles adquiriram um escopo integralmente diferente. Com 2851 atletas de 54 delegações nacionais disputando em 27 esportes, os Jogos dos BRICS começam a demonstrar um forte potencial para se tornarem uma das principais (senão a principal) competição desportiva do planeta.

Como um espaço livre das manipulações políticas que infelizmente subverter os propósitos originais do COI, e que se expressam em padrões duplos na hora de lidar com o doping, bem como no banimento de nações vistas como párias por suas posições geopolíticas, os Jogos dos BRICS claramente se adequam melhor ao espírito das Olimpíadas Antigas do que os chamados “Jogos Olímpicos” contemporâneos, pelo menos se as tendências vistas nos Jogos de Paris tornarem-se o padrão a ser seguido nas próximas edições.

Apesar desse crescimento dos Jogos dos BRICS tenha como motivador principal a injusta perseguição aos atletas russos e belarussos, ela também expressa o impulso por construir instituições e projetos alternativos aos da ordem internacional atual, excessivamente influenciada pelas diretrizes e valores do Ocidente atlantista.

Conforme as contradições internacionais se radicalizem, portanto, e isso tenha repercussões nos eventos desportivos internacional, é importante investir nos Jogos dos BRICS como a plataforma desportiva segura para as nações insubmissas e como legítimo receptáculo do antigo espírito olímpico.

The views of individual contributors do not necessarily represent those of the Strategic Culture Foundation.

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