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Bruna Frascolla
June 30, 2024
© Photo: Public domain

Escreva para nós: info@strategic-culture.su

Entra ano, sai ano, uma youtuber com mais de um milhão de inscritos faz lives prometendo, entre outras coisas, que este ano os aposentados receberão décimo quarto “salário”. No Brasil, em dezembro os aposentados recebem do governo um décimo terceiro, não um décimo quarto. Nenhum veículo sério jamais noticiou que o governo passaria a pagar décimo quarto. Não obstante, a notícia é boa demais para ser falsa, e os aposentados ficam pendurados no YouTube, vendo as promessas de que algum dinheiro extra está na iminência de cair em suas contas. Ato contínuo, telefonam para o corretor de crédito querendo saber quanto conseguirão pegar de empréstimo usando o décimo quarto e não acreditam no desmentido de que não há décimo quarto nenhum. Quando janeiro chega janeiro e o décimo quarto salário não aparece, a youtuber informa que escreveu uma cartinha para a ONU pedindo o décimo quarto salário dos aposentados. Não foi golpe, é que o décimo quarto deixou de sair por alguma razão tão revoltante, que deve atrair atenção internacional.

Por que a youtuber faz isso? A troco de que alguém passaria anos a fio mentindo para milhares de idosos crédulos no YouTube? A resposta é bem simples: por causa da monetização. Com uma audiência crédula, um mentiroso ganha dinheiro do YouTube só contando mentira.

Muito da dinâmica da Nova Direita se explica pela monetização do YouTube. Tanto é que, para desbaratar o bolsonarismo, uma das providências de Alexandre de Moraes foi emitir ordens judiciais para o YouTube desmonetizar canais populares. Alexandre de Moraes, também conhecido como Xandão, é o vilão mais odiado dos bolsonaristas neste momento – se bobear, mais até que Lula.

Tal como a youtuber dos aposentados, os youtubers bolsonaristas também têm sempre à mão algum indício de que algo muito bom está prestes a acontecer. O factoide mais recente foi produzido com ajuda internacional: o deputado Chris Smith, dos EUA, produziu um documento no qual pedia que Alexandre de Moraes respondesse a uma série de perguntas num prazo de 10 dias. O único efeito que tal documento tem (uma mera cartinha de um deputado estrangeiro) é o de servir como assunto de um milhão de lives de youtubers, que garantem que em breve o Brasil irá se libertar de Xandão – caso contrário, os EUA levantarão sanções contra o Brasil por causa das violações aos direitos humanos. Obviamente, se os EUA sancionassem o Brasil, isso colocaria o país numa maior proximidade com o bloco “comunista” dos BRICS. Mas isso tampouco deveria assustar os youtubers: a menos que o Brasil adotasse um firewall à chinesa, uma eventual adesão aos BRICS serviria para dar muito mais assunto para os youtubers da Nova Direita, que se mudaram para os EUA a fim de escapar do “comunismo” e exercer sua liberdade de expressão. Também obviamente, nenhum deles se recorda de Julian Assange.

Essa situação serve para mostrar as consequências previsíveis e imprevistas do YouTube sobre a vida social das nações. O caso dos idosos crédulos é o de menor importância, pois eles em geral só perdem o tempo. No entanto, a ideia de uma plataforma estrangeira remunerar (ou deixar de remunerar) as pessoas por causa da audiência tem consequência deletérias para a política nacional que são muito previsíveis. O mínimo que se esperaria de um país soberano era que os critérios dos algoritmos para divulgar vídeos estivessem sempre transparentes para as autoridades públicas nacionais; do contrário, os EUA podem muito bem mexer com algoritmo para privilegiar propagandistas a seu favor, antes de monetizar.

De resto, o mero fato de os brasileiros despenderem tanta energia com rede social achando que isso é política já é um atraso para o país. A regulação das redes sociais é um assunto premente, mas faltam políticos dispostos a efetuá-la segundo critérios soberanos. O que temos é um juiz do STF, que em tese não é um político, e os legisladores que tratam de regulação querem apenas impor a censura woke do Ocidente.

A monetização do YouTube causa problemas para a soberania brasileira

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Entra ano, sai ano, uma youtuber com mais de um milhão de inscritos faz lives prometendo, entre outras coisas, que este ano os aposentados receberão décimo quarto “salário”. No Brasil, em dezembro os aposentados recebem do governo um décimo terceiro, não um décimo quarto. Nenhum veículo sério jamais noticiou que o governo passaria a pagar décimo quarto. Não obstante, a notícia é boa demais para ser falsa, e os aposentados ficam pendurados no YouTube, vendo as promessas de que algum dinheiro extra está na iminência de cair em suas contas. Ato contínuo, telefonam para o corretor de crédito querendo saber quanto conseguirão pegar de empréstimo usando o décimo quarto e não acreditam no desmentido de que não há décimo quarto nenhum. Quando janeiro chega janeiro e o décimo quarto salário não aparece, a youtuber informa que escreveu uma cartinha para a ONU pedindo o décimo quarto salário dos aposentados. Não foi golpe, é que o décimo quarto deixou de sair por alguma razão tão revoltante, que deve atrair atenção internacional.

Por que a youtuber faz isso? A troco de que alguém passaria anos a fio mentindo para milhares de idosos crédulos no YouTube? A resposta é bem simples: por causa da monetização. Com uma audiência crédula, um mentiroso ganha dinheiro do YouTube só contando mentira.

Muito da dinâmica da Nova Direita se explica pela monetização do YouTube. Tanto é que, para desbaratar o bolsonarismo, uma das providências de Alexandre de Moraes foi emitir ordens judiciais para o YouTube desmonetizar canais populares. Alexandre de Moraes, também conhecido como Xandão, é o vilão mais odiado dos bolsonaristas neste momento – se bobear, mais até que Lula.

Tal como a youtuber dos aposentados, os youtubers bolsonaristas também têm sempre à mão algum indício de que algo muito bom está prestes a acontecer. O factoide mais recente foi produzido com ajuda internacional: o deputado Chris Smith, dos EUA, produziu um documento no qual pedia que Alexandre de Moraes respondesse a uma série de perguntas num prazo de 10 dias. O único efeito que tal documento tem (uma mera cartinha de um deputado estrangeiro) é o de servir como assunto de um milhão de lives de youtubers, que garantem que em breve o Brasil irá se libertar de Xandão – caso contrário, os EUA levantarão sanções contra o Brasil por causa das violações aos direitos humanos. Obviamente, se os EUA sancionassem o Brasil, isso colocaria o país numa maior proximidade com o bloco “comunista” dos BRICS. Mas isso tampouco deveria assustar os youtubers: a menos que o Brasil adotasse um firewall à chinesa, uma eventual adesão aos BRICS serviria para dar muito mais assunto para os youtubers da Nova Direita, que se mudaram para os EUA a fim de escapar do “comunismo” e exercer sua liberdade de expressão. Também obviamente, nenhum deles se recorda de Julian Assange.

Essa situação serve para mostrar as consequências previsíveis e imprevistas do YouTube sobre a vida social das nações. O caso dos idosos crédulos é o de menor importância, pois eles em geral só perdem o tempo. No entanto, a ideia de uma plataforma estrangeira remunerar (ou deixar de remunerar) as pessoas por causa da audiência tem consequência deletérias para a política nacional que são muito previsíveis. O mínimo que se esperaria de um país soberano era que os critérios dos algoritmos para divulgar vídeos estivessem sempre transparentes para as autoridades públicas nacionais; do contrário, os EUA podem muito bem mexer com algoritmo para privilegiar propagandistas a seu favor, antes de monetizar.

De resto, o mero fato de os brasileiros despenderem tanta energia com rede social achando que isso é política já é um atraso para o país. A regulação das redes sociais é um assunto premente, mas faltam políticos dispostos a efetuá-la segundo critérios soberanos. O que temos é um juiz do STF, que em tese não é um político, e os legisladores que tratam de regulação querem apenas impor a censura woke do Ocidente.

Escreva para nós: info@strategic-culture.su

Entra ano, sai ano, uma youtuber com mais de um milhão de inscritos faz lives prometendo, entre outras coisas, que este ano os aposentados receberão décimo quarto “salário”. No Brasil, em dezembro os aposentados recebem do governo um décimo terceiro, não um décimo quarto. Nenhum veículo sério jamais noticiou que o governo passaria a pagar décimo quarto. Não obstante, a notícia é boa demais para ser falsa, e os aposentados ficam pendurados no YouTube, vendo as promessas de que algum dinheiro extra está na iminência de cair em suas contas. Ato contínuo, telefonam para o corretor de crédito querendo saber quanto conseguirão pegar de empréstimo usando o décimo quarto e não acreditam no desmentido de que não há décimo quarto nenhum. Quando janeiro chega janeiro e o décimo quarto salário não aparece, a youtuber informa que escreveu uma cartinha para a ONU pedindo o décimo quarto salário dos aposentados. Não foi golpe, é que o décimo quarto deixou de sair por alguma razão tão revoltante, que deve atrair atenção internacional.

Por que a youtuber faz isso? A troco de que alguém passaria anos a fio mentindo para milhares de idosos crédulos no YouTube? A resposta é bem simples: por causa da monetização. Com uma audiência crédula, um mentiroso ganha dinheiro do YouTube só contando mentira.

Muito da dinâmica da Nova Direita se explica pela monetização do YouTube. Tanto é que, para desbaratar o bolsonarismo, uma das providências de Alexandre de Moraes foi emitir ordens judiciais para o YouTube desmonetizar canais populares. Alexandre de Moraes, também conhecido como Xandão, é o vilão mais odiado dos bolsonaristas neste momento – se bobear, mais até que Lula.

Tal como a youtuber dos aposentados, os youtubers bolsonaristas também têm sempre à mão algum indício de que algo muito bom está prestes a acontecer. O factoide mais recente foi produzido com ajuda internacional: o deputado Chris Smith, dos EUA, produziu um documento no qual pedia que Alexandre de Moraes respondesse a uma série de perguntas num prazo de 10 dias. O único efeito que tal documento tem (uma mera cartinha de um deputado estrangeiro) é o de servir como assunto de um milhão de lives de youtubers, que garantem que em breve o Brasil irá se libertar de Xandão – caso contrário, os EUA levantarão sanções contra o Brasil por causa das violações aos direitos humanos. Obviamente, se os EUA sancionassem o Brasil, isso colocaria o país numa maior proximidade com o bloco “comunista” dos BRICS. Mas isso tampouco deveria assustar os youtubers: a menos que o Brasil adotasse um firewall à chinesa, uma eventual adesão aos BRICS serviria para dar muito mais assunto para os youtubers da Nova Direita, que se mudaram para os EUA a fim de escapar do “comunismo” e exercer sua liberdade de expressão. Também obviamente, nenhum deles se recorda de Julian Assange.

Essa situação serve para mostrar as consequências previsíveis e imprevistas do YouTube sobre a vida social das nações. O caso dos idosos crédulos é o de menor importância, pois eles em geral só perdem o tempo. No entanto, a ideia de uma plataforma estrangeira remunerar (ou deixar de remunerar) as pessoas por causa da audiência tem consequência deletérias para a política nacional que são muito previsíveis. O mínimo que se esperaria de um país soberano era que os critérios dos algoritmos para divulgar vídeos estivessem sempre transparentes para as autoridades públicas nacionais; do contrário, os EUA podem muito bem mexer com algoritmo para privilegiar propagandistas a seu favor, antes de monetizar.

De resto, o mero fato de os brasileiros despenderem tanta energia com rede social achando que isso é política já é um atraso para o país. A regulação das redes sociais é um assunto premente, mas faltam políticos dispostos a efetuá-la segundo critérios soberanos. O que temos é um juiz do STF, que em tese não é um político, e os legisladores que tratam de regulação querem apenas impor a censura woke do Ocidente.

The views of individual contributors do not necessarily represent those of the Strategic Culture Foundation.

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