Español
Hugo Dionísio
May 16, 2024
© Photo: Public domain

Com efeito, e para que ninguém diga que esta acusação é descabida, são os próprios EUA, e as organizações que influenciam as tomadas de decisão pelo poder político, quem vêm esclarecer qual o objectivo fundamental do projecto Ucraniano.

Um trabalho do CSIS (Center For the Strategic & International Studies) intitulado “how supporting Ukraine is Revitalizing the U.S. Defense Industrial Base” (como o apoio à Ucrânia está a revitalizar a base industrial de defesa dos EUA), chega ao ponto de fazer a identificação, por empresa, estado e distrito, mapeando as quantias, que os EUA despendem, em contratação na área da defesa nacional e que dizem respeito à base industrial de defesa relevante para a Ucrânia. Nesse mapa constatamos que a contratação de defesa, relacionada com o apoio ao regime de Kiev, está disseminada por todo o território, o que acaba por consubstanciar, na prática, as afirmações de Sullivan e companhia, quando estes referem que, apesar de tudo, “ajudar” a Ucrânia diz respeito à criação de “bons empregos” para o povo americano.

Não era necessário que o afirmassem, nem que o CSIS fizesse este estudo, para o constatarmos, mas sabe sempre bem quando são os próprios a admitir – o que no caso dos EUA é habitual – os reais objectivos das suas operações.

Não é segredo para ninguém que a indústria de defesa europeia e americana estavam em dificuldades, para responder às necessidades relacionadas com uma guerra de atrito, daí que, nada como uma guerra de alta intensidade, para fazer o que nenhuma paz consegue: obrigar ao investimento prioritário na modernização, inovação e actualização da capacidade bélica de uma nação. Foi assim com a Rússia, cujas necessidades com a “Operação Militar Especial” determinaram um aumento exponencial na indústria bélica e na modernização do armamento; é assim com os EUA; será assim com a União Europeia, a China e outros mais.

Daí que, esta estratégia se encaixe plenamente nas necessidades dos EUA e convirja de forma absolutamente indiscutível com outros objectivos que resultam deste confronto, entre a OTAN e a Rússia, em solo Ucraniano. Isolar e enfraquecer a Rússia, condicionar, manipular e enfraquecer a Europa (principalmente a “velha” europa) e recriar uma espécie de “economia de guerra”, que garanta a elevação da capacidade industrial e, sobretudo, porque isto é deveras importante para um império como os EUA, aumentar a competitividade da sua oferta armamentista, tratam-se de objectivos que, parcialmente, pelo menos, já foram atingidos.

Do ponto de vista dos objectivos secundários, também me parece que os mesmos não são de desprezar e estão por toda a literatura de defesa disponível no complexo militar industrial (que integra os Think Thank). Um desses objectivos tem a ver com a capacidade de dissuasão (deterrence), na medida em que umas forças armadas mais preparadas, tornam tudo mais ameaçador, quer para os inimigos, quer para os “amigos” quando pensem em não aceder à vontade dos EUA; um outro objectivo tem a ver com a revitalização da própria indústria americana e a repatriação de importantes sectores que haviam sido deslocalizados. Assim, também não é segredo para ninguém que os monumentais orçamentos de defesa constituem um importante factor de atribuição de subsídios públicos à actividade económica – especialmente industrial -, sem que se possa acusar os EUA de violar, directamente, as regras internacionais por eles impostas em matéria de “livre comércio”.

Esta necessidade estratégica torna o conflito Ucraniano ainda mais importante, havendo necessidade de estendê-lo o mais possível, mesmo quando todos já viram que a Rússia avança, todos os dias, a uma velocidade nunca vista desde o início do atrito. Consequentemente, para garantir a continuidade das hostilidades, comprando tempo para que se aumente a capacidade instalada da base industrial de defesa, tenha sido aprovada uma lei – a lei dos 61 mil milhões – que alimentará a capacidade de Kiev, pelo menos, até 2026, demonstrando que os EUA continuam a considerar-se donos e senhores do cronograma bélico na Ucrânia.

E para os que pensam que, esta tentativa, por parte dos EUA, em atrasar ou não deixar acontecer uma vitória Russa, não é estrategicamente importante, para os próprios, para a União Europeia, OTAN e ocidente alargado, aconselho que vejam o que aconteceu pelo mundo, quando o Japão, em 1905, derrotou o Império Russo (guerra Russo-Japonesa). À data, a derrota da Rússia, vista como um país Imperialista ocidental, opressivo para os países orientais, despoletou uma série de levantamentos, nesses países, maravilhados que estavam, os seus povos, com a possibilidade demonstrada pelo Japão, de, em muito pouco tempo, ter sido possível a um país oprimido, desenvolver-se e enfrentar o poderia ocidental. Império Otomano, Irão e outros que o digam. Hoje, é a vez de a Federação Russa, na Ucrânia, poder representar, para o sul global, aquilo que o Japão representou, para o Oriente, no princípio do século XX. Curiosamente, é o Japão que está, outra vez, do lado adversário, mas, desta feita, numa posição invertida, ou seja, do lado do opressor ocidental. Portanto, os EUA sabem que a desmoralização será generalizada, em caso de derrota na Ucrânia, já se podendo começar a ver os seus efeitos em África, América Latina e Ásia. E todos sabemos o que aconteceu ao Império Russo a partir daí. Os EUA também sabem!

É por isso que a importância económica deste conflito se alinha tão perfeitamente com a sua importância política. Assim, se em Novembro de 2023, de acordo com a informação prestada pelo serviço www.usaspending.gov, constatámos que 37 estados beneficiavam com o “Ukraine Security Assistance”, após a aprovação do último pacote de 61 mil milhões de dólares, este subsídio disfarçado através da “segurança” e da guerra, é fundamental para ainda mais estados e distritos, nomeadamente quando impacta empresas de 47 estados. Ou seja, a quase totalidade dos estados beneficia directamente, uns mais outros menos, com a destruição da nação Ucraniana.

Percebe-se melhor, agora, o porquê do acordo conseguido entre democratas e os, inicialmente, tão irredutíveis republicanos. Na minha opinião e sob pena de a termos de estudar melhor, esta maior abrangência territorial não é minimamente despicienda, considerando os interesses económicos conhecidos que os congressistas e senadores têm, ao nível federal e nos seus estados de origem. Volta a ter razão de ser a informação que diz que, a comemoração da aprovação do pacote de “ajuda”, dizia mais respeito aos ganhos pessoais, do que aos inexistentes ganhos para a Ucrânia. O Interesse nacional tem de estar alinhado com o ganho pessoal.

Esta imagem é reforçada quando analisamos os dados divulgados pelo site www.fool.com, e constatamos que do ano de 2021 para 2023, a quantia transaccionada em bolsa, pelos membros do congresso, passou de 583.98 milhões de dólares, para 751.17 milhões de dólares.

Curiosamente, ou talvez não, de acordo com o site www.unusualwhales.com, Ro Khana, congressista democrata da Califórnia, é o que mais negócios tem registados, à data de 25 de Abril de 2024, com 8.463, e, em segundo, a alguma distância, temos Michael McCaul do Texas, republicano, já na casa dos 7 mil. O primeiro duplicou o número de negócios registados entre o final de 2023 e Abril de 2024 e o segundo, quadruplicou.

Os democratas são os que mais ganham, com um retorno de 31,18% e os republicanos com 17,99%. Esta coisa de se estar no poder e ter a iniciativa, sabendo sobre o que se vai legislar e aprovar… Não é à toa que o democrata Brian Higgins é quem teve melhor retorno, com 238,90% e Mark Green, republicano, já ao longe, com “apenas” 122,20% de retorno. Com os piores retornos, também temos um republicano, no caso Warren Davidson, do Ohio. Em poucos países se confundirá tanto a posição de monopolista com a de dirigente político.

Em conclusão, foi o “democrata” Obama, o Nobel da paz, quem promoveu a lei de 2012, para o mercado de capitais, permitindo que os membros do congresso e as suas famílias possam comprar e vender acções, desde que reportem dentro e 45 dias, as operações superiores a 1.000 dólares. Assim se deu acesso ao casino de Wall street, a todos os representantes políticos, transformando a elite política americana numa aristocracia, já não simplesmente capturada pelos monopólios, mas parte deles.

Esta coisa do “democracy” dos EUA tem muito que se lhe diga. O ganhar eleições constitui um bilhete de ida para a riqueza, sendo que, o partido que ganha e perde também importa, pois é assim que se garante o sigilo e que a informação privilegiada, sobre as leis e subsídios que passam ou não, são traduzidos em ganhos concretos. Se o povo americano ganha alguma coisa com isto, tenho muito poucas dúvidas, pois as ruas estão cheias de sem abrigo, infra-estruturas degradadas, salários baixos e habitação a preços incomportáveis. Portanto, enquanto uns ganham o direito à riqueza, os outros confirmam o direito á pobreza.

Quando Lyndon Johnson avisou para o perigo da interferência do complexo militar industrial no aparelho de estado dos EUA, não estaria certamente a falar de ser o próprio aparelho de estado a passar a ser um dos donos do “perigoso” complexo militar industrial. Mas é o que temos.

Quando a esperança da denominada “esquerda progressista” – Roy Khana – do Congressional Progressive Caucus, é o principal jogador, está tudo dito sobre “esquerda e direita” dos EUA. Apenas um pântano onde se confundem privilégios, práticas democraticamente erradas e muito discurso barato. E depois andam estes tipos – republicanos e democratas – a propagar moral pelo mundo.

Nos EUA, os ganhos de capital, a re-industrialização e a sobrevivência da hegemonia, medem-se em vidas perdidas. Na política e na economia, dentro e fora de portas!

EUA: Os seus ganhos medem-se em vidas perdidas

Com efeito, e para que ninguém diga que esta acusação é descabida, são os próprios EUA, e as organizações que influenciam as tomadas de decisão pelo poder político, quem vêm esclarecer qual o objectivo fundamental do projecto Ucraniano.

Um trabalho do CSIS (Center For the Strategic & International Studies) intitulado “how supporting Ukraine is Revitalizing the U.S. Defense Industrial Base” (como o apoio à Ucrânia está a revitalizar a base industrial de defesa dos EUA), chega ao ponto de fazer a identificação, por empresa, estado e distrito, mapeando as quantias, que os EUA despendem, em contratação na área da defesa nacional e que dizem respeito à base industrial de defesa relevante para a Ucrânia. Nesse mapa constatamos que a contratação de defesa, relacionada com o apoio ao regime de Kiev, está disseminada por todo o território, o que acaba por consubstanciar, na prática, as afirmações de Sullivan e companhia, quando estes referem que, apesar de tudo, “ajudar” a Ucrânia diz respeito à criação de “bons empregos” para o povo americano.

Não era necessário que o afirmassem, nem que o CSIS fizesse este estudo, para o constatarmos, mas sabe sempre bem quando são os próprios a admitir – o que no caso dos EUA é habitual – os reais objectivos das suas operações.

Não é segredo para ninguém que a indústria de defesa europeia e americana estavam em dificuldades, para responder às necessidades relacionadas com uma guerra de atrito, daí que, nada como uma guerra de alta intensidade, para fazer o que nenhuma paz consegue: obrigar ao investimento prioritário na modernização, inovação e actualização da capacidade bélica de uma nação. Foi assim com a Rússia, cujas necessidades com a “Operação Militar Especial” determinaram um aumento exponencial na indústria bélica e na modernização do armamento; é assim com os EUA; será assim com a União Europeia, a China e outros mais.

Daí que, esta estratégia se encaixe plenamente nas necessidades dos EUA e convirja de forma absolutamente indiscutível com outros objectivos que resultam deste confronto, entre a OTAN e a Rússia, em solo Ucraniano. Isolar e enfraquecer a Rússia, condicionar, manipular e enfraquecer a Europa (principalmente a “velha” europa) e recriar uma espécie de “economia de guerra”, que garanta a elevação da capacidade industrial e, sobretudo, porque isto é deveras importante para um império como os EUA, aumentar a competitividade da sua oferta armamentista, tratam-se de objectivos que, parcialmente, pelo menos, já foram atingidos.

Do ponto de vista dos objectivos secundários, também me parece que os mesmos não são de desprezar e estão por toda a literatura de defesa disponível no complexo militar industrial (que integra os Think Thank). Um desses objectivos tem a ver com a capacidade de dissuasão (deterrence), na medida em que umas forças armadas mais preparadas, tornam tudo mais ameaçador, quer para os inimigos, quer para os “amigos” quando pensem em não aceder à vontade dos EUA; um outro objectivo tem a ver com a revitalização da própria indústria americana e a repatriação de importantes sectores que haviam sido deslocalizados. Assim, também não é segredo para ninguém que os monumentais orçamentos de defesa constituem um importante factor de atribuição de subsídios públicos à actividade económica – especialmente industrial -, sem que se possa acusar os EUA de violar, directamente, as regras internacionais por eles impostas em matéria de “livre comércio”.

Esta necessidade estratégica torna o conflito Ucraniano ainda mais importante, havendo necessidade de estendê-lo o mais possível, mesmo quando todos já viram que a Rússia avança, todos os dias, a uma velocidade nunca vista desde o início do atrito. Consequentemente, para garantir a continuidade das hostilidades, comprando tempo para que se aumente a capacidade instalada da base industrial de defesa, tenha sido aprovada uma lei – a lei dos 61 mil milhões – que alimentará a capacidade de Kiev, pelo menos, até 2026, demonstrando que os EUA continuam a considerar-se donos e senhores do cronograma bélico na Ucrânia.

E para os que pensam que, esta tentativa, por parte dos EUA, em atrasar ou não deixar acontecer uma vitória Russa, não é estrategicamente importante, para os próprios, para a União Europeia, OTAN e ocidente alargado, aconselho que vejam o que aconteceu pelo mundo, quando o Japão, em 1905, derrotou o Império Russo (guerra Russo-Japonesa). À data, a derrota da Rússia, vista como um país Imperialista ocidental, opressivo para os países orientais, despoletou uma série de levantamentos, nesses países, maravilhados que estavam, os seus povos, com a possibilidade demonstrada pelo Japão, de, em muito pouco tempo, ter sido possível a um país oprimido, desenvolver-se e enfrentar o poderia ocidental. Império Otomano, Irão e outros que o digam. Hoje, é a vez de a Federação Russa, na Ucrânia, poder representar, para o sul global, aquilo que o Japão representou, para o Oriente, no princípio do século XX. Curiosamente, é o Japão que está, outra vez, do lado adversário, mas, desta feita, numa posição invertida, ou seja, do lado do opressor ocidental. Portanto, os EUA sabem que a desmoralização será generalizada, em caso de derrota na Ucrânia, já se podendo começar a ver os seus efeitos em África, América Latina e Ásia. E todos sabemos o que aconteceu ao Império Russo a partir daí. Os EUA também sabem!

É por isso que a importância económica deste conflito se alinha tão perfeitamente com a sua importância política. Assim, se em Novembro de 2023, de acordo com a informação prestada pelo serviço www.usaspending.gov, constatámos que 37 estados beneficiavam com o “Ukraine Security Assistance”, após a aprovação do último pacote de 61 mil milhões de dólares, este subsídio disfarçado através da “segurança” e da guerra, é fundamental para ainda mais estados e distritos, nomeadamente quando impacta empresas de 47 estados. Ou seja, a quase totalidade dos estados beneficia directamente, uns mais outros menos, com a destruição da nação Ucraniana.

Percebe-se melhor, agora, o porquê do acordo conseguido entre democratas e os, inicialmente, tão irredutíveis republicanos. Na minha opinião e sob pena de a termos de estudar melhor, esta maior abrangência territorial não é minimamente despicienda, considerando os interesses económicos conhecidos que os congressistas e senadores têm, ao nível federal e nos seus estados de origem. Volta a ter razão de ser a informação que diz que, a comemoração da aprovação do pacote de “ajuda”, dizia mais respeito aos ganhos pessoais, do que aos inexistentes ganhos para a Ucrânia. O Interesse nacional tem de estar alinhado com o ganho pessoal.

Esta imagem é reforçada quando analisamos os dados divulgados pelo site www.fool.com, e constatamos que do ano de 2021 para 2023, a quantia transaccionada em bolsa, pelos membros do congresso, passou de 583.98 milhões de dólares, para 751.17 milhões de dólares.

Curiosamente, ou talvez não, de acordo com o site www.unusualwhales.com, Ro Khana, congressista democrata da Califórnia, é o que mais negócios tem registados, à data de 25 de Abril de 2024, com 8.463, e, em segundo, a alguma distância, temos Michael McCaul do Texas, republicano, já na casa dos 7 mil. O primeiro duplicou o número de negócios registados entre o final de 2023 e Abril de 2024 e o segundo, quadruplicou.

Os democratas são os que mais ganham, com um retorno de 31,18% e os republicanos com 17,99%. Esta coisa de se estar no poder e ter a iniciativa, sabendo sobre o que se vai legislar e aprovar… Não é à toa que o democrata Brian Higgins é quem teve melhor retorno, com 238,90% e Mark Green, republicano, já ao longe, com “apenas” 122,20% de retorno. Com os piores retornos, também temos um republicano, no caso Warren Davidson, do Ohio. Em poucos países se confundirá tanto a posição de monopolista com a de dirigente político.

Em conclusão, foi o “democrata” Obama, o Nobel da paz, quem promoveu a lei de 2012, para o mercado de capitais, permitindo que os membros do congresso e as suas famílias possam comprar e vender acções, desde que reportem dentro e 45 dias, as operações superiores a 1.000 dólares. Assim se deu acesso ao casino de Wall street, a todos os representantes políticos, transformando a elite política americana numa aristocracia, já não simplesmente capturada pelos monopólios, mas parte deles.

Esta coisa do “democracy” dos EUA tem muito que se lhe diga. O ganhar eleições constitui um bilhete de ida para a riqueza, sendo que, o partido que ganha e perde também importa, pois é assim que se garante o sigilo e que a informação privilegiada, sobre as leis e subsídios que passam ou não, são traduzidos em ganhos concretos. Se o povo americano ganha alguma coisa com isto, tenho muito poucas dúvidas, pois as ruas estão cheias de sem abrigo, infra-estruturas degradadas, salários baixos e habitação a preços incomportáveis. Portanto, enquanto uns ganham o direito à riqueza, os outros confirmam o direito á pobreza.

Quando Lyndon Johnson avisou para o perigo da interferência do complexo militar industrial no aparelho de estado dos EUA, não estaria certamente a falar de ser o próprio aparelho de estado a passar a ser um dos donos do “perigoso” complexo militar industrial. Mas é o que temos.

Quando a esperança da denominada “esquerda progressista” – Roy Khana – do Congressional Progressive Caucus, é o principal jogador, está tudo dito sobre “esquerda e direita” dos EUA. Apenas um pântano onde se confundem privilégios, práticas democraticamente erradas e muito discurso barato. E depois andam estes tipos – republicanos e democratas – a propagar moral pelo mundo.

Nos EUA, os ganhos de capital, a re-industrialização e a sobrevivência da hegemonia, medem-se em vidas perdidas. Na política e na economia, dentro e fora de portas!

Com efeito, e para que ninguém diga que esta acusação é descabida, são os próprios EUA, e as organizações que influenciam as tomadas de decisão pelo poder político, quem vêm esclarecer qual o objectivo fundamental do projecto Ucraniano.

Um trabalho do CSIS (Center For the Strategic & International Studies) intitulado “how supporting Ukraine is Revitalizing the U.S. Defense Industrial Base” (como o apoio à Ucrânia está a revitalizar a base industrial de defesa dos EUA), chega ao ponto de fazer a identificação, por empresa, estado e distrito, mapeando as quantias, que os EUA despendem, em contratação na área da defesa nacional e que dizem respeito à base industrial de defesa relevante para a Ucrânia. Nesse mapa constatamos que a contratação de defesa, relacionada com o apoio ao regime de Kiev, está disseminada por todo o território, o que acaba por consubstanciar, na prática, as afirmações de Sullivan e companhia, quando estes referem que, apesar de tudo, “ajudar” a Ucrânia diz respeito à criação de “bons empregos” para o povo americano.

Não era necessário que o afirmassem, nem que o CSIS fizesse este estudo, para o constatarmos, mas sabe sempre bem quando são os próprios a admitir – o que no caso dos EUA é habitual – os reais objectivos das suas operações.

Não é segredo para ninguém que a indústria de defesa europeia e americana estavam em dificuldades, para responder às necessidades relacionadas com uma guerra de atrito, daí que, nada como uma guerra de alta intensidade, para fazer o que nenhuma paz consegue: obrigar ao investimento prioritário na modernização, inovação e actualização da capacidade bélica de uma nação. Foi assim com a Rússia, cujas necessidades com a “Operação Militar Especial” determinaram um aumento exponencial na indústria bélica e na modernização do armamento; é assim com os EUA; será assim com a União Europeia, a China e outros mais.

Daí que, esta estratégia se encaixe plenamente nas necessidades dos EUA e convirja de forma absolutamente indiscutível com outros objectivos que resultam deste confronto, entre a OTAN e a Rússia, em solo Ucraniano. Isolar e enfraquecer a Rússia, condicionar, manipular e enfraquecer a Europa (principalmente a “velha” europa) e recriar uma espécie de “economia de guerra”, que garanta a elevação da capacidade industrial e, sobretudo, porque isto é deveras importante para um império como os EUA, aumentar a competitividade da sua oferta armamentista, tratam-se de objectivos que, parcialmente, pelo menos, já foram atingidos.

Do ponto de vista dos objectivos secundários, também me parece que os mesmos não são de desprezar e estão por toda a literatura de defesa disponível no complexo militar industrial (que integra os Think Thank). Um desses objectivos tem a ver com a capacidade de dissuasão (deterrence), na medida em que umas forças armadas mais preparadas, tornam tudo mais ameaçador, quer para os inimigos, quer para os “amigos” quando pensem em não aceder à vontade dos EUA; um outro objectivo tem a ver com a revitalização da própria indústria americana e a repatriação de importantes sectores que haviam sido deslocalizados. Assim, também não é segredo para ninguém que os monumentais orçamentos de defesa constituem um importante factor de atribuição de subsídios públicos à actividade económica – especialmente industrial -, sem que se possa acusar os EUA de violar, directamente, as regras internacionais por eles impostas em matéria de “livre comércio”.

Esta necessidade estratégica torna o conflito Ucraniano ainda mais importante, havendo necessidade de estendê-lo o mais possível, mesmo quando todos já viram que a Rússia avança, todos os dias, a uma velocidade nunca vista desde o início do atrito. Consequentemente, para garantir a continuidade das hostilidades, comprando tempo para que se aumente a capacidade instalada da base industrial de defesa, tenha sido aprovada uma lei – a lei dos 61 mil milhões – que alimentará a capacidade de Kiev, pelo menos, até 2026, demonstrando que os EUA continuam a considerar-se donos e senhores do cronograma bélico na Ucrânia.

E para os que pensam que, esta tentativa, por parte dos EUA, em atrasar ou não deixar acontecer uma vitória Russa, não é estrategicamente importante, para os próprios, para a União Europeia, OTAN e ocidente alargado, aconselho que vejam o que aconteceu pelo mundo, quando o Japão, em 1905, derrotou o Império Russo (guerra Russo-Japonesa). À data, a derrota da Rússia, vista como um país Imperialista ocidental, opressivo para os países orientais, despoletou uma série de levantamentos, nesses países, maravilhados que estavam, os seus povos, com a possibilidade demonstrada pelo Japão, de, em muito pouco tempo, ter sido possível a um país oprimido, desenvolver-se e enfrentar o poderia ocidental. Império Otomano, Irão e outros que o digam. Hoje, é a vez de a Federação Russa, na Ucrânia, poder representar, para o sul global, aquilo que o Japão representou, para o Oriente, no princípio do século XX. Curiosamente, é o Japão que está, outra vez, do lado adversário, mas, desta feita, numa posição invertida, ou seja, do lado do opressor ocidental. Portanto, os EUA sabem que a desmoralização será generalizada, em caso de derrota na Ucrânia, já se podendo começar a ver os seus efeitos em África, América Latina e Ásia. E todos sabemos o que aconteceu ao Império Russo a partir daí. Os EUA também sabem!

É por isso que a importância económica deste conflito se alinha tão perfeitamente com a sua importância política. Assim, se em Novembro de 2023, de acordo com a informação prestada pelo serviço www.usaspending.gov, constatámos que 37 estados beneficiavam com o “Ukraine Security Assistance”, após a aprovação do último pacote de 61 mil milhões de dólares, este subsídio disfarçado através da “segurança” e da guerra, é fundamental para ainda mais estados e distritos, nomeadamente quando impacta empresas de 47 estados. Ou seja, a quase totalidade dos estados beneficia directamente, uns mais outros menos, com a destruição da nação Ucraniana.

Percebe-se melhor, agora, o porquê do acordo conseguido entre democratas e os, inicialmente, tão irredutíveis republicanos. Na minha opinião e sob pena de a termos de estudar melhor, esta maior abrangência territorial não é minimamente despicienda, considerando os interesses económicos conhecidos que os congressistas e senadores têm, ao nível federal e nos seus estados de origem. Volta a ter razão de ser a informação que diz que, a comemoração da aprovação do pacote de “ajuda”, dizia mais respeito aos ganhos pessoais, do que aos inexistentes ganhos para a Ucrânia. O Interesse nacional tem de estar alinhado com o ganho pessoal.

Esta imagem é reforçada quando analisamos os dados divulgados pelo site www.fool.com, e constatamos que do ano de 2021 para 2023, a quantia transaccionada em bolsa, pelos membros do congresso, passou de 583.98 milhões de dólares, para 751.17 milhões de dólares.

Curiosamente, ou talvez não, de acordo com o site www.unusualwhales.com, Ro Khana, congressista democrata da Califórnia, é o que mais negócios tem registados, à data de 25 de Abril de 2024, com 8.463, e, em segundo, a alguma distância, temos Michael McCaul do Texas, republicano, já na casa dos 7 mil. O primeiro duplicou o número de negócios registados entre o final de 2023 e Abril de 2024 e o segundo, quadruplicou.

Os democratas são os que mais ganham, com um retorno de 31,18% e os republicanos com 17,99%. Esta coisa de se estar no poder e ter a iniciativa, sabendo sobre o que se vai legislar e aprovar… Não é à toa que o democrata Brian Higgins é quem teve melhor retorno, com 238,90% e Mark Green, republicano, já ao longe, com “apenas” 122,20% de retorno. Com os piores retornos, também temos um republicano, no caso Warren Davidson, do Ohio. Em poucos países se confundirá tanto a posição de monopolista com a de dirigente político.

Em conclusão, foi o “democrata” Obama, o Nobel da paz, quem promoveu a lei de 2012, para o mercado de capitais, permitindo que os membros do congresso e as suas famílias possam comprar e vender acções, desde que reportem dentro e 45 dias, as operações superiores a 1.000 dólares. Assim se deu acesso ao casino de Wall street, a todos os representantes políticos, transformando a elite política americana numa aristocracia, já não simplesmente capturada pelos monopólios, mas parte deles.

Esta coisa do “democracy” dos EUA tem muito que se lhe diga. O ganhar eleições constitui um bilhete de ida para a riqueza, sendo que, o partido que ganha e perde também importa, pois é assim que se garante o sigilo e que a informação privilegiada, sobre as leis e subsídios que passam ou não, são traduzidos em ganhos concretos. Se o povo americano ganha alguma coisa com isto, tenho muito poucas dúvidas, pois as ruas estão cheias de sem abrigo, infra-estruturas degradadas, salários baixos e habitação a preços incomportáveis. Portanto, enquanto uns ganham o direito à riqueza, os outros confirmam o direito á pobreza.

Quando Lyndon Johnson avisou para o perigo da interferência do complexo militar industrial no aparelho de estado dos EUA, não estaria certamente a falar de ser o próprio aparelho de estado a passar a ser um dos donos do “perigoso” complexo militar industrial. Mas é o que temos.

Quando a esperança da denominada “esquerda progressista” – Roy Khana – do Congressional Progressive Caucus, é o principal jogador, está tudo dito sobre “esquerda e direita” dos EUA. Apenas um pântano onde se confundem privilégios, práticas democraticamente erradas e muito discurso barato. E depois andam estes tipos – republicanos e democratas – a propagar moral pelo mundo.

Nos EUA, os ganhos de capital, a re-industrialização e a sobrevivência da hegemonia, medem-se em vidas perdidas. Na política e na economia, dentro e fora de portas!

The views of individual contributors do not necessarily represent those of the Strategic Culture Foundation.

See also

December 17, 2024

See also

December 17, 2024
The views of individual contributors do not necessarily represent those of the Strategic Culture Foundation.