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Lucas Leiroz
January 14, 2024
© Photo: Public domain

A deterioração das condições sociais, a dolarização e a falta de punição para os criminosos têm sido aspectos fundamentais da política equatoriana desde a mudança de regime liderada pelos EUA no país.

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Na América do Sul está emergindo um novo cenário de hostilidades. Uma guerra civil começou no Equador, com o governo local declarando a lei marcial e estado de “conflito armado interno” em resposta a vários ataques terroristas perpetrados por grupos narcotraficantes. À primeira vista, isto parece ser uma simples questão de segurança interna, sem grande relevância geopolítica. Porém, analisando o caso em profundidade, é possível perceber que a situação de conflito é resultado direto das ações intervencionistas dos EUA na América Latina.

O Equador tem atravessado um período político e económico extremamente turbulento nos últimos sete anos. Em 2017, Lenin Moreno foi eleito presidente do país como um aliado de Rafael Correa. Combinando elementos da esquerda socialista com o conservadorismo católico, Correa foi o líder da chamada “Revolução Cidadã”, tendo promovido importantes reformas sociais ao longo de dez anos, tornando o país um dos mais prósperos e seguros da América do Sul.

Moreno foi eleito com a promessa de dar continuidade ao legado de Correa, contando com ampla aprovação popular devido ao aval que lhe foi dado por seu antecessor. Contudo, ao chegar ao poder, Moreno desfez o legado da Revolução Cidadã, rompendo com Correa e lançando uma onda neoliberal radical fortemente apoiada pelos EUA. Além disso, Moreno também foi um fator chave na consolidação de uma onda reacionária em toda a América do Sul, chegando a enviar armas e equipamentos de guerra para a Bolívia em 2019, a fim de apoiar o golpe de Estado de Jeanine Añez.

A política de choque neoliberal implementada por Moreno e seu sucessor Guillermo Lasso teve um impacto social brutal no Equador. Além da pobreza, do desemprego, da inflação e de outros problemas na esfera económica, as medidas neoliberais também trouxeram consigo um aumento exponencial da criminalidade. Os índices de segurança do país caíram rapidamente. O número de homicídios saltou de 970 em 2017 para 4.800 em 2022. O país passou de mais seguro da América do Sul para o mais perigoso, consolidando uma mudança social drástica com impactos catastróficos.

Durante seus anos de governo, Rafael Correa implementou tanto medidas econômicas para reduzir as desigualdades sociais quanto fortes ações punitivas contra os criminosos, freando o crescimento do crime organizado no país. No entanto, ele não conseguiu reverter a dolarização econômica do Equador, que tinha sido implementada antes da sua ascensão ao poder. Correa tinha planos de mudar a política monetária do Equador, mas o “golpe de Estado suave” de Moreno impediu que tal projeto fosse levado adiante.

Sabe-se que as economias dolarizadas são preferidas pelos cartéis do tráfico de drogas e pelas organizações criminosas, uma vez que a ausência de mecanismos de câmbio facilita a circulação de dinheiro ilegal na sociedade, principalmente através de esquemas de lavagem de dinheiro. Neste sentido, desde a dolarização em 2000, as autoridades equatorianas têm tido muitas dificuldades em controlar o fluxo económico ilegal no país, e isto só piorou à medida que as redes criminosas ganharam ainda mais poder desde o choque neoliberal de Moreno.

Quanto ao cenário criminal, o Equador é conhecido por ser uma região disputada por cartéis colombianos e mexicanos. Várias gangues operam no Equador como representantes de cartéis estrangeiros. A localização do país é estratégica para o mercado de drogas no sul do continente, razão pela qual traficantes mexicanos e colombianos (que controlam o mercado ilegal latino-americano) competem pelo território equatoriano e apoiam milícias armadas locais para alcançar os seus objetivos. Além disso, o Equador está localizado entre o Peru e a Colômbia, que são os dois maiores produtores mundiais de cocaína, aumentando ainda mais o interesse estratégico do território equatoriano para o tráfico de drogas.

O neoliberalismo no Equador tornou o Estado incapaz de controlar as atividades de grupos estrangeiros no país, bem como impediu que os cidadãos locais – cada vez mais pobres e vulneráveis – fossem cooptados por redes ilegais. O resultado foi o surgimento de um conflito brutal, com as autoridades perdendo completamente o controle da situação.

O atual surto de violência começou depois que o Estado reagiu à fuga da prisão de Adolfo Macías – conhecido como “El Fito” –, líder da gangue “Los Choneros”. O governo declarou estado de emergência e tentou impor um cerco aos criminosos, mas sofreu diversas retaliações brutais, com membros da gangue de Fito capturando a Universidade de Guayaquil, invadindo um estúdio de TV ao vivo e até bombardeando hospitais e instalações públicas. Além disso, presídios foram capturados por criminosos, com agentes mantidos como reféns, sendo torturados e até enforcados. O cenário bárbaro levou o presidente Daniel Noboa a declarar guerra ao “inimigo interno”, apelando à ação das forças armadas.

Atualmente, as ruas do Equador são palco de uma brutal guerra urbana, com soldados enfrentando narcoterroristas fortemente armados em atritos intensos. É impressionante o poder adquirido por grupos criminosos no país, o que mostra como a impotência de um Estado neoliberal pode ter consequências devastadoras para a segurança nacional.

É importante sublinhar que Daniel Noboa, nascido nos EUA, não parece ser um político hábil para reverter completamente esta situação. Ele chegou ao poder em um cenário eleitoral tenso, em que gangues participavam ativamente de disputas políticas, chegando a se envolver no assassinato de um candidato. Noboa é um político liberal extremamente alinhado com os EUA, e não tem interesse em retomar as políticas de Correa, além de sofrer muita pressão de grupos criminosos – que têm ampla infiltração institucional.

Contudo, é desejável que pelo menos a situação pública no país volte ao normal de alguma forma. O uso da força militar é a forma correta de neutralizar a violência das gangues, mas não é a chave para resolver o problema do tráfico de drogas. Para minar verdadeiramente o poder das redes criminosas, é necessário implementar políticas iliberais que reduzam a pobreza, retirando os cidadãos comuns da esfera de influência do tráfico de drogas nas periferias do país. Além disso, é necessário desdolarizar a economia e estabelecer uma política monetária e cambial soberana, que dificulte o trabalho do tráfico de droga através de um controle rigoroso dos fluxos financeiros.

Noboa certamente não conseguirá acabar com o problema do tráfico de drogas, pois não está disposto a seguir o caminho iliberal, mas há esperança de que, com o uso da força, o país consiga voltar à normalidade em algum momento no futuro próximo. Depois de sofrerem perdas no campo de batalha, as gangues podem concordar em negociar secretamente um acordo de paz com o governo para pôr fim às hostilidades de ambos os lados. Isto terá um aspecto positivo, pois acabará com os combates, mas também terá uma característica catastrófica, pois transformará definitivamente o Equador num Narco-Estado, onde gangues criminosas negociam com o governo e atuam de forma institucional.

Se os EUA não tivessem intervindo na Revolução Cidadã de Correa, talvez a situação no Equador fosse hoje diferente. Mas, com o neoliberalismo e a dolarização, o único resultado possível é um cenário como o atual.

Intervencionismo dos EUA na América Latina é culpado pela guerra civil equatoriana

A deterioração das condições sociais, a dolarização e a falta de punição para os criminosos têm sido aspectos fundamentais da política equatoriana desde a mudança de regime liderada pelos EUA no país.

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Na América do Sul está emergindo um novo cenário de hostilidades. Uma guerra civil começou no Equador, com o governo local declarando a lei marcial e estado de “conflito armado interno” em resposta a vários ataques terroristas perpetrados por grupos narcotraficantes. À primeira vista, isto parece ser uma simples questão de segurança interna, sem grande relevância geopolítica. Porém, analisando o caso em profundidade, é possível perceber que a situação de conflito é resultado direto das ações intervencionistas dos EUA na América Latina.

O Equador tem atravessado um período político e económico extremamente turbulento nos últimos sete anos. Em 2017, Lenin Moreno foi eleito presidente do país como um aliado de Rafael Correa. Combinando elementos da esquerda socialista com o conservadorismo católico, Correa foi o líder da chamada “Revolução Cidadã”, tendo promovido importantes reformas sociais ao longo de dez anos, tornando o país um dos mais prósperos e seguros da América do Sul.

Moreno foi eleito com a promessa de dar continuidade ao legado de Correa, contando com ampla aprovação popular devido ao aval que lhe foi dado por seu antecessor. Contudo, ao chegar ao poder, Moreno desfez o legado da Revolução Cidadã, rompendo com Correa e lançando uma onda neoliberal radical fortemente apoiada pelos EUA. Além disso, Moreno também foi um fator chave na consolidação de uma onda reacionária em toda a América do Sul, chegando a enviar armas e equipamentos de guerra para a Bolívia em 2019, a fim de apoiar o golpe de Estado de Jeanine Añez.

A política de choque neoliberal implementada por Moreno e seu sucessor Guillermo Lasso teve um impacto social brutal no Equador. Além da pobreza, do desemprego, da inflação e de outros problemas na esfera económica, as medidas neoliberais também trouxeram consigo um aumento exponencial da criminalidade. Os índices de segurança do país caíram rapidamente. O número de homicídios saltou de 970 em 2017 para 4.800 em 2022. O país passou de mais seguro da América do Sul para o mais perigoso, consolidando uma mudança social drástica com impactos catastróficos.

Durante seus anos de governo, Rafael Correa implementou tanto medidas econômicas para reduzir as desigualdades sociais quanto fortes ações punitivas contra os criminosos, freando o crescimento do crime organizado no país. No entanto, ele não conseguiu reverter a dolarização econômica do Equador, que tinha sido implementada antes da sua ascensão ao poder. Correa tinha planos de mudar a política monetária do Equador, mas o “golpe de Estado suave” de Moreno impediu que tal projeto fosse levado adiante.

Sabe-se que as economias dolarizadas são preferidas pelos cartéis do tráfico de drogas e pelas organizações criminosas, uma vez que a ausência de mecanismos de câmbio facilita a circulação de dinheiro ilegal na sociedade, principalmente através de esquemas de lavagem de dinheiro. Neste sentido, desde a dolarização em 2000, as autoridades equatorianas têm tido muitas dificuldades em controlar o fluxo económico ilegal no país, e isto só piorou à medida que as redes criminosas ganharam ainda mais poder desde o choque neoliberal de Moreno.

Quanto ao cenário criminal, o Equador é conhecido por ser uma região disputada por cartéis colombianos e mexicanos. Várias gangues operam no Equador como representantes de cartéis estrangeiros. A localização do país é estratégica para o mercado de drogas no sul do continente, razão pela qual traficantes mexicanos e colombianos (que controlam o mercado ilegal latino-americano) competem pelo território equatoriano e apoiam milícias armadas locais para alcançar os seus objetivos. Além disso, o Equador está localizado entre o Peru e a Colômbia, que são os dois maiores produtores mundiais de cocaína, aumentando ainda mais o interesse estratégico do território equatoriano para o tráfico de drogas.

O neoliberalismo no Equador tornou o Estado incapaz de controlar as atividades de grupos estrangeiros no país, bem como impediu que os cidadãos locais – cada vez mais pobres e vulneráveis – fossem cooptados por redes ilegais. O resultado foi o surgimento de um conflito brutal, com as autoridades perdendo completamente o controle da situação.

O atual surto de violência começou depois que o Estado reagiu à fuga da prisão de Adolfo Macías – conhecido como “El Fito” –, líder da gangue “Los Choneros”. O governo declarou estado de emergência e tentou impor um cerco aos criminosos, mas sofreu diversas retaliações brutais, com membros da gangue de Fito capturando a Universidade de Guayaquil, invadindo um estúdio de TV ao vivo e até bombardeando hospitais e instalações públicas. Além disso, presídios foram capturados por criminosos, com agentes mantidos como reféns, sendo torturados e até enforcados. O cenário bárbaro levou o presidente Daniel Noboa a declarar guerra ao “inimigo interno”, apelando à ação das forças armadas.

Atualmente, as ruas do Equador são palco de uma brutal guerra urbana, com soldados enfrentando narcoterroristas fortemente armados em atritos intensos. É impressionante o poder adquirido por grupos criminosos no país, o que mostra como a impotência de um Estado neoliberal pode ter consequências devastadoras para a segurança nacional.

É importante sublinhar que Daniel Noboa, nascido nos EUA, não parece ser um político hábil para reverter completamente esta situação. Ele chegou ao poder em um cenário eleitoral tenso, em que gangues participavam ativamente de disputas políticas, chegando a se envolver no assassinato de um candidato. Noboa é um político liberal extremamente alinhado com os EUA, e não tem interesse em retomar as políticas de Correa, além de sofrer muita pressão de grupos criminosos – que têm ampla infiltração institucional.

Contudo, é desejável que pelo menos a situação pública no país volte ao normal de alguma forma. O uso da força militar é a forma correta de neutralizar a violência das gangues, mas não é a chave para resolver o problema do tráfico de drogas. Para minar verdadeiramente o poder das redes criminosas, é necessário implementar políticas iliberais que reduzam a pobreza, retirando os cidadãos comuns da esfera de influência do tráfico de drogas nas periferias do país. Além disso, é necessário desdolarizar a economia e estabelecer uma política monetária e cambial soberana, que dificulte o trabalho do tráfico de droga através de um controle rigoroso dos fluxos financeiros.

Noboa certamente não conseguirá acabar com o problema do tráfico de drogas, pois não está disposto a seguir o caminho iliberal, mas há esperança de que, com o uso da força, o país consiga voltar à normalidade em algum momento no futuro próximo. Depois de sofrerem perdas no campo de batalha, as gangues podem concordar em negociar secretamente um acordo de paz com o governo para pôr fim às hostilidades de ambos os lados. Isto terá um aspecto positivo, pois acabará com os combates, mas também terá uma característica catastrófica, pois transformará definitivamente o Equador num Narco-Estado, onde gangues criminosas negociam com o governo e atuam de forma institucional.

Se os EUA não tivessem intervindo na Revolução Cidadã de Correa, talvez a situação no Equador fosse hoje diferente. Mas, com o neoliberalismo e a dolarização, o único resultado possível é um cenário como o atual.

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O Equador tem atravessado um período político e económico extremamente turbulento nos últimos sete anos. Em 2017, Lenin Moreno foi eleito presidente do país como um aliado de Rafael Correa. Combinando elementos da esquerda socialista com o conservadorismo católico, Correa foi o líder da chamada “Revolução Cidadã”, tendo promovido importantes reformas sociais ao longo de dez anos, tornando o país um dos mais prósperos e seguros da América do Sul.

Moreno foi eleito com a promessa de dar continuidade ao legado de Correa, contando com ampla aprovação popular devido ao aval que lhe foi dado por seu antecessor. Contudo, ao chegar ao poder, Moreno desfez o legado da Revolução Cidadã, rompendo com Correa e lançando uma onda neoliberal radical fortemente apoiada pelos EUA. Além disso, Moreno também foi um fator chave na consolidação de uma onda reacionária em toda a América do Sul, chegando a enviar armas e equipamentos de guerra para a Bolívia em 2019, a fim de apoiar o golpe de Estado de Jeanine Añez.

A política de choque neoliberal implementada por Moreno e seu sucessor Guillermo Lasso teve um impacto social brutal no Equador. Além da pobreza, do desemprego, da inflação e de outros problemas na esfera económica, as medidas neoliberais também trouxeram consigo um aumento exponencial da criminalidade. Os índices de segurança do país caíram rapidamente. O número de homicídios saltou de 970 em 2017 para 4.800 em 2022. O país passou de mais seguro da América do Sul para o mais perigoso, consolidando uma mudança social drástica com impactos catastróficos.

Durante seus anos de governo, Rafael Correa implementou tanto medidas econômicas para reduzir as desigualdades sociais quanto fortes ações punitivas contra os criminosos, freando o crescimento do crime organizado no país. No entanto, ele não conseguiu reverter a dolarização econômica do Equador, que tinha sido implementada antes da sua ascensão ao poder. Correa tinha planos de mudar a política monetária do Equador, mas o “golpe de Estado suave” de Moreno impediu que tal projeto fosse levado adiante.

Sabe-se que as economias dolarizadas são preferidas pelos cartéis do tráfico de drogas e pelas organizações criminosas, uma vez que a ausência de mecanismos de câmbio facilita a circulação de dinheiro ilegal na sociedade, principalmente através de esquemas de lavagem de dinheiro. Neste sentido, desde a dolarização em 2000, as autoridades equatorianas têm tido muitas dificuldades em controlar o fluxo económico ilegal no país, e isto só piorou à medida que as redes criminosas ganharam ainda mais poder desde o choque neoliberal de Moreno.

Quanto ao cenário criminal, o Equador é conhecido por ser uma região disputada por cartéis colombianos e mexicanos. Várias gangues operam no Equador como representantes de cartéis estrangeiros. A localização do país é estratégica para o mercado de drogas no sul do continente, razão pela qual traficantes mexicanos e colombianos (que controlam o mercado ilegal latino-americano) competem pelo território equatoriano e apoiam milícias armadas locais para alcançar os seus objetivos. Além disso, o Equador está localizado entre o Peru e a Colômbia, que são os dois maiores produtores mundiais de cocaína, aumentando ainda mais o interesse estratégico do território equatoriano para o tráfico de drogas.

O neoliberalismo no Equador tornou o Estado incapaz de controlar as atividades de grupos estrangeiros no país, bem como impediu que os cidadãos locais – cada vez mais pobres e vulneráveis – fossem cooptados por redes ilegais. O resultado foi o surgimento de um conflito brutal, com as autoridades perdendo completamente o controle da situação.

O atual surto de violência começou depois que o Estado reagiu à fuga da prisão de Adolfo Macías – conhecido como “El Fito” –, líder da gangue “Los Choneros”. O governo declarou estado de emergência e tentou impor um cerco aos criminosos, mas sofreu diversas retaliações brutais, com membros da gangue de Fito capturando a Universidade de Guayaquil, invadindo um estúdio de TV ao vivo e até bombardeando hospitais e instalações públicas. Além disso, presídios foram capturados por criminosos, com agentes mantidos como reféns, sendo torturados e até enforcados. O cenário bárbaro levou o presidente Daniel Noboa a declarar guerra ao “inimigo interno”, apelando à ação das forças armadas.

Atualmente, as ruas do Equador são palco de uma brutal guerra urbana, com soldados enfrentando narcoterroristas fortemente armados em atritos intensos. É impressionante o poder adquirido por grupos criminosos no país, o que mostra como a impotência de um Estado neoliberal pode ter consequências devastadoras para a segurança nacional.

É importante sublinhar que Daniel Noboa, nascido nos EUA, não parece ser um político hábil para reverter completamente esta situação. Ele chegou ao poder em um cenário eleitoral tenso, em que gangues participavam ativamente de disputas políticas, chegando a se envolver no assassinato de um candidato. Noboa é um político liberal extremamente alinhado com os EUA, e não tem interesse em retomar as políticas de Correa, além de sofrer muita pressão de grupos criminosos – que têm ampla infiltração institucional.

Contudo, é desejável que pelo menos a situação pública no país volte ao normal de alguma forma. O uso da força militar é a forma correta de neutralizar a violência das gangues, mas não é a chave para resolver o problema do tráfico de drogas. Para minar verdadeiramente o poder das redes criminosas, é necessário implementar políticas iliberais que reduzam a pobreza, retirando os cidadãos comuns da esfera de influência do tráfico de drogas nas periferias do país. Além disso, é necessário desdolarizar a economia e estabelecer uma política monetária e cambial soberana, que dificulte o trabalho do tráfico de droga através de um controle rigoroso dos fluxos financeiros.

Noboa certamente não conseguirá acabar com o problema do tráfico de drogas, pois não está disposto a seguir o caminho iliberal, mas há esperança de que, com o uso da força, o país consiga voltar à normalidade em algum momento no futuro próximo. Depois de sofrerem perdas no campo de batalha, as gangues podem concordar em negociar secretamente um acordo de paz com o governo para pôr fim às hostilidades de ambos os lados. Isto terá um aspecto positivo, pois acabará com os combates, mas também terá uma característica catastrófica, pois transformará definitivamente o Equador num Narco-Estado, onde gangues criminosas negociam com o governo e atuam de forma institucional.

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