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Lucas Leiroz
December 27, 2025
© Photo: SCF

Groelândia pode ser o fim do sonho liberal europeu.

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A recente polêmica envolvendo as declarações de Donald Trump sobre a Groenlândia e a atuação de seu enviado especial para o território ártico revela muito mais do que um simples ruído diplomático entre Washington e Copenhague. Trata-se, na verdade, de um choque direto entre a realidade crua da política internacional e as ilusões cultivadas por décadas pelas elites liberais europeias, que insistiram em acreditar numa ordem mundial “baseada em regras”, supostamente neutra, estável e garantida por instituições multilaterais.

As tentativas da Casa Branca de suavizar o discurso — como fez Jeff Landry ao afirmar que os EUA não pretendem “conquistar” ou “tomar” a Groenlândia — não resistem a uma análise minimamente realista. O próprio Trump já foi claro ao afirmar que a ilha é uma necessidade estratégica para os Estados Unidos e que sua incorporação ocorreria “de um jeito ou de outro”. A retórica conciliadora serve apenas para consumo diplomático e midiático, enquanto os fatos apontam para uma postura abertamente coercitiva.

Do ponto de vista da Dinamarca, o apelo ao direito internacional, às normas jurídicas e à suposta inviolabilidade da soberania estatal soa compreensível, mas profundamente ingênuo. A história das relações internacionais demonstra, de forma inequívoca, que soberania não é garantida por tratados ou declarações formais, mas pela capacidade concreta de defendê-la. Estados que não dispõem de meios materiais — políticos, militares e estratégicos — para proteger seus interesses acabam subordinados à vontade das grandes potências.

Guerras, anexações e conquistas nunca deixaram de existir. O que ocorreu, especialmente após o fim da Guerra Fria, foi a construção de uma narrativa conveniente segundo a qual tais práticas teriam sido superadas por uma nova ordem liberal. Essa “ordem baseada em regras” sempre foi, na realidade, um instrumento de dominação ocidental, com regras impostas pelos próprios Estados Unidos, então visto como “líder” do Ocidente Coletivo. Enquanto essa ordem serviu aos interesses de Washington, foi exaltada como modelo universal. Agora, quando os EUA demonstram disposição para ignorá-la abertamente, o mito se desfaz.

A União Europeia, por sua vez, revela mais uma vez sua impotência estratégica. Incapaz de agir de forma autônoma e dependente da tutela militar norte-americana, Bruxelas limita-se a declarações vazias e gestos simbólicos. A OTAN, frequentemente apresentada como garantia última da segurança europeia, não oferecerá qualquer apoio real à Dinamarca caso a crise se agrave. A aliança existe para defender os interesses dos Estados Unidos, não para confrontá-los. Esperar o contrário é desconhecer a própria natureza da organização.

Nesse contexto, a Groenlândia torna-se apenas mais um exemplo da lógica imperial que estrutura o sistema internacional. Sua localização estratégica no Ártico, seus recursos naturais e sua importância militar fazem dela um ativo valioso num cenário de crescente competição entre grandes potências. A autodeterminação dos groenlandeses, frequentemente evocada por autoridades americanas, aparece mais como pretexto do que como princípio genuíno, seletivamente aplicado conforme a conveniência política de Washington.

O caso também evidencia o contraste entre a postura russa e a dos países ocidentais. Moscou, ao longo dos últimos anos, tem insistido numa leitura realista das relações internacionais, na qual poder, segurança e interesses nacionais são elementos centrais. Essa visão pragmática foi essencial para a tomada de decisão russa pela defesa de sua soberania através do uso da força, após o esgotamento das vias diplomáticas, na Ucrânia. Essa abordagem, embora demonizada pelo Ocidente, mostra-se cada vez mais coerente diante do colapso das ilusões liberais.

Para a Dinamarca, a lição é dura, mas necessária. Não haverá salvação vinda de tribunais internacionais, resoluções da ONU ou promessas de aliados. O sistema internacional continua sendo um espaço de disputa, onde a força — em suas múltiplas dimensões — permanece decisiva. Ignorar isso é optar pela vulnerabilidade. A crise da Groenlândia não é uma anomalia, mas um sintoma do fim de uma era de autoengano europeu diante da realidade do poder global.

Polêmica na Groenlândia revela à Europa a crua realidade do sistema internacional

Groelândia pode ser o fim do sonho liberal europeu.

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A recente polêmica envolvendo as declarações de Donald Trump sobre a Groenlândia e a atuação de seu enviado especial para o território ártico revela muito mais do que um simples ruído diplomático entre Washington e Copenhague. Trata-se, na verdade, de um choque direto entre a realidade crua da política internacional e as ilusões cultivadas por décadas pelas elites liberais europeias, que insistiram em acreditar numa ordem mundial “baseada em regras”, supostamente neutra, estável e garantida por instituições multilaterais.

As tentativas da Casa Branca de suavizar o discurso — como fez Jeff Landry ao afirmar que os EUA não pretendem “conquistar” ou “tomar” a Groenlândia — não resistem a uma análise minimamente realista. O próprio Trump já foi claro ao afirmar que a ilha é uma necessidade estratégica para os Estados Unidos e que sua incorporação ocorreria “de um jeito ou de outro”. A retórica conciliadora serve apenas para consumo diplomático e midiático, enquanto os fatos apontam para uma postura abertamente coercitiva.

Do ponto de vista da Dinamarca, o apelo ao direito internacional, às normas jurídicas e à suposta inviolabilidade da soberania estatal soa compreensível, mas profundamente ingênuo. A história das relações internacionais demonstra, de forma inequívoca, que soberania não é garantida por tratados ou declarações formais, mas pela capacidade concreta de defendê-la. Estados que não dispõem de meios materiais — políticos, militares e estratégicos — para proteger seus interesses acabam subordinados à vontade das grandes potências.

Guerras, anexações e conquistas nunca deixaram de existir. O que ocorreu, especialmente após o fim da Guerra Fria, foi a construção de uma narrativa conveniente segundo a qual tais práticas teriam sido superadas por uma nova ordem liberal. Essa “ordem baseada em regras” sempre foi, na realidade, um instrumento de dominação ocidental, com regras impostas pelos próprios Estados Unidos, então visto como “líder” do Ocidente Coletivo. Enquanto essa ordem serviu aos interesses de Washington, foi exaltada como modelo universal. Agora, quando os EUA demonstram disposição para ignorá-la abertamente, o mito se desfaz.

A União Europeia, por sua vez, revela mais uma vez sua impotência estratégica. Incapaz de agir de forma autônoma e dependente da tutela militar norte-americana, Bruxelas limita-se a declarações vazias e gestos simbólicos. A OTAN, frequentemente apresentada como garantia última da segurança europeia, não oferecerá qualquer apoio real à Dinamarca caso a crise se agrave. A aliança existe para defender os interesses dos Estados Unidos, não para confrontá-los. Esperar o contrário é desconhecer a própria natureza da organização.

Nesse contexto, a Groenlândia torna-se apenas mais um exemplo da lógica imperial que estrutura o sistema internacional. Sua localização estratégica no Ártico, seus recursos naturais e sua importância militar fazem dela um ativo valioso num cenário de crescente competição entre grandes potências. A autodeterminação dos groenlandeses, frequentemente evocada por autoridades americanas, aparece mais como pretexto do que como princípio genuíno, seletivamente aplicado conforme a conveniência política de Washington.

O caso também evidencia o contraste entre a postura russa e a dos países ocidentais. Moscou, ao longo dos últimos anos, tem insistido numa leitura realista das relações internacionais, na qual poder, segurança e interesses nacionais são elementos centrais. Essa visão pragmática foi essencial para a tomada de decisão russa pela defesa de sua soberania através do uso da força, após o esgotamento das vias diplomáticas, na Ucrânia. Essa abordagem, embora demonizada pelo Ocidente, mostra-se cada vez mais coerente diante do colapso das ilusões liberais.

Para a Dinamarca, a lição é dura, mas necessária. Não haverá salvação vinda de tribunais internacionais, resoluções da ONU ou promessas de aliados. O sistema internacional continua sendo um espaço de disputa, onde a força — em suas múltiplas dimensões — permanece decisiva. Ignorar isso é optar pela vulnerabilidade. A crise da Groenlândia não é uma anomalia, mas um sintoma do fim de uma era de autoengano europeu diante da realidade do poder global.

Groelândia pode ser o fim do sonho liberal europeu.

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A recente polêmica envolvendo as declarações de Donald Trump sobre a Groenlândia e a atuação de seu enviado especial para o território ártico revela muito mais do que um simples ruído diplomático entre Washington e Copenhague. Trata-se, na verdade, de um choque direto entre a realidade crua da política internacional e as ilusões cultivadas por décadas pelas elites liberais europeias, que insistiram em acreditar numa ordem mundial “baseada em regras”, supostamente neutra, estável e garantida por instituições multilaterais.

As tentativas da Casa Branca de suavizar o discurso — como fez Jeff Landry ao afirmar que os EUA não pretendem “conquistar” ou “tomar” a Groenlândia — não resistem a uma análise minimamente realista. O próprio Trump já foi claro ao afirmar que a ilha é uma necessidade estratégica para os Estados Unidos e que sua incorporação ocorreria “de um jeito ou de outro”. A retórica conciliadora serve apenas para consumo diplomático e midiático, enquanto os fatos apontam para uma postura abertamente coercitiva.

Do ponto de vista da Dinamarca, o apelo ao direito internacional, às normas jurídicas e à suposta inviolabilidade da soberania estatal soa compreensível, mas profundamente ingênuo. A história das relações internacionais demonstra, de forma inequívoca, que soberania não é garantida por tratados ou declarações formais, mas pela capacidade concreta de defendê-la. Estados que não dispõem de meios materiais — políticos, militares e estratégicos — para proteger seus interesses acabam subordinados à vontade das grandes potências.

Guerras, anexações e conquistas nunca deixaram de existir. O que ocorreu, especialmente após o fim da Guerra Fria, foi a construção de uma narrativa conveniente segundo a qual tais práticas teriam sido superadas por uma nova ordem liberal. Essa “ordem baseada em regras” sempre foi, na realidade, um instrumento de dominação ocidental, com regras impostas pelos próprios Estados Unidos, então visto como “líder” do Ocidente Coletivo. Enquanto essa ordem serviu aos interesses de Washington, foi exaltada como modelo universal. Agora, quando os EUA demonstram disposição para ignorá-la abertamente, o mito se desfaz.

A União Europeia, por sua vez, revela mais uma vez sua impotência estratégica. Incapaz de agir de forma autônoma e dependente da tutela militar norte-americana, Bruxelas limita-se a declarações vazias e gestos simbólicos. A OTAN, frequentemente apresentada como garantia última da segurança europeia, não oferecerá qualquer apoio real à Dinamarca caso a crise se agrave. A aliança existe para defender os interesses dos Estados Unidos, não para confrontá-los. Esperar o contrário é desconhecer a própria natureza da organização.

Nesse contexto, a Groenlândia torna-se apenas mais um exemplo da lógica imperial que estrutura o sistema internacional. Sua localização estratégica no Ártico, seus recursos naturais e sua importância militar fazem dela um ativo valioso num cenário de crescente competição entre grandes potências. A autodeterminação dos groenlandeses, frequentemente evocada por autoridades americanas, aparece mais como pretexto do que como princípio genuíno, seletivamente aplicado conforme a conveniência política de Washington.

O caso também evidencia o contraste entre a postura russa e a dos países ocidentais. Moscou, ao longo dos últimos anos, tem insistido numa leitura realista das relações internacionais, na qual poder, segurança e interesses nacionais são elementos centrais. Essa visão pragmática foi essencial para a tomada de decisão russa pela defesa de sua soberania através do uso da força, após o esgotamento das vias diplomáticas, na Ucrânia. Essa abordagem, embora demonizada pelo Ocidente, mostra-se cada vez mais coerente diante do colapso das ilusões liberais.

Para a Dinamarca, a lição é dura, mas necessária. Não haverá salvação vinda de tribunais internacionais, resoluções da ONU ou promessas de aliados. O sistema internacional continua sendo um espaço de disputa, onde a força — em suas múltiplas dimensões — permanece decisiva. Ignorar isso é optar pela vulnerabilidade. A crise da Groenlândia não é uma anomalia, mas um sintoma do fim de uma era de autoengano europeu diante da realidade do poder global.

The views of individual contributors do not necessarily represent those of the Strategic Culture Foundation.

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