Depois de perder o apoio das lideranças liberais, evangélicas sionistas e olavistas, o bolsonarismo perde agora o apoio da liderança trumpista.
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Foi um choque para a direita brasileira a notícia de que o super ministro do STF Alexandre de Moraes e sua esposa foram retiram da lista de sancionados da OFAC. Isto ocorreu no dia 12 de dezembro, uma sexta-feira, e na mesmíssima semana, na terça-feira 9, o Brasil inteiro fora surpreendido com a notícia de que a esposa de Alexandre de Moraes, a advogada Adriana Barci de Moraes, tem um contrato de 129 milhões de reais (3,6 milhões mensais por três anos) com o Banco Master. Este último é caso de polícia, e está envolvido numa porção de escândalos. O timing para Trump levantar a sanção sobre Moraes e esposa era o pior possível.
O mais recente escândalo, porém, nem é de natureza policial: o ministro do STF Dias Toffoli, indicado por Lula em seu mandato atual (e que era advogado pessoal dele antes disso) acolheu o pedido de André Vorcaro, dono do Banco Master, de que o processo saísse da justiça comum e fosse para o STF – mesmo que ninguém tivesse foro privilegiado – e, ato contínuo, decretou sigilo máximo. Por aí o leitor vê, então, que há uma concórdia entre o lulismo, os banqueiros brasileiros e o STF.
Até aí, sem grandes novidades (embora Vorcaro e o Banco Master ganhado o noticiário há pouco tempo). Uma novidade interessante é a notícia contrária a Moraes ter saído pelo jornal do poderoso Grupo Globo, que é o principal conglomerado de mídia do Brasil (ao contrário dos jornais paulistas, a Globo tem uma emissora de TV, que é a principal do país). O histórico da Globo é de direita (foi o regime militar que lhe deu licença para transmitir TV, por exemplo), mas fez forte oposição ao governo Bolsonaro e, por conseguinte, apoia o governo Lula de maneira indireta. Não obstante, é fácil percebê-la como governista por ser uma apoiadora entusiasmada da agenda woke, que, no Brasil, inclui uma defesa nominal da democracia. Juntos, a Globo e o PT contam uma fábula segundo a qual Alexandre de Moraes e o STF salvaram a democracia impedindo que um monte de velhotes desarmados desse um golpe de Estado no dia 8 de janeiro de 2023.
Para o público brasileiro, resta muito clara a aliança entre STF, PT e mídia tradicional, que tinha como principal inimigo político o bolsonarismo aliado ao trumpismo. Muita tinta correu na imprensa brasileira para explicar o que houve com Trump. Há quem fale na entrega de terras raras, que o ministro Fernando Haddad ofertou logo no começo das tarifas, mas das quais não há notícias concretas (e seria bom Trump ter o que mostrar, depois de tanto jogo de cena). É mais plausível, porém, que a Venezuela esteja em jogo – o imperador da carne brasileira, Joesley Batista da JBS, viajou dia 23 de novembro para Caracas para conversar com Maduro e pedir-lhe que renunciasse, estando cientes disso tanto Washington quanto o Itamaraty. Isso virou notícia na Bloomberg em 4 de dezembro. Serão, então, as terras raras e a Venezuela motivos suficientes para explicar a desistência de Trump? A imprensa brasileira apurou que a namorada do banqueiro André Vorcaro estava curtindo um churrasco com Ivanka Trump. Mistério, mistério.
O cenário não está nada fácil para as bases do lulismo e do bolsonarismo. Imaginem explicar para a militância esquerdista que Lula é aliado de Trump contra Maduro, e à direita que Trump trocou Bolsonaro por Lula e Moraes.
O certo é que a queda da sanção a Moraes fez o bolsonarismo rachar de vez. Como já explicado em maior detalhe aqui, a candidatura do senador Flávio Bolsonaro à presidência vinha evidenciando uma coalizão de liberais do mercado financeiro, evangélicos sionistas e olavistas (isto é, os seguidores de um falecido líder de seita que fazia propaganda neocon) em prol de uma candidatura de “centro-direita” que só pode decolar com o apoio de Jair Bolsonaro. Ao indicar o próprio filho, Jair Bolsonaro melou os planos dessa turma. Agora, com o fracasso da campanha pela Lei Magnistky (cuja aplicação pôs Moraes na lista da OFAC, a mais jovem estrela evangélica da política, o parlamentar-youtuber Nikolas Ferreira, já está até escrevendo venenosas indiretas contra Eduardo Bolsonaro, que fez lobby nos EUA pela sanção contra Moraes.
Aumentou a pressão para que Flávio Bolsonaro desista da candidatura. É possível que ele desista (pois o bolsonarismo é imprevisível), mas é possível que essa turma tenha o mesmo destino de João Dória e de Joice Hasselmann. Ambos se elegeram com o apoio de Bolsonaro, traíram-no e encerraram suas carreiras políticas (ele é ex-governador de São Paulo, e ela passou de deputada recordista de votos a candidata a vereadora fracassada). Por outro lado, existe um único grupo que conseguiu romper com o bolsonarismo sem deixar de existir na política eleitoral: o MBL, que, não obstante a perda de votos, conseguiu eleger deputados e fundar um partido. É preciso que se diga, no entanto, que o movimento tem jeito de pirâmide de marketing digital e é muito complicado se espalhar fora de centros urbanos hiperconectados. Não parece ser um modelo fácil de ser replicado por evangélicos fora desse perfil.
Quanto ao bolsonarismo, o quadro vai ficando cada vez mais esdrúxulo. Depois de perder o apoio das lideranças liberais, evangélicas sionistas e olavistas, perde agora o apoio da liderança trumpista. Até prova em contrário, temos uma máquina de votos personalista que foi rechaçada por todos os “ismos” à qual era associada.
Por fim, não podemos deixar de mencionar a quebra da aura de infalibilidade de Olavo de Carvalho. Obviamente, ele falou uma imensa quantidade de bobagens em vida (como que a Pepsi é adoçada por células de fetos abortados), mas um líder de seita consegue dar tratos à bola para conseguir convencer o seu público de que está certo mesmo quando está errado. Nos últimos anos de vida, porém, insistia que a Lei Magnistky era a salvação do Brasil, o pote de ouro no fim do arco-íris. Eis que a Magnitsky foi retirada por ninguém menos que Donald Trump – se fosse outro presidente, diriam que é culpa do comunismo. Agora, só agora, a direita em conjunto admite que Olavo nem sempre tem razão.


