Comitê Olímpico Internacional baniu competições na Indonésia por se recusar a receber atletas israelenses, mas EUA proíbem atletas cubanos de entrarem no país e o COI se cala
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Os dirigentes do Comitê Olímpico Internacional (COI) gostam de dizer que seu trabalho é estritamente técnico e que a política não pode se misturar com o esporte. Portanto, o COI não faz escolhas políticas, caso contrário isso seria uma interferência indevida no mundo esportivo.
Mas essas declarações só valem para justificar sua inação quando os povos do mundo todo, inclusive atletas e entidades representativas da comunidade esportiva, exigem uma atuação da organização máxima do esporte mundial contra barbaridades cometidas contra a raça humana e que podem ser cometidas graças, entre outros, aos recursos recolhidos em eventos esportivos.
É o caso – o mais emblemático – do genocídio cometido por Israel em Gaza, em meio à guerra de agressão do imperialismo contra os palestinos, que se defendem com uma guerra revolucionária e anti-imperialista. Em meio às pressões crescentes do público e dos próprios atletas, Thomas Bach respondeu ao pedido do Comitê Olímpico da Palestina para excluir Israel dos Jogos de Paris: “os Jogos Olímpicos não são uma competição entre países, mas entre atletas”, além de fazer as contas: se o COI excluísse países por causa de guerras, metade dos países seriam excluídos, devido à alta quantidade de guerras e conflitos no mundo.
É claro que todos aqueles com um mínimo de pensamento crítico lembraram da suspensão da Rússia (e da Bielorrússia) pelo mesmo COI. A justificativa “técnica” é a de que esses dois países reconheceram a existência de comitês olímpicos de Lugansk, Donetsk, Kherson e Zaporizhia, o que violaria a soberania ucraniana sobre aqueles comitês. Ninguém acredita nesse argumento “técnico”, nesse pêlo em ovo encontrado pelo COI, uma mera desculpa para justificar a necessidade de banir russos e bielorrussos do esporte porque seus governos desafiaram os donos do COI – os países imperialistas.
Trata-se de uma manobra jurídica dentro do mundo esportivo. A Ucrânia tem soberania sobre aqueles comitês e isso não pode ser negado, diz o COI. Mas o mesmo COI reconheceu a existência do comitê olímpico do Kosovo em 2014, violando a soberania da Sérvia, que protestou e até hoje rechaça a existência de um comitê olímpico kosovar separado do sérvio. O COI ignorou os apelos sérvios e desde 2016 o Kosovo participa dos Jogos Olímpicos como membro pleno do COI. Para reconhecer o comitê kosovar, o COI passou por cima da própria regra que ele havia estabelecido, a de não reconhecer, desde 1996, novos comitês olímpicos de países que não são membros da ONU.
Aqui fica claro o duplo padrão, também adotado pela “comunidade internacional” imperialista: quando convém, defende-se a autodeterminação dos povos; quando não convém, a ignoram.
Mas voltemos ao caso de Israel. O COI também justificou sua recusa ao pedido palestino de suspensão de Israel dizendo que existem dois comitês nacionais, um palestino e outro israelense, que “vivem em convivência pacífica”. Mas o próprio fato de o comitê palestino pedir a suspensão do israelense demonstra claramente que não vivem em convivência pacífica. E esse pedido foi baseado em fatos evidentes: Israel utiliza sua participação do mundo esportivo como política de Estado, fortemente patrocinada pelo Estado, a partir de órgãos semi-estatais (como o comitê olímpico) para promover esse Estado em questão. Isso já foi declarado publicamente por autoridades e personalidades de alto nível do esporte israelense. E este Estado, além de dizimar a Faixa de Gaza e causar um genocídio de cerca de 70 mil palestinos, destruiu infraestrutura esportiva e matou centenas de atletas. Segundo um comunicado de agosto de autoridades esportivas palestinas, o genocídio já havia vitimado 774 esportistas e 288 instalações esportivas haviam sido completa ou parcialmente destruídas em Gaza e na Cisjordânia.
Diante de todos os crimes cometidos por Israel, e apoiada na decisão da Corte Arbitral do Esporte, a Indonésia negou o visto de ginastas israelenses para entrarem no país a fim de participar do Mundial de Ginástica Artística em Jakarta. O COI, então, agiu rapidamente e condenou… a Indonésia! Ainda baniu a realização de qualquer competição esportiva na nação asiática devido à recusa de receber atletas israelenses. O COI também deixou claro, em comunicado, que vai paralisar qualquer discussão sobre a candidatura de Jakarta como sede dos Jogos Olímpicos de 2036.
Esse caso é ainda mais revelador do duplo padrão do COI. Em julho deste ano, os Estados Unidos negaram vistos de entrada para 12 atletas, dois treinadores, uma árbitra e um gerente esportivo da seleção de voleibol de Cuba, que participariam de uma competição em Porto Rico. Na realidade, os EUA não deixaram nenhum esportista cubano entrar em seu território em 2025 – simplesmente 82 esportistas cubanos foram impedidos de participar de competições nos Estados Unidos este ano.
O COI simplesmente não se pronunciou sobre essa clara violação da Carta Olímpica, mesmo após denúncias insistentes apresentadas pelo comitê olímpico cubano.
O caso é incomparavelmente mais grave que o da Indonésia x Israel. São mais de 80 atletas de diferentes modalidades. Nenhum esportista cubano pôde disputar competições nos Estados Unidos neste ano. E não são apenas os cubanos vítimas dessa política norte-americana para com Cuba: o brasileiro Hugo Calderano, um dos principais mesa-tenistas da atualidade, também teve o visto de entrada negado pelos EUA, apenas porque haviam participado de uma competição em Cuba anteriormente. O COI também não se pronunciou.
Fica explícito o duplo padrão do COI. Mas fica claro também que ele não passa de uma ferramenta, uma das muitas, de dominação imperialista sobre o resto do mundo. É a ferramenta esportiva do imperialismo. Não é difícil tirar essa conclusão quando vemos a cachoeira de dinheiro proveniente dos EUA que cai sobre os dirigentes do COI. A principal fonte de recursos da entidade são os patrocinadores dos Jogos Olímpicos, sobretudo na área de entretenimento. E as principais companhias que compram os direitos de transmissão dos Jogos – em todas as plataformas, seja a TV, a Internet ou as redes sociais – são americanas. Em março deste ano, o COI assinou um contrato de 3 bilhões de dólares com a NBCUniversal. Além disso, mais de um terço dos principais parceiros do COI são corporações norte-americanas – fora as britânicas, alemãs, suíças, belgas etc, constituindo tudo isso um capital dos principais países imperialistas do mundo.
É óbvio que, com um controle como esse sobre o COI, os Estados Unidos e seus aliados podem rasgar e cuspir na Carta Olímpica que nada vai acontecer com eles. A Indonésia foi descartada de concorrer à sede das Olimpíadas de 2036 por negar visto de entrada a atletas de Israel. Se fosse coerente, o COI cancelaria os Jogos de Los Angeles de 2028 e os transferiria para outro país, já que os Estados Unidos se nega sistematicamente a emitir vistos para atletas cubanos – e até de outros países, por terem disputado competições em Cuba.
O COI é uma farsa que já há muito tempo não atende aos objetivos originais estabelecidos pelo Barão de Coubertin, de integração das nações, de fraternidade universal e paz entre os povos. O COI não passa de mais uma ferramenta de dominação dos povos por um punhado de países imperialistas liderados pelos Estados, assim como são a ONU e o Prêmio Nobel.


