O desenvolvimento tecnológico e de defesa, portanto, apesar de todos os percalços impostos pelo imperialismo, prosseguiu e se aprimorou.
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Em 4 de abril de 2014, ano do lançamento de novos mísseis balísticos pela RPDC, o secretário-geral da ONU apontou Hugh Griffiths como especialista em transporte aéreo do Painel de Especialistas do Comitê de Sanções à Coreia do Conselho de Segurança, substituindo Martin Uden, e Dmitry Kiku como substituto de Alexander Vilnin para os assuntos de controle de alfândega. O novo coordenador seria Eric Marzolf [1]. Embora não fosse um diplomata, Griffiths já havia trabalhado para governos de países da União Europeia, para a Comissão Europeia e para agências do governo dos Estados Unidos [2], incluindo o Departamento de Estado [3]. Este artigo é o quarto da série que analisa a atuação dos pretensos “especialistas” da ONU no trabalho de sanções multilaterais à República Popular Democrática da Coreia. O primeiro pode ser lido aqui, o segundo aqui e o terceiro aqui.
Porém, quando da apresentação do relatório anual do Painel, em 23 de fevereiro de 2015, a equipe de especialistas havia sofrido uma modificação considerável. Marzolf já não estava mais presente e havia sido substituído como representante da França por Benoît Camguilhem. Griffiths agora era o coordenador do Painel. Lee Jang-keun, o especialista sul-coreano, foi substituído por Youngwan Kim. E Stephanie Kleine-Ahlbrandt substituiu William J. Newcomb como nova especialista dos EUA.
Youngwan Kim havia feito mestrado em Governo e Ciência Política na Universidade de Virgínia entre 1999 e 2001 [4]. Ele iniciou sua carreira no Ministério de Relações Exteriores da Coreia do Sul em 1993, tendo ocupado diversos cargos naquele ministério, assim como postos diplomáticos em Nova Iorque, Washington D.C. e Los Angeles. Também trabalhou em outros setores do governo sul-coreano, como o Ministério da Unificação, o Escritório para a Coordenação de Política Governamental e o Escritório do Primeiro-Ministro. Serviu ainda como diretor-geral de Segurança Nacional e Política Externa do Escritório do Primeiro-Ministro [5].
Por sua vez, Benoît Camguilhem era um funcionário do Ministério da Defesa da França, tendo trabalhado como engenheiro, chefe de seção e conselheiro ministerial antes de ingressar na equipe de especialistas da ONU. Depois, voltou para o governo francês, tendo atuado na Secretaria Geral de Defesa e Segurança Nacional e em outros setores ligados à defesa [6]. E Stephanie Kleine-Ahlbrandt trabalhou no USIP, no Conselho de Relações Exteriores dos EUA e foi destacada pelo Departamento de Estado para a Missão da OSCE na Bósnia e Herzegovina, além de ter trabalhado com a ONU e com think tanks ligados a governos ocidentais [7].
O relatório apresentado em 27 de março de 2015 pelo Painel de Especialistas supunha que as resoluções das Nações Unidas que sancionaram a RPDC pretensamente não impediam a cooperação militar com outros países.
Contudo, tal cooperação deve ser alvo de escrutínio minucioso para evitar qualquer possível violação das resoluções, em particular das proibições de suprimento, venda ou transferência de armas e material relacionado, bem como treinamento técnico, aconselhamento, serviços ou assistência relacionada à provisão, manufatura, manutenção ou uso de tais itens. [8]
Na prática, as sanções tornavam quase impossível uma verdadeira cooperação militar com a RPDC. Um resultado óbvio das resoluções da ONU seria o enfraquecimento dramático da estrutura das forças armadas coreanas e da capacidade de defesa do país em um momento em que os Estados Unidos voltavam a armar e treinar o exército sul-coreano e aprimoravam a sua ocupação militar no sul da península coreana [9]. Pyongyang, que já estava acostumada havia quase 30 anos ao isolamento, inclusive militar, precisaria contar apenas com as suas próprias forças no treinamento e armamento das tropas.
O relatório ainda advertiu os países-membros da ONU para que tentassem evitar que seus cidadãos dessem presentes quando viajassem para a RPDC, citando o exemplo do ex-jogador de basquete da NBA Dennis Rodman. Quando ele visitou Kim Jong Un em dezembro de 2013, o teria presenteado com garrafas de vinho, bem como bolas e camisas de basquete. A companhia irlandesa Paddy Power, que acompanhou Rodman, teria presenteado Kim Jong Un com uma garrafa de uísque Jameson, um decantador e um conjunto de copos, roupas de bebê e uma bolsa Mulberry no valor de US$ 3.000,00 (três mil dólares). O governo dos EUA informou que tomaria as providências necessárias, uma vez que alguns itens se enquadrariam na categoria de bens de luxo. O governo da Irlanda argumentou que o valor dos objetos era muito baixo e, pela natureza das entregas, elas não poderiam ser consideradas uma troca comercial. O Painel concluiu que
O banimento de bens de luxo do Conselho de Segurança não faz distinção entre transferências comerciais e não-comerciais. Nenhuma das partes envolvidas teve a intenção de evadir ou violar o banimento de bens de luxo. Esse caso ilustra o risco potencial de viajantes violarem inadvertidamente o embargo de bens de luxo caso eles levem presentes ou outros itens para a República Popular Democrática da Coreia. [10]
As diferentes resoluções estabelecem que cada país-membro pode definir sua própria lista de bens de luxo, que então seriam banidos de serem vendidos (ou até de serem dados de presente!) para a RPDC. Itens que são considerados bens de luxo, dependendo do país, conforme relatado aos sucessivos painéis, incluem: carros, notebooks (inclusive os de segunda mão e usados), computadores, TVs e outros aparelhos eletrônicos domésticos, cosméticos, pianos e outros instrumentos musicais, equipamentos esportivos, cigarro, bebidas alcoólicas (até bebidas como vodca!), relógios e iates.
Naquele ano, a RPDC voltou a lançar mísseis balísticos, bem como um submarino balístico também foi revelado ao mundo. O desenvolvimento tecnológico e de defesa, portanto, apesar de todos os percalços impostos pelo imperialismo, prosseguiu e se aprimorou.
Referências
[1] “Letter dated 4 April 2014 from the Secretary-General addressed to the President of the Security Council”. United Nations Security Council (S/2014/248), 4 de abril de 2014. Disponível em: https://www.securitycouncilreport.org/atf/cf/%7B65BFCF9B-6D27-4E9C-8CD3-CF6E4FF96FF9%7D/s_2014_248.pdf. Acesso em 15 de dezembro de 2024.
[2] Hugh Griffiths, Senior Researcher. Stockholm International Peace Research Institute. Disponível em: https://www.sipri.org/about/bios/hugh-griffiths. Acesso em 15 de dezembro de 2024.
[3] Mr. Hugh Griffiths, Coordinator of the UN Panel of Experts on North Korea. United States House of Representatives. Disponível em: https://docs.house.gov/meetings/FA/FA05/20190327/109188/HHRG-116-FA05-Bio-GriffithsH-20190327.pdf. Acesso em 15 de dezembro de 2024.
[4] Youngwan Kim. LinkedIn. Disponível em: https://www.linkedin.com/in/youngwan-kim-825a56ba/. Acesso em 22 de dezembro de 2024.
[5] “The Honorable Youngwan Kim”. Member. Pacific Council on International Policy. Disponível em: https://www.pacificcouncil.org/about/network/profile/kyung-jae-park. Acesso em 22 de dezembro de 2024.
[6] Benoît Camguilhem. LinkedIn. Disponível em: https://www.linkedin.com/in/benoit-camguilhem-b1a62b67/. Acesso em 22 de dezembro de 2024.
[7] Stephanie Kleine-Ahlbrandt. LinkedIn. Disponível em: https://www.linkedin.com/in/kleine/. Acesso em 22 de dezembro de 2024.
[8] “Report of the Panel of Experts established pursuant to resolution 1874 (2009)”. United Nations Security Council (S/2015/131), 23 de fevereiro de 2015, p.33. Disponível em: https://www.securitycouncilreport.org/atf/cf/%7B65BFCF9B-6D27-4E9C-8CD3-CF6E4FF96FF9%7D/s_2015_131.pdf. Acesso em 23 de dezembro de 2024.
[9] Durante a década de 2010, Camp Hamphreys, onde está lotada a maior parte das tropas dos EUA na Coreia do Sul, sofreu significativa expansão e se consolidou como a maior base militar norte-americana em todo o mundo. Além disso, parte da sociedade sul-coreana pedia que o Pentágono voltasse a equipar seu país com as armas nucleares que ele havia retirado em 1991, ou mesmo que Seul desenvolvesse um programa nuclear próprio. In: Campbell, Caitlin; Arabia, Christina L. “U.S.-South Korea Alliance: Issues for Congress”. In Focus 11388, version 7. Congressional Research Service, 12 de setembro de 2023. Disponível em: https://crsreports.congress.gov/product/pdf/IF/IF11388. Acesso em 23 de dezembro de 2024.
[10] Op.cit, p. 43.