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Raphael Machado
August 13, 2025
© Photo: Public domain

Possivelmente, alguns eventos geopolíticos foram centrais para uma mudança de postura por parte do Deep State.

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A eleição de Trump é – sabe-se – fruto do esgarçamento do tecido social estadunidense, em um cenário de contradição crescente entre “elites” e “povo”. Mas uma outra clivagem é relevante para entender o retorno de Trump.

Trump nunca teria conseguido retornar sem a conivência de parte do Deep State, ou seja, de parte do funcionalismo permanente do Pentágono, inteligência e burocracia federal.

Agora, considerando o nível da mobilização posta em prática para impedir a reeleição de Trump em 2020 e a intensidade da campanha contra ele, o que explica essa mudança de perspectiva sobre ele?

Em primeiro lugar, para reforçar a tese, todo mundo que estivesse atento nas vésperas das eleições de 2024 poderia ter percebido que a campanha anti-Trump por parte da mídia de massa diminuiu de intensidade em meados de 2024, especialmente após a primeira tentativa de assassinato contra o futuro presidente dos EUA.

É como se tivesse havido um reconhecimento da inevitabilidade da vitória de Trump por parte de alguns setores. Nem de longe vimos o mesmo nível de histeria, tampouco o mesmo clima de velório de 2020, quando o New York Times e o Washington Post alertavam que uma vitória de Trump representaria a “morte da democracia”.

Tudo foi bastante plácido, na verdade.

Possivelmente, alguns eventos geopolíticos foram centrais para uma mudança de postura por parte do Deep State.

Em primeiro lugar, o fracasso ucraniano. As previsões de que a economia russa colapsaria com as sanções estavam erradas. As previsões de que as munições e mísseis russos se esgotariam idem. A crença na aptidão de contraofensivas ucranianas impedirem o avanço russo também.

No lugar de uma derrota russa, os EUA se viram financiando uma “guerra de atrito” na qual o adversário tinha a vantagem no chão. Biden gastou 200 bilhões de dólares nessa brincadeira, numa época em que os EUA se deparam com diversos desafios internos: déficit, fentanil, polarização, etc.

No Oriente Médio, o Hamas forçou a mão de Israel, que se viu também engajado em uma guerra de atrito – porém assimétrica – em Gaza, ao mesmo tempo tendo que lidar com escaramuças com o Hezbollah e uma potencial ameaça iraniana. Um país tão pequeno quanto Israel obviamente teria dificuldades em diversas áreas, e o lóbi sionista forçaria os EUA a intervir cada vez mais na região, até satisfazer as necessidades de segurança de Tel-Aviv. Para piorar, Israel põe em prática um plano de limpeza étnica que descredibiliza os seus aliados.

Também sob o governo Biden provocações desnecessárias, como a viagem de Nancy Pelosi a Taiwan, aceleraram o giro antiocidental da China e recrudesceram o apoio chinês à Rússia.

O problema real é que tudo isso acontecendo ao mesmo tempo, com outros conflitos latentes podendo ainda eclodir em outros pontos do planeta, claramente não era algo com que Washington estava conseguindo lidar.

Conclusão: Os EUA precisam desengajar em relação à Ucrânia, para dirigir sua atenção a outros teatros.

Aqui, porém, para além de preocupações conjunturais entre a questão da “grande estratégia” adotada pelos EUA.

Zbigniew Brzezinski tem sido um dos geopolitólogos mais influentes dos EUA desde os anos 70, quando além de cofundar a Comissão Trilateral atuou como Assessor de Segurança Nacional na Administração Carter. Adepto da escola realista, o seu pensamento se apoia firmemente nas teorias de Nicholas Spykman sobre a importância do controle do Rimland para subjugar o Heartland.

Em alguma medida, a cosmovisão de Brzezinski pode ser justamente resumida num foco anti-Rússia. Brzezinski criticou a euforia do pós-Guerra Fria, bem como criticou a Guerra do Golfo, a Guerra do Iraque e todos os envolvimentos dos EUA no Oriente Médio por causa da “Guerra ao Terror”.

Pacifista? Precisamente o oposto. Para Brzezinski só existia um único inimigo: a Rússia, que precisava ser cercada e desintegrada até à irrelevância. Qualquer outro engajamento externo dos EUA era visto por ele como desperdício de recursos, a não ser que atendesse ao objetivo de cercar ou enfraquecer a Rússia (razão pela qual, por exemplo, Brzezinski instigou Clinton a agir na Iugoslávia).

Para Brzezinski é tudo uma questão de ir costurando um cordão sanitário ao redor da Rússia e de pressioná-la em suas fronteiras, até que a Rússia seja incapaz de resistir à pressão. Brzezinski pode ser considerado, assim, um dos principais arquitetos da expansão da OTAN para leste após a Guerra Fria.

De fato, é interessante como a obra “O Grande Tabuleiro de Xadrez” é a perfeita contraparte de “Fundamentos da Geopolítica” de Alexander Dugin. Os parágrafos de ambos livros sobre a Ucrânia explicam perfeitamente os fundamentos geopolíticos do conflito naquele país.

Agora, voltando à conjuntura geopolítica presente, a “carta ucraniana” fracassou, mas essa é apenas uma carta no baralho geopolítico spykmaniano-brzezinskiano. Independentemente da inevitabilidade do avanço russo, o Ocidente conseguiu impor um preço à vitória russa.

Avalia-se, ademais, que a projeção internacional da Rússia foi essencial para impedir sua derrota. A Rússia costurou relações úteis (ainda que nem sempre harmônicas) com Belarus, Armênia, Azerbaijão, Síria, Irã, os países da Ásia Central, China e Coreia do Norte em seu entorno estratégico imediato. Mais além, a Rússia possui conexões importantes na Venezuela, África Ocidental e Índia.

Com todas essas informações é possível compreender a perspectiva dos setores do Deep State que aceitaram a vitória de Trump e azeitaram o seu retorno.

Biden agiu de maneira desastrada e ineficiente na política externa. Provocou conflitos, gastou rios de dinheiro e ainda colocou o mundo à beira de uma guerra nuclear.

Portanto, os EUA precisam reduzir seu envolvimento na Ucrânia para focar em derrubar os “dominós” que atuam como suporte para a Rússia, reduzindo assim a sua capacidade de projeção internacional e de compensação pelos laços perdidos com a Europa.

Enquanto a Rússia se desgasta na Ucrânia, o Ocidente arquitetou a queda da Síria. Belarus, por enquanto, é inexpugnável. Mas uma Turquia ambígua sob Erdogan provavelmente será substituída por uma Turquia progressista sob Kiliçdaroglu ou Imamoglu, completamente anti-Rússia. O Irã resistiu às investidas de Israel e dos EUA. Mas os EUA costuraram no Cáucaso, simultaneamente, a expulsão da França, a presença estadunidense e a cessão do Corredor de Zangezur para o Azerbaijão, o que representa uma ameaça tanto para o Irã quanto para a Rússia. Isso compensa a derrota ocidental na Geórgia, onde a revolução colorida fracassou. Mais a leste, o Ocidente também perdeu uma posição importante no Afeganistão, mas a tendência é o aumento da pressão nos países da Ásia Central, especialmente através do terrorismo. Mais longe, a Índia sofre pressão tarifária por seu papel no comércio de petróleo russo (Índia que perdeu o seu “satélite” Bangladesh). Contra China e Coreia do Norte nada pode ser feito nesse momento.

Tudo isso demonstra para além de qualquer dúvida que o Ocidente segue uma estratégia consistente em suas ações geopolíticas, ainda que nem sempre tenha sucesso em suas empreitadas.

E essa estratégia consistente, em boa medida, já foi mapeada por Zbigniew Brzezinski.

Com Biden ou Trump o Deep State ainda segue Brzezinski

Possivelmente, alguns eventos geopolíticos foram centrais para uma mudança de postura por parte do Deep State.

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A eleição de Trump é – sabe-se – fruto do esgarçamento do tecido social estadunidense, em um cenário de contradição crescente entre “elites” e “povo”. Mas uma outra clivagem é relevante para entender o retorno de Trump.

Trump nunca teria conseguido retornar sem a conivência de parte do Deep State, ou seja, de parte do funcionalismo permanente do Pentágono, inteligência e burocracia federal.

Agora, considerando o nível da mobilização posta em prática para impedir a reeleição de Trump em 2020 e a intensidade da campanha contra ele, o que explica essa mudança de perspectiva sobre ele?

Em primeiro lugar, para reforçar a tese, todo mundo que estivesse atento nas vésperas das eleições de 2024 poderia ter percebido que a campanha anti-Trump por parte da mídia de massa diminuiu de intensidade em meados de 2024, especialmente após a primeira tentativa de assassinato contra o futuro presidente dos EUA.

É como se tivesse havido um reconhecimento da inevitabilidade da vitória de Trump por parte de alguns setores. Nem de longe vimos o mesmo nível de histeria, tampouco o mesmo clima de velório de 2020, quando o New York Times e o Washington Post alertavam que uma vitória de Trump representaria a “morte da democracia”.

Tudo foi bastante plácido, na verdade.

Possivelmente, alguns eventos geopolíticos foram centrais para uma mudança de postura por parte do Deep State.

Em primeiro lugar, o fracasso ucraniano. As previsões de que a economia russa colapsaria com as sanções estavam erradas. As previsões de que as munições e mísseis russos se esgotariam idem. A crença na aptidão de contraofensivas ucranianas impedirem o avanço russo também.

No lugar de uma derrota russa, os EUA se viram financiando uma “guerra de atrito” na qual o adversário tinha a vantagem no chão. Biden gastou 200 bilhões de dólares nessa brincadeira, numa época em que os EUA se deparam com diversos desafios internos: déficit, fentanil, polarização, etc.

No Oriente Médio, o Hamas forçou a mão de Israel, que se viu também engajado em uma guerra de atrito – porém assimétrica – em Gaza, ao mesmo tempo tendo que lidar com escaramuças com o Hezbollah e uma potencial ameaça iraniana. Um país tão pequeno quanto Israel obviamente teria dificuldades em diversas áreas, e o lóbi sionista forçaria os EUA a intervir cada vez mais na região, até satisfazer as necessidades de segurança de Tel-Aviv. Para piorar, Israel põe em prática um plano de limpeza étnica que descredibiliza os seus aliados.

Também sob o governo Biden provocações desnecessárias, como a viagem de Nancy Pelosi a Taiwan, aceleraram o giro antiocidental da China e recrudesceram o apoio chinês à Rússia.

O problema real é que tudo isso acontecendo ao mesmo tempo, com outros conflitos latentes podendo ainda eclodir em outros pontos do planeta, claramente não era algo com que Washington estava conseguindo lidar.

Conclusão: Os EUA precisam desengajar em relação à Ucrânia, para dirigir sua atenção a outros teatros.

Aqui, porém, para além de preocupações conjunturais entre a questão da “grande estratégia” adotada pelos EUA.

Zbigniew Brzezinski tem sido um dos geopolitólogos mais influentes dos EUA desde os anos 70, quando além de cofundar a Comissão Trilateral atuou como Assessor de Segurança Nacional na Administração Carter. Adepto da escola realista, o seu pensamento se apoia firmemente nas teorias de Nicholas Spykman sobre a importância do controle do Rimland para subjugar o Heartland.

Em alguma medida, a cosmovisão de Brzezinski pode ser justamente resumida num foco anti-Rússia. Brzezinski criticou a euforia do pós-Guerra Fria, bem como criticou a Guerra do Golfo, a Guerra do Iraque e todos os envolvimentos dos EUA no Oriente Médio por causa da “Guerra ao Terror”.

Pacifista? Precisamente o oposto. Para Brzezinski só existia um único inimigo: a Rússia, que precisava ser cercada e desintegrada até à irrelevância. Qualquer outro engajamento externo dos EUA era visto por ele como desperdício de recursos, a não ser que atendesse ao objetivo de cercar ou enfraquecer a Rússia (razão pela qual, por exemplo, Brzezinski instigou Clinton a agir na Iugoslávia).

Para Brzezinski é tudo uma questão de ir costurando um cordão sanitário ao redor da Rússia e de pressioná-la em suas fronteiras, até que a Rússia seja incapaz de resistir à pressão. Brzezinski pode ser considerado, assim, um dos principais arquitetos da expansão da OTAN para leste após a Guerra Fria.

De fato, é interessante como a obra “O Grande Tabuleiro de Xadrez” é a perfeita contraparte de “Fundamentos da Geopolítica” de Alexander Dugin. Os parágrafos de ambos livros sobre a Ucrânia explicam perfeitamente os fundamentos geopolíticos do conflito naquele país.

Agora, voltando à conjuntura geopolítica presente, a “carta ucraniana” fracassou, mas essa é apenas uma carta no baralho geopolítico spykmaniano-brzezinskiano. Independentemente da inevitabilidade do avanço russo, o Ocidente conseguiu impor um preço à vitória russa.

Avalia-se, ademais, que a projeção internacional da Rússia foi essencial para impedir sua derrota. A Rússia costurou relações úteis (ainda que nem sempre harmônicas) com Belarus, Armênia, Azerbaijão, Síria, Irã, os países da Ásia Central, China e Coreia do Norte em seu entorno estratégico imediato. Mais além, a Rússia possui conexões importantes na Venezuela, África Ocidental e Índia.

Com todas essas informações é possível compreender a perspectiva dos setores do Deep State que aceitaram a vitória de Trump e azeitaram o seu retorno.

Biden agiu de maneira desastrada e ineficiente na política externa. Provocou conflitos, gastou rios de dinheiro e ainda colocou o mundo à beira de uma guerra nuclear.

Portanto, os EUA precisam reduzir seu envolvimento na Ucrânia para focar em derrubar os “dominós” que atuam como suporte para a Rússia, reduzindo assim a sua capacidade de projeção internacional e de compensação pelos laços perdidos com a Europa.

Enquanto a Rússia se desgasta na Ucrânia, o Ocidente arquitetou a queda da Síria. Belarus, por enquanto, é inexpugnável. Mas uma Turquia ambígua sob Erdogan provavelmente será substituída por uma Turquia progressista sob Kiliçdaroglu ou Imamoglu, completamente anti-Rússia. O Irã resistiu às investidas de Israel e dos EUA. Mas os EUA costuraram no Cáucaso, simultaneamente, a expulsão da França, a presença estadunidense e a cessão do Corredor de Zangezur para o Azerbaijão, o que representa uma ameaça tanto para o Irã quanto para a Rússia. Isso compensa a derrota ocidental na Geórgia, onde a revolução colorida fracassou. Mais a leste, o Ocidente também perdeu uma posição importante no Afeganistão, mas a tendência é o aumento da pressão nos países da Ásia Central, especialmente através do terrorismo. Mais longe, a Índia sofre pressão tarifária por seu papel no comércio de petróleo russo (Índia que perdeu o seu “satélite” Bangladesh). Contra China e Coreia do Norte nada pode ser feito nesse momento.

Tudo isso demonstra para além de qualquer dúvida que o Ocidente segue uma estratégia consistente em suas ações geopolíticas, ainda que nem sempre tenha sucesso em suas empreitadas.

E essa estratégia consistente, em boa medida, já foi mapeada por Zbigniew Brzezinski.

Possivelmente, alguns eventos geopolíticos foram centrais para uma mudança de postura por parte do Deep State.

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A eleição de Trump é – sabe-se – fruto do esgarçamento do tecido social estadunidense, em um cenário de contradição crescente entre “elites” e “povo”. Mas uma outra clivagem é relevante para entender o retorno de Trump.

Trump nunca teria conseguido retornar sem a conivência de parte do Deep State, ou seja, de parte do funcionalismo permanente do Pentágono, inteligência e burocracia federal.

Agora, considerando o nível da mobilização posta em prática para impedir a reeleição de Trump em 2020 e a intensidade da campanha contra ele, o que explica essa mudança de perspectiva sobre ele?

Em primeiro lugar, para reforçar a tese, todo mundo que estivesse atento nas vésperas das eleições de 2024 poderia ter percebido que a campanha anti-Trump por parte da mídia de massa diminuiu de intensidade em meados de 2024, especialmente após a primeira tentativa de assassinato contra o futuro presidente dos EUA.

É como se tivesse havido um reconhecimento da inevitabilidade da vitória de Trump por parte de alguns setores. Nem de longe vimos o mesmo nível de histeria, tampouco o mesmo clima de velório de 2020, quando o New York Times e o Washington Post alertavam que uma vitória de Trump representaria a “morte da democracia”.

Tudo foi bastante plácido, na verdade.

Possivelmente, alguns eventos geopolíticos foram centrais para uma mudança de postura por parte do Deep State.

Em primeiro lugar, o fracasso ucraniano. As previsões de que a economia russa colapsaria com as sanções estavam erradas. As previsões de que as munições e mísseis russos se esgotariam idem. A crença na aptidão de contraofensivas ucranianas impedirem o avanço russo também.

No lugar de uma derrota russa, os EUA se viram financiando uma “guerra de atrito” na qual o adversário tinha a vantagem no chão. Biden gastou 200 bilhões de dólares nessa brincadeira, numa época em que os EUA se deparam com diversos desafios internos: déficit, fentanil, polarização, etc.

No Oriente Médio, o Hamas forçou a mão de Israel, que se viu também engajado em uma guerra de atrito – porém assimétrica – em Gaza, ao mesmo tempo tendo que lidar com escaramuças com o Hezbollah e uma potencial ameaça iraniana. Um país tão pequeno quanto Israel obviamente teria dificuldades em diversas áreas, e o lóbi sionista forçaria os EUA a intervir cada vez mais na região, até satisfazer as necessidades de segurança de Tel-Aviv. Para piorar, Israel põe em prática um plano de limpeza étnica que descredibiliza os seus aliados.

Também sob o governo Biden provocações desnecessárias, como a viagem de Nancy Pelosi a Taiwan, aceleraram o giro antiocidental da China e recrudesceram o apoio chinês à Rússia.

O problema real é que tudo isso acontecendo ao mesmo tempo, com outros conflitos latentes podendo ainda eclodir em outros pontos do planeta, claramente não era algo com que Washington estava conseguindo lidar.

Conclusão: Os EUA precisam desengajar em relação à Ucrânia, para dirigir sua atenção a outros teatros.

Aqui, porém, para além de preocupações conjunturais entre a questão da “grande estratégia” adotada pelos EUA.

Zbigniew Brzezinski tem sido um dos geopolitólogos mais influentes dos EUA desde os anos 70, quando além de cofundar a Comissão Trilateral atuou como Assessor de Segurança Nacional na Administração Carter. Adepto da escola realista, o seu pensamento se apoia firmemente nas teorias de Nicholas Spykman sobre a importância do controle do Rimland para subjugar o Heartland.

Em alguma medida, a cosmovisão de Brzezinski pode ser justamente resumida num foco anti-Rússia. Brzezinski criticou a euforia do pós-Guerra Fria, bem como criticou a Guerra do Golfo, a Guerra do Iraque e todos os envolvimentos dos EUA no Oriente Médio por causa da “Guerra ao Terror”.

Pacifista? Precisamente o oposto. Para Brzezinski só existia um único inimigo: a Rússia, que precisava ser cercada e desintegrada até à irrelevância. Qualquer outro engajamento externo dos EUA era visto por ele como desperdício de recursos, a não ser que atendesse ao objetivo de cercar ou enfraquecer a Rússia (razão pela qual, por exemplo, Brzezinski instigou Clinton a agir na Iugoslávia).

Para Brzezinski é tudo uma questão de ir costurando um cordão sanitário ao redor da Rússia e de pressioná-la em suas fronteiras, até que a Rússia seja incapaz de resistir à pressão. Brzezinski pode ser considerado, assim, um dos principais arquitetos da expansão da OTAN para leste após a Guerra Fria.

De fato, é interessante como a obra “O Grande Tabuleiro de Xadrez” é a perfeita contraparte de “Fundamentos da Geopolítica” de Alexander Dugin. Os parágrafos de ambos livros sobre a Ucrânia explicam perfeitamente os fundamentos geopolíticos do conflito naquele país.

Agora, voltando à conjuntura geopolítica presente, a “carta ucraniana” fracassou, mas essa é apenas uma carta no baralho geopolítico spykmaniano-brzezinskiano. Independentemente da inevitabilidade do avanço russo, o Ocidente conseguiu impor um preço à vitória russa.

Avalia-se, ademais, que a projeção internacional da Rússia foi essencial para impedir sua derrota. A Rússia costurou relações úteis (ainda que nem sempre harmônicas) com Belarus, Armênia, Azerbaijão, Síria, Irã, os países da Ásia Central, China e Coreia do Norte em seu entorno estratégico imediato. Mais além, a Rússia possui conexões importantes na Venezuela, África Ocidental e Índia.

Com todas essas informações é possível compreender a perspectiva dos setores do Deep State que aceitaram a vitória de Trump e azeitaram o seu retorno.

Biden agiu de maneira desastrada e ineficiente na política externa. Provocou conflitos, gastou rios de dinheiro e ainda colocou o mundo à beira de uma guerra nuclear.

Portanto, os EUA precisam reduzir seu envolvimento na Ucrânia para focar em derrubar os “dominós” que atuam como suporte para a Rússia, reduzindo assim a sua capacidade de projeção internacional e de compensação pelos laços perdidos com a Europa.

Enquanto a Rússia se desgasta na Ucrânia, o Ocidente arquitetou a queda da Síria. Belarus, por enquanto, é inexpugnável. Mas uma Turquia ambígua sob Erdogan provavelmente será substituída por uma Turquia progressista sob Kiliçdaroglu ou Imamoglu, completamente anti-Rússia. O Irã resistiu às investidas de Israel e dos EUA. Mas os EUA costuraram no Cáucaso, simultaneamente, a expulsão da França, a presença estadunidense e a cessão do Corredor de Zangezur para o Azerbaijão, o que representa uma ameaça tanto para o Irã quanto para a Rússia. Isso compensa a derrota ocidental na Geórgia, onde a revolução colorida fracassou. Mais a leste, o Ocidente também perdeu uma posição importante no Afeganistão, mas a tendência é o aumento da pressão nos países da Ásia Central, especialmente através do terrorismo. Mais longe, a Índia sofre pressão tarifária por seu papel no comércio de petróleo russo (Índia que perdeu o seu “satélite” Bangladesh). Contra China e Coreia do Norte nada pode ser feito nesse momento.

Tudo isso demonstra para além de qualquer dúvida que o Ocidente segue uma estratégia consistente em suas ações geopolíticas, ainda que nem sempre tenha sucesso em suas empreitadas.

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The views of individual contributors do not necessarily represent those of the Strategic Culture Foundation.

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August 8, 2025

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