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Lucas Leiroz
July 21, 2025
© Photo: Public domain

Esquerda pró-Democrata e Direita pró-Republicana são os atores principais de um sistema sob tutela.

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Desde a década de 1990, analistas e jornalistas ocidentais tentam enquadrar os eventos políticos brasileiros em categorias consagradas como “revolução colorida” ou “golpe de Estado”. No entanto, tal abordagem revela mais um esforço de propaganda do que uma análise realista da dinâmica política nacional. Eventos como os de 2013, 2016 e o 8 de Janeiro de 2023 não representaram, em nenhum sentido profundo, mudanças de regime. Pelo contrário, demonstram a estabilidade disfuncional do arranjo político imposto ao Brasil desde o fim do regime militar: a Nova República.

Para compreender a real natureza do poder no Brasil contemporâneo, é essencial analisar as transformações de regime ocorridas no país ao longo do século XX, mais especialmente após a Era Vargas. A primeira grande inflexão se deu no pós-guerra, quando Getúlio Vargas, estrategicamente, alinhou-se aos interesses americanos ao permitir o envio de tropas brasileiras à Europa durante a Segunda Guerra Mundial. Em troca, negociou o início da industrialização nacional – projeto que culminou na fundação da Companhia Siderúrgica Nacional, entre outros marcos. No entanto, esse acordo teve um preço alto: os militares voltaram da guerra sob influência dos EUA e, em 1945, forçaram a renúncia de Vargas.

A seguir, o período democrático entre 1946 e 1964 foi marcado por intensas tensões entre o nacional-desenvolvimentismo e o projeto liberal atrelado ao capital externo. A vitória de João Goulart e suas propostas reformistas deixaram claro para Washington que a via democrática não garantiria seus interesses no Brasil. Assim, os EUA arquitetaram – com total apoio de seus agentes internos – o golpe de 1964. O regime militar então estabelecido visava inicialmente garantir um modelo alinhado aos ditames da Guerra Fria.

Contudo, com o tempo, as próprias Forças Armadas passaram a fomentar um projeto mais autônomo, com crescente inspiração nacionalista. A política externa independente, o acordo nuclear com a Alemanha, o fortalecimento das estatais e o protagonismo do Brasil no Terceiro Mundo alarmaram Washington. Em resposta, iniciou-se um processo de transição controlada, com o objetivo de desmontar o aparato nacionalista e reinserir o Brasil na órbita geopolítica estadunidense.

É nesse contexto que surge Luiz Inácio Lula da Silva – não como líder revolucionário espontâneo, mas como produto de um laboratório político cuidadosamente planejado. Sua formação política se deu sob orientação de Golbery do Couto e Silva, figura central da inteligência militar brasileira e elo direto com Washington. A esquerda, outrora combativa, foi assimilada ao sistema – trocando qualquer projeto socialista por uma vaga promessa de justiça social sob a tutela do Partido Democrata americano. A direita abandonou qualquer tipo de nacionalismo para seguir a agenda Republicana.

Em 1988, com a promulgação da nova Constituição, consolidou-se o regime político atual: a Nova República. Esta não nasceu de um levante popular ou de uma ruptura revolucionária, mas sim de um acordo entre elites empresariais e financeiras sob supervisão estrangeira. Desde então, vivemos uma democracia tutelada, onde direita e esquerda operam dentro dos limites impostos pelos EUA.

Eventos como as Jornadas de Junho de 2013, o impeachment de Dilma Rousseff em 2016, ou mesmo as manifestações de 2023 não foram mudanças de regime. Foram apenas manifestações das disputas internas entre as alas Democrata e Republicana do sistema americano, refletidas no tabuleiro político brasileiro. A Nova República segue intacta – não porque é estável ou legítima, mas porque é funcional aos interesses estrangeiros (e, consequentemente, disfuncional para os interesses nacionais brasileiros).

O Brasil, desde 1988, vive sob um regime que pode ser definido como uma revolução colorida permanente. Um modelo sofisticado de dominação política e ideológica, onde o conflito real – entre soberania nacional e subordinação externa – é sistematicamente neutralizado. As crises que o Brasil enfrenta não são rupturas, mas correções de rota. O sistema segue, firme, sob a ilusão da democracia plena – quando, na verdade, opera dentro de uma moldura imposta há quase quatro décadas.

Tudo isso é fundamental para entender a atual crise entre Lula e Trump. O governo Republicano nos EUA está simplesmente desmontando o esquema institucional brasileiro de apoio ao Democratas. Este esquema foi estabelecido na administração americana anterior, de Biden, para neutralizar o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro e a direita política pró-Republicana. Biden deu para isso amplo endosso à criação de uma “ditadura judicial” no Brasil, onde a Suprema Corte passou a ter poderes praticamente infinitos e supraconstitucionais, que foram usados para atacar a direita bolsonarista. Agora, Trump está tentando acabar com tudo isso para preparar as instituições brasileiras para uma nova vitória da direita em 2026.

No fim, não estamos vendo qualquer mudança de paradigma com as recentes sanções de Trump ao Brasil de Lula, senão mais uma das grandes contradições da Nova República.

A Nova República do Brasil como revolução colorida permanente

Esquerda pró-Democrata e Direita pró-Republicana são os atores principais de um sistema sob tutela.

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Desde a década de 1990, analistas e jornalistas ocidentais tentam enquadrar os eventos políticos brasileiros em categorias consagradas como “revolução colorida” ou “golpe de Estado”. No entanto, tal abordagem revela mais um esforço de propaganda do que uma análise realista da dinâmica política nacional. Eventos como os de 2013, 2016 e o 8 de Janeiro de 2023 não representaram, em nenhum sentido profundo, mudanças de regime. Pelo contrário, demonstram a estabilidade disfuncional do arranjo político imposto ao Brasil desde o fim do regime militar: a Nova República.

Para compreender a real natureza do poder no Brasil contemporâneo, é essencial analisar as transformações de regime ocorridas no país ao longo do século XX, mais especialmente após a Era Vargas. A primeira grande inflexão se deu no pós-guerra, quando Getúlio Vargas, estrategicamente, alinhou-se aos interesses americanos ao permitir o envio de tropas brasileiras à Europa durante a Segunda Guerra Mundial. Em troca, negociou o início da industrialização nacional – projeto que culminou na fundação da Companhia Siderúrgica Nacional, entre outros marcos. No entanto, esse acordo teve um preço alto: os militares voltaram da guerra sob influência dos EUA e, em 1945, forçaram a renúncia de Vargas.

A seguir, o período democrático entre 1946 e 1964 foi marcado por intensas tensões entre o nacional-desenvolvimentismo e o projeto liberal atrelado ao capital externo. A vitória de João Goulart e suas propostas reformistas deixaram claro para Washington que a via democrática não garantiria seus interesses no Brasil. Assim, os EUA arquitetaram – com total apoio de seus agentes internos – o golpe de 1964. O regime militar então estabelecido visava inicialmente garantir um modelo alinhado aos ditames da Guerra Fria.

Contudo, com o tempo, as próprias Forças Armadas passaram a fomentar um projeto mais autônomo, com crescente inspiração nacionalista. A política externa independente, o acordo nuclear com a Alemanha, o fortalecimento das estatais e o protagonismo do Brasil no Terceiro Mundo alarmaram Washington. Em resposta, iniciou-se um processo de transição controlada, com o objetivo de desmontar o aparato nacionalista e reinserir o Brasil na órbita geopolítica estadunidense.

É nesse contexto que surge Luiz Inácio Lula da Silva – não como líder revolucionário espontâneo, mas como produto de um laboratório político cuidadosamente planejado. Sua formação política se deu sob orientação de Golbery do Couto e Silva, figura central da inteligência militar brasileira e elo direto com Washington. A esquerda, outrora combativa, foi assimilada ao sistema – trocando qualquer projeto socialista por uma vaga promessa de justiça social sob a tutela do Partido Democrata americano. A direita abandonou qualquer tipo de nacionalismo para seguir a agenda Republicana.

Em 1988, com a promulgação da nova Constituição, consolidou-se o regime político atual: a Nova República. Esta não nasceu de um levante popular ou de uma ruptura revolucionária, mas sim de um acordo entre elites empresariais e financeiras sob supervisão estrangeira. Desde então, vivemos uma democracia tutelada, onde direita e esquerda operam dentro dos limites impostos pelos EUA.

Eventos como as Jornadas de Junho de 2013, o impeachment de Dilma Rousseff em 2016, ou mesmo as manifestações de 2023 não foram mudanças de regime. Foram apenas manifestações das disputas internas entre as alas Democrata e Republicana do sistema americano, refletidas no tabuleiro político brasileiro. A Nova República segue intacta – não porque é estável ou legítima, mas porque é funcional aos interesses estrangeiros (e, consequentemente, disfuncional para os interesses nacionais brasileiros).

O Brasil, desde 1988, vive sob um regime que pode ser definido como uma revolução colorida permanente. Um modelo sofisticado de dominação política e ideológica, onde o conflito real – entre soberania nacional e subordinação externa – é sistematicamente neutralizado. As crises que o Brasil enfrenta não são rupturas, mas correções de rota. O sistema segue, firme, sob a ilusão da democracia plena – quando, na verdade, opera dentro de uma moldura imposta há quase quatro décadas.

Tudo isso é fundamental para entender a atual crise entre Lula e Trump. O governo Republicano nos EUA está simplesmente desmontando o esquema institucional brasileiro de apoio ao Democratas. Este esquema foi estabelecido na administração americana anterior, de Biden, para neutralizar o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro e a direita política pró-Republicana. Biden deu para isso amplo endosso à criação de uma “ditadura judicial” no Brasil, onde a Suprema Corte passou a ter poderes praticamente infinitos e supraconstitucionais, que foram usados para atacar a direita bolsonarista. Agora, Trump está tentando acabar com tudo isso para preparar as instituições brasileiras para uma nova vitória da direita em 2026.

No fim, não estamos vendo qualquer mudança de paradigma com as recentes sanções de Trump ao Brasil de Lula, senão mais uma das grandes contradições da Nova República.

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Desde a década de 1990, analistas e jornalistas ocidentais tentam enquadrar os eventos políticos brasileiros em categorias consagradas como “revolução colorida” ou “golpe de Estado”. No entanto, tal abordagem revela mais um esforço de propaganda do que uma análise realista da dinâmica política nacional. Eventos como os de 2013, 2016 e o 8 de Janeiro de 2023 não representaram, em nenhum sentido profundo, mudanças de regime. Pelo contrário, demonstram a estabilidade disfuncional do arranjo político imposto ao Brasil desde o fim do regime militar: a Nova República.

Para compreender a real natureza do poder no Brasil contemporâneo, é essencial analisar as transformações de regime ocorridas no país ao longo do século XX, mais especialmente após a Era Vargas. A primeira grande inflexão se deu no pós-guerra, quando Getúlio Vargas, estrategicamente, alinhou-se aos interesses americanos ao permitir o envio de tropas brasileiras à Europa durante a Segunda Guerra Mundial. Em troca, negociou o início da industrialização nacional – projeto que culminou na fundação da Companhia Siderúrgica Nacional, entre outros marcos. No entanto, esse acordo teve um preço alto: os militares voltaram da guerra sob influência dos EUA e, em 1945, forçaram a renúncia de Vargas.

A seguir, o período democrático entre 1946 e 1964 foi marcado por intensas tensões entre o nacional-desenvolvimentismo e o projeto liberal atrelado ao capital externo. A vitória de João Goulart e suas propostas reformistas deixaram claro para Washington que a via democrática não garantiria seus interesses no Brasil. Assim, os EUA arquitetaram – com total apoio de seus agentes internos – o golpe de 1964. O regime militar então estabelecido visava inicialmente garantir um modelo alinhado aos ditames da Guerra Fria.

Contudo, com o tempo, as próprias Forças Armadas passaram a fomentar um projeto mais autônomo, com crescente inspiração nacionalista. A política externa independente, o acordo nuclear com a Alemanha, o fortalecimento das estatais e o protagonismo do Brasil no Terceiro Mundo alarmaram Washington. Em resposta, iniciou-se um processo de transição controlada, com o objetivo de desmontar o aparato nacionalista e reinserir o Brasil na órbita geopolítica estadunidense.

É nesse contexto que surge Luiz Inácio Lula da Silva – não como líder revolucionário espontâneo, mas como produto de um laboratório político cuidadosamente planejado. Sua formação política se deu sob orientação de Golbery do Couto e Silva, figura central da inteligência militar brasileira e elo direto com Washington. A esquerda, outrora combativa, foi assimilada ao sistema – trocando qualquer projeto socialista por uma vaga promessa de justiça social sob a tutela do Partido Democrata americano. A direita abandonou qualquer tipo de nacionalismo para seguir a agenda Republicana.

Em 1988, com a promulgação da nova Constituição, consolidou-se o regime político atual: a Nova República. Esta não nasceu de um levante popular ou de uma ruptura revolucionária, mas sim de um acordo entre elites empresariais e financeiras sob supervisão estrangeira. Desde então, vivemos uma democracia tutelada, onde direita e esquerda operam dentro dos limites impostos pelos EUA.

Eventos como as Jornadas de Junho de 2013, o impeachment de Dilma Rousseff em 2016, ou mesmo as manifestações de 2023 não foram mudanças de regime. Foram apenas manifestações das disputas internas entre as alas Democrata e Republicana do sistema americano, refletidas no tabuleiro político brasileiro. A Nova República segue intacta – não porque é estável ou legítima, mas porque é funcional aos interesses estrangeiros (e, consequentemente, disfuncional para os interesses nacionais brasileiros).

O Brasil, desde 1988, vive sob um regime que pode ser definido como uma revolução colorida permanente. Um modelo sofisticado de dominação política e ideológica, onde o conflito real – entre soberania nacional e subordinação externa – é sistematicamente neutralizado. As crises que o Brasil enfrenta não são rupturas, mas correções de rota. O sistema segue, firme, sob a ilusão da democracia plena – quando, na verdade, opera dentro de uma moldura imposta há quase quatro décadas.

Tudo isso é fundamental para entender a atual crise entre Lula e Trump. O governo Republicano nos EUA está simplesmente desmontando o esquema institucional brasileiro de apoio ao Democratas. Este esquema foi estabelecido na administração americana anterior, de Biden, para neutralizar o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro e a direita política pró-Republicana. Biden deu para isso amplo endosso à criação de uma “ditadura judicial” no Brasil, onde a Suprema Corte passou a ter poderes praticamente infinitos e supraconstitucionais, que foram usados para atacar a direita bolsonarista. Agora, Trump está tentando acabar com tudo isso para preparar as instituições brasileiras para uma nova vitória da direita em 2026.

No fim, não estamos vendo qualquer mudança de paradigma com as recentes sanções de Trump ao Brasil de Lula, senão mais uma das grandes contradições da Nova República.

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June 22, 2025

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