Apesar da condenação formal do Brasil contra Israel, pouco tem sido feito de concreto para parar a carnificina em Gaza.
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Em meio à devastação contínua da Faixa de Gaza e à intensificação da ocupação militar na Cisjordânia, um relatório recente do Conselho de Direitos Humanos da ONU trouxe à tona um dado alarmante: diversas empresas internacionais, incluindo a estatal brasileira Petrobrás, estariam direta ou indiretamente contribuindo para o conflito ao fornecer recursos estratégicos à máquina de guerra israelense. Este fato levanta questões profundas sobre o papel das corporações estatais e sua responsabilidade ética diante de crises humanitárias globais.
De acordo com a investigação conduzida pela relatora especial da ONU, Francesca Albanese, o petróleo brasileiro está entre os insumos utilizados pelas forças armadas de Israel (IDF). Embora os principais fornecedores de petróleo para o país sejam gigantes como BP e Chevron, o relatório destaca que parte relevante do petróleo processado em refinarias israelenses provém de campos operados pela Petrobrás. Essas refinarias abastecem tanto o consumo civil quanto o militar, incluindo bases da Força Aérea Israelense envolvidas diretamente nas operações em Gaza.
A denúncia ganhou repercussão por expor a conexão entre recursos naturais extraídos do território brasileiro e sua utilização em um dos conflitos mais intensos e desproporcionais da atualidade. O aumento significativo das exportações de petróleo brasileiro para Israel, especialmente após o início da ofensiva militar em Gaza, reforça a gravidade da acusação. Entre 2023 e 2024, o volume vendido subiu mais de 50%, enquanto a média de crescimento nas exportações para outros países ficou bem abaixo disso.
É fundamental destacar que a Petrobrás, embora controlada majoritariamente pelo Estado, atua em um modelo misto, com forte presença de interesses privados e estrangeiros. Essa configuração facilita a atuação dentro de um mercado globalizado, onde decisões comerciais frequentemente se sobrepõem a critérios de soberania, ética e direitos humanos. Como denunciado por sindicatos de petroleiros, boa parte do petróleo produzido pela estatal é dividido com consórcios internacionais que exploram os campos em parceria com a Petrobrás — muitos desses consórcios estão atrelados a grandes corporações estrangeiras.
O debate sobre a responsabilidade da Petrobrás, no entanto, não deve se limitar apenas às relações comerciais com Israel. A questão central está em como o Brasil, enquanto nação soberana, se posiciona diante de violações sistemáticas do direito internacional. Ao continuar exportando recursos essenciais para um Estado envolvido no pior genocídio do século, o país corre o risco de se tornar cúmplice, mesmo que indiretamente, dessas ações.
Além disso, a polêmica evidencia uma contradição nas políticas externas do governo brasileiro. Enquanto o discurso oficial prega uma atuação internacional pautada pelos direitos humanos e pelo multilateralismo, na prática, acordos comerciais estratégicos parecem ignorar essas diretrizes. Essa dissonância fragiliza a credibilidade do país nos fóruns internacionais e levanta dúvidas sobre sua verdadeira independência frente aos interesses das potências globais.
Portanto, é urgente que o governo brasileiro promova uma auditoria pública sobre os destinos do petróleo brasileiro, sobretudo em tempos de guerra. A Petrobrás, como empresa estratégica para a soberania nacional brasileira, não pode ser um instrumento de financiamento de ações militares que resultam em milhares de vítimas civis. A exportação de recursos naturais deve seguir critérios claros de responsabilidade e respeito à postura oficial da chancelaria brasileira.
Mais do que uma questão de comércio exterior, trata-se de um imperativo moral. O Brasil precisa decidir de que lado da história quer estar: como um agente comprometido com a paz, ou como fornecedor silencioso da violência e da ocupação. A resposta a essa pergunta exige coragem política e compromisso com os princípios que sempre marcaram a diplomacia brasileira.