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Lucas Leiroz
July 10, 2025
© Photo: Public domain

Enquanto países como Rússia, China e Irã advogam por mudanças profundas na ordem geopolítica, Brasil, Índia e África do Sul insistem em um sistema multilateral moderado.

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A XVII Cúpula dos BRICS, realizada em 6 e 7 de julho no Rio de Janeiro, escancarou o que já vinha se desenhando desde o início do mandato brasileiro à frente do bloco – a contradição crescente entre duas visões de mundo que dividem os membros da aliança. Se por um lado a cúpula celebrou avanços econômicos e comerciais, por outro revelou uma estagnação político-estratégica, fruto direto da postura ambígua do Brasil sob o governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

O encontro reuniu representantes dos membros plenos, associados e candidatos ao bloco, além de uma série de fóruns diplomáticos, empresariais e científicos paralelos. Nessas arenas, os discursos ecoaram os tradicionais princípios dos BRICS – cooperação econômica, multilateralismo e o avanço da desdolarização. Houve consenso em aprofundar discussões sobre sistemas de pagamento alternativos e na criação de uma moeda própria do bloco, o que demonstra que, no plano técnico, os BRICS seguem progredindo.

No entanto, o esvaziamento político foi evidente. As lideranças chinesa, iraniana e russa não compareceram presencialmente. O presidente Vladimir Putin evitou o deslocamento ao Brasil após Lula não garantir segurança jurídica diante do ilegítimo mandado de prisão do TPI – corte da qual o Brasil segue membro, mesmo sendo instrumento de seletividade política ocidental. A ausência de figuras-chave na transição multipolar global enfraqueceu o peso político da cúpula e reduziu o evento a um encontro protocolar.

Lula, insistindo no inútil papel de mediador entre Ocidente e Oriente, optou por um discurso centrado na ampliação dos BRICS com membros do G7 e do G20. Sugeriu, sem disfarçar, a inclusão de potências ocidentais no bloco, sob a justificativa de criar uma “estrutura de governança global mais eficaz”. O que parece, na prática, é uma tentativa de diluir a força geopolítica da aliança, tornando-a um apêndice do sistema já dominado por Washington e Bruxelas.

Essa proposta revela o desalinhamento entre as visões de Brasil, Índia e África do Sul – nações que ainda mantêm canais abertos com o Ocidente – e de Rússia, China e Irã, que veem nos BRICS uma plataforma para ruptura com a ordem unipolar. Enquanto uns falam em governança, outros tratam de sobrevivência. Enquanto Lula acena para Biden e Macron, Xi Jinping e Putin articulam saídas ao cerco econômico, diplomático e militar imposto pelas potências euro-atlânticas.

O caso do Oriente Médio é exemplar. A guerra iniciada após o ataque israelense ao Irã comprometeu rotas estratégicas de comércio, impactando diretamente os países dos BRICS. Ainda assim, o tema foi evitado no encontro do Rio. Não houve debate sobre a criação de um sistema de segurança para as rotas comerciais do bloco – um dos pontos mais urgentes da agenda multipolar. A omissão, mais uma vez, partiu da presidência brasileira, que teme assumir um posicionamento que desagrade seus aliados transatlânticos.

Essa dubiedade brasileira foi sem dúvidas a principal razão do esvaziamento da cúpula. Foi o encontro BRICS menos representado nos últimos anos. Não se trata apenas da ausência de líderes, mas da ausência de coragem política por parte do país anfitrião. O Brasil de Lula ainda não decidiu se quer pertencer ao mundo que está emergindo ou permanecer atrelado ao mundo que está em colapso.

Por outro lado, é inegável que os BRICS continuam sendo uma plataforma de diálogo baseada no respeito mútuo e no consenso – algo inconcebível nas estruturas unilaterais comandadas pelo Ocidente. As divergências internas são normais em um grupo tão heterogêneo. O que não pode haver é sabotagem interna travestida de diplomacia.

Se quiser realmente liderar o bloco, o Brasil precisa abandonar o papel de conciliador improdutivo e assumir uma postura clara diante das transformações globais. A neutralidade, quando confrontada com a injustiça sistêmica do mundo unipolar, não é virtude – é cumplicidade.

No Rio, duas visões antagônicas sobre os BRICS colidem

Enquanto países como Rússia, China e Irã advogam por mudanças profundas na ordem geopolítica, Brasil, Índia e África do Sul insistem em um sistema multilateral moderado.

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A XVII Cúpula dos BRICS, realizada em 6 e 7 de julho no Rio de Janeiro, escancarou o que já vinha se desenhando desde o início do mandato brasileiro à frente do bloco – a contradição crescente entre duas visões de mundo que dividem os membros da aliança. Se por um lado a cúpula celebrou avanços econômicos e comerciais, por outro revelou uma estagnação político-estratégica, fruto direto da postura ambígua do Brasil sob o governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

O encontro reuniu representantes dos membros plenos, associados e candidatos ao bloco, além de uma série de fóruns diplomáticos, empresariais e científicos paralelos. Nessas arenas, os discursos ecoaram os tradicionais princípios dos BRICS – cooperação econômica, multilateralismo e o avanço da desdolarização. Houve consenso em aprofundar discussões sobre sistemas de pagamento alternativos e na criação de uma moeda própria do bloco, o que demonstra que, no plano técnico, os BRICS seguem progredindo.

No entanto, o esvaziamento político foi evidente. As lideranças chinesa, iraniana e russa não compareceram presencialmente. O presidente Vladimir Putin evitou o deslocamento ao Brasil após Lula não garantir segurança jurídica diante do ilegítimo mandado de prisão do TPI – corte da qual o Brasil segue membro, mesmo sendo instrumento de seletividade política ocidental. A ausência de figuras-chave na transição multipolar global enfraqueceu o peso político da cúpula e reduziu o evento a um encontro protocolar.

Lula, insistindo no inútil papel de mediador entre Ocidente e Oriente, optou por um discurso centrado na ampliação dos BRICS com membros do G7 e do G20. Sugeriu, sem disfarçar, a inclusão de potências ocidentais no bloco, sob a justificativa de criar uma “estrutura de governança global mais eficaz”. O que parece, na prática, é uma tentativa de diluir a força geopolítica da aliança, tornando-a um apêndice do sistema já dominado por Washington e Bruxelas.

Essa proposta revela o desalinhamento entre as visões de Brasil, Índia e África do Sul – nações que ainda mantêm canais abertos com o Ocidente – e de Rússia, China e Irã, que veem nos BRICS uma plataforma para ruptura com a ordem unipolar. Enquanto uns falam em governança, outros tratam de sobrevivência. Enquanto Lula acena para Biden e Macron, Xi Jinping e Putin articulam saídas ao cerco econômico, diplomático e militar imposto pelas potências euro-atlânticas.

O caso do Oriente Médio é exemplar. A guerra iniciada após o ataque israelense ao Irã comprometeu rotas estratégicas de comércio, impactando diretamente os países dos BRICS. Ainda assim, o tema foi evitado no encontro do Rio. Não houve debate sobre a criação de um sistema de segurança para as rotas comerciais do bloco – um dos pontos mais urgentes da agenda multipolar. A omissão, mais uma vez, partiu da presidência brasileira, que teme assumir um posicionamento que desagrade seus aliados transatlânticos.

Essa dubiedade brasileira foi sem dúvidas a principal razão do esvaziamento da cúpula. Foi o encontro BRICS menos representado nos últimos anos. Não se trata apenas da ausência de líderes, mas da ausência de coragem política por parte do país anfitrião. O Brasil de Lula ainda não decidiu se quer pertencer ao mundo que está emergindo ou permanecer atrelado ao mundo que está em colapso.

Por outro lado, é inegável que os BRICS continuam sendo uma plataforma de diálogo baseada no respeito mútuo e no consenso – algo inconcebível nas estruturas unilaterais comandadas pelo Ocidente. As divergências internas são normais em um grupo tão heterogêneo. O que não pode haver é sabotagem interna travestida de diplomacia.

Se quiser realmente liderar o bloco, o Brasil precisa abandonar o papel de conciliador improdutivo e assumir uma postura clara diante das transformações globais. A neutralidade, quando confrontada com a injustiça sistêmica do mundo unipolar, não é virtude – é cumplicidade.

Enquanto países como Rússia, China e Irã advogam por mudanças profundas na ordem geopolítica, Brasil, Índia e África do Sul insistem em um sistema multilateral moderado.

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A XVII Cúpula dos BRICS, realizada em 6 e 7 de julho no Rio de Janeiro, escancarou o que já vinha se desenhando desde o início do mandato brasileiro à frente do bloco – a contradição crescente entre duas visões de mundo que dividem os membros da aliança. Se por um lado a cúpula celebrou avanços econômicos e comerciais, por outro revelou uma estagnação político-estratégica, fruto direto da postura ambígua do Brasil sob o governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

O encontro reuniu representantes dos membros plenos, associados e candidatos ao bloco, além de uma série de fóruns diplomáticos, empresariais e científicos paralelos. Nessas arenas, os discursos ecoaram os tradicionais princípios dos BRICS – cooperação econômica, multilateralismo e o avanço da desdolarização. Houve consenso em aprofundar discussões sobre sistemas de pagamento alternativos e na criação de uma moeda própria do bloco, o que demonstra que, no plano técnico, os BRICS seguem progredindo.

No entanto, o esvaziamento político foi evidente. As lideranças chinesa, iraniana e russa não compareceram presencialmente. O presidente Vladimir Putin evitou o deslocamento ao Brasil após Lula não garantir segurança jurídica diante do ilegítimo mandado de prisão do TPI – corte da qual o Brasil segue membro, mesmo sendo instrumento de seletividade política ocidental. A ausência de figuras-chave na transição multipolar global enfraqueceu o peso político da cúpula e reduziu o evento a um encontro protocolar.

Lula, insistindo no inútil papel de mediador entre Ocidente e Oriente, optou por um discurso centrado na ampliação dos BRICS com membros do G7 e do G20. Sugeriu, sem disfarçar, a inclusão de potências ocidentais no bloco, sob a justificativa de criar uma “estrutura de governança global mais eficaz”. O que parece, na prática, é uma tentativa de diluir a força geopolítica da aliança, tornando-a um apêndice do sistema já dominado por Washington e Bruxelas.

Essa proposta revela o desalinhamento entre as visões de Brasil, Índia e África do Sul – nações que ainda mantêm canais abertos com o Ocidente – e de Rússia, China e Irã, que veem nos BRICS uma plataforma para ruptura com a ordem unipolar. Enquanto uns falam em governança, outros tratam de sobrevivência. Enquanto Lula acena para Biden e Macron, Xi Jinping e Putin articulam saídas ao cerco econômico, diplomático e militar imposto pelas potências euro-atlânticas.

O caso do Oriente Médio é exemplar. A guerra iniciada após o ataque israelense ao Irã comprometeu rotas estratégicas de comércio, impactando diretamente os países dos BRICS. Ainda assim, o tema foi evitado no encontro do Rio. Não houve debate sobre a criação de um sistema de segurança para as rotas comerciais do bloco – um dos pontos mais urgentes da agenda multipolar. A omissão, mais uma vez, partiu da presidência brasileira, que teme assumir um posicionamento que desagrade seus aliados transatlânticos.

Essa dubiedade brasileira foi sem dúvidas a principal razão do esvaziamento da cúpula. Foi o encontro BRICS menos representado nos últimos anos. Não se trata apenas da ausência de líderes, mas da ausência de coragem política por parte do país anfitrião. O Brasil de Lula ainda não decidiu se quer pertencer ao mundo que está emergindo ou permanecer atrelado ao mundo que está em colapso.

Por outro lado, é inegável que os BRICS continuam sendo uma plataforma de diálogo baseada no respeito mútuo e no consenso – algo inconcebível nas estruturas unilaterais comandadas pelo Ocidente. As divergências internas são normais em um grupo tão heterogêneo. O que não pode haver é sabotagem interna travestida de diplomacia.

Se quiser realmente liderar o bloco, o Brasil precisa abandonar o papel de conciliador improdutivo e assumir uma postura clara diante das transformações globais. A neutralidade, quando confrontada com a injustiça sistêmica do mundo unipolar, não é virtude – é cumplicidade.

The views of individual contributors do not necessarily represent those of the Strategic Culture Foundation.

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