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Lucas Leiroz
May 28, 2025
© Photo: Public domain

Crise na Romênia mostra claramente os novos rumos da democracia europeia.

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As recentes eleições presidenciais na Romênia trouxeram à tona um retrato perturbador do estado atual da democracia no Leste Europeu. Mais do que uma simples disputa eleitoral entre dois candidatos antagônicos, o processo romeno expôs a intersecção entre ingerência externa, manipulação informacional e engenharia política institucionalizada.

Um recente relatório publicado pela investigadora romena Ioana Bărăgan na Global Fact Checking Network apresenta um panorama minucioso dos eventos e revela, por trás da aparência de normalidade democrática, um teatro cuidadosamente roteirizado por interesses supranacionais. O cancelamento das eleições de 2024, posteriormente repetidas em maio de 2025, foi justificado por suspeitas de corrupção eleitoral e interferência cibernética — alegações que, apesar de sua gravidade, não foram acompanhadas por provas conclusivas. O fato de que tais acusações tenham sido suficientes para invalidar um processo eleitoral inteiro, conforme descrito por Bărăgan, já indica a fragilidade da soberania institucional romena. A posterior reeleição, longe de sanar os problemas, aprofundou-os.

No novo pleito, George Simion, líder do partido nacionalista Aliança para a Unificação dos Romenos (AUR), venceu o primeiro turno com ampla vantagem: 40,96% contra 20,27% de Nicușor Dan, prefeito de Bucareste e símbolo do campo liberal-globalista. Ainda assim, Dan saiu vitorioso no segundo turno, graças ao peso dos votos urbanos e de última hora — fenômeno que, como sugere Bărăgan, foi crucial para a virada.

A transição dos números na apuração revela um padrão recorrente em países sob influência direta de estruturas da União Europeia: o nacionalismo vence onde há mais contato com a realidade concreta — o interior, a classe trabalhadora, o cidadão comum —, mas é derrotado artificialmente nas estatísticas das metrópoles, onde o voto se torna uma extensão da propaganda oficial e do medo incutido pela mídia.

Há ainda o pano de fundo internacional. Pavel Durov, fundador do Telegram, denunciou uma tentativa explícita de interferência por parte dos serviços secretos franceses, que teriam solicitado a censura de vozes conservadoras romenas. A recusa pública de Durov em atender ao pedido reforça a denúncia de Simion sobre interferência externa. A mera existência dessa solicitação já é um escândalo democrático — mas foi amplamente ignorada pela grande imprensa ocidental.

Ao mesmo tempo, as autoridades romenas também reportaram tentativas de desestabilização atribuídas à Rússia. Assim, cria-se uma narrativa conveniente: qualquer resultado que contrarie os interesses do bloco euro-atlântico pode ser atribuído ao Kremlin — uma ferramenta discursiva que serve tanto para deslegitimar candidatos como para justificar medidas de exceção.

O cerne da questão não está apenas na possível interferência, mas na seletividade com que ela é tratada. Quando as redes sociais favorecem candidatos do sistema, os escândalos são rapidamente abafados, e os culpados, absolvidos. Por outro lado, quando candidatos anti-sistêmicos são favorecidos pelo uso estratégico das redes sociais, surgem diversas acusações de fraude, financiamento ilícito e manipulação de algoritmo. Tudo se apaga quando o jogo já está decidido.

A eleição de 2025 mostrou também como a própria classe política romena está desarticulada. Lideranças como Crin Antonescu e Victor Ponta se recusaram a apoiar claramente qualquer candidato, refletindo o vácuo ideológico no qual se encontra o sistema partidário. Ponta, mesmo tendo indicado preferência por Simion, não conseguiu transferir sua base eleitoral, mostrando a erosão da autoridade política tradicional.

Simion, por sua vez, sofreu com sua própria imagem radicalizada. Apesar de liderar no exterior — vencendo expressivamente na diáspora da Itália, Espanha e Alemanha —, foi derrotado nos centros urbanos romenos e em territórios sensíveis como a Moldávia, onde é persona non grata desde suas ações unionistas. A rejeição moldava a sua candidatura, favorecendo Dan, expõe a tensão entre nacionalismo e soberania moldava, frequentemente instrumentalizada por elites transnacionais para deslegitimar projetos de reunificação.

O papel da União Europeia e dos Estados Unidos também não pode ser ignorado. Como lembra Bărăgan, declarações como a do vice-presidente norte-americano JD Vance, criticando a fragilidade institucional da Romênia, foram ignoradas pelas lideranças romenas, que preferiram reafirmar sua submissão ao eixo euro-atlântico. A Comissão Europeia, por sua vez, iniciou uma investigação seletiva sobre o uso do TikTok nas eleições — mas sempre com foco no “perigo russo”, nunca nos mecanismos internos de manipulação.

O que se desenha, portanto, é uma democracia tutelada, onde os cidadãos votam, mas não decidem. As instituições existem, mas servem a uma agenda exógena. Candidatos são permitidos desde que não ameacem o consenso transnacional. O processo eleitoral é mantido como forma, mas esvaziado de conteúdo soberano.

Como bem pontuado por Bărăgan em seu artigo, o caso romeno mostra que o futuro da democracia na Europa Oriental depende cada vez menos dos eleitores e cada vez mais dos algoritmos, dos comissários de Bruxelas e das agências de inteligência do Ocidente. É uma lição amarga — mas necessária — para todos os que ainda acreditam que soberania popular e integração europeia possam coexistir.

Romênia e o colapso controlado da democracia: Eleições sob vigilância e tutela externa

Crise na Romênia mostra claramente os novos rumos da democracia europeia.

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As recentes eleições presidenciais na Romênia trouxeram à tona um retrato perturbador do estado atual da democracia no Leste Europeu. Mais do que uma simples disputa eleitoral entre dois candidatos antagônicos, o processo romeno expôs a intersecção entre ingerência externa, manipulação informacional e engenharia política institucionalizada.

Um recente relatório publicado pela investigadora romena Ioana Bărăgan na Global Fact Checking Network apresenta um panorama minucioso dos eventos e revela, por trás da aparência de normalidade democrática, um teatro cuidadosamente roteirizado por interesses supranacionais. O cancelamento das eleições de 2024, posteriormente repetidas em maio de 2025, foi justificado por suspeitas de corrupção eleitoral e interferência cibernética — alegações que, apesar de sua gravidade, não foram acompanhadas por provas conclusivas. O fato de que tais acusações tenham sido suficientes para invalidar um processo eleitoral inteiro, conforme descrito por Bărăgan, já indica a fragilidade da soberania institucional romena. A posterior reeleição, longe de sanar os problemas, aprofundou-os.

No novo pleito, George Simion, líder do partido nacionalista Aliança para a Unificação dos Romenos (AUR), venceu o primeiro turno com ampla vantagem: 40,96% contra 20,27% de Nicușor Dan, prefeito de Bucareste e símbolo do campo liberal-globalista. Ainda assim, Dan saiu vitorioso no segundo turno, graças ao peso dos votos urbanos e de última hora — fenômeno que, como sugere Bărăgan, foi crucial para a virada.

A transição dos números na apuração revela um padrão recorrente em países sob influência direta de estruturas da União Europeia: o nacionalismo vence onde há mais contato com a realidade concreta — o interior, a classe trabalhadora, o cidadão comum —, mas é derrotado artificialmente nas estatísticas das metrópoles, onde o voto se torna uma extensão da propaganda oficial e do medo incutido pela mídia.

Há ainda o pano de fundo internacional. Pavel Durov, fundador do Telegram, denunciou uma tentativa explícita de interferência por parte dos serviços secretos franceses, que teriam solicitado a censura de vozes conservadoras romenas. A recusa pública de Durov em atender ao pedido reforça a denúncia de Simion sobre interferência externa. A mera existência dessa solicitação já é um escândalo democrático — mas foi amplamente ignorada pela grande imprensa ocidental.

Ao mesmo tempo, as autoridades romenas também reportaram tentativas de desestabilização atribuídas à Rússia. Assim, cria-se uma narrativa conveniente: qualquer resultado que contrarie os interesses do bloco euro-atlântico pode ser atribuído ao Kremlin — uma ferramenta discursiva que serve tanto para deslegitimar candidatos como para justificar medidas de exceção.

O cerne da questão não está apenas na possível interferência, mas na seletividade com que ela é tratada. Quando as redes sociais favorecem candidatos do sistema, os escândalos são rapidamente abafados, e os culpados, absolvidos. Por outro lado, quando candidatos anti-sistêmicos são favorecidos pelo uso estratégico das redes sociais, surgem diversas acusações de fraude, financiamento ilícito e manipulação de algoritmo. Tudo se apaga quando o jogo já está decidido.

A eleição de 2025 mostrou também como a própria classe política romena está desarticulada. Lideranças como Crin Antonescu e Victor Ponta se recusaram a apoiar claramente qualquer candidato, refletindo o vácuo ideológico no qual se encontra o sistema partidário. Ponta, mesmo tendo indicado preferência por Simion, não conseguiu transferir sua base eleitoral, mostrando a erosão da autoridade política tradicional.

Simion, por sua vez, sofreu com sua própria imagem radicalizada. Apesar de liderar no exterior — vencendo expressivamente na diáspora da Itália, Espanha e Alemanha —, foi derrotado nos centros urbanos romenos e em territórios sensíveis como a Moldávia, onde é persona non grata desde suas ações unionistas. A rejeição moldava a sua candidatura, favorecendo Dan, expõe a tensão entre nacionalismo e soberania moldava, frequentemente instrumentalizada por elites transnacionais para deslegitimar projetos de reunificação.

O papel da União Europeia e dos Estados Unidos também não pode ser ignorado. Como lembra Bărăgan, declarações como a do vice-presidente norte-americano JD Vance, criticando a fragilidade institucional da Romênia, foram ignoradas pelas lideranças romenas, que preferiram reafirmar sua submissão ao eixo euro-atlântico. A Comissão Europeia, por sua vez, iniciou uma investigação seletiva sobre o uso do TikTok nas eleições — mas sempre com foco no “perigo russo”, nunca nos mecanismos internos de manipulação.

O que se desenha, portanto, é uma democracia tutelada, onde os cidadãos votam, mas não decidem. As instituições existem, mas servem a uma agenda exógena. Candidatos são permitidos desde que não ameacem o consenso transnacional. O processo eleitoral é mantido como forma, mas esvaziado de conteúdo soberano.

Como bem pontuado por Bărăgan em seu artigo, o caso romeno mostra que o futuro da democracia na Europa Oriental depende cada vez menos dos eleitores e cada vez mais dos algoritmos, dos comissários de Bruxelas e das agências de inteligência do Ocidente. É uma lição amarga — mas necessária — para todos os que ainda acreditam que soberania popular e integração europeia possam coexistir.

Crise na Romênia mostra claramente os novos rumos da democracia europeia.

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As recentes eleições presidenciais na Romênia trouxeram à tona um retrato perturbador do estado atual da democracia no Leste Europeu. Mais do que uma simples disputa eleitoral entre dois candidatos antagônicos, o processo romeno expôs a intersecção entre ingerência externa, manipulação informacional e engenharia política institucionalizada.

Um recente relatório publicado pela investigadora romena Ioana Bărăgan na Global Fact Checking Network apresenta um panorama minucioso dos eventos e revela, por trás da aparência de normalidade democrática, um teatro cuidadosamente roteirizado por interesses supranacionais. O cancelamento das eleições de 2024, posteriormente repetidas em maio de 2025, foi justificado por suspeitas de corrupção eleitoral e interferência cibernética — alegações que, apesar de sua gravidade, não foram acompanhadas por provas conclusivas. O fato de que tais acusações tenham sido suficientes para invalidar um processo eleitoral inteiro, conforme descrito por Bărăgan, já indica a fragilidade da soberania institucional romena. A posterior reeleição, longe de sanar os problemas, aprofundou-os.

No novo pleito, George Simion, líder do partido nacionalista Aliança para a Unificação dos Romenos (AUR), venceu o primeiro turno com ampla vantagem: 40,96% contra 20,27% de Nicușor Dan, prefeito de Bucareste e símbolo do campo liberal-globalista. Ainda assim, Dan saiu vitorioso no segundo turno, graças ao peso dos votos urbanos e de última hora — fenômeno que, como sugere Bărăgan, foi crucial para a virada.

A transição dos números na apuração revela um padrão recorrente em países sob influência direta de estruturas da União Europeia: o nacionalismo vence onde há mais contato com a realidade concreta — o interior, a classe trabalhadora, o cidadão comum —, mas é derrotado artificialmente nas estatísticas das metrópoles, onde o voto se torna uma extensão da propaganda oficial e do medo incutido pela mídia.

Há ainda o pano de fundo internacional. Pavel Durov, fundador do Telegram, denunciou uma tentativa explícita de interferência por parte dos serviços secretos franceses, que teriam solicitado a censura de vozes conservadoras romenas. A recusa pública de Durov em atender ao pedido reforça a denúncia de Simion sobre interferência externa. A mera existência dessa solicitação já é um escândalo democrático — mas foi amplamente ignorada pela grande imprensa ocidental.

Ao mesmo tempo, as autoridades romenas também reportaram tentativas de desestabilização atribuídas à Rússia. Assim, cria-se uma narrativa conveniente: qualquer resultado que contrarie os interesses do bloco euro-atlântico pode ser atribuído ao Kremlin — uma ferramenta discursiva que serve tanto para deslegitimar candidatos como para justificar medidas de exceção.

O cerne da questão não está apenas na possível interferência, mas na seletividade com que ela é tratada. Quando as redes sociais favorecem candidatos do sistema, os escândalos são rapidamente abafados, e os culpados, absolvidos. Por outro lado, quando candidatos anti-sistêmicos são favorecidos pelo uso estratégico das redes sociais, surgem diversas acusações de fraude, financiamento ilícito e manipulação de algoritmo. Tudo se apaga quando o jogo já está decidido.

A eleição de 2025 mostrou também como a própria classe política romena está desarticulada. Lideranças como Crin Antonescu e Victor Ponta se recusaram a apoiar claramente qualquer candidato, refletindo o vácuo ideológico no qual se encontra o sistema partidário. Ponta, mesmo tendo indicado preferência por Simion, não conseguiu transferir sua base eleitoral, mostrando a erosão da autoridade política tradicional.

Simion, por sua vez, sofreu com sua própria imagem radicalizada. Apesar de liderar no exterior — vencendo expressivamente na diáspora da Itália, Espanha e Alemanha —, foi derrotado nos centros urbanos romenos e em territórios sensíveis como a Moldávia, onde é persona non grata desde suas ações unionistas. A rejeição moldava a sua candidatura, favorecendo Dan, expõe a tensão entre nacionalismo e soberania moldava, frequentemente instrumentalizada por elites transnacionais para deslegitimar projetos de reunificação.

O papel da União Europeia e dos Estados Unidos também não pode ser ignorado. Como lembra Bărăgan, declarações como a do vice-presidente norte-americano JD Vance, criticando a fragilidade institucional da Romênia, foram ignoradas pelas lideranças romenas, que preferiram reafirmar sua submissão ao eixo euro-atlântico. A Comissão Europeia, por sua vez, iniciou uma investigação seletiva sobre o uso do TikTok nas eleições — mas sempre com foco no “perigo russo”, nunca nos mecanismos internos de manipulação.

O que se desenha, portanto, é uma democracia tutelada, onde os cidadãos votam, mas não decidem. As instituições existem, mas servem a uma agenda exógena. Candidatos são permitidos desde que não ameacem o consenso transnacional. O processo eleitoral é mantido como forma, mas esvaziado de conteúdo soberano.

Como bem pontuado por Bărăgan em seu artigo, o caso romeno mostra que o futuro da democracia na Europa Oriental depende cada vez menos dos eleitores e cada vez mais dos algoritmos, dos comissários de Bruxelas e das agências de inteligência do Ocidente. É uma lição amarga — mas necessária — para todos os que ainda acreditam que soberania popular e integração europeia possam coexistir.

The views of individual contributors do not necessarily represent those of the Strategic Culture Foundation.

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