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Eduardo Vasco
May 7, 2025
© Photo: Public domain

O Brasil, a partir do Rio de Janeiro, se tornaria uma ligação entre Ocidente e Oriente, beneficiando não apenas o Brasil e a América Latina, mas também os países eurasiáticos

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No final de abril, dois professores brasileiros apresentaram uma ideia inédita: a de que o Brasil seja a sede permanente dos BRICS, tal como os Estados Unidos são a sede permanente da ONU.

Eduardo R. Gomes, coordenador do Núcleo de Estudos dos BRICS (NuBRICS/UFF), e Lier Pires Ferreira, pesquisador da mesma entidade, publicaram um artigo no jornal Toda Palavra, do Rio de Janeiro, defendendo a tese de que a antiga capital do Brasil – que receberá a próxima reunião de cúpula dos BRICS no início de junho – se torne a sede fixa da organização que representa as aspirações do chamado “Sul Global”.

“O Rio de Janeiro é uma cidade singular. Foi a única no Sul-Global a ser sede de um império colonial europeu, na condição de capital do Reino Unido de Brasil e Portugal (1815-1822). Desde o início século XX, quando ainda ostentava a fleuma de capital da República, o Rio de Janeiro tem sido palco de grandes eventos, como a Exposição Internacional do Centenário da Independência, em 1922; a Conferência do Rio, em 1942; ou a Copa do Mundo de 1950, de triste lembrança. No início dos anos 1990, a cidade também acolheu a II Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, a ECO-92; e a Reunião de Cúpula da América Latina, Caribe e União Europeia, com representantes de quase 50 países”, escreveram os pesquisadores. “Mas foi no século XXI que o Rio de Janeiro firmou sua vocação de palco global, com eventos sucessivos como os XV Jogos Pan-Americanos, em 2007, a Rio + 20, em 2012, a final da Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos e Paralímpicos em 2016.”

Eles completaram: “Todavia, falta a vivência diária, o dia-a-dia de uma verdadeira cidade-global, hiperconectada com o mundo. Falta um elemento fixo, que, para além do trinômio turismo, cultura e indústria do petróleo, alimente cotidianamente o Rio com cidadãos do mundo, com estrangeiros de toda parte, tão múltiplos e plurais quanto os cariocas. Hoje, essa oportunidade surge com os BRICS.”

Gomes e Ferreira expressam um incômodo – comum a muitos que apostam no projeto BRICS – com a falta de uma sede permanente da organização, o que, segundo eles, dificulta os trabalhos do grupo. Ainda de acordo com eles, “uma sede física e um secretariado permanente são investimentos necessários à coalizão, estimulando que os BRICS atuem mais sistematicamente na arena internacional. Além disso, um secretariado profissionalizado poderia oferecer suporte técnico e logístico para avançar agendas prioritárias, como comércio, investimentos, inovação tecnológica, segurança energética, desenvolvimento sustentável e mudanças climáticas, articulando múltiplos atores, estatais e sociais, domésticos e internacionais”.

O professor Gomes, doutor em Ciência Política, afirma à SCF que acadêmicos de outros países BRICS já demonstraram interesse pela ideia de uma sede permanente no Rio de Janeiro. Além disso, há informações de que alguns ministros das Relações Exteriores que participaram da reunião recente, preparatória para a cúpula de junho, também tiveram contato com a proposta. O prefeito do Rio de Janeiro também teria sido informado da ideia.

“Existe hoje uma transição hegemônica muito claramente constituída entre China (a potência em ascensão) e os Estados Unidos (a potência em declínio), e isso vem gerando uma série de tensões e conflitos, particularmente com relação à perspectiva do multilateralismo”, explica à SCF o professor Lier Ferreira, PhD em Direito. “Os Estados Unidos estão questionando as instituições multilaterais e as orquestrando para perseguir os aliados da China, de modo que seria bom que as instituições internacionais de grande porte possam estar fora do eixo dessa disputa hegemônica”, continua. E conclui: “no caso dos BRICS, uma sede no Rio de Janeiro, assim, caberia perfeitamente nessa perspectiva.”

Eduardo Gomes acredita, no entanto, que o processo para colocar essa ideia em prática pelos países BRICS seria demorado, e não imediato. “A fundação do Novo Banco de Desenvolvimento, o banco dos BRICS, e sua instalação em Xangai, por exemplo, ocorreu apenas após discussões em algumas reuniões de cúpula anuais”, comenta. De qualquer forma, a discussão e a concretização de uma sede fixa colaboraria para um maior engajamento entre todos os membros dos BRICS, em especial os países fundadores.

Os dois professores concordam que, caso essa ideia seja desenvolvida, discutida e colocada em prática, o Brasil, a partir do Rio de Janeiro, se tornaria uma ligação entre Ocidente e Oriente, beneficiando não apenas o Brasil e a América Latina, mas também os países eurasiáticos, captando investimentos e movimentando a economia do gigante sul-americano, o que puxaria os vizinhos na direção de um maior desenvolvimento, e conectaria o mundo em transição.

“Plural por natureza, o Rio poderá potencializar as forças criativas do Sul-Global em favor de uma nova ordem internacional, multipolar, livre de hegemonias, capaz de materializar os anseios de desenvolvimento e nova inserção internacional que há séculos permeiam as lutas dos povos afro-asiáticos e latinoamericanos contra as diferentes expressões da colonialidade”, concluem.

Brasil, sede permanente dos BRICS?

O Brasil, a partir do Rio de Janeiro, se tornaria uma ligação entre Ocidente e Oriente, beneficiando não apenas o Brasil e a América Latina, mas também os países eurasiáticos

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No final de abril, dois professores brasileiros apresentaram uma ideia inédita: a de que o Brasil seja a sede permanente dos BRICS, tal como os Estados Unidos são a sede permanente da ONU.

Eduardo R. Gomes, coordenador do Núcleo de Estudos dos BRICS (NuBRICS/UFF), e Lier Pires Ferreira, pesquisador da mesma entidade, publicaram um artigo no jornal Toda Palavra, do Rio de Janeiro, defendendo a tese de que a antiga capital do Brasil – que receberá a próxima reunião de cúpula dos BRICS no início de junho – se torne a sede fixa da organização que representa as aspirações do chamado “Sul Global”.

“O Rio de Janeiro é uma cidade singular. Foi a única no Sul-Global a ser sede de um império colonial europeu, na condição de capital do Reino Unido de Brasil e Portugal (1815-1822). Desde o início século XX, quando ainda ostentava a fleuma de capital da República, o Rio de Janeiro tem sido palco de grandes eventos, como a Exposição Internacional do Centenário da Independência, em 1922; a Conferência do Rio, em 1942; ou a Copa do Mundo de 1950, de triste lembrança. No início dos anos 1990, a cidade também acolheu a II Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, a ECO-92; e a Reunião de Cúpula da América Latina, Caribe e União Europeia, com representantes de quase 50 países”, escreveram os pesquisadores. “Mas foi no século XXI que o Rio de Janeiro firmou sua vocação de palco global, com eventos sucessivos como os XV Jogos Pan-Americanos, em 2007, a Rio + 20, em 2012, a final da Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos e Paralímpicos em 2016.”

Eles completaram: “Todavia, falta a vivência diária, o dia-a-dia de uma verdadeira cidade-global, hiperconectada com o mundo. Falta um elemento fixo, que, para além do trinômio turismo, cultura e indústria do petróleo, alimente cotidianamente o Rio com cidadãos do mundo, com estrangeiros de toda parte, tão múltiplos e plurais quanto os cariocas. Hoje, essa oportunidade surge com os BRICS.”

Gomes e Ferreira expressam um incômodo – comum a muitos que apostam no projeto BRICS – com a falta de uma sede permanente da organização, o que, segundo eles, dificulta os trabalhos do grupo. Ainda de acordo com eles, “uma sede física e um secretariado permanente são investimentos necessários à coalizão, estimulando que os BRICS atuem mais sistematicamente na arena internacional. Além disso, um secretariado profissionalizado poderia oferecer suporte técnico e logístico para avançar agendas prioritárias, como comércio, investimentos, inovação tecnológica, segurança energética, desenvolvimento sustentável e mudanças climáticas, articulando múltiplos atores, estatais e sociais, domésticos e internacionais”.

O professor Gomes, doutor em Ciência Política, afirma à SCF que acadêmicos de outros países BRICS já demonstraram interesse pela ideia de uma sede permanente no Rio de Janeiro. Além disso, há informações de que alguns ministros das Relações Exteriores que participaram da reunião recente, preparatória para a cúpula de junho, também tiveram contato com a proposta. O prefeito do Rio de Janeiro também teria sido informado da ideia.

“Existe hoje uma transição hegemônica muito claramente constituída entre China (a potência em ascensão) e os Estados Unidos (a potência em declínio), e isso vem gerando uma série de tensões e conflitos, particularmente com relação à perspectiva do multilateralismo”, explica à SCF o professor Lier Ferreira, PhD em Direito. “Os Estados Unidos estão questionando as instituições multilaterais e as orquestrando para perseguir os aliados da China, de modo que seria bom que as instituições internacionais de grande porte possam estar fora do eixo dessa disputa hegemônica”, continua. E conclui: “no caso dos BRICS, uma sede no Rio de Janeiro, assim, caberia perfeitamente nessa perspectiva.”

Eduardo Gomes acredita, no entanto, que o processo para colocar essa ideia em prática pelos países BRICS seria demorado, e não imediato. “A fundação do Novo Banco de Desenvolvimento, o banco dos BRICS, e sua instalação em Xangai, por exemplo, ocorreu apenas após discussões em algumas reuniões de cúpula anuais”, comenta. De qualquer forma, a discussão e a concretização de uma sede fixa colaboraria para um maior engajamento entre todos os membros dos BRICS, em especial os países fundadores.

Os dois professores concordam que, caso essa ideia seja desenvolvida, discutida e colocada em prática, o Brasil, a partir do Rio de Janeiro, se tornaria uma ligação entre Ocidente e Oriente, beneficiando não apenas o Brasil e a América Latina, mas também os países eurasiáticos, captando investimentos e movimentando a economia do gigante sul-americano, o que puxaria os vizinhos na direção de um maior desenvolvimento, e conectaria o mundo em transição.

“Plural por natureza, o Rio poderá potencializar as forças criativas do Sul-Global em favor de uma nova ordem internacional, multipolar, livre de hegemonias, capaz de materializar os anseios de desenvolvimento e nova inserção internacional que há séculos permeiam as lutas dos povos afro-asiáticos e latinoamericanos contra as diferentes expressões da colonialidade”, concluem.

O Brasil, a partir do Rio de Janeiro, se tornaria uma ligação entre Ocidente e Oriente, beneficiando não apenas o Brasil e a América Latina, mas também os países eurasiáticos

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No final de abril, dois professores brasileiros apresentaram uma ideia inédita: a de que o Brasil seja a sede permanente dos BRICS, tal como os Estados Unidos são a sede permanente da ONU.

Eduardo R. Gomes, coordenador do Núcleo de Estudos dos BRICS (NuBRICS/UFF), e Lier Pires Ferreira, pesquisador da mesma entidade, publicaram um artigo no jornal Toda Palavra, do Rio de Janeiro, defendendo a tese de que a antiga capital do Brasil – que receberá a próxima reunião de cúpula dos BRICS no início de junho – se torne a sede fixa da organização que representa as aspirações do chamado “Sul Global”.

“O Rio de Janeiro é uma cidade singular. Foi a única no Sul-Global a ser sede de um império colonial europeu, na condição de capital do Reino Unido de Brasil e Portugal (1815-1822). Desde o início século XX, quando ainda ostentava a fleuma de capital da República, o Rio de Janeiro tem sido palco de grandes eventos, como a Exposição Internacional do Centenário da Independência, em 1922; a Conferência do Rio, em 1942; ou a Copa do Mundo de 1950, de triste lembrança. No início dos anos 1990, a cidade também acolheu a II Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, a ECO-92; e a Reunião de Cúpula da América Latina, Caribe e União Europeia, com representantes de quase 50 países”, escreveram os pesquisadores. “Mas foi no século XXI que o Rio de Janeiro firmou sua vocação de palco global, com eventos sucessivos como os XV Jogos Pan-Americanos, em 2007, a Rio + 20, em 2012, a final da Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos e Paralímpicos em 2016.”

Eles completaram: “Todavia, falta a vivência diária, o dia-a-dia de uma verdadeira cidade-global, hiperconectada com o mundo. Falta um elemento fixo, que, para além do trinômio turismo, cultura e indústria do petróleo, alimente cotidianamente o Rio com cidadãos do mundo, com estrangeiros de toda parte, tão múltiplos e plurais quanto os cariocas. Hoje, essa oportunidade surge com os BRICS.”

Gomes e Ferreira expressam um incômodo – comum a muitos que apostam no projeto BRICS – com a falta de uma sede permanente da organização, o que, segundo eles, dificulta os trabalhos do grupo. Ainda de acordo com eles, “uma sede física e um secretariado permanente são investimentos necessários à coalizão, estimulando que os BRICS atuem mais sistematicamente na arena internacional. Além disso, um secretariado profissionalizado poderia oferecer suporte técnico e logístico para avançar agendas prioritárias, como comércio, investimentos, inovação tecnológica, segurança energética, desenvolvimento sustentável e mudanças climáticas, articulando múltiplos atores, estatais e sociais, domésticos e internacionais”.

O professor Gomes, doutor em Ciência Política, afirma à SCF que acadêmicos de outros países BRICS já demonstraram interesse pela ideia de uma sede permanente no Rio de Janeiro. Além disso, há informações de que alguns ministros das Relações Exteriores que participaram da reunião recente, preparatória para a cúpula de junho, também tiveram contato com a proposta. O prefeito do Rio de Janeiro também teria sido informado da ideia.

“Existe hoje uma transição hegemônica muito claramente constituída entre China (a potência em ascensão) e os Estados Unidos (a potência em declínio), e isso vem gerando uma série de tensões e conflitos, particularmente com relação à perspectiva do multilateralismo”, explica à SCF o professor Lier Ferreira, PhD em Direito. “Os Estados Unidos estão questionando as instituições multilaterais e as orquestrando para perseguir os aliados da China, de modo que seria bom que as instituições internacionais de grande porte possam estar fora do eixo dessa disputa hegemônica”, continua. E conclui: “no caso dos BRICS, uma sede no Rio de Janeiro, assim, caberia perfeitamente nessa perspectiva.”

Eduardo Gomes acredita, no entanto, que o processo para colocar essa ideia em prática pelos países BRICS seria demorado, e não imediato. “A fundação do Novo Banco de Desenvolvimento, o banco dos BRICS, e sua instalação em Xangai, por exemplo, ocorreu apenas após discussões em algumas reuniões de cúpula anuais”, comenta. De qualquer forma, a discussão e a concretização de uma sede fixa colaboraria para um maior engajamento entre todos os membros dos BRICS, em especial os países fundadores.

Os dois professores concordam que, caso essa ideia seja desenvolvida, discutida e colocada em prática, o Brasil, a partir do Rio de Janeiro, se tornaria uma ligação entre Ocidente e Oriente, beneficiando não apenas o Brasil e a América Latina, mas também os países eurasiáticos, captando investimentos e movimentando a economia do gigante sul-americano, o que puxaria os vizinhos na direção de um maior desenvolvimento, e conectaria o mundo em transição.

“Plural por natureza, o Rio poderá potencializar as forças criativas do Sul-Global em favor de uma nova ordem internacional, multipolar, livre de hegemonias, capaz de materializar os anseios de desenvolvimento e nova inserção internacional que há séculos permeiam as lutas dos povos afro-asiáticos e latinoamericanos contra as diferentes expressões da colonialidade”, concluem.

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April 23, 2025

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