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Embora seja um dos maiores produtores de alimento do mundo, o Brasil está sofrendo com a inflação de alimentos. Esta, como se sabe, afeta sobretudo os mais pobres, que compõem boa parte da base eleitoral de Lula. Ainda assim, Lula não parece se importar muito com o custo de vida no Brasil, pois sua prioridade é agradar os liberais.
A inflação de alimentos
A inflação de alimentos é multifatorial. A alta do dólar faz com que seja mais vantajoso para o produtor brasileiro vender para fora do que para dentro. O ovo, um alimento que sempre foi barato no Brasil, ficou caro no mercado global com o abate de milhões de galinhas poedeiras no governo Biden – pois os EUA não pararam de comer ovos. O café, que é um símbolo de hospitalidade e faz parte da rotina de todas as classes sociais, teve uma safra ruim e, ainda por cima, caiu no gosto do chinês. E para piorar tudo de vez, o super-ministro liberal do governo Bolsonaro, Paulo Guedes, havia esvaziado os estoques reguladores de alimentos. As “inexoráveis” leis do mercado mandam que o brasileiro pague caro pela comida que seu país produz.
(Pode-se dizer que o banqueiro Paulo Guedes teve uma espécie de DOGE no governo Bolsonaro. Assim como o empresário Elon Musk tem super poderes para implementar uma agenda própria no governo Trump, o banqueiro Paulo Guedes tocou sua agenda de “desestatização” e de mercado de carbono sob os holofotes da imprensa.)
Diante desse cenário, que fez o ministro Haddad, talvez o mais liberal dos petistas? Decidiu zerar o imposto de importação de nove alimentos, tais como café e carne… Que são coisas que o Brasil praticamente não importa. No frigir dos ovos quer dizer que a luxuosa cápsula da Nespresso vai ficar mais barata. Ainda assim, vale registrar que o governo Lula se dedicou a recompor o estoque regulador de alimentos esvaziado pelo programa de “desestatização” de Guedes. Impostos de exportação, porém, estão fora de questão.
Acordo em Davos – Agenda verde
Se a faceta mais especulativa da agenda verde (o mercado de crédito de carbono) caminhou a passos largos com o governo Bolsonaro, no governo Lula, houve o acordo para entregar a gestão de 14% do território nacional a uma transnacional verde, a AMBIPAR. Em fevereiro, escrevi na SCF sobre o assunto em maior detalhe: em tese, uma empresa privada que já foi multada pelos órgãos ambientais deve ficar responsável por funções típicas de Estado nas terras indígenas, onde há restrições ao ingresso de brasileiros comuns e até do Exército.
Pois bem: diante da repercussão negativa, o governo emitiu uma nota dizendo que era fake news e que o documento era somente um “protocolo de intenções”, sem validade legal. Em meados de fevereiro, o senador Plínio Valério comentou: “Até agora o texto do tal protocolo é um mistério, não divulgam. A única certeza é que só o anúncio já rendeu bilhões para a multinacional Ambipar.” De fato, o mero anúncio da assinatura fez com que a Ambipar fechasse um contrato com a Ferrari. Enquanto escrevo estas linhas, vejo que o governo tirou a nota do ar, e nem fazendo o login no site do governo como cidadã brasileira consigo acessá-la.
É feio sair fazendo tratativas no exterior pelas costas dos brasileiros, e esse não é o único caso. Quanto a este assunto, vale frisar (como o colega Raphael Machado tem feito na SCF) que a agenda verde é anti-desenvolvimento e é contra a energia barata, coisa que contribui para o aumento do custo de vida no Brasil.
Acordo em Cannes – Mercado imobiliário
Uma das coisas que sem dúvida aumentou nos últimos anos é o preço da casa própria. Governos petistas anteriores criaram um programa de crédito para a compra de casas populares similar ao de Obama, e, tal como nos EUA, a concentração do mercado imobiliário, subsidiado por crédito fácil, fez com que um verdadeiro cartel jogasse para cima os preços dos imóveis urbanos das cidades mais populosas.
Diante desse problema, que é acompanhado pela alta do dólar, o Ministério do Turismo achou uma boa ideia criar um Golden Visa para estrangeiros que comprarem imóveis nos Brasil. Em Cannes, no mês passado, o Ministério do Turismo assinou um protocolo de intenções para dar um visto brasileiro permanente ao estrangeiro que comprar um imóvel de setecentos mil reais nas regiões Norte e Nordeste (as mais pobres) ou de um milhão de reais no resto do Brasil. Não são valores que um dono de shopping desembolse; são valores que a classe média alta parcela para adquirir o imóvel próprio em vários anos.
Agiotagem como política social
No período militar (quando o Brasil era governado por um regime anticomunista e desenvolvimentista alinhado com os EUA), o governo criou o FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), uma espécie de poupança compulsória que o trabalhador acumula enquanto está formalmente empregado. Ao perder o emprego, ele recebe essa poupança. O intento original era que, enquanto estivesse na mão do governo, o dinheiro fosse usado para financiar obras de infraestrutura.
No mês passado, tudo mudou. Agora o FGTS pode ser usado como garantia em empréstimos (aqui está a publicação do governo). Em tese, os juros seriam mais baixos; no entanto, segundo o jornal econômico Valor, os juros estão mais altos: “Juros da linha têm oscilado em uma faixa ampla, entre 3% e 6% ao mês, e estão acima da média da versão já existente, de 2,9%. Quando o produto foi lançado, a estimativa oficial do governo era que as taxas fossem 40% menores que as do crédito pessoal sem nenhum tipo de garantia (6,1%), ou seja, perto de 3,7%.”
Para piorar, o Brasil passa agora por uma febre de apostas virtuais, que têm causado grande endividamento e até suicídios. Definitivamente, o Brasil de Lula é aquele em que o capital transnacional faz a festa.