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Eduardo Vasco
August 26, 2024
© Photo: Public domain

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Um dos principais fatores que serviram de base para os Estados Unidos e seus fantoches não reconhecerem a vitória de Nicolás Maduro nas eleições presidenciais da Venezuela foi a falta de observadores internacionais supostamente independentes (isto é, de confiança do imperialismo). Mais de 1.000 pessoas, vindas de todos os continentes, incluindo de países cujos governos são hostis ao governo venezuelano, acompanharam as eleições na Venezuela. De fato, o governo venezuelano (como um governo soberano) não aceita que pretensos observadores independentes acompanhem suas eleições para depois usarem essa autoridade concedida a eles para fazer propaganda contra o país. Esse é um dos motivos de a Venezuela ter sido tão atacada no período eleitoral.

Mas únicas entidades internacionais que participaram como observadoras das últimas eleições brasileiras que podem ser consideradas neutras e cujo financiamento de governos alheios aos de seus países é inexistente ou irrelevante são o Parlamento do Mercosul, a Rede de Órgãos Jurisdicionais e de Administração Eleitoral da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (Rojae-CPLP) e a União Interamericana de Organismos Eleitorais (Uniore). As demais recebem financiamento direto ou indireto de governos como o dos EUA e da União Europeia. Neste artigo vou tratar somente de uma delas. As outras deixarei para artigos posteriores.

O Ifes foi uma das entidades estrangeiras que acompanharam as eleições de 2022 no Brasil. Essa instituição tem atuado em mais de 145 países desde 1987. É financiada publicamente, como consta em seu site, por órgãos de governos como o dos Estados Unidos, Reino Unido, França, Canadá, Suíça, Dinamarca e Suécia. Entre seus financiadores estão o Departamento de Estado dos EUA e os ministérios de relações exteriores da França e do Reino Unido. Segundo o relatório anual de 2022 do Ifes, o governo dos EUA é responsável por 68% de seu financiamento.

Na página do próprio Ifes é destacado que o Escritório para o Estrangeiro, Comunidade Britânica e Desenvolvimento é o “departamento do governo do Reino Unido responsável por proteger e promover os interesses britânicos pelo mundo”. Algo muito semelhante é descrito sobre o Ministério para a Europa e as Relações Exteriores da França: “trabalha para representar, defender e promover os interesses da França e dos cidadãos franceses em todas as áreas nos países estrangeiros e nas organizações internacionais.”

Isto é, o Ifes reconhece que é financiado por órgãos governamentais que têm como missão favorecer os interesses desses governos. Outro órgão que financia o Ifes é a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID). Essa entidade, por sua vez, é sustentada com dinheiro do governo dos EUA, o qual ela distribui para uma rede de organizações não-governamentais que atuam em todo o mundo. De fato, a USAID tem financiado revoluções coloridas e golpes de Estado bem-sucedidos nas últimas três décadas.

Outra organização que cumpre um papel semelhante ao da USAID é a Open Society Foundations, do especulador bilionário George Soros, que também é doadora do Ifes. A OSF financiou abertamente o Euromaidan de 2014 na Ucrânia, que levou ao poder um regime de características fascistas, infestado de neonazistas e que baniu boa parte da oposição, em particular os partidos de esquerda.

O conselho administrativo do Ifes é formado por “líderes empresariais, governamentais e da sociedade civil, incluindo atuais e antigos funcionários eleitos dos EUA e de outros países”. O diretor regional do Ifes para a América Latina e o Caribe (incluindo o Brasil) é o salvadorenho Máximo Zaldívar. O Ifes também informa que Zaldívar tem seu trabalho “financiado” pela USAID, o Departamento de Estado dos EUA e o Fundo Nacional para a Democracia (NED). O NED é uma instituição semelhante à USAID e também é financiado pelo governo americano.

Em uma entrevista concedida em 1991, Allen Weinstein, um dos fundadores do NED em 1983, por iniciativa do presidente Ronald Reagan, revelou: “muito do que fazemos hoje era feito de modo encoberto pela CIA 25 anos atrás.” De fato, o NED foi criado pelos mesmos criadores da CIA para fazer exatamente o que faz a CIA. Mas, por quê? O próprio Weinstein respondeu, na mesma entrevista: “seria terrível para grupos democráticos em todo o mundo serem vistos como subsidiados pela CIA.” E completou: “por isso o fundo foi criado.” Ele também criou, um ano depois, o Center for Democracy, “um guarda-chuva para o seu intervencionismo global”, segundo uma reportagem do Washington Post. Já naquela época a organização enviava equipes para acompanhar eleições em países “antidemocráticos”, como Nicarágua e Panamá – que terminaram com a derrubada desses regimes inconvenientes aos EUA. “Nós criamos o NED”, disse Phill Agee, um ex-oficial da CIA, em uma entrevista na década de 1990. Segundo ele, o NED despejou dinheiro na campanha da oposição nicaraguense para derrotar os sandinistas nas eleições de 1989 – o que foi bem-sucedido. Assim como a Open Society Foundations, o NED também financiou a derrubada dos regimes comunistas do leste europeu no final da década de 1980.

Talvez o ex-diretor da CIA, James Woolsey, tenha pensado justamente no NED e nos outros tentáculos da agência quando admitiu, em entrevista à Fox News em 2018, que os Estados Unidos ainda interferem nas eleições de outros países. Claro que “só por uma causa muito boa nos interesses da democracia”.

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Governo dos EUA financia 2/3 do orçamento de ONG que monitora eleições no Brasil

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Um dos principais fatores que serviram de base para os Estados Unidos e seus fantoches não reconhecerem a vitória de Nicolás Maduro nas eleições presidenciais da Venezuela foi a falta de observadores internacionais supostamente independentes (isto é, de confiança do imperialismo). Mais de 1.000 pessoas, vindas de todos os continentes, incluindo de países cujos governos são hostis ao governo venezuelano, acompanharam as eleições na Venezuela. De fato, o governo venezuelano (como um governo soberano) não aceita que pretensos observadores independentes acompanhem suas eleições para depois usarem essa autoridade concedida a eles para fazer propaganda contra o país. Esse é um dos motivos de a Venezuela ter sido tão atacada no período eleitoral.

Mas únicas entidades internacionais que participaram como observadoras das últimas eleições brasileiras que podem ser consideradas neutras e cujo financiamento de governos alheios aos de seus países é inexistente ou irrelevante são o Parlamento do Mercosul, a Rede de Órgãos Jurisdicionais e de Administração Eleitoral da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (Rojae-CPLP) e a União Interamericana de Organismos Eleitorais (Uniore). As demais recebem financiamento direto ou indireto de governos como o dos EUA e da União Europeia. Neste artigo vou tratar somente de uma delas. As outras deixarei para artigos posteriores.

O Ifes foi uma das entidades estrangeiras que acompanharam as eleições de 2022 no Brasil. Essa instituição tem atuado em mais de 145 países desde 1987. É financiada publicamente, como consta em seu site, por órgãos de governos como o dos Estados Unidos, Reino Unido, França, Canadá, Suíça, Dinamarca e Suécia. Entre seus financiadores estão o Departamento de Estado dos EUA e os ministérios de relações exteriores da França e do Reino Unido. Segundo o relatório anual de 2022 do Ifes, o governo dos EUA é responsável por 68% de seu financiamento.

Na página do próprio Ifes é destacado que o Escritório para o Estrangeiro, Comunidade Britânica e Desenvolvimento é o “departamento do governo do Reino Unido responsável por proteger e promover os interesses britânicos pelo mundo”. Algo muito semelhante é descrito sobre o Ministério para a Europa e as Relações Exteriores da França: “trabalha para representar, defender e promover os interesses da França e dos cidadãos franceses em todas as áreas nos países estrangeiros e nas organizações internacionais.”

Isto é, o Ifes reconhece que é financiado por órgãos governamentais que têm como missão favorecer os interesses desses governos. Outro órgão que financia o Ifes é a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID). Essa entidade, por sua vez, é sustentada com dinheiro do governo dos EUA, o qual ela distribui para uma rede de organizações não-governamentais que atuam em todo o mundo. De fato, a USAID tem financiado revoluções coloridas e golpes de Estado bem-sucedidos nas últimas três décadas.

Outra organização que cumpre um papel semelhante ao da USAID é a Open Society Foundations, do especulador bilionário George Soros, que também é doadora do Ifes. A OSF financiou abertamente o Euromaidan de 2014 na Ucrânia, que levou ao poder um regime de características fascistas, infestado de neonazistas e que baniu boa parte da oposição, em particular os partidos de esquerda.

O conselho administrativo do Ifes é formado por “líderes empresariais, governamentais e da sociedade civil, incluindo atuais e antigos funcionários eleitos dos EUA e de outros países”. O diretor regional do Ifes para a América Latina e o Caribe (incluindo o Brasil) é o salvadorenho Máximo Zaldívar. O Ifes também informa que Zaldívar tem seu trabalho “financiado” pela USAID, o Departamento de Estado dos EUA e o Fundo Nacional para a Democracia (NED). O NED é uma instituição semelhante à USAID e também é financiado pelo governo americano.

Em uma entrevista concedida em 1991, Allen Weinstein, um dos fundadores do NED em 1983, por iniciativa do presidente Ronald Reagan, revelou: “muito do que fazemos hoje era feito de modo encoberto pela CIA 25 anos atrás.” De fato, o NED foi criado pelos mesmos criadores da CIA para fazer exatamente o que faz a CIA. Mas, por quê? O próprio Weinstein respondeu, na mesma entrevista: “seria terrível para grupos democráticos em todo o mundo serem vistos como subsidiados pela CIA.” E completou: “por isso o fundo foi criado.” Ele também criou, um ano depois, o Center for Democracy, “um guarda-chuva para o seu intervencionismo global”, segundo uma reportagem do Washington Post. Já naquela época a organização enviava equipes para acompanhar eleições em países “antidemocráticos”, como Nicarágua e Panamá – que terminaram com a derrubada desses regimes inconvenientes aos EUA. “Nós criamos o NED”, disse Phill Agee, um ex-oficial da CIA, em uma entrevista na década de 1990. Segundo ele, o NED despejou dinheiro na campanha da oposição nicaraguense para derrotar os sandinistas nas eleições de 1989 – o que foi bem-sucedido. Assim como a Open Society Foundations, o NED também financiou a derrubada dos regimes comunistas do leste europeu no final da década de 1980.

Talvez o ex-diretor da CIA, James Woolsey, tenha pensado justamente no NED e nos outros tentáculos da agência quando admitiu, em entrevista à Fox News em 2018, que os Estados Unidos ainda interferem nas eleições de outros países. Claro que “só por uma causa muito boa nos interesses da democracia”.