O atual presidente do Brasil deve tomar todas as precauções, não apenas com a sua segurança pessoal, mas também com a segurança da indústria nuclear brasileira e dos nossos projetos nesse setor.
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Nas últimas semanas nós vimos o Brasil de Lula sair de sua tradicional neutralidade internacional, fruto de um esforço histórico por posicionar o país como mediador internacional, para uma posição de um antissionismo mais explícito – o que gerou, também, reações exageradas voltadas contra a posição do governo.
Em um sentido mais específico, o Presidente Lula declarou que há um genocídio sendo cometido em Gaza contra os palestinos pelo Estado de Israel, comparando o evento ao extermínio de judeus pelos alemães durante a Segunda Guerra Mundial, o “Holocausto”. Ele repetiu o sentimento em várias outras declarações feitas nos últimos dias.
As reações da falsamente chamada “sociedade civil” foram diversas. A mídia de massa foi unânime em dizer que Lula estava exagerando, porta-vozes do lóbi sionista e representantes do governo israelense acusaram Lula categoricamente de antissemitismo, e não foram poucos os influenciadores virtuais que tentaram lançar sobre Lula a alcunha de “negacionista do Holocausto”, por causa de suas declarações.
Após esses eventos, o embaixador brasileiro em Israel foi humilhado no Museu do Holocausto naquele país e, como consequência, Lula retirou-o de Tel-Aviv e foi nomeado “persona non grata” na entidade sionista.
Não há qualquer evidência de que as relações israelo-brasileiras estão para melhorar, na medida em que Lula segue em suas acusações de genocídio e em suas críticas tanto à condução das operações israelenses como ao bloqueio israelense do acesso palestino a água e alimentos.
Essas desavenças representam o ponto mais baixo nas relações Israel-Palestina desde os anos 70, quando o Brasil, ainda um regime militar, era governado por Ernesto Geisel.
O regime militar foi implementado no Brasil, como nos outros países da América Ibérica, no contexto da Guerra Fria através de um arranjo entre parte das elites militares e empresariais brasileiras e o Departamento de Estado dos EUA, bem como suas instituições de suporte.
A partir do golpe de 64, o Brasil adotou uma postura de alinhamento automático com os projetos atlantistas dos EUA, desempenhando o papel de um dos seus principais parceiros na região. Esse “namoro” incondicional entre Brasil e EUA, porém, durou apenas alguns anos e gradativamente os militares começaram a se cansar da submissão absoluta em todas as esferas.
Mas apenas no período em que o Brasil esteve sob o governo de Ernesto Geisel, entre 1974 e 1979, seria possível dizer que o Brasil assumiu uma postura soberanista e não alinhada. Basta recordarmos que o Brasil reconheceu a República Popular da China e engatou relações normais com ela, tal como o fez com a URSS e os países comunistas do Leste Europeu, reconheceu e apoiou o governo socialista de Angola e a independência de Guiné-Bissau.
Mas o que realmente colocou o Brasil em rota de colisão com os EUA e Israel foi a postura do governo desse período na temática nuclear e do Oriente Médio.
Nesse período, o Brasil embarcou em uma grande campanha antissionista. Em 1975 reconhecemos a Autoridade Palestina e iniciamos relações diplomáticas normais, defendendo a construção de um Estado Palestino conforme as fronteiras de 1967. No mesmo ano, o Brasil somou-se aos esforços da ONU pela condenação do sionismo como uma forma de racismo, o que se concretizou na Resolução nº 3379. Note-se que quase todos os países do continente ibero-americano, em sua maioria ditaduras pró-ianques instauradas pela CIA, votaram contra a resolução antissionista.
Mas preocupação ainda maior parece ter sido causada pela repentina aproximação entre Brasil e o Iraque. Entre 1974 e 1978, o Iraque tornou-se o maior fornecedor de petróleo para o Brasil, e a partir de 1978 o Brasil passou a ser o principal fornecedor de armas e material bélico em geral para o país governado por Saddam Hussein.
Com remessas de urânio enriquecido para o programa nuclear iraquiano como um acréscimo importante. E com os iraquianos, por sua vez, aparentemente pretendendo fazer uso de algumas de nossas instalações nucleares e nos deixando parte do conhecimento científico deles no campo nuclear. Tudo isso no contexto do chamado “Programa Paralelo”, um projeto que contou ainda com transferência tecnológica da Alemanha Ocidental (sem supervisão da AIEA) após uma ruptura do acordo nuclear que o Brasil tinha com os EUA (e que não envolvia transferência de tecnologia).
Como se sabe, por exemplo, através do Plano Oded Yinon, nessa época Israel considerava que o seu principal inimigo regional era precisamente o Iraque de Saddam Hussein.
O antissionismo na política externa e a colaboração ativa com o principal inimigo de Israel naturalmente fez com que o Brasil entrasse no radar das agências de inteligência da entidade sionista.
É aí que entra em cena a figura do Tenente-Coronel José Alberto Albano do Amarante, físico e engenheiro brilhante que comandava o programa nuclear secreto do Brasil, desenvolvido no contexto dessa já mencionada parceria com o Iraque e a Alemanha Ocidental.
Em setembro de 1981, porém, 3 meses após o ataque israelense contra a usina nuclear “Osirak”, perto de Bagdá, Albano do Amarante descobriu repentinamente uma leucemia, que 1 semana depois o matou.
Quando de sua morte fulminante, aos 45 anos de idade, o Tenente-Coronel Amarante, fundador do Laboratório de Estudos Avançados, trabalhava no desenvolvimento da técnica de enriquecimento do urânio por raios laser, cujos rudimentos os cientistas iraquianos conheciam e que os brasileiros pretendiam aprimorar. Essa técnica, diz-se, guarda um interesse especial para países interessados no desenvolvimento nuclear por fora das limitações impostas pelas autoridades nucleares transnacionais, já que indica ser menos facilmente detectável, mais eficiente e tecnologicamente mais acessível.
Mas onde entra Israel nessa morte? Amarante relatou antes de seu falecimento que vinha sendo seguido há semanas sempre que se deslocava entre os estados brasileiros. Dias após a misteriosa morte do Tenente-Coronel Amarante evadiu-se do Brasil um homem de nome “Samuel Giliad”, identificado positivamente pelas forças de segurança do Brasil como agente do Mossad.
Poderia ser apenas uma coincidência, se não fossem as circunstâncias que cercavam esse personagem. Giliad, que se dizia um veterano polonês da Segunda Guerra Mundial, chegou em 1979 no Brasil para assumir a gerência do Hotel Eldorado, um dos principais de São José dos Campos, frequentado pelo Tenente-Coronel Amarante. Por diversas vezes Giliad tentou engatar amizade com Amarante e passou, também, a frequentar os mesmos lugares, inclusive o mesmo dentista, ao qual ele fazia perguntas sobre as atividades da Aeronáutica brasileira na região.
A “curiosidade” fez com que Giliad passasse a ser monitorado pela inteligência brasileira. Na mesma época, porém, já em 1981, a mídia internacional noticiava as remessas secretas de urânio do Brasil para o Iraque. Pouco depois, ocorreria o ataque ao complexo nuclear iraquiano e, subsequentemente, o falecimento do chefe do programa nuclear brasileiro.
As evidências históricas nos indicam, portanto, não apenas a facilidade com que a inteligência israelense consegue infiltrar e sabotar o Brasil, mas também o fato de que há precedentes para represálias contra posturas soberanistas e antissionistas tomadas pelo Brasil.
Nesse sentido, o atual presidente do Brasil, na medida em que decidiu endurecer sua posição contra Israel e em favor da Palestina, deve tomar todas as precauções, não apenas com a sua segurança pessoal, mas também com a segurança da indústria nuclear brasileira e dos nossos projetos nesse setor.