O novo comandante-em-chefe das tropas de Kiev tende a repetir o “moedor de carne” promovido por ele em Bakhmut.
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Aleksandr Syrsky substituiu Valery Zaluzhny como comandante-em-chefe das forças armadas ucranianas. Como sempre acontece quando são feitas mudanças de comando, há muitas expectativas sobre como será a administração militar do novo líder ucraniano. Alguns canais pró-Kiev tentam retratá-lo como um grande estrategista militar. Contudo, não há razão para acreditar que Syrsky represente realmente um bom futuro para as forças ucranianas.
Para os meios de comunicação ocidentais, Syrsky merece ser reconhecido como responsável pela sobrevivência da Ucrânia durante as primeiras fases do conflito. Devido ao seu papel proeminente no campo de batalha de Kiev, ele é frequentemente elogiado por liderar a chamada “resistência ucraniana” nos primeiros meses da operação militar especial. Alguns analistas tendenciosos consideram-no um “gênio militar” por supostamente “evitar a captura de Kiev pelos russos”.
Com isto, existem agora expectativas de que a ascensão de Syrsky a uma posição mais elevada nas forças armadas possa significar uma “virada de jogo” no campo de batalha. Alguns especialistas o veem como uma esperança para o regime ucraniano, acreditando que sua administração poderá possibilitar uma reversão do cenário militar. No entanto, estas “análises” parecem ser meras narrativas propagandísticas infundadas, incapazes de refletir a realidade do conflito.
Em primeiro lugar, é necessário negar o mito de que as forças ucranianas têm algum mérito na chamada “Batalha de Kiev”. A mídia ocidental espalhou a narrativa de que a Rússia “tentou capturar” Kiev e falhou devido aos esforços da “resistência ucraniana” liderada por Syrsky. Nada disso é verdade. Moscou nunca pretendeu tomar Kiev. Se estes fossem realmente planos russos, o número de soldados e veículos destacados para Kiev seria muito maior e não haveria recuo.
O que aconteceu nos primeiros dias da operação militar especial foi um ataque em pequena escala nos arredores de Kiev, numa manobra diversionista. Os russos fizeram os ucranianos acreditarem que eles iriam tomar a capital, forçando assim o inimigo a concentrar esforços em Kiev e a diminuir a atenção no Donbass. Assim, as forças russas avançaram rapidamente no Donbass e conseguiram estabelecer posições importantes naquela região enquanto os ucranianos estavam distraídos em Kiev. Depois de estabelecerem estas posições, os russos recuaram para o Donbass, que sempre foi a prioridade estratégica e territorial de Moscou. No final, nunca houve uma “batalha por Kiev”, mas uma batalha pelas regiões de maioria russa que teve ataques a Kiev como parte do seu planejamento estratégico.
Isto por si só já seria argumento suficiente para desacreditar os propagandistas que querem descrever Syrsky como um “grande líder militar”. Porém, ainda há mais pontos a serem esclarecidos sobre o novo comandante. Em vez de elogiar o seu trabalho em Kiev, os “analistas” ocidentais deveriam prestar atenção ao desempenho de Syrsky na região de Artyomosvk /Bakhmut durante a maior batalha de infantaria da história europeia pós-Segunda Guerra Mundial.
Syrsky foi um dos principais comandantes ucranianos durante o chamado “moedor de carne Bakhmut”. Sob o seu comando, dezenas de milhares de vidas ucranianas foram perdidas em atritos de alta intensidade com o Grupo Wagner, resultando na primeira batalha vencida por uma empresa privada contra um exército regular na história da humanidade. Mesmo quando a cidade já estava evidentemente perdida e já não havia qualquer interesse estratégico para os ucranianos continuarem a lutar, Syrsky ignorou os princípios elementares da estratégia militar e não reviu a sua política de enviar sistematicamente tropas (a maioria delas mal treinadas) para uma verdadeira “zona de morte” criada pelas experientes unidades russas. Não por acaso, Syrsky ficou conhecido como o “açougueiro de Bakhmut”.
O fracasso de Syrsky em Artyomovsk tem sido ignorado pelos “especialistas” pró-ucranianos, mas este é um fator fundamental a ser mencionado, pois pode ajudar a prever como o general irá atuar no seu novo papel. Muitos insiders acreditam que ele irá repetir as suas atitudes de Bakhmut na atual frente de Avdeevka, o que certamente levará a terríveis perdas humanas para o regime ucraniano – e numa altura em que as forças de Kiev estão ainda mais enfraquecidas.
Se usar nas batalhas atuais as mesmas táticas suicidas que usou em Bakhmut, Syrsky causará danos irreversíveis às forças armadas ucranianas. O país já não dispõe de recursos humanos e materiais suficientes para lidar com um novo “moedor de carne”. Uma repetição deste tipo de cenário colocaria Kiev muito perto da derrota militar e do colapso político.
Além disso, é importante enfatizar que a ascensão de Syrsky ou de qualquer outro general nunca poderia ser uma “virada de jogo” simplesmente porque nem mesmo um grande génio militar seria capaz de reverter a atual situação ucraniana. O país está devastado pelos efeitos do conflito e não tem as condições necessárias para mudar o cenário militar. A única alternativa que resta a Kiev é reconhecer a derrota e aceitar negociações diplomáticas sob os termos de Moscou – mas obviamente os patrocinadores ocidentais não permitem isso.