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November 12, 2023
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Mohamad Hasan SWEIDAN

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“Esta fachada de um formidável Estado israelita, financiado e armado até aos dentes para salvaguardar os interesses regionais de Washington, foi destruída pela primeira vez em 17 anos. Hoje, um Israel muito mais frágil, forçado a pedir ajuda militar face a determinadas fações da resistência, transformou-se numa responsabilidade internacional para os seus patrocinadores ocidentais.”

Ao longo da sua curta história, Israel instigou atrocidades contra o povo palestino e os países árabes vizinhos, muitas vezes usando produtos químicos proibidos internacionalmente, como o fósforo branco, que foi lançado contra Gaza e o Líbano nos últimos dias.

No meio da guerra em curso contra a Faixa de Gaza, o Estado ocupante tem gozado de uma considerável largueza de meios, graças em grande parte ao apoio ocidental, designadamente de Washington, que orgulhosamente se apresenta como um defensor dos direitos humanos globais. Os gritantes dois pesos e duas medidas dessa política ocidental são exemplificados por décadas de abusos documentados e crimes de guerr a em países como o Iraque, o Afeganistão, o Vietname, a Síria, o Líbano e por aí fora.

Mas não são apenas os Estados ocidentais que sustentam as capacidades militares de Israel hoje. Uma análise aprofundada revela que uma parcela significativa do financiamento da indústria militar de Israel agora vem de países árabes que recentemente normalizaram as relações com o Estado de ocupação. Quem, então, são os financiadores das guerras de Israel?

Crescimento da indústria de defesa de Israel

De acordo com um relatório do Instituto Internacional de Investigação para a Paz de Estocolmo (Sipri), entre 2018 e 2022, a esmagadora maioria – 99% – das importações de armas de Israel veio dos EUA e da Alemanha.

Nesse período, Israel importou US$ 2,7 mil milhões em armas, sendo a maior parte – 79% – originária dos EUA (US$ 2,1 mil milhões) e 20% da Alemanha (US$ 546 mil milhões).

Escusado será dizer que os EUA são, de longe, o maior benfeitor de Israel, tendo fornecido 246 mil milhões de dólares em ajuda militar e económica desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Em 2016, o compromisso de Washington com Tel Aviv foi ainda mais solidificado sob o governo do ex-presidente Barack Obama com um memorando de 10 anos (2019-2028), prometendo uns impressionantes US$ 38 mil milhões em ajuda militar a Israel, o equivalente a mais de US$ 3 mil milhões anuais.

Os direitos humanos parecem ser a última coisa na mente americana. À medida que os comportamentos israelitas pioram, os EUA duplicam o seu apoio inabalável à máquina de guerra israelita e ao seu projeto de assentamentos coloniais, que resultou na perda de dezenas de milhares de vidas palestinas nas últimas sete décadas.

Em 2022, dois anos após os Acordos de Abraão, mediados pelos EUA, que normalizaram as relações entre Israel e EUA, Bahrein, Marrocos e Sudão, a indústria de defesa israelita viu um aumento sem precedentes nas exportações, totalizando US$ 12,5 mil milhões, um record e desde o estabelecimento de Israel, há 75 anos.

À cabeça estavam as exportações de drones, representando 25% desse total impressionante, e um salto significativo em relação aos 9% em 2021. Mísseis e sistemas de defesa aérea vieram logo atrás, representando 19% das vendas de armas israelitas, enquanto radares e sistemas de guerra eletrónica contribuíram com 13%.

Estados árabes financiam a economia de guerra de Israel

Um relatório divulgado pelo Ministério da Defesa israelita revela os ganhos financeiros que a normalização criou para a indústria armamentista do Estado de ocupação: só em 2022, 24% (equivalente a US$ 3 mil milhões) das exportações militares israelitas chegaram a países árabes que formalizaram relações com Tel Aviv. Isso marcou um aumento notável em relação aos 16,5% do ano anterior. Em 2021, só o Bahrein e os Emirados Árabes Unidos responderam por 7,5% (US$ 853 milhões) das exportações de armas de Israel.

Geograficamente, os países árabes signatários dos Acordos de Abraão surgem como o terceiro maior grupo de países importadores de armas israelitas, a seguir aos da Ásia-Pacífico (30%) e Europa (29%).

Isso ilustra o papel significativo que esses Estados árabes desempenham como grandes contribuintes tanto para o complexo militar-industrial de Israel como para sua economia. O pano de fundo para o envolvimento financeiro dos Estados árabes, no entanto, é a realidade preocupante de que mais de 4.137 civis palestinos, a maioria mulheres e crianças, foram mortos, e mais de 13.000 feridos, em pouco mais de uma semana, enquanto aviões de guerra israelitas massacram palestinos em Gaza.

Em contraste com a cumplicidade árabe – e turca – que reforça o setor militar de Israel, o Irão permanece como “o único país [da Ásia Ocidental] que apoia a resistência na Palestina em todos os níveis”, como afirmou Muhammad al-Hindi, secretário-geral adjunto da Jihad Islâmica Palestina (PIJ). Este apoio resoluto contribuiu, sem dúvida, para a notável vitória estratégica recente da resistência palestiniana – em oposição a Gaza, Jerusalém e Cisjordânia que têm de suportar uma segunda Nakba.

Um marco para a Resistência Palestina

Cinquenta anos depois do audacioso ataque surpresa de 1973 lançado pelos exércitos árabes egípcios e sírios contra Israel, o 7 de Outubro tornar-se-á uma data gravada na memória. Esses dados serão significativos não apenas para os ousados ganhos militares palestinos na Operação Al Aqsa Flood, mas também como o momento em que as forças de resistência desferiram um golpe retumbante na hegemonia ocidental, desmantelando a imagem antes aparentemente impermeável do “poderoso Israel”. Na região, coisa nunca vista desde julho de 2006, quando a resistência libanesa, o Hezbollah, frustrou todos os objetivos militares de Israel na sua guerra de 33 dias contra o Líbano.

Esta fachada de um formidável Estado israelita, financiado e armado até aos dentes para salvaguardar os interesses regionais de Washington, foi destruída pela primeira vez em 17 anos. Hoje, um Israel muito mais frágil, forçado a pedir ajuda militar face a determinadas fações de resistência, transformou-se numa responsabilidade internacional para os seus patrocinadores ocidentais.

Previsivelmente, após a Operação Al-Aqsa Flood, Israel optou por uma reação brutal e desproporcional contra a população civil já enlutada de Gaza em vez de realizar uma retaliação direcionada contra a resistência armada.

Já ocorreram vários massacres em massa arrasando bairros palestinos inteiros, hospitais e locais religiosos dentro da sitiada Faixa de Gaza. À medida que esses crimes contra a humanidade aumentam, não é apenas o mundo ocidental que fornece cobertura para os comportamentos desequilibrados e ilegais de Israel, mas também a colaboração de regimes árabes que financiaram furtivamente o complexo militar-industrial da ocupação.

O genocídio em Gaza pode ter posto um travão ao projeto de normalização dos EUA e de Israel, por enquanto. E talvez as vendas de armas de Israel para governos árabes tenham sido prejudicadas temporariamente porque Tel Aviv precisa dessas armas.

Para aqueles que observam com entusiasmo a entrada do Eixo de Resistência da região nesta batalha, o objetivo não será apenas a derrota de Israel, mas também o desmoronamento de toda a normalização árabe com o Estado de Ocupação. Em última análise, os Estados árabes serão responsabilizados pelo financiamento da guerra de Israel em Gaza.

Publicado originalmente pelosocialismo, Por The Cradle

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