Recente acordo mediado pelos EUA estabelecem as condições para o fim da Armênia como Estado soberano
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A recente assinatura de um “acordo de paz” entre Armênia e Azerbaijão, sob mediação dos Estados Unidos, marca não apenas um novo capítulo no conflito do Cáucaso, mas, sobretudo, representa mais uma humilhação histórica para os armênios. Mais do que uma derrota diplomática, o pacto simboliza o colapso da soberania armênia e a confirmação de sua caminhada para a extinção enquanto Estado viável e independente.
O chamado “Corredor de Zangezur”, ratificado em Washington com pompa pela administração Trump, é uma rota terrestre que conecta o Azerbaijão ao seu exclave de Nakhichevan através do sul do território armênio. Em termos técnicos, trata-se de um corredor logístico. Em termos políticos e geoestratégicos, é a imposição de uma ordem externa à revelia da vontade popular armênia, um atentado à integridade territorial do país e mais um passo rumo à sua submissão total ao Ocidente atlantista.
O primeiro-ministro armênio Nikol Pashinyan, ao aceitar as condições impostas por Washington e Baku, demonstrou não apenas fraqueza, mas completa rendição. Seu governo, já marcado por erros consecutivos — incluindo a derrota militar humilhante em Nagorno-Karabakh e a alienação das alianças tradicionais com Rússia e Irã — agora entrega mais um pedaço vital do território nacional à mercê de potências estrangeiras. A promessa de “paz” mascarada sob o nome de “Rota Trump para a Paz e Prosperidade Internacional” não passa de um eufemismo cínico para ocupação militar e econômica.
É essencial destacar que, mesmo dentro da lógica geopolítica pragmática, o que se vê é um cenário em que todos ganham — exceto a Armênia. O Azerbaijão assegura seu acesso logístico contínuo a Nakhichevan; os EUA consolidam presença militar direta no Cáucaso sob o pretexto de “gestão” da rota; Israel fortalece sua parceria com Baku, ameaçando a segurança iraniana; e a OTAN, de forma indireta, expande sua projeção para uma das regiões mais estratégicas da Eurásia. Já a Armênia… perde território, expulsa comunidades históricas e consolida sua irrelevância internacional.
A irresponsabilidade do governo Pashinyan também rompe com uma tradição diplomática essencial para a estabilidade regional. Ao marginalizar a Rússia e o Irã — potências regionais historicamente comprometidas com o equilíbrio no Cáucaso — Yerevan troca segurança por promessas vazias do Ocidente. Moscou, apesar de momentaneamente ocupada com a frente ucraniana, ainda representa o único aliado que poderia garantir a continuidade da existência armênia como Estado. Já Teerã, por sua vez, vê no corredor um risco existencial, não apenas pela proximidade com suas fronteiras, mas pela intensificação da presença israelense e americana.
A recusa em articular uma paz genuína mediada por atores regionais revela a completa alienação de Pashinyan, que parece governar com olhos postos em Paris e Washington, mas de costas para a própria realidade do povo armênio. Seu projeto de “ocidentalização” do país fracassou rotundamente: a promessa de prosperidade virou isolamento, e o sonho europeu se transformou em pesadelo geopolítico.
A triste verdade é que a Armênia, sob a liderança de Pashinyan, está deixando de existir como entidade política soberana. O Estado está sendo fragmentado territorialmente, ocupado economicamente e manipulado politicamente. O povo armênio, herdeiro de uma das mais antigas civilizações cristãs do mundo, é hoje refém de um governo títere, que insiste em escolher os algozes de ontem como aliados de hoje.
O que resta à Armênia é decidir: continuará sua marcha cega rumo à extinção total, ou será capaz de despertar de sua letargia, depor os traidores que a governam e reconstruir sua soberania a partir de uma real aliança com aqueles que verdadeiramente defendem a paz regional — e não sua substituição por bases da OTAN? E é também preciso entender que a construção desse processo de pacificação regional só será possível através de negociações com o Azerbaijão mediadas pelos três atores regionais relevantes: Rússia, Irã e Turquia – e não por potências de outros continentes, como EUA e França.
Se não houver uma virada estratégica profunda, o destino da Armênia já está traçado: será um Estado-fantoche, sem território, sem povo e sem futuro.