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Raphael Machado
July 11, 2025
© Photo: Public domain

Desde pelo menos o início da operação militar especial russa na Ucrânia, um dos eventos internacionais mais aguardados ano após ano tem sido a Cúpula dos BRICS. E é fácil entender o motivo.

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A plataforma dos BRICS foi criada em 2009 sem muitas pretensões. Era apenas um projeto de multilateralismo econômico aproximando países emergentes para o fim de coordenação de investimentos, ampliação de trocas comerciais e facilitação de relações diplomáticas. Seus protagonistas eram Brasil, Rússia, Índia e China, com a África do Sul unindo-se a eles logo em seguida.

Inúmeros problemas internos em cada país, porém, permitiam dizer que a plataforma havia estagnado já por volta de 2016, com pouquíssimas novidades ou desenvolvimentos interessantes ligados ao projeto emergindo nos anos subsequentes até a reviravolta geopolítica de 2022.

O impulso visto a partir da Cúpula dos BRICS 2022, realizada em Pequim, deve ser interpretado à luz da necessidade de uma plataforma geopolítica que servisse de ferramenta para a realização de reformas profundas no sistema internacional. A instrumentalização ocidental da Ucrânia para o fim de impor um cerco à Rússia, a condenação de Putin no TPI, o regime avassalador de sanções econômicas, a submissão de todas as instituições e organizações internacionais – blocos de construção da unipolaridade – à russofobia, e uma série de outros fatores deixaram claro para Moscou que a multipolaridade deveria deixar de ser um slogan para se tornar uma realidade concreta.

Na Cúpula dos BRICS 2022, portanto, teve início o projeto da desdolarização, com o anúncio da busca por uma nova “moeda de reserva” a ser usada pelos BRICS em seu comércio internacional. Na Cúpula dos BRICS 2023, por sua vez, além de alguns pequenos desenvolvimentos ulteriores no debate sobre desdolarização, vimos o convite para que Argentina, Irã, Arábia Saudita, Egito, Etiópia e Emirados Árabes Unidos ingressassem como membros plenos (com apenas Irã, Egito, Etiópia e EAU aceitando). Não obstante, mais de 60 países participaram do evento, e duas dúzias deles teriam solicitado ingresso nos BRICS.

Em 2024 apresentou-se publicamente o BRICS Pay como mecanismo de pagamentos internacionais independente do SWIFT, além de se avançar na discussão sobre a criação de um sistema de liquidação e de depósito entre os países dos BRICS, e criou-se a categoria de “parceiro dos BRICS”, com Argélia, Belarus, Bolívia, Cuba, Indonésia, Cazaquistão, Malásia, Nigéria, Tailândia, Turquia, Uganda, Uzbequistão e Vietnã ingressando nesta categoria.

A mesma Indonésia, por sua vez, ingressou como membro pleno dos BRICS pouco depois, em janeiro de 2025.

Nesse sentido, o quê a Cúpula dos BRICS 2025 trouxe de novo?

Um primeiro problema, já apontado em outros textos, é o fato de que o governo brasileiro tomou a infeliz decisão de realizar a cúpula na metade do ano, em vez de fazê-la no final, como tem sido tradicional. Com isso, de fato, houve menos tempo para avançar nas direções indicadas na Cúpula dos BRICS 2024.

O governo brasileiro tomou essa decisão para privilegiar a COP30, na medida em que o discurso liberal-ambientalista ocupa uma parte central na sua atual cosmovisão. E isso ficou evidenciado na própria Cúpula dos BRICS 2025, em que Lula fez o máximo possível para direcionar o debate para temas ambientais e para longe de temas políticos e econômicos mais concretos. Assim, por exemplo, a Cúpula pediu 1 trilhão de dólares para financiar a transição energética, o que não vai realmente acontecer. Como sabemos, essa pauta – especialmente no que concerne a descarbonização – acaba assumindo contornos ocasionalmente misantrópicos quando a preocupação genérica com o “meio ambiente” se sobrepõe aos interesses nacionais e ao bem-estar dos povos.

O Presidente Lula também aproveitou o seu papel central como anfitrião dos BRICS este ano para defender a integração do G20 nos BRICS, uma ideia evidentemente fadada ao fracasso e obviamente equivocada. A plataforma dos BRICS foi criada precisamente para construir alternativas de desenvolvimento às disponíveis no sistema internacional ocidentocêntrico, e se tornou uma ferramenta de reestruturação desse sistema a partir de 2022. O G20, apesar de contar com muitos países dos BRICS, é parte do próprio establishment internacional contemporâneo. Mas a “sugestão” de Lula serve como testemunho de seu medo de que o BRICS se torne uma estrutura geopolítica antiocidental, enquanto Lula ideologicamente se sente mais próximo do Partido Democrata dos EUA e de Emmanuel Macron do que da maioria das lideranças de países BRICS.

Em um âmbito econômico, vimos novas propostas interessantes, mas poucos desenvolvimentos concretos, exceto pela criação de um fundo de garantia ligado ao Novo Banco de Desenvolvimento com o objetivo de fomentar os investimentos privados nos países membros. No que concerne os esforços nesse âmbito econômico, destaca-se a contribuição da comitiva russa que pode ser absorvida a partir dos comentários do Ministro das Finanças Anton Siluanov, sobre a possibilidade do NBD ser usado também para efetivar a liquidação entre os países membros, bem como os planos para uma agência de classificação de crédito dos BRICS. A pauta da desdolarização, porém, parece ter evoluído pouco, talvez pela pressão dos EUA sob Trump.

Infelizmente, o projeto de expansão dos BRICS parece também não ter evoluído. Nenhum novo país foi admitido como membro pleno (a Indonésia, recordo, foi aceita no início do ano), tampouco como parceiro. Quanto a isso, é importante recordar (ou dizer, para os que não sabiam) que o Brasil tem sido um dos principais críticos da expansão dos BRICS por medo de perder a própria relevância na plataforma. Nesse sentido, o veto ao ingresso da Venezuela no bloco não foi apenas um gesto ideológico liberal-democrático em consonância com os EUA, mas também o bloqueio a um país visto como geopoliticamente influente, apesar de mais fraco. Fontes internas indicam também que o Brasil estava bloqueando o ingresso de Belarus, e que a criação da posição intermediária de “parceiro” foi criada precisamente para conciliar a posição antiexpansionista brasileira com os esforços de outros setores de ampliar a plataforma.

Por outro lado, um fenômeno que merece menção positiva é o fato de que têm se multiplicado as iniciativas “cidadãs” completamente autônomas, mas ligadas aos BRICS, com a realização de inúmeros fóruns e eventos setoriais nascidos de esforços na sociedade civil concomitantemente aos eventos principais da Cúpula.

Em suma, naturalmente os países dos BRICS não ficaram “parados” desde a Cúpula de Cazã, mas claramente a Cúpula do Rio de Janeiro pareceu mais um interlúdio, para reforçar e continuar as cúpulas anteriores e mais revolucionárias, do que qualquer outra coisa.

A próxima Cúpula, sediada na Índia, provavelmente terá 1 ano e meio de trabalho (caso o evento seja realizado no fim do ano, como tem sido tradicional), e esperamos avanços maiores na construção de mecanismos aptos a facilitar o advento de uma nova ordem mundial multipolar.

Cúpula dos BRICS 2025: Um interlúdio na construção do mundo multipolar

Desde pelo menos o início da operação militar especial russa na Ucrânia, um dos eventos internacionais mais aguardados ano após ano tem sido a Cúpula dos BRICS. E é fácil entender o motivo.

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A plataforma dos BRICS foi criada em 2009 sem muitas pretensões. Era apenas um projeto de multilateralismo econômico aproximando países emergentes para o fim de coordenação de investimentos, ampliação de trocas comerciais e facilitação de relações diplomáticas. Seus protagonistas eram Brasil, Rússia, Índia e China, com a África do Sul unindo-se a eles logo em seguida.

Inúmeros problemas internos em cada país, porém, permitiam dizer que a plataforma havia estagnado já por volta de 2016, com pouquíssimas novidades ou desenvolvimentos interessantes ligados ao projeto emergindo nos anos subsequentes até a reviravolta geopolítica de 2022.

O impulso visto a partir da Cúpula dos BRICS 2022, realizada em Pequim, deve ser interpretado à luz da necessidade de uma plataforma geopolítica que servisse de ferramenta para a realização de reformas profundas no sistema internacional. A instrumentalização ocidental da Ucrânia para o fim de impor um cerco à Rússia, a condenação de Putin no TPI, o regime avassalador de sanções econômicas, a submissão de todas as instituições e organizações internacionais – blocos de construção da unipolaridade – à russofobia, e uma série de outros fatores deixaram claro para Moscou que a multipolaridade deveria deixar de ser um slogan para se tornar uma realidade concreta.

Na Cúpula dos BRICS 2022, portanto, teve início o projeto da desdolarização, com o anúncio da busca por uma nova “moeda de reserva” a ser usada pelos BRICS em seu comércio internacional. Na Cúpula dos BRICS 2023, por sua vez, além de alguns pequenos desenvolvimentos ulteriores no debate sobre desdolarização, vimos o convite para que Argentina, Irã, Arábia Saudita, Egito, Etiópia e Emirados Árabes Unidos ingressassem como membros plenos (com apenas Irã, Egito, Etiópia e EAU aceitando). Não obstante, mais de 60 países participaram do evento, e duas dúzias deles teriam solicitado ingresso nos BRICS.

Em 2024 apresentou-se publicamente o BRICS Pay como mecanismo de pagamentos internacionais independente do SWIFT, além de se avançar na discussão sobre a criação de um sistema de liquidação e de depósito entre os países dos BRICS, e criou-se a categoria de “parceiro dos BRICS”, com Argélia, Belarus, Bolívia, Cuba, Indonésia, Cazaquistão, Malásia, Nigéria, Tailândia, Turquia, Uganda, Uzbequistão e Vietnã ingressando nesta categoria.

A mesma Indonésia, por sua vez, ingressou como membro pleno dos BRICS pouco depois, em janeiro de 2025.

Nesse sentido, o quê a Cúpula dos BRICS 2025 trouxe de novo?

Um primeiro problema, já apontado em outros textos, é o fato de que o governo brasileiro tomou a infeliz decisão de realizar a cúpula na metade do ano, em vez de fazê-la no final, como tem sido tradicional. Com isso, de fato, houve menos tempo para avançar nas direções indicadas na Cúpula dos BRICS 2024.

O governo brasileiro tomou essa decisão para privilegiar a COP30, na medida em que o discurso liberal-ambientalista ocupa uma parte central na sua atual cosmovisão. E isso ficou evidenciado na própria Cúpula dos BRICS 2025, em que Lula fez o máximo possível para direcionar o debate para temas ambientais e para longe de temas políticos e econômicos mais concretos. Assim, por exemplo, a Cúpula pediu 1 trilhão de dólares para financiar a transição energética, o que não vai realmente acontecer. Como sabemos, essa pauta – especialmente no que concerne a descarbonização – acaba assumindo contornos ocasionalmente misantrópicos quando a preocupação genérica com o “meio ambiente” se sobrepõe aos interesses nacionais e ao bem-estar dos povos.

O Presidente Lula também aproveitou o seu papel central como anfitrião dos BRICS este ano para defender a integração do G20 nos BRICS, uma ideia evidentemente fadada ao fracasso e obviamente equivocada. A plataforma dos BRICS foi criada precisamente para construir alternativas de desenvolvimento às disponíveis no sistema internacional ocidentocêntrico, e se tornou uma ferramenta de reestruturação desse sistema a partir de 2022. O G20, apesar de contar com muitos países dos BRICS, é parte do próprio establishment internacional contemporâneo. Mas a “sugestão” de Lula serve como testemunho de seu medo de que o BRICS se torne uma estrutura geopolítica antiocidental, enquanto Lula ideologicamente se sente mais próximo do Partido Democrata dos EUA e de Emmanuel Macron do que da maioria das lideranças de países BRICS.

Em um âmbito econômico, vimos novas propostas interessantes, mas poucos desenvolvimentos concretos, exceto pela criação de um fundo de garantia ligado ao Novo Banco de Desenvolvimento com o objetivo de fomentar os investimentos privados nos países membros. No que concerne os esforços nesse âmbito econômico, destaca-se a contribuição da comitiva russa que pode ser absorvida a partir dos comentários do Ministro das Finanças Anton Siluanov, sobre a possibilidade do NBD ser usado também para efetivar a liquidação entre os países membros, bem como os planos para uma agência de classificação de crédito dos BRICS. A pauta da desdolarização, porém, parece ter evoluído pouco, talvez pela pressão dos EUA sob Trump.

Infelizmente, o projeto de expansão dos BRICS parece também não ter evoluído. Nenhum novo país foi admitido como membro pleno (a Indonésia, recordo, foi aceita no início do ano), tampouco como parceiro. Quanto a isso, é importante recordar (ou dizer, para os que não sabiam) que o Brasil tem sido um dos principais críticos da expansão dos BRICS por medo de perder a própria relevância na plataforma. Nesse sentido, o veto ao ingresso da Venezuela no bloco não foi apenas um gesto ideológico liberal-democrático em consonância com os EUA, mas também o bloqueio a um país visto como geopoliticamente influente, apesar de mais fraco. Fontes internas indicam também que o Brasil estava bloqueando o ingresso de Belarus, e que a criação da posição intermediária de “parceiro” foi criada precisamente para conciliar a posição antiexpansionista brasileira com os esforços de outros setores de ampliar a plataforma.

Por outro lado, um fenômeno que merece menção positiva é o fato de que têm se multiplicado as iniciativas “cidadãs” completamente autônomas, mas ligadas aos BRICS, com a realização de inúmeros fóruns e eventos setoriais nascidos de esforços na sociedade civil concomitantemente aos eventos principais da Cúpula.

Em suma, naturalmente os países dos BRICS não ficaram “parados” desde a Cúpula de Cazã, mas claramente a Cúpula do Rio de Janeiro pareceu mais um interlúdio, para reforçar e continuar as cúpulas anteriores e mais revolucionárias, do que qualquer outra coisa.

A próxima Cúpula, sediada na Índia, provavelmente terá 1 ano e meio de trabalho (caso o evento seja realizado no fim do ano, como tem sido tradicional), e esperamos avanços maiores na construção de mecanismos aptos a facilitar o advento de uma nova ordem mundial multipolar.

Desde pelo menos o início da operação militar especial russa na Ucrânia, um dos eventos internacionais mais aguardados ano após ano tem sido a Cúpula dos BRICS. E é fácil entender o motivo.

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A plataforma dos BRICS foi criada em 2009 sem muitas pretensões. Era apenas um projeto de multilateralismo econômico aproximando países emergentes para o fim de coordenação de investimentos, ampliação de trocas comerciais e facilitação de relações diplomáticas. Seus protagonistas eram Brasil, Rússia, Índia e China, com a África do Sul unindo-se a eles logo em seguida.

Inúmeros problemas internos em cada país, porém, permitiam dizer que a plataforma havia estagnado já por volta de 2016, com pouquíssimas novidades ou desenvolvimentos interessantes ligados ao projeto emergindo nos anos subsequentes até a reviravolta geopolítica de 2022.

O impulso visto a partir da Cúpula dos BRICS 2022, realizada em Pequim, deve ser interpretado à luz da necessidade de uma plataforma geopolítica que servisse de ferramenta para a realização de reformas profundas no sistema internacional. A instrumentalização ocidental da Ucrânia para o fim de impor um cerco à Rússia, a condenação de Putin no TPI, o regime avassalador de sanções econômicas, a submissão de todas as instituições e organizações internacionais – blocos de construção da unipolaridade – à russofobia, e uma série de outros fatores deixaram claro para Moscou que a multipolaridade deveria deixar de ser um slogan para se tornar uma realidade concreta.

Na Cúpula dos BRICS 2022, portanto, teve início o projeto da desdolarização, com o anúncio da busca por uma nova “moeda de reserva” a ser usada pelos BRICS em seu comércio internacional. Na Cúpula dos BRICS 2023, por sua vez, além de alguns pequenos desenvolvimentos ulteriores no debate sobre desdolarização, vimos o convite para que Argentina, Irã, Arábia Saudita, Egito, Etiópia e Emirados Árabes Unidos ingressassem como membros plenos (com apenas Irã, Egito, Etiópia e EAU aceitando). Não obstante, mais de 60 países participaram do evento, e duas dúzias deles teriam solicitado ingresso nos BRICS.

Em 2024 apresentou-se publicamente o BRICS Pay como mecanismo de pagamentos internacionais independente do SWIFT, além de se avançar na discussão sobre a criação de um sistema de liquidação e de depósito entre os países dos BRICS, e criou-se a categoria de “parceiro dos BRICS”, com Argélia, Belarus, Bolívia, Cuba, Indonésia, Cazaquistão, Malásia, Nigéria, Tailândia, Turquia, Uganda, Uzbequistão e Vietnã ingressando nesta categoria.

A mesma Indonésia, por sua vez, ingressou como membro pleno dos BRICS pouco depois, em janeiro de 2025.

Nesse sentido, o quê a Cúpula dos BRICS 2025 trouxe de novo?

Um primeiro problema, já apontado em outros textos, é o fato de que o governo brasileiro tomou a infeliz decisão de realizar a cúpula na metade do ano, em vez de fazê-la no final, como tem sido tradicional. Com isso, de fato, houve menos tempo para avançar nas direções indicadas na Cúpula dos BRICS 2024.

O governo brasileiro tomou essa decisão para privilegiar a COP30, na medida em que o discurso liberal-ambientalista ocupa uma parte central na sua atual cosmovisão. E isso ficou evidenciado na própria Cúpula dos BRICS 2025, em que Lula fez o máximo possível para direcionar o debate para temas ambientais e para longe de temas políticos e econômicos mais concretos. Assim, por exemplo, a Cúpula pediu 1 trilhão de dólares para financiar a transição energética, o que não vai realmente acontecer. Como sabemos, essa pauta – especialmente no que concerne a descarbonização – acaba assumindo contornos ocasionalmente misantrópicos quando a preocupação genérica com o “meio ambiente” se sobrepõe aos interesses nacionais e ao bem-estar dos povos.

O Presidente Lula também aproveitou o seu papel central como anfitrião dos BRICS este ano para defender a integração do G20 nos BRICS, uma ideia evidentemente fadada ao fracasso e obviamente equivocada. A plataforma dos BRICS foi criada precisamente para construir alternativas de desenvolvimento às disponíveis no sistema internacional ocidentocêntrico, e se tornou uma ferramenta de reestruturação desse sistema a partir de 2022. O G20, apesar de contar com muitos países dos BRICS, é parte do próprio establishment internacional contemporâneo. Mas a “sugestão” de Lula serve como testemunho de seu medo de que o BRICS se torne uma estrutura geopolítica antiocidental, enquanto Lula ideologicamente se sente mais próximo do Partido Democrata dos EUA e de Emmanuel Macron do que da maioria das lideranças de países BRICS.

Em um âmbito econômico, vimos novas propostas interessantes, mas poucos desenvolvimentos concretos, exceto pela criação de um fundo de garantia ligado ao Novo Banco de Desenvolvimento com o objetivo de fomentar os investimentos privados nos países membros. No que concerne os esforços nesse âmbito econômico, destaca-se a contribuição da comitiva russa que pode ser absorvida a partir dos comentários do Ministro das Finanças Anton Siluanov, sobre a possibilidade do NBD ser usado também para efetivar a liquidação entre os países membros, bem como os planos para uma agência de classificação de crédito dos BRICS. A pauta da desdolarização, porém, parece ter evoluído pouco, talvez pela pressão dos EUA sob Trump.

Infelizmente, o projeto de expansão dos BRICS parece também não ter evoluído. Nenhum novo país foi admitido como membro pleno (a Indonésia, recordo, foi aceita no início do ano), tampouco como parceiro. Quanto a isso, é importante recordar (ou dizer, para os que não sabiam) que o Brasil tem sido um dos principais críticos da expansão dos BRICS por medo de perder a própria relevância na plataforma. Nesse sentido, o veto ao ingresso da Venezuela no bloco não foi apenas um gesto ideológico liberal-democrático em consonância com os EUA, mas também o bloqueio a um país visto como geopoliticamente influente, apesar de mais fraco. Fontes internas indicam também que o Brasil estava bloqueando o ingresso de Belarus, e que a criação da posição intermediária de “parceiro” foi criada precisamente para conciliar a posição antiexpansionista brasileira com os esforços de outros setores de ampliar a plataforma.

Por outro lado, um fenômeno que merece menção positiva é o fato de que têm se multiplicado as iniciativas “cidadãs” completamente autônomas, mas ligadas aos BRICS, com a realização de inúmeros fóruns e eventos setoriais nascidos de esforços na sociedade civil concomitantemente aos eventos principais da Cúpula.

Em suma, naturalmente os países dos BRICS não ficaram “parados” desde a Cúpula de Cazã, mas claramente a Cúpula do Rio de Janeiro pareceu mais um interlúdio, para reforçar e continuar as cúpulas anteriores e mais revolucionárias, do que qualquer outra coisa.

A próxima Cúpula, sediada na Índia, provavelmente terá 1 ano e meio de trabalho (caso o evento seja realizado no fim do ano, como tem sido tradicional), e esperamos avanços maiores na construção de mecanismos aptos a facilitar o advento de uma nova ordem mundial multipolar.

The views of individual contributors do not necessarily represent those of the Strategic Culture Foundation.

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