Português
Raphael Machado
May 15, 2025
© Photo: Public domain

Israel ficará incomodado com o novo Papa – tal como causou incômodo entre os sionistas a declaração do novo Papa de que são os cristãos o “povo escolhido” de Deus.

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O Conclave de 2025 terminou em um prazo relativamente curto com a eleição do Cardeal Robert Francis Prevost para o Trono de São Pedro em sucessão ao recém-falecido Papa Francisco. Prevost escolheu para si o nome papal de Leão XIV, uma escolha significativa em si mesma.

Passemos, então, em superação às desinformações e confusões a um resumo de informações concretas e indícios razoáveis que possam permitir antever a lógica do Pontificado de Leão XIV.

Em primeiro lugar, o consenso por Prevost foi, derradeiramente, amplo. O desejo por um Pontificado estável, moderado e conciliador se sobressaiu em relação a outras preocupações, e mesmo os cardeais imbuídos de um ardor mais “ideológico” (tanto para o campo conservador quanto para o campo progressista) parecem ter colocado o bem e a unidade da Igreja Católica como prioridade máxima. A construção dessa escolha parece ter partido dos cardeais norte-americanos, particularmente do Cardeal Timothy Dolan, relativamente próximo a Donald Trump. Nas vésperas do Conclave, Prevost teria participado de uma reunião junto a outros cardeais nos aposentos do Cardeal Raymond Burke, de orientação tradicionalista. Ao que tudo indica, Prevost teria recebido também o apoio do – favorito dos conservadores – Cardeal Robert Sarah.

Considerando que a aposta do Cardeal Pietro Parolin era que ele seria preferido à luz de uma possível candidatura ultraprogressista, como a dos cardeais Tagle ou Zuppi, mas isso não se concretizou, a sua candidatura – a mais cotada por especialistas – acabou naufragando rapidamente.

Agora após os fatos, de fato, sem exceção, todos os cardeais parecem animados com o resultado do Conclave. O “Espírito”, de fato, hegelianamente operou uma síntese dialética entre os dois últimos pontificados; mas nisso ele apontou para o Absoluto tal como ele aparecia de maneira mais evidentemente em outros tempos. Daí que, sem deixar de ser uma espécie de fusão entre Bento XVI (apego à tradição) e Francisco (opção preferencial pelos pobres), Prevost remete-se a uma Igreja pré-Vaticano II, “eterna”, recordando com a sua escolha de nome que a Igreja Católica não nasceu no século XX e não se resume aos dilemas do século XX, os quais acabaram ocupando um papel excessivamente central nos últimos anos, vide a querela da “missa em latim”.

Nesse perfeito equilíbrio, Leão XIV parece reunir uma humildade e proximidade inspiradas no pontificado anterior com um apreço pela beleza e pela tradição que remete ao pontificado de Bento XVI. Ainda temos pouco para confirmar isso, mas essa perfeita moderação já se evidencia nas aparições públicas do novo Papa, tanto em seu modo de falar, quanto na retomada de adereços litúrgicos abandonados. Menos midiático, o novo Papa parece que evitará as polêmicas que Francisco, inocentemente, suscitou e, por enquanto, tem conduzido um discurso cristocêntrico focando em temas teológicos mais centrais.

Explicando a escolha de seu nome, Leão XIV colocou-se como fundamentalmente interessado em resgatar e continuar as contribuições fundamentais de Leão XIII, pondo em destaque a produção da encíclica Rerum Novarum, crítica fundamental do capitalismo (e do marxismo) e documento inspirador das legislações trabalhistas de boa parte do mundo no início do século XX. Nesta Encíclica, Leão XIII fundou a Doutrina Social da Igreja Católica, discorrendo sobre temas como “salário justo”, “usura”, “exploração” e inúmeros outros típicos do capitalismo industrial, para dar a esses debates uma perspectiva católica.

Leão XIV insistiu na necessidade de dar seguimento à necessária crítica do Capital desenraizado e usurário como explorador dos povos, mas enfatizou também a necessidade de mobilizar uma crítica católica das novas expressões do Capital e da Técnica, como a IA e outras novas tecnologias desenvolvidas pelas grandes corporações. É plausível, portanto, que a Igreja Católica passe a se pronunciar de maneira mais detalhada sobre o transumanismo e suas várias manifestações e tendências contemporâneas.

Temos aí o primeiro Papa norte-americano, aliás, coincidindo com a nova presidência de Donald Trump. O catolicismo cresce em importância nos EUA (abarcando 20% da população) e isso certamente terá impacto nas relações entre o Vaticano e o hegemon unipolar decadente. É claro que Trump tentará usar a eleição de um Papa norte-americano para seu benefício (e chama a atenção o fato de que ele já parecia saber que o novo Papa seria estadunidense antes mesmo do anúncio do resultado…), ao mesmo tempo que o novo Papa certamente ocasionalmente voltará a sua atenção para a profunda crise niilista na qual os EUA permanecem afundados (crise, aliás, muito bem descrita por Bento XVI).

Seria equivocado enxergar Prevost, aliás, como um “trumpista” pura e simplesmente. Naturalmente conservador, enquanto cardeal Prevost parece ter se situado nos marcos de um conservadorismo conciliador e humanista. Crítico da imigração em massa, por exemplo, ele não deixava de se opor aos métodos usados pelo governo Trump para enfrentar a questão. O seu anticapitalismo, ademais, tornaria impossível associá-lo à direita reacionária tradicional e suas posições são inteiramente incompatíveis com o tecnofeudalismo neorreacionário. Ainda assim, Prevost sempre deixou bem clara um posicionamento antitético às tendências pós-modernas em temáticas sexuais e de gênero – muito mais que o Papa Francisco.

Não se pode esquecer, porém, que ele é tão latino-americano quanto norte-americano. Tendo passado boa parte de sua vida no Peru e tendo cidadania peruana, o Papa Leão XIV falou em espanhol em seu discurso inaugural e claramente se sente proximamente conectado às comunidades pobres do Terceiro Mundo. Sua eleição, nesse sentido, é sinal do reconhecimento da importância crescente do Sul Global. Mesmo o primeiro Papa norte-americano é, na prática, também um representante do Terceiro Mundo.

Quanto a como será o perfil da geopolítica de Leão XIV ainda é muito cedo para fazer apontamentos substanciais. O novo Papa decidiu manter Parolin como Secretário de Estado, por enquanto, então é razoável prever uma continuidade geopolítica entre este pontificado o anterior (que já foi continuador do pontificado de Bento XVI).

Os únicos comentários razoavelmente geopolíticos feitos pelo novo Papa até agora enfatizaram a importância da paz e indicam que Leão XIV se esforçará para dar um papel cada vez mais ativo nas cúpulas mundiais e nas querelas diplomáticas do século XXI. De fato, ele expressou um anseio por uma paz justa e duradoura na Ucrânia, por um acordo rápido e duradouro entre a Índia e o Paquistão, e enfatizou que a situação dos palestinos em Gaza o incomodava especialmente, demandando um cessar-fogo imediato.

Já sabemos, aliás, que Israel ficará incomodado com o novo Papa – tal como causou incômodo entre os sionistas a declaração do novo Papa de que são os cristãos o “povo escolhido” de Deus.

Um primeiro perfil do Papa Leão XIV

Israel ficará incomodado com o novo Papa – tal como causou incômodo entre os sionistas a declaração do novo Papa de que são os cristãos o “povo escolhido” de Deus.

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O Conclave de 2025 terminou em um prazo relativamente curto com a eleição do Cardeal Robert Francis Prevost para o Trono de São Pedro em sucessão ao recém-falecido Papa Francisco. Prevost escolheu para si o nome papal de Leão XIV, uma escolha significativa em si mesma.

Passemos, então, em superação às desinformações e confusões a um resumo de informações concretas e indícios razoáveis que possam permitir antever a lógica do Pontificado de Leão XIV.

Em primeiro lugar, o consenso por Prevost foi, derradeiramente, amplo. O desejo por um Pontificado estável, moderado e conciliador se sobressaiu em relação a outras preocupações, e mesmo os cardeais imbuídos de um ardor mais “ideológico” (tanto para o campo conservador quanto para o campo progressista) parecem ter colocado o bem e a unidade da Igreja Católica como prioridade máxima. A construção dessa escolha parece ter partido dos cardeais norte-americanos, particularmente do Cardeal Timothy Dolan, relativamente próximo a Donald Trump. Nas vésperas do Conclave, Prevost teria participado de uma reunião junto a outros cardeais nos aposentos do Cardeal Raymond Burke, de orientação tradicionalista. Ao que tudo indica, Prevost teria recebido também o apoio do – favorito dos conservadores – Cardeal Robert Sarah.

Considerando que a aposta do Cardeal Pietro Parolin era que ele seria preferido à luz de uma possível candidatura ultraprogressista, como a dos cardeais Tagle ou Zuppi, mas isso não se concretizou, a sua candidatura – a mais cotada por especialistas – acabou naufragando rapidamente.

Agora após os fatos, de fato, sem exceção, todos os cardeais parecem animados com o resultado do Conclave. O “Espírito”, de fato, hegelianamente operou uma síntese dialética entre os dois últimos pontificados; mas nisso ele apontou para o Absoluto tal como ele aparecia de maneira mais evidentemente em outros tempos. Daí que, sem deixar de ser uma espécie de fusão entre Bento XVI (apego à tradição) e Francisco (opção preferencial pelos pobres), Prevost remete-se a uma Igreja pré-Vaticano II, “eterna”, recordando com a sua escolha de nome que a Igreja Católica não nasceu no século XX e não se resume aos dilemas do século XX, os quais acabaram ocupando um papel excessivamente central nos últimos anos, vide a querela da “missa em latim”.

Nesse perfeito equilíbrio, Leão XIV parece reunir uma humildade e proximidade inspiradas no pontificado anterior com um apreço pela beleza e pela tradição que remete ao pontificado de Bento XVI. Ainda temos pouco para confirmar isso, mas essa perfeita moderação já se evidencia nas aparições públicas do novo Papa, tanto em seu modo de falar, quanto na retomada de adereços litúrgicos abandonados. Menos midiático, o novo Papa parece que evitará as polêmicas que Francisco, inocentemente, suscitou e, por enquanto, tem conduzido um discurso cristocêntrico focando em temas teológicos mais centrais.

Explicando a escolha de seu nome, Leão XIV colocou-se como fundamentalmente interessado em resgatar e continuar as contribuições fundamentais de Leão XIII, pondo em destaque a produção da encíclica Rerum Novarum, crítica fundamental do capitalismo (e do marxismo) e documento inspirador das legislações trabalhistas de boa parte do mundo no início do século XX. Nesta Encíclica, Leão XIII fundou a Doutrina Social da Igreja Católica, discorrendo sobre temas como “salário justo”, “usura”, “exploração” e inúmeros outros típicos do capitalismo industrial, para dar a esses debates uma perspectiva católica.

Leão XIV insistiu na necessidade de dar seguimento à necessária crítica do Capital desenraizado e usurário como explorador dos povos, mas enfatizou também a necessidade de mobilizar uma crítica católica das novas expressões do Capital e da Técnica, como a IA e outras novas tecnologias desenvolvidas pelas grandes corporações. É plausível, portanto, que a Igreja Católica passe a se pronunciar de maneira mais detalhada sobre o transumanismo e suas várias manifestações e tendências contemporâneas.

Temos aí o primeiro Papa norte-americano, aliás, coincidindo com a nova presidência de Donald Trump. O catolicismo cresce em importância nos EUA (abarcando 20% da população) e isso certamente terá impacto nas relações entre o Vaticano e o hegemon unipolar decadente. É claro que Trump tentará usar a eleição de um Papa norte-americano para seu benefício (e chama a atenção o fato de que ele já parecia saber que o novo Papa seria estadunidense antes mesmo do anúncio do resultado…), ao mesmo tempo que o novo Papa certamente ocasionalmente voltará a sua atenção para a profunda crise niilista na qual os EUA permanecem afundados (crise, aliás, muito bem descrita por Bento XVI).

Seria equivocado enxergar Prevost, aliás, como um “trumpista” pura e simplesmente. Naturalmente conservador, enquanto cardeal Prevost parece ter se situado nos marcos de um conservadorismo conciliador e humanista. Crítico da imigração em massa, por exemplo, ele não deixava de se opor aos métodos usados pelo governo Trump para enfrentar a questão. O seu anticapitalismo, ademais, tornaria impossível associá-lo à direita reacionária tradicional e suas posições são inteiramente incompatíveis com o tecnofeudalismo neorreacionário. Ainda assim, Prevost sempre deixou bem clara um posicionamento antitético às tendências pós-modernas em temáticas sexuais e de gênero – muito mais que o Papa Francisco.

Não se pode esquecer, porém, que ele é tão latino-americano quanto norte-americano. Tendo passado boa parte de sua vida no Peru e tendo cidadania peruana, o Papa Leão XIV falou em espanhol em seu discurso inaugural e claramente se sente proximamente conectado às comunidades pobres do Terceiro Mundo. Sua eleição, nesse sentido, é sinal do reconhecimento da importância crescente do Sul Global. Mesmo o primeiro Papa norte-americano é, na prática, também um representante do Terceiro Mundo.

Quanto a como será o perfil da geopolítica de Leão XIV ainda é muito cedo para fazer apontamentos substanciais. O novo Papa decidiu manter Parolin como Secretário de Estado, por enquanto, então é razoável prever uma continuidade geopolítica entre este pontificado o anterior (que já foi continuador do pontificado de Bento XVI).

Os únicos comentários razoavelmente geopolíticos feitos pelo novo Papa até agora enfatizaram a importância da paz e indicam que Leão XIV se esforçará para dar um papel cada vez mais ativo nas cúpulas mundiais e nas querelas diplomáticas do século XXI. De fato, ele expressou um anseio por uma paz justa e duradoura na Ucrânia, por um acordo rápido e duradouro entre a Índia e o Paquistão, e enfatizou que a situação dos palestinos em Gaza o incomodava especialmente, demandando um cessar-fogo imediato.

Já sabemos, aliás, que Israel ficará incomodado com o novo Papa – tal como causou incômodo entre os sionistas a declaração do novo Papa de que são os cristãos o “povo escolhido” de Deus.

Israel ficará incomodado com o novo Papa – tal como causou incômodo entre os sionistas a declaração do novo Papa de que são os cristãos o “povo escolhido” de Deus.

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O Conclave de 2025 terminou em um prazo relativamente curto com a eleição do Cardeal Robert Francis Prevost para o Trono de São Pedro em sucessão ao recém-falecido Papa Francisco. Prevost escolheu para si o nome papal de Leão XIV, uma escolha significativa em si mesma.

Passemos, então, em superação às desinformações e confusões a um resumo de informações concretas e indícios razoáveis que possam permitir antever a lógica do Pontificado de Leão XIV.

Em primeiro lugar, o consenso por Prevost foi, derradeiramente, amplo. O desejo por um Pontificado estável, moderado e conciliador se sobressaiu em relação a outras preocupações, e mesmo os cardeais imbuídos de um ardor mais “ideológico” (tanto para o campo conservador quanto para o campo progressista) parecem ter colocado o bem e a unidade da Igreja Católica como prioridade máxima. A construção dessa escolha parece ter partido dos cardeais norte-americanos, particularmente do Cardeal Timothy Dolan, relativamente próximo a Donald Trump. Nas vésperas do Conclave, Prevost teria participado de uma reunião junto a outros cardeais nos aposentos do Cardeal Raymond Burke, de orientação tradicionalista. Ao que tudo indica, Prevost teria recebido também o apoio do – favorito dos conservadores – Cardeal Robert Sarah.

Considerando que a aposta do Cardeal Pietro Parolin era que ele seria preferido à luz de uma possível candidatura ultraprogressista, como a dos cardeais Tagle ou Zuppi, mas isso não se concretizou, a sua candidatura – a mais cotada por especialistas – acabou naufragando rapidamente.

Agora após os fatos, de fato, sem exceção, todos os cardeais parecem animados com o resultado do Conclave. O “Espírito”, de fato, hegelianamente operou uma síntese dialética entre os dois últimos pontificados; mas nisso ele apontou para o Absoluto tal como ele aparecia de maneira mais evidentemente em outros tempos. Daí que, sem deixar de ser uma espécie de fusão entre Bento XVI (apego à tradição) e Francisco (opção preferencial pelos pobres), Prevost remete-se a uma Igreja pré-Vaticano II, “eterna”, recordando com a sua escolha de nome que a Igreja Católica não nasceu no século XX e não se resume aos dilemas do século XX, os quais acabaram ocupando um papel excessivamente central nos últimos anos, vide a querela da “missa em latim”.

Nesse perfeito equilíbrio, Leão XIV parece reunir uma humildade e proximidade inspiradas no pontificado anterior com um apreço pela beleza e pela tradição que remete ao pontificado de Bento XVI. Ainda temos pouco para confirmar isso, mas essa perfeita moderação já se evidencia nas aparições públicas do novo Papa, tanto em seu modo de falar, quanto na retomada de adereços litúrgicos abandonados. Menos midiático, o novo Papa parece que evitará as polêmicas que Francisco, inocentemente, suscitou e, por enquanto, tem conduzido um discurso cristocêntrico focando em temas teológicos mais centrais.

Explicando a escolha de seu nome, Leão XIV colocou-se como fundamentalmente interessado em resgatar e continuar as contribuições fundamentais de Leão XIII, pondo em destaque a produção da encíclica Rerum Novarum, crítica fundamental do capitalismo (e do marxismo) e documento inspirador das legislações trabalhistas de boa parte do mundo no início do século XX. Nesta Encíclica, Leão XIII fundou a Doutrina Social da Igreja Católica, discorrendo sobre temas como “salário justo”, “usura”, “exploração” e inúmeros outros típicos do capitalismo industrial, para dar a esses debates uma perspectiva católica.

Leão XIV insistiu na necessidade de dar seguimento à necessária crítica do Capital desenraizado e usurário como explorador dos povos, mas enfatizou também a necessidade de mobilizar uma crítica católica das novas expressões do Capital e da Técnica, como a IA e outras novas tecnologias desenvolvidas pelas grandes corporações. É plausível, portanto, que a Igreja Católica passe a se pronunciar de maneira mais detalhada sobre o transumanismo e suas várias manifestações e tendências contemporâneas.

Temos aí o primeiro Papa norte-americano, aliás, coincidindo com a nova presidência de Donald Trump. O catolicismo cresce em importância nos EUA (abarcando 20% da população) e isso certamente terá impacto nas relações entre o Vaticano e o hegemon unipolar decadente. É claro que Trump tentará usar a eleição de um Papa norte-americano para seu benefício (e chama a atenção o fato de que ele já parecia saber que o novo Papa seria estadunidense antes mesmo do anúncio do resultado…), ao mesmo tempo que o novo Papa certamente ocasionalmente voltará a sua atenção para a profunda crise niilista na qual os EUA permanecem afundados (crise, aliás, muito bem descrita por Bento XVI).

Seria equivocado enxergar Prevost, aliás, como um “trumpista” pura e simplesmente. Naturalmente conservador, enquanto cardeal Prevost parece ter se situado nos marcos de um conservadorismo conciliador e humanista. Crítico da imigração em massa, por exemplo, ele não deixava de se opor aos métodos usados pelo governo Trump para enfrentar a questão. O seu anticapitalismo, ademais, tornaria impossível associá-lo à direita reacionária tradicional e suas posições são inteiramente incompatíveis com o tecnofeudalismo neorreacionário. Ainda assim, Prevost sempre deixou bem clara um posicionamento antitético às tendências pós-modernas em temáticas sexuais e de gênero – muito mais que o Papa Francisco.

Não se pode esquecer, porém, que ele é tão latino-americano quanto norte-americano. Tendo passado boa parte de sua vida no Peru e tendo cidadania peruana, o Papa Leão XIV falou em espanhol em seu discurso inaugural e claramente se sente proximamente conectado às comunidades pobres do Terceiro Mundo. Sua eleição, nesse sentido, é sinal do reconhecimento da importância crescente do Sul Global. Mesmo o primeiro Papa norte-americano é, na prática, também um representante do Terceiro Mundo.

Quanto a como será o perfil da geopolítica de Leão XIV ainda é muito cedo para fazer apontamentos substanciais. O novo Papa decidiu manter Parolin como Secretário de Estado, por enquanto, então é razoável prever uma continuidade geopolítica entre este pontificado o anterior (que já foi continuador do pontificado de Bento XVI).

Os únicos comentários razoavelmente geopolíticos feitos pelo novo Papa até agora enfatizaram a importância da paz e indicam que Leão XIV se esforçará para dar um papel cada vez mais ativo nas cúpulas mundiais e nas querelas diplomáticas do século XXI. De fato, ele expressou um anseio por uma paz justa e duradoura na Ucrânia, por um acordo rápido e duradouro entre a Índia e o Paquistão, e enfatizou que a situação dos palestinos em Gaza o incomodava especialmente, demandando um cessar-fogo imediato.

Já sabemos, aliás, que Israel ficará incomodado com o novo Papa – tal como causou incômodo entre os sionistas a declaração do novo Papa de que são os cristãos o “povo escolhido” de Deus.

The views of individual contributors do not necessarily represent those of the Strategic Culture Foundation.

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