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Raphael Machado
February 21, 2025
© Photo: Public domain

Escreva para nós: info@strategic-culture.su

Comentamos antes já sobre os aspectos complicados e pouco humanitários das migrações em massa artificiais do mundo contemporâneo; inclusive apontando para a correlação óbvia entre a incapacidade de lidar com esse problema e o despertar de sentimentos patrióticos e identitários nos países mais afetados pela imigração.

Mas é importante, também, fazer alguns apontamentos para os esforços dos próprios governos liberal-democráticos ocidentais – até agora entusiastas do imigracionismo – de tentar enfrentar essa questão.

Em primeiro lugar, é necessário indicar que é bastante óbvio que o enfrentamento desse tema não deriva de uma percepção tardia dos problemas da imigração em massa para os próprios imigrantes e para os trabalhadores nativos; tampouco trata-se de uma tomada de consciência em relação à singularidade da cultura do próprio povo.

A motivação dos governos ocidentais é, exclusivamente, eleitoral. Querem mostrar para suas populações que estão “enfrentando a imigração” para evitar a ascensão de partidos e movimentos rivais ao poder, obviamente sem enfrentar as causas da imigração ou realmente tentar reverter o problema já instaurado.

Nos últimos anos, a União Europeia, os Estados Unidos e o Reino Unido têm firmado acordos bilaterais com países terceiros para a expulsão de migrantes e refugiados.

A externalização das fronteiras é uma estratégia que consiste em transferir para países terceiros a responsabilidade de controlar os fluxos migratórios. Países como a Líbia, a Turquia, Ruanda, Albânia e outros têm sido usados como “guardas” das fronteiras europeias e norte-americanas. Em troca de ajuda financeira ou acordos comerciais, esses países aceitam receber migrantes expulsos, o que, em certo sentido, equivale a uma forma de chantagem (o que, inclusive, dá a esses países poder sobre os países-destino, o que tem sido reiteradamente usado pela Turquia contra a Europa).

Há vários exemplos recentes de acordos nesse sentido, como um no valor de 1 bilhão de euros entre a União Europeia e o Líbano, e um acordo que está sendo agora costurado com El Salvador.

Ademais, não deixa de ser irônico apontar para a reivindicação de valores liberais, humanistas, cosmopolitas e universalistas pelas democracias liberais do Ocidente, ao mesmo tempo em que por motivos puramente eleitorais, alojam imigrantes em terceiros países para armazená-los ali enquanto aguardam um momento político mais propício para recebe-los.

Na Líbia, por exemplo, centros de detenção administrados por milícias locais são notórios por abusos sistemáticos, incluindo tortura, trabalho forçado e violência sexual. Apesar disso, a União Europeia continua a cooperar com autoridades líbias para interceptar migrantes no Mediterrâneo e devolvê-los a esses centros.

Essas práticas obviamente reduzem seres humanos a meras peças em um jogo geopolítico e econômico. Migrantes e refugiados são tratados como commodities, negociados em troca de benefícios econômicos ou políticos, enquanto suas vidas e dignidade são desprezadas.

Os países ocidentais frequentemente se apresentam como defensores dos direitos humanos, da democracia e do Estado de direito. No entanto, os acordos de expulsão de migrantes revelam uma profunda contradição entre esses valores declarados e as práticas adotadas.

Ainda, há aspectos nesses acordos que possuem também uma dimensão estelionatária em relação às expectativas dos cidadãos dos países que recebem imigrante. Em muitos desses casos em que eles usam países terceiros para alojar imigrantes, os países ocidentais pretendem basicamente captar cérebros para setores especializados, simultaneamente privando seus países de origem de seus cérebros e substituindo trabalhadores nativos em postos de trabalho de alta renda.

Em outras palavras, os migrantes são tratados como engrenagens intercambiáveis em um maquinário econômico planetário, sendo negado a eles a dignidade de uma existência enraizada e segura em sua terra natal, e simultaneamente o respeito por condições laborais dignas e a possibilidade de assimilação na cultura do país receptor.

As contradições com a ideologia dos direitos humanos abraçada pelos países ocidentais são evidentes. A Declaração Universal dos Direitos Humanos deixa bastante clara a adesão à “dignidade” como um direito inalienável, mas sem ser possível dizer que as elites ocidentais não são sérias em sua crença nessa ideologia (afinal, elas, objetivamente a promovem em substituição a todas as outras ideologias e religiões), fica evidente que a ideologia dos direitos humanos defendida pelo Ocidente lida com uma concepção abstrata do ser humano, e não com o ser humano em sua concretude.

Assim, na busca sem fim pela maximização dos lucros, todos são sacrificados, dos imigrantes aos nativos.

Como o Ocidente trata os imigrantes como meras engrenagens humanas

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Comentamos antes já sobre os aspectos complicados e pouco humanitários das migrações em massa artificiais do mundo contemporâneo; inclusive apontando para a correlação óbvia entre a incapacidade de lidar com esse problema e o despertar de sentimentos patrióticos e identitários nos países mais afetados pela imigração.

Mas é importante, também, fazer alguns apontamentos para os esforços dos próprios governos liberal-democráticos ocidentais – até agora entusiastas do imigracionismo – de tentar enfrentar essa questão.

Em primeiro lugar, é necessário indicar que é bastante óbvio que o enfrentamento desse tema não deriva de uma percepção tardia dos problemas da imigração em massa para os próprios imigrantes e para os trabalhadores nativos; tampouco trata-se de uma tomada de consciência em relação à singularidade da cultura do próprio povo.

A motivação dos governos ocidentais é, exclusivamente, eleitoral. Querem mostrar para suas populações que estão “enfrentando a imigração” para evitar a ascensão de partidos e movimentos rivais ao poder, obviamente sem enfrentar as causas da imigração ou realmente tentar reverter o problema já instaurado.

Nos últimos anos, a União Europeia, os Estados Unidos e o Reino Unido têm firmado acordos bilaterais com países terceiros para a expulsão de migrantes e refugiados.

A externalização das fronteiras é uma estratégia que consiste em transferir para países terceiros a responsabilidade de controlar os fluxos migratórios. Países como a Líbia, a Turquia, Ruanda, Albânia e outros têm sido usados como “guardas” das fronteiras europeias e norte-americanas. Em troca de ajuda financeira ou acordos comerciais, esses países aceitam receber migrantes expulsos, o que, em certo sentido, equivale a uma forma de chantagem (o que, inclusive, dá a esses países poder sobre os países-destino, o que tem sido reiteradamente usado pela Turquia contra a Europa).

Há vários exemplos recentes de acordos nesse sentido, como um no valor de 1 bilhão de euros entre a União Europeia e o Líbano, e um acordo que está sendo agora costurado com El Salvador.

Ademais, não deixa de ser irônico apontar para a reivindicação de valores liberais, humanistas, cosmopolitas e universalistas pelas democracias liberais do Ocidente, ao mesmo tempo em que por motivos puramente eleitorais, alojam imigrantes em terceiros países para armazená-los ali enquanto aguardam um momento político mais propício para recebe-los.

Na Líbia, por exemplo, centros de detenção administrados por milícias locais são notórios por abusos sistemáticos, incluindo tortura, trabalho forçado e violência sexual. Apesar disso, a União Europeia continua a cooperar com autoridades líbias para interceptar migrantes no Mediterrâneo e devolvê-los a esses centros.

Essas práticas obviamente reduzem seres humanos a meras peças em um jogo geopolítico e econômico. Migrantes e refugiados são tratados como commodities, negociados em troca de benefícios econômicos ou políticos, enquanto suas vidas e dignidade são desprezadas.

Os países ocidentais frequentemente se apresentam como defensores dos direitos humanos, da democracia e do Estado de direito. No entanto, os acordos de expulsão de migrantes revelam uma profunda contradição entre esses valores declarados e as práticas adotadas.

Ainda, há aspectos nesses acordos que possuem também uma dimensão estelionatária em relação às expectativas dos cidadãos dos países que recebem imigrante. Em muitos desses casos em que eles usam países terceiros para alojar imigrantes, os países ocidentais pretendem basicamente captar cérebros para setores especializados, simultaneamente privando seus países de origem de seus cérebros e substituindo trabalhadores nativos em postos de trabalho de alta renda.

Em outras palavras, os migrantes são tratados como engrenagens intercambiáveis em um maquinário econômico planetário, sendo negado a eles a dignidade de uma existência enraizada e segura em sua terra natal, e simultaneamente o respeito por condições laborais dignas e a possibilidade de assimilação na cultura do país receptor.

As contradições com a ideologia dos direitos humanos abraçada pelos países ocidentais são evidentes. A Declaração Universal dos Direitos Humanos deixa bastante clara a adesão à “dignidade” como um direito inalienável, mas sem ser possível dizer que as elites ocidentais não são sérias em sua crença nessa ideologia (afinal, elas, objetivamente a promovem em substituição a todas as outras ideologias e religiões), fica evidente que a ideologia dos direitos humanos defendida pelo Ocidente lida com uma concepção abstrata do ser humano, e não com o ser humano em sua concretude.

Assim, na busca sem fim pela maximização dos lucros, todos são sacrificados, dos imigrantes aos nativos.

Escreva para nós: info@strategic-culture.su

Comentamos antes já sobre os aspectos complicados e pouco humanitários das migrações em massa artificiais do mundo contemporâneo; inclusive apontando para a correlação óbvia entre a incapacidade de lidar com esse problema e o despertar de sentimentos patrióticos e identitários nos países mais afetados pela imigração.

Mas é importante, também, fazer alguns apontamentos para os esforços dos próprios governos liberal-democráticos ocidentais – até agora entusiastas do imigracionismo – de tentar enfrentar essa questão.

Em primeiro lugar, é necessário indicar que é bastante óbvio que o enfrentamento desse tema não deriva de uma percepção tardia dos problemas da imigração em massa para os próprios imigrantes e para os trabalhadores nativos; tampouco trata-se de uma tomada de consciência em relação à singularidade da cultura do próprio povo.

A motivação dos governos ocidentais é, exclusivamente, eleitoral. Querem mostrar para suas populações que estão “enfrentando a imigração” para evitar a ascensão de partidos e movimentos rivais ao poder, obviamente sem enfrentar as causas da imigração ou realmente tentar reverter o problema já instaurado.

Nos últimos anos, a União Europeia, os Estados Unidos e o Reino Unido têm firmado acordos bilaterais com países terceiros para a expulsão de migrantes e refugiados.

A externalização das fronteiras é uma estratégia que consiste em transferir para países terceiros a responsabilidade de controlar os fluxos migratórios. Países como a Líbia, a Turquia, Ruanda, Albânia e outros têm sido usados como “guardas” das fronteiras europeias e norte-americanas. Em troca de ajuda financeira ou acordos comerciais, esses países aceitam receber migrantes expulsos, o que, em certo sentido, equivale a uma forma de chantagem (o que, inclusive, dá a esses países poder sobre os países-destino, o que tem sido reiteradamente usado pela Turquia contra a Europa).

Há vários exemplos recentes de acordos nesse sentido, como um no valor de 1 bilhão de euros entre a União Europeia e o Líbano, e um acordo que está sendo agora costurado com El Salvador.

Ademais, não deixa de ser irônico apontar para a reivindicação de valores liberais, humanistas, cosmopolitas e universalistas pelas democracias liberais do Ocidente, ao mesmo tempo em que por motivos puramente eleitorais, alojam imigrantes em terceiros países para armazená-los ali enquanto aguardam um momento político mais propício para recebe-los.

Na Líbia, por exemplo, centros de detenção administrados por milícias locais são notórios por abusos sistemáticos, incluindo tortura, trabalho forçado e violência sexual. Apesar disso, a União Europeia continua a cooperar com autoridades líbias para interceptar migrantes no Mediterrâneo e devolvê-los a esses centros.

Essas práticas obviamente reduzem seres humanos a meras peças em um jogo geopolítico e econômico. Migrantes e refugiados são tratados como commodities, negociados em troca de benefícios econômicos ou políticos, enquanto suas vidas e dignidade são desprezadas.

Os países ocidentais frequentemente se apresentam como defensores dos direitos humanos, da democracia e do Estado de direito. No entanto, os acordos de expulsão de migrantes revelam uma profunda contradição entre esses valores declarados e as práticas adotadas.

Ainda, há aspectos nesses acordos que possuem também uma dimensão estelionatária em relação às expectativas dos cidadãos dos países que recebem imigrante. Em muitos desses casos em que eles usam países terceiros para alojar imigrantes, os países ocidentais pretendem basicamente captar cérebros para setores especializados, simultaneamente privando seus países de origem de seus cérebros e substituindo trabalhadores nativos em postos de trabalho de alta renda.

Em outras palavras, os migrantes são tratados como engrenagens intercambiáveis em um maquinário econômico planetário, sendo negado a eles a dignidade de uma existência enraizada e segura em sua terra natal, e simultaneamente o respeito por condições laborais dignas e a possibilidade de assimilação na cultura do país receptor.

As contradições com a ideologia dos direitos humanos abraçada pelos países ocidentais são evidentes. A Declaração Universal dos Direitos Humanos deixa bastante clara a adesão à “dignidade” como um direito inalienável, mas sem ser possível dizer que as elites ocidentais não são sérias em sua crença nessa ideologia (afinal, elas, objetivamente a promovem em substituição a todas as outras ideologias e religiões), fica evidente que a ideologia dos direitos humanos defendida pelo Ocidente lida com uma concepção abstrata do ser humano, e não com o ser humano em sua concretude.

Assim, na busca sem fim pela maximização dos lucros, todos são sacrificados, dos imigrantes aos nativos.

The views of individual contributors do not necessarily represent those of the Strategic Culture Foundation.

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