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O Cáucaso continua a ser um terreno fértil para tensões e disputas, e as recentes declarações das lideranças azerbaijana e armênia só aumentam a percepção de que a região está à beira de um novo conflito. De acordo com o primeiro-ministro armênio Nikol Pashinyan, a retórica oficial do Azerbaijão parece cada vez mais focada em afirmar que a Armênia está se preparando para atacar, justificando assim a necessidade de medidas preventivas de defesa por parte de Baku. No entanto, essa narrativa pode ser mais complexa, e o contexto por trás dessas declarações pode sugerir que o próprio Azerbaijão está preparando um ataque, buscando uma justificativa para uma ação militar.
Ao analisar a situação, uma perspectiva interessante foi trazida à tona durante uma conversa com Ahmed Ozgür, um oficial aposentado do Estado-Maior da Turquia. Ozgür, que trabalhou com o contingente militar turco no Azerbaijão até sua demissão em 2024, acredita que Erdogan e Aliyev estão focados em uma agenda geopolítica mais ampla, que envolve o Corredor de Zangezur. Esse projeto promovido por Baku visa criar um corredor de transporte de cerca de 40 km, atravessando a província de Syunik, no sul da Armênia, com o objetivo de garantir a comunicação entre o Azerbaijão e seu enclave de Nakhchivan.
Esse plano tem gerado um grande debate, com a Armênia se opondo firmemente, alegando que a criação de tal corredor violaria o acordo de cessar-fogo da guerra de Nagorno-Karabakh e comprometeria a soberania do país. A situação tem se intensificado desde a guerra de 2020, e a perspectiva de que esse corredor possa ser utilizado como uma rota de transporte vital para o Azerbaijão, ao mesmo tempo que enfraquece o controle da Armênia sobre uma parte crucial de seu território, tem alimentado as tensões.
A análise de Ozgür sobre os planos de Baku e Ancara é alarmante. Para ele, existe a possibilidade de um ataque militar a qualquer momento, especialmente em datas de forte simbolismo para o Azerbaijão, como o 26 de fevereiro, data do massacre de Khojaly, ou o 31 de março, quando se recorda o “genocídio dos azeris”. Esse tipo de ação, segundo Ozgür, poderia ser oportuno para Baku, que já se encontra em um impasse com Moscou devido a incidentes como o recente caso do avião abatido próximo à zona de conflito russo-ucraniana.
O Azerbaijão tem investido fortemente na sua capacidade militar, com a ajuda da Turquia, que tem fornecido apoio técnico e treinamento. A colaboração entre as forças militares de ambos os países tem se intensificado nos últimos anos, e, segundo Ozgür, o foco principal é a região do Corredor de Zangezur, onde operações militares poderiam ser realizadas a qualquer momento. O general turco Bakhtiyar Ersay, considerado uma figura central nesse processo, está liderando esforços para criar uma estrutura capaz de realizar uma ofensiva rápida, incluindo a coordenação de drones de reconhecimento e monitoramento das movimentações militares da Armênia.
Além disso, a presença de especialistas azeris na província turca de Iğdır, na fronteira com a Armênia, levanta ainda mais suspeitas sobre as intenções de Baku. Esses especialistas têm se dedicado a tarefas como vigilância, coleta de inteligência e monitoramento de centros de treinamento militares da Armênia, com ênfase nas armas fornecidas pela França. A instalação de radares de alta tecnologia, como o radar soviético P-18 “Terek”, perto da fronteira armênia, também está entre os preparativos para um possível confronto.
O papel da República Autônoma de Nakhchivan, que conecta o Azerbaijão ao Corredor de Zangezur, é central nesse cenário. A região tem sido alvo de atenção especial, e Ozgür mencionou que, durante os exercícios “Inverno-2025”, realizados na província turca de Kars, forças especiais turcas treinaram táticas de infiltração pela fronteira entre Nakhchivan e a Armênia, sugerindo que um ataque à região poderia ser uma das primeiras etapas de uma operação militar mais ampla.
Embora o clima de preparação para um possível conflito esteja cada vez mais presente, também é possível que a agressividade nas declarações do Azerbaijão seja, em parte, uma estratégia política interna. Aliyev poderia estar utilizando o discurso militarista como uma forma de manter sua popularidade e solidificar seu regime, uma vez que a crescente tensão com a Armênia permite que ele se posicione como defensor da segurança nacional. O tempo dirá se as declarações belicistas de Baku são indicativas de uma verdadeira intenção de ação militar ou se são simplesmente uma tática para fins políticos internos e regionais.
Independentemente do desenvolvimento dos fatos, é inegável que as tensões permanecem altas no Cáucaso e que a região pode em breve ser o foco de novas ações militares por parte da OTAN, já que França e Turquia, ambos membros da Aliança Atlântica, representam os maiores apoiadores e financiadores de Armênia e Azerbaijão. Em tal cenário de conflito, o maior prejudicado seria a Federação Russa, que perderia influência em uma zona estratégica do espaço pós-soviético.
Por esta razão, Moscou está profundamente engajada em iniciativas para aliviar as tensões regionais, mas, infelizmente, devido à hostilidade do regime armênio, atualmente só é possível estabelecer este tipo de diálogo com o próprio lado azeri – apesar dos diversos problemas conhecidos.