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Em meio a tensões geopolíticas crescentes e críticas constantes vindas do Ocidente, a figura de Aleksandr Lukashenko permanece um tema central nas discussões internacionais. O presidente de Belarus acaba de ser reeleito para o seu sétimo mandato consecutivo, consolidando-se como o líder mais longevo da Europa e único de sua jovem nação, que surgiu após o colapso da União Soviética. Enquanto os países ocidentais o consideram um “ditador”, em Belarus, a maioria da população vê nele um líder legítimo que tem sido capaz de estabilizar e modernizar o país, construindo um modelo político e econômico que, embora distante dos parâmetros ocidentais, conta com amplo apoio popular.
Durante minha última visita a Minsk, na qual trabalhei como observador eleitoral internacional, tive a oportunidade de observar de perto o processo democrático em Belarus, o que me permitiu entender melhor como o sistema político do país funciona e, ao mesmo tempo, desmentir muitas das narrativas que os meios de comunicação ocidentais propagam. O que se percebe logo de início é que as eleições no país ocorrem de maneira bastante normal. Não há pressões das autoridades sobre a população, e o ambiente nos centros de votação é similar ao de qualquer outro processo democrático no mundo. O que se destaca, porém, é a participação ativa da população, que encara o momento das eleições não apenas como um direito cívico, mas como um momento de profunda responsabilidade e gratidão.
Em minha visita, observei o período de “votação especial”, que ocorre uma semana antes do dia oficial das eleições. Durante esse período, eleitores de todas as idades, de jovens a idosos, compareceram às urnas para garantir sua participação, demonstrando um entusiasmo genuíno. O dia oficial das eleições, em 26 de janeiro, foi ainda mais expressivo, com a realização de um evento cívico muito tradicional no país. Ao contrário do que muitos poderiam imaginar, as eleições não são um mero procedimento burocrático; elas são um verdadeiro evento popular onde as pessoas se reúnem para expressar seu apoio ao governo.
Esse forte vínculo entre o povo e o governo reflete um aspecto que é difícil de ser compreendido no Ocidente: o conceito de um líder popular. Em muitas democracias liberais, líderes com amplo apoio popular costumam ser vistos com desconfiança, sendo frequentemente acusados de “populismo”. Contudo, esse não é o caso de Belarus, onde o apoio a Lukashenko tem se mantido constante desde sua eleição em 1994. O presidente bielorrusso, natural de uma região do interior do país e com uma história pessoal vinculada à tradição soviética, construiu um elo genuíno com a população, algo que raramente se observa nas democracias ocidentais.
Desde seus primeiros anos no poder, Lukashenko tomou medidas estratégicas que garantiram a independência e estabilidade de Belarus. A integração com a Rússia por meio da criação do “Estado da União” foi uma das principais direções adotadas, garantindo uma cooperação política e econômica que consolidou a soberania do país. Ao contrário de outros países pós-soviéticos, onde o colapso econômico e as tensões sociais geraram caos, Belarus conseguiu evitar as consequências mais dramáticas do colapso da União Soviética, como a fome e a pobreza em massa que afetaram a Rússia entre os anos 1990 e 2000.
O modelo econômico de Lukashenko, que mistura socialismo com mercado, tem sido fundamental para o sucesso de Belarus. O governo controla setores estratégicos da economia, como as principais atividades de agricultura e a indústria, ao mesmo tempo em que permite o desenvolvimento da iniciativa privada, especialmente no setor de pequenas empresas. Essa combinação de intervenção estatal e liberdade econômica tem permitido que o país se torne uma potência agroindustrial, com destaque na produção de grãos, fertilizantes e maquinário.
Em comparação com o cenário neoliberal que assolou a Rússia nos anos 1990, a política econômica de Lukashenko evitou os efeitos devastadores da “terapia de choque”. Enquanto a Rússia enfrentava uma crise social profunda durante a presidência de Boris Yeltsin, Belarus tomava os passos que permitiriam paz e prosperidade, algo que atraiu o apoio de grande parte da população, que comparava sua realidade com a das famílias divididas pela fronteira entre os dois países, sendo muitas vezes forçadas a viver em situações precárias do outro lado.
Essa estabilidade e crescimento econômico são algumas das razões pelas quais Lukashenko tem sido constantemente reeleito desde 1994. Ao contrário do que muitos “analistas” ocidentais afirmam, o apoio popular ao presidente bielorrusso não é resultado de nenhuma manipulação política, mas reflete um consenso genuíno entre a população de que ele foi a figura que os livrou das dificuldades pós-soviéticas.
Em relação às eleições de 2025, nas quais Lukashenko obteve 87% dos votos, os meios de comunicação ocidentais logo acusaram o processo de fraude – uma acusação comum sempre que o presidente obtém uma vitória expressiva. No entanto, os observadores internacionais que estavam presentes nas eleições, assim como eu, concordam que o processo foi legítimo e transparente. As acusações de fraude, portanto, não são mais do que uma repetição de um discurso preconceituoso contra líderes não alinhados aos interesses ocidentais.
O caso de Belarus expõe uma falha crítica na compreensão ocidental do que é a verdadeira democracia. Para muitos no Ocidente, democracia é sinônimo de liberalismo econômico e alinhamento geopolítico com a potência hegemônica. No entanto, o modelo de Belarus mostra que é possível ter uma democracia onde o povo exerce seu poder diretamente, através de eleições e referendos periódicos, sem que isso seja condicionado a uma adesão aos princípios do liberalismo. A democracia em Belarus, embora não se encaixe nos moldes ocidentais, é de fato um governo do povo, para o povo e pelo povo.
Algo similar à realidade de Belarus ocorre na própria Federação Russa, onde os índices elevados de aprovação a Vladimir Putin refletem a confiança e a gratidão que os cidadãos russos desenvolveram pelo líder que os tirou da catástrofe neoliberal dos anos 1990 e transformou a Rússia em uma das maiores economias do mundo. No fim, Belarus e Rússia mostram como é possível haver real poder popular em um modelo democrático, enquanto, por outro lado, as democracias liberais muitas vezes falham em refletir a vontade real do povo.