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Volta e meia aparecem nas redes sociais mulheres que fazem sexo com uma quantidade inacreditável de homens num curto espaço de tempo. Outro dia foi uma australiana; mais recentemente, uma inglesa chamada Lily Phillips. Esta última se tornou ainda mais comentada porque, ao contrário das próprias expectativas (e, ao que parece, do público em geral), sentiu-se mal e chorou após transar com 101 homens em menos de 24 horas. A inglesa tem apenas 23 anos, relatou sentir-se robotizada e disse não conseguir se lembrar de todos os homens com o qual transara nesse curto intervalo. Também lastimou não ter dado a todos eles o prazer que desejavam.
Ora, transar com uma bateria de homens é, ao longo da história da humanidade, o destino funesto das mulheres indefesas em guerras perdidas. Quando os seus maridos e pais eram mortos, elas viam chegar os soldados inimigos, que iam saquear seu povoamento e violar as mulheres. Para evitar tão triste sina, muitas se suicidavam. Se uma mulher se presta a isso sem grave coerção, podemos dizer que estamos diante de um fenômeno antinatural, que exige explicação.
Lily Phillips é uma “modelo” de OnlyFans. Ou seja, seu interesse com a ação era criar “conteúdo” para os seus assinantes verem. Paga-se não para transar com ela (como na prostituição normal), mas sim para vê-la sujeita às mais variadas situações sexuais: transando com um, dois, três, até cem, quiçá numa fila. Lilly Phillips não fez o que fez para, diretamente, proporcionar prazer à fila de homens, mas sim para receber dinheiro por isso. A sua meta era quebrar o recorde de uma polonesa que transou com 919 homens em 24 horas, mas ela parou em 101 após 14 horas. Presumivelmente, ser a recordista mundial atrairia novos assinantes para o seu OnlyFans. Assim, podemos dizer que a ação da moça se deu num contexto capitalista.
Imaginemos, porém, que se tratasse de um filme de propaganda comunista ou nazista. Uma bela moça soviética, ou chinesa, ou nazista, está pronta para transar com tantos soldados quanto apareçam, porque algum cientista louco criou uma tabela que apresentava uma correlação entre sexo e desempenho na batalha. Depois de transar com uma centena de homens, a moça chorosa, visivelmente abalada, diz lastimar que não conseguiu agradar a todos os soldados e deixar o Timoneiro Mao feliz. Nesse contexto, choveriam teses e dissertações que apontassem a lavagem cerebral operada por regimes totalitários.
Não que a universidade hoje elogie o capitalismo, claro. Mas é que, ao se falar de lavagem cerebral e de propaganda, a imaginação gosta de agarrar a face visível de um Grande Líder, de um governo, de um Estado. Quando se trata do mercado ou dos capitalistas, tudo parece mais difuso, porque são (ao menos em tese) uma miríade inumerável de agentes desconexos. Assim, não faltou quem apedrejasse a moça, dizendo que ela se faz de vítima, mas é uma mulher livre e inteiramente responsável pelos seus próprios atos. Será?
Seja numa sociedade totalitária, seja numa sociedade democrática, as pessoas guiam sua conduta com base numa moralidade. Se um garotinho comunista dedura os pais, se um vizinho entrega o judeu, age conforme a moralidade do regime vigente – ele não inventou nada. Na esmagadora maioria das sociedades humanas que existem ou existiram sob o sol, as mulheres não saem fazendo sexo com homens desconhecidos, salvo em caso de estupro e escravidão sexual. Se cada vez mais mulheres estão fazendo sexo assim (em raves, por exemplo), mas sem serem estupradas nem escravizadas, então é porque há uma mudança na moralidade. E não precisamos ser sociólogos nem antropólogos para constatar isso: a Revolução Sexual, baseada na invenção da pílula anticoncepcional, impôs uma mudança da moralidade. Essa mudança na moralidade redefiniu a finalidade do sexo e o projeto de vida da mulher. A mulher deveria viver para a carreira e o sexo deveria ser recreação. Sem surpresas, a natalidade despencou desde então.
Quando se fala em coerção na ordem capitalista, pensa-se em coerção econômica. Não obstante, Lily Phillips é de família abastada – o que, em tese, deveria torná-la mais livre ainda. O mais relevante na história dessa pobre moça, ao meu ver, é que seus pais e até avós aprovam a sua “carreira” e têm orgulho dela. Mais: a mãe cuida das finanças. (Veja-se esta matéria do Mail Online.)
Se ela cresceu numa família assim, quais chances ela tinha de dar certo na vida? Por certo, ninguém está fadado a seguir a moralidade dos pais, mas a normalidade é essa. Tentando ser uma boa filha, a moça abastada acabou tendo a mãe como cafetina – sem que isso seja crime, nem algo malvisto por toda a sociedade.
A moralidade é um guia para a ação, e a moral recebida dos pais é o primeiro guia de qualquer pessoa de boa índole. Por isso mesmo, ao contrário do que prega o liberalismo, a moralidade é um assunto público da maior importância, não devendo jamais ser confinado ao âmbito privado.