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Raphael Machado
August 11, 2024
© Photo: Public domain

Escreva para nós: info@strategic-culture.su

Após a vitória de Maduro nas eleições venezuelanas, e considerando também o triunfo do bolivarianismo nas ruas contra a tentativa de desestabilização e revolução colorida, agora é necessário refletir sobre as possibilidades futuras da Venezuela.

Aqui estamos nos referindo especificamente a como as relações da Venezuela com as potências contra-hegemônicas vinculadas aos BRICS, com destaque para Rússia e China, podem ajudar o país em sua reconstrução.

É necessário falar em reconstrução porque o país, de fato, passou por momentos terríveis, especialmente entre 2013 e 2020.

Vítima de uma excessiva dependência do petróleo para suas exportações desde os anos 30 do século XX (aquilo que os economistas chamam de “doença holandesa”), mesmo os esforços de Chávez de diversificação econômica, que viram a participação do setor industrial no PIB crescer, não foram suficientes para acabar com essa condição endêmica da economia venezuelana.

É desconhecido de muitos, por exemplo, que sob Chávez a Venezuela caiu aos níveis mínimos de inflação (12.5) que o país via desde meados dos anos 80 do século XX, o mesmo valendo índices de pobreza e de desemprego. Nesse sentido, análises econômicas feitas entre 2007-2008 eram bastante otimistas em relação ao futuro econômico da Venezuela.

Mas com uma economia desequilibrada por motivos históricos, qualquer instabilidade ou imprevisto pode abalar todo o sistema. E foi o que se passou entre 2014-2016, conforme a superprodução estadunidense se deparava com uma economia global estagnada.

Assim, se uma grande crise já era de se esperar quando os preços do petróleo despencaram em 2014 de aproximadamente 105$ (petróleo bruto de referência) em junho para aproximadamente 54$ até o final do ano, derretendo ainda até aproximadamente 26$ em fevereiro de 2016, a extensão da crise era imprevista por uma série de fatores.

Em primeiro lugar, essa queda em si, de mais de 70% nos preços do petróleo, já significava um grande choque em uma economia excessivamente dependente do ouro negro. Mas na Venezuela os problemas se espalharam em uma reação em cadeia. Como muitos produtos básicos, como os alimentícios, eram subsidiados e, portanto, extremamente baratos, mas com a escassez de dólares e a dificuldade de acessá-los para importação, o centro da economia foi aos poucos se transferindo para o mercado negro, não apenas de dólares mas também de bens.

Empresários inescrupulosos passaram a se aproveitar dos subsídios e das dificuldades do país para manter os seus bens em armazéns, com o objetivo de especular com os preços e vender no mercado negro – não raro, os empresários remetiam os bens venezuelanos para o exterior, para vende-los, e em alguns casos inclusive retiravam itens do país para reimportá-los clandestinamente para facilitar a sua entrada no mercado negro.

O resultado dessas operações foi a disparada da inflação e o aprofundamento da escassez em uma economia já em crise. Segundo fontes do governo venezuelano, muitos desses empresários faziam isso propositalmente, não apenas para aumentar seus lucros mas também para desestabilizar o governo.

De fato, o cenário político venezuelano foi marcado por uma instabilidade permanente desde 2014 até, no mínimo, o início de 2020, com um grande número de violentos protestos de rua, além de manobras políticas por parte da oposição para tentar assumir o controle do país. Após as eleições presidenciais de 2018 não serem reconhecidas, e o Ocidente simplesmente inventar que Juan Guaidó era o presidente legítimo do país, os EUA impuseram sanções à Venezuela, erguendo barreiras quase intransponíveis para a importação de alimentos, remédios e insumos necessários para a economia.

Em uma espiral descendente imensamente destrutiva, a economia venezuelana colapsou alcançando quase 1.7 milhão de inflação, uma taxa de pobreza extrema de 79% e um desemprego de 33%, além de levar a um fluxo migratório que retirou 7 milhões de venezuelanos do país.

É evidente, portanto, que o grande desafio de Maduro para os próximos anos é reverter todas essas tendências negativas que têm acometido o país há 10 anos. Inclusive porque essa, possivelmente, é a única maneira de realmente pacificar o país e dar fim à polarização política.

De fato, já se nota uma recuperação econômica na Venezuela, em parte por causa da facilitação da entrada de dólares na economia, através da triangulação econômica pelo uso de empresas intermediárias para contornar as sanções e também através da retomada de parcerias que levaram ao aumento na produção do petróleo. Naturalmente, a recuperação dos preços do barril de petróleo também ajudaram.

Mas considerando as condições objetivas, a Venezuela terá que se apoiar ainda mais do que antes em parcerias internacionais para garantir a sustentabilidade de sua recuperação e aumentar as suas chances de escapar da “doença holandesa”.

Nessa busca por parcerias internacionais, naturalmente, a China e a Rússia assumem um destaque, na medida em que têm mantido boas relações com a Venezuela desde a primeira eleição de Chávez, sempre apoiaram Caracas no cenário internacional diante das tentativas de cerco e são países que estão ativamente trabalhando na construção de um sistema econômico-financeiro-monetário alternativo à hegemonia do dólar.

Assim, o próprio renascimento da indústria petrolífera venezuelana após o seu quase colapso nos anos anteriores deve-se, em alguma medida, ao apoio prestado pela colaboração com a China tanto no âmbito do financiamento quanto na compra do petróleo. Essa não é uma parceria nova, já que a CNPC tem operado na Venezuela há aproximadamente 30 anos, mas ela adquire importância na medida em que o Ocidente tenta isolar e destruir o país por meio de uma guerra econômica.

Graças a essa parceria, que inclui dilação de prazos ou mesmo suspensão de pagamento de dívidas, a Venezuela conseguiu retornar a patamares quase iguais aos do período pré-crise no que concerne a produção de petróleo.

A Rússia também tem desempenhado um papel fundamental, nos últimos anos, na colaboração econômica com a Venezuela, seja através de empresas estatais ou privadas, quase sempre com um enfoque no setor energético.

A Rosneft, por exemplo, esteve envolvida em projetos importantes de extração e produção de petróleo, prospectando na importante Bacia do Orinoco – sendo, porém, substituída nisso por uma estatal russa, por causa das sanções ocidentais. A Gazprom também tem os seus investimentos na Venezuela, e tem havido muitas conversas sobre a possibilidade de renovação de um projeto nuclear venezuelano com o apoio da Rosatom, a qual tem se engajado em uma frutífera diplomacia, pautada no uso da energia nuclear para fins pacíficos, na América Ibérica.

Naturalmente, como esses investimentos e parcerias tem se concentrado no âmbito energético-petrolífero não é possível considera-los suficientes para, de fato, dar resiliência e estabilidade à economia venezuelana, o que só pode ser alcançado pela superação da “doença holandesa”.

Para isso, portanto, o caminho venezuelano de desenvolvimento deve saber utilizar a sua vantagem estratégica (as maiores reservas de petróleo do mundo e uma das maiores reservas de ouro) para garantir uma integração em projetos como o dos BRICS e da Iniciativa Cinturão & Rota.

Parcerias nesse âmbito devem ser atraídas para canalizar obras de infraestrutura (pontes, rodovias, ferrovias, portos, etc.), as quais além de gerar emprego e ampliar a capacidade de transporte e escoamento de produtos, tendem a alavancar outros setores industriais, como o da construção, da siderurgia, etc.

Naturalmente, a participação nos BRICS também pode ser instrumental para a recuperação venezuelana, na medida em que o projeto de criação de uma “moeda internacional” dos BRICS (que alguns dizem poder estar parcialmente baseada no ouro, que a Venezuela tem em abundância), em substituição ao padrão-dólar, e a construção de um sistema de pagamentos, alternativo ao SWIFT, tendem a imunizar a economia venezuelana de pressões internacionais.

A importância das parcerias contra-hegemônicas para a reconstrução da Venezuela

Escreva para nós: info@strategic-culture.su

Após a vitória de Maduro nas eleições venezuelanas, e considerando também o triunfo do bolivarianismo nas ruas contra a tentativa de desestabilização e revolução colorida, agora é necessário refletir sobre as possibilidades futuras da Venezuela.

Aqui estamos nos referindo especificamente a como as relações da Venezuela com as potências contra-hegemônicas vinculadas aos BRICS, com destaque para Rússia e China, podem ajudar o país em sua reconstrução.

É necessário falar em reconstrução porque o país, de fato, passou por momentos terríveis, especialmente entre 2013 e 2020.

Vítima de uma excessiva dependência do petróleo para suas exportações desde os anos 30 do século XX (aquilo que os economistas chamam de “doença holandesa”), mesmo os esforços de Chávez de diversificação econômica, que viram a participação do setor industrial no PIB crescer, não foram suficientes para acabar com essa condição endêmica da economia venezuelana.

É desconhecido de muitos, por exemplo, que sob Chávez a Venezuela caiu aos níveis mínimos de inflação (12.5) que o país via desde meados dos anos 80 do século XX, o mesmo valendo índices de pobreza e de desemprego. Nesse sentido, análises econômicas feitas entre 2007-2008 eram bastante otimistas em relação ao futuro econômico da Venezuela.

Mas com uma economia desequilibrada por motivos históricos, qualquer instabilidade ou imprevisto pode abalar todo o sistema. E foi o que se passou entre 2014-2016, conforme a superprodução estadunidense se deparava com uma economia global estagnada.

Assim, se uma grande crise já era de se esperar quando os preços do petróleo despencaram em 2014 de aproximadamente 105$ (petróleo bruto de referência) em junho para aproximadamente 54$ até o final do ano, derretendo ainda até aproximadamente 26$ em fevereiro de 2016, a extensão da crise era imprevista por uma série de fatores.

Em primeiro lugar, essa queda em si, de mais de 70% nos preços do petróleo, já significava um grande choque em uma economia excessivamente dependente do ouro negro. Mas na Venezuela os problemas se espalharam em uma reação em cadeia. Como muitos produtos básicos, como os alimentícios, eram subsidiados e, portanto, extremamente baratos, mas com a escassez de dólares e a dificuldade de acessá-los para importação, o centro da economia foi aos poucos se transferindo para o mercado negro, não apenas de dólares mas também de bens.

Empresários inescrupulosos passaram a se aproveitar dos subsídios e das dificuldades do país para manter os seus bens em armazéns, com o objetivo de especular com os preços e vender no mercado negro – não raro, os empresários remetiam os bens venezuelanos para o exterior, para vende-los, e em alguns casos inclusive retiravam itens do país para reimportá-los clandestinamente para facilitar a sua entrada no mercado negro.

O resultado dessas operações foi a disparada da inflação e o aprofundamento da escassez em uma economia já em crise. Segundo fontes do governo venezuelano, muitos desses empresários faziam isso propositalmente, não apenas para aumentar seus lucros mas também para desestabilizar o governo.

De fato, o cenário político venezuelano foi marcado por uma instabilidade permanente desde 2014 até, no mínimo, o início de 2020, com um grande número de violentos protestos de rua, além de manobras políticas por parte da oposição para tentar assumir o controle do país. Após as eleições presidenciais de 2018 não serem reconhecidas, e o Ocidente simplesmente inventar que Juan Guaidó era o presidente legítimo do país, os EUA impuseram sanções à Venezuela, erguendo barreiras quase intransponíveis para a importação de alimentos, remédios e insumos necessários para a economia.

Em uma espiral descendente imensamente destrutiva, a economia venezuelana colapsou alcançando quase 1.7 milhão de inflação, uma taxa de pobreza extrema de 79% e um desemprego de 33%, além de levar a um fluxo migratório que retirou 7 milhões de venezuelanos do país.

É evidente, portanto, que o grande desafio de Maduro para os próximos anos é reverter todas essas tendências negativas que têm acometido o país há 10 anos. Inclusive porque essa, possivelmente, é a única maneira de realmente pacificar o país e dar fim à polarização política.

De fato, já se nota uma recuperação econômica na Venezuela, em parte por causa da facilitação da entrada de dólares na economia, através da triangulação econômica pelo uso de empresas intermediárias para contornar as sanções e também através da retomada de parcerias que levaram ao aumento na produção do petróleo. Naturalmente, a recuperação dos preços do barril de petróleo também ajudaram.

Mas considerando as condições objetivas, a Venezuela terá que se apoiar ainda mais do que antes em parcerias internacionais para garantir a sustentabilidade de sua recuperação e aumentar as suas chances de escapar da “doença holandesa”.

Nessa busca por parcerias internacionais, naturalmente, a China e a Rússia assumem um destaque, na medida em que têm mantido boas relações com a Venezuela desde a primeira eleição de Chávez, sempre apoiaram Caracas no cenário internacional diante das tentativas de cerco e são países que estão ativamente trabalhando na construção de um sistema econômico-financeiro-monetário alternativo à hegemonia do dólar.

Assim, o próprio renascimento da indústria petrolífera venezuelana após o seu quase colapso nos anos anteriores deve-se, em alguma medida, ao apoio prestado pela colaboração com a China tanto no âmbito do financiamento quanto na compra do petróleo. Essa não é uma parceria nova, já que a CNPC tem operado na Venezuela há aproximadamente 30 anos, mas ela adquire importância na medida em que o Ocidente tenta isolar e destruir o país por meio de uma guerra econômica.

Graças a essa parceria, que inclui dilação de prazos ou mesmo suspensão de pagamento de dívidas, a Venezuela conseguiu retornar a patamares quase iguais aos do período pré-crise no que concerne a produção de petróleo.

A Rússia também tem desempenhado um papel fundamental, nos últimos anos, na colaboração econômica com a Venezuela, seja através de empresas estatais ou privadas, quase sempre com um enfoque no setor energético.

A Rosneft, por exemplo, esteve envolvida em projetos importantes de extração e produção de petróleo, prospectando na importante Bacia do Orinoco – sendo, porém, substituída nisso por uma estatal russa, por causa das sanções ocidentais. A Gazprom também tem os seus investimentos na Venezuela, e tem havido muitas conversas sobre a possibilidade de renovação de um projeto nuclear venezuelano com o apoio da Rosatom, a qual tem se engajado em uma frutífera diplomacia, pautada no uso da energia nuclear para fins pacíficos, na América Ibérica.

Naturalmente, como esses investimentos e parcerias tem se concentrado no âmbito energético-petrolífero não é possível considera-los suficientes para, de fato, dar resiliência e estabilidade à economia venezuelana, o que só pode ser alcançado pela superação da “doença holandesa”.

Para isso, portanto, o caminho venezuelano de desenvolvimento deve saber utilizar a sua vantagem estratégica (as maiores reservas de petróleo do mundo e uma das maiores reservas de ouro) para garantir uma integração em projetos como o dos BRICS e da Iniciativa Cinturão & Rota.

Parcerias nesse âmbito devem ser atraídas para canalizar obras de infraestrutura (pontes, rodovias, ferrovias, portos, etc.), as quais além de gerar emprego e ampliar a capacidade de transporte e escoamento de produtos, tendem a alavancar outros setores industriais, como o da construção, da siderurgia, etc.

Naturalmente, a participação nos BRICS também pode ser instrumental para a recuperação venezuelana, na medida em que o projeto de criação de uma “moeda internacional” dos BRICS (que alguns dizem poder estar parcialmente baseada no ouro, que a Venezuela tem em abundância), em substituição ao padrão-dólar, e a construção de um sistema de pagamentos, alternativo ao SWIFT, tendem a imunizar a economia venezuelana de pressões internacionais.

Escreva para nós: info@strategic-culture.su

Após a vitória de Maduro nas eleições venezuelanas, e considerando também o triunfo do bolivarianismo nas ruas contra a tentativa de desestabilização e revolução colorida, agora é necessário refletir sobre as possibilidades futuras da Venezuela.

Aqui estamos nos referindo especificamente a como as relações da Venezuela com as potências contra-hegemônicas vinculadas aos BRICS, com destaque para Rússia e China, podem ajudar o país em sua reconstrução.

É necessário falar em reconstrução porque o país, de fato, passou por momentos terríveis, especialmente entre 2013 e 2020.

Vítima de uma excessiva dependência do petróleo para suas exportações desde os anos 30 do século XX (aquilo que os economistas chamam de “doença holandesa”), mesmo os esforços de Chávez de diversificação econômica, que viram a participação do setor industrial no PIB crescer, não foram suficientes para acabar com essa condição endêmica da economia venezuelana.

É desconhecido de muitos, por exemplo, que sob Chávez a Venezuela caiu aos níveis mínimos de inflação (12.5) que o país via desde meados dos anos 80 do século XX, o mesmo valendo índices de pobreza e de desemprego. Nesse sentido, análises econômicas feitas entre 2007-2008 eram bastante otimistas em relação ao futuro econômico da Venezuela.

Mas com uma economia desequilibrada por motivos históricos, qualquer instabilidade ou imprevisto pode abalar todo o sistema. E foi o que se passou entre 2014-2016, conforme a superprodução estadunidense se deparava com uma economia global estagnada.

Assim, se uma grande crise já era de se esperar quando os preços do petróleo despencaram em 2014 de aproximadamente 105$ (petróleo bruto de referência) em junho para aproximadamente 54$ até o final do ano, derretendo ainda até aproximadamente 26$ em fevereiro de 2016, a extensão da crise era imprevista por uma série de fatores.

Em primeiro lugar, essa queda em si, de mais de 70% nos preços do petróleo, já significava um grande choque em uma economia excessivamente dependente do ouro negro. Mas na Venezuela os problemas se espalharam em uma reação em cadeia. Como muitos produtos básicos, como os alimentícios, eram subsidiados e, portanto, extremamente baratos, mas com a escassez de dólares e a dificuldade de acessá-los para importação, o centro da economia foi aos poucos se transferindo para o mercado negro, não apenas de dólares mas também de bens.

Empresários inescrupulosos passaram a se aproveitar dos subsídios e das dificuldades do país para manter os seus bens em armazéns, com o objetivo de especular com os preços e vender no mercado negro – não raro, os empresários remetiam os bens venezuelanos para o exterior, para vende-los, e em alguns casos inclusive retiravam itens do país para reimportá-los clandestinamente para facilitar a sua entrada no mercado negro.

O resultado dessas operações foi a disparada da inflação e o aprofundamento da escassez em uma economia já em crise. Segundo fontes do governo venezuelano, muitos desses empresários faziam isso propositalmente, não apenas para aumentar seus lucros mas também para desestabilizar o governo.

De fato, o cenário político venezuelano foi marcado por uma instabilidade permanente desde 2014 até, no mínimo, o início de 2020, com um grande número de violentos protestos de rua, além de manobras políticas por parte da oposição para tentar assumir o controle do país. Após as eleições presidenciais de 2018 não serem reconhecidas, e o Ocidente simplesmente inventar que Juan Guaidó era o presidente legítimo do país, os EUA impuseram sanções à Venezuela, erguendo barreiras quase intransponíveis para a importação de alimentos, remédios e insumos necessários para a economia.

Em uma espiral descendente imensamente destrutiva, a economia venezuelana colapsou alcançando quase 1.7 milhão de inflação, uma taxa de pobreza extrema de 79% e um desemprego de 33%, além de levar a um fluxo migratório que retirou 7 milhões de venezuelanos do país.

É evidente, portanto, que o grande desafio de Maduro para os próximos anos é reverter todas essas tendências negativas que têm acometido o país há 10 anos. Inclusive porque essa, possivelmente, é a única maneira de realmente pacificar o país e dar fim à polarização política.

De fato, já se nota uma recuperação econômica na Venezuela, em parte por causa da facilitação da entrada de dólares na economia, através da triangulação econômica pelo uso de empresas intermediárias para contornar as sanções e também através da retomada de parcerias que levaram ao aumento na produção do petróleo. Naturalmente, a recuperação dos preços do barril de petróleo também ajudaram.

Mas considerando as condições objetivas, a Venezuela terá que se apoiar ainda mais do que antes em parcerias internacionais para garantir a sustentabilidade de sua recuperação e aumentar as suas chances de escapar da “doença holandesa”.

Nessa busca por parcerias internacionais, naturalmente, a China e a Rússia assumem um destaque, na medida em que têm mantido boas relações com a Venezuela desde a primeira eleição de Chávez, sempre apoiaram Caracas no cenário internacional diante das tentativas de cerco e são países que estão ativamente trabalhando na construção de um sistema econômico-financeiro-monetário alternativo à hegemonia do dólar.

Assim, o próprio renascimento da indústria petrolífera venezuelana após o seu quase colapso nos anos anteriores deve-se, em alguma medida, ao apoio prestado pela colaboração com a China tanto no âmbito do financiamento quanto na compra do petróleo. Essa não é uma parceria nova, já que a CNPC tem operado na Venezuela há aproximadamente 30 anos, mas ela adquire importância na medida em que o Ocidente tenta isolar e destruir o país por meio de uma guerra econômica.

Graças a essa parceria, que inclui dilação de prazos ou mesmo suspensão de pagamento de dívidas, a Venezuela conseguiu retornar a patamares quase iguais aos do período pré-crise no que concerne a produção de petróleo.

A Rússia também tem desempenhado um papel fundamental, nos últimos anos, na colaboração econômica com a Venezuela, seja através de empresas estatais ou privadas, quase sempre com um enfoque no setor energético.

A Rosneft, por exemplo, esteve envolvida em projetos importantes de extração e produção de petróleo, prospectando na importante Bacia do Orinoco – sendo, porém, substituída nisso por uma estatal russa, por causa das sanções ocidentais. A Gazprom também tem os seus investimentos na Venezuela, e tem havido muitas conversas sobre a possibilidade de renovação de um projeto nuclear venezuelano com o apoio da Rosatom, a qual tem se engajado em uma frutífera diplomacia, pautada no uso da energia nuclear para fins pacíficos, na América Ibérica.

Naturalmente, como esses investimentos e parcerias tem se concentrado no âmbito energético-petrolífero não é possível considera-los suficientes para, de fato, dar resiliência e estabilidade à economia venezuelana, o que só pode ser alcançado pela superação da “doença holandesa”.

Para isso, portanto, o caminho venezuelano de desenvolvimento deve saber utilizar a sua vantagem estratégica (as maiores reservas de petróleo do mundo e uma das maiores reservas de ouro) para garantir uma integração em projetos como o dos BRICS e da Iniciativa Cinturão & Rota.

Parcerias nesse âmbito devem ser atraídas para canalizar obras de infraestrutura (pontes, rodovias, ferrovias, portos, etc.), as quais além de gerar emprego e ampliar a capacidade de transporte e escoamento de produtos, tendem a alavancar outros setores industriais, como o da construção, da siderurgia, etc.

Naturalmente, a participação nos BRICS também pode ser instrumental para a recuperação venezuelana, na medida em que o projeto de criação de uma “moeda internacional” dos BRICS (que alguns dizem poder estar parcialmente baseada no ouro, que a Venezuela tem em abundância), em substituição ao padrão-dólar, e a construção de um sistema de pagamentos, alternativo ao SWIFT, tendem a imunizar a economia venezuelana de pressões internacionais.

The views of individual contributors do not necessarily represent those of the Strategic Culture Foundation.

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