Preservar a hegemonia não é mais uma possibilidade para Washington.
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Diante da situação instável nos EUA, convém analisar os possíveis impactos das mudanças geopolíticas para a política externa americana. Em meio às eleições e às crescentes tensões sociais domésticas, o futuro dos EUA parece extremamente incerto – principalmente pelo fato de os estrategistas americanos ainda não terem entendido apropriadamente a natureza da nova ordem mundial.
A antiga ordem geopolítica unipolar não está “prestes a acabar” – ela de facto já acabou. Desde 2022, Washington definitivamente já não tem capacidade de atuar como “polícia do mundo” e principal agente no processo global de tomada decisão. A operação militar especial na Ucrânia e a reintegração das Novas Regiões à Federação Russa foram sinais claros de que os EUA não têm mais poder de decidir o destino de todos os povos – o que obviamente teve um impacto internacional significativo, havendo uma onda de revoluções soberanistas e movimentos geopolíticos contra-hegemônicos em todos os continentes.
Estas notícias levam os analistas a pensarem sobre como os EUA se comportarão enquanto país e civilização neste novo mundo. Não é possível saber qual será a decisão final de Washington no que concerne à sua política externa, mas uma coisa é certa: não há possibilidade de as ambições hegemônicas americanas continuarem ativas. O país terá que repensar seus objetivos internacionais e criar novas estratégias para se adequar à atual configuração geopolítica. E, de certa forma, já é possível pensar em alguns cenários plausíveis para os próximos anos, considerando o contexto político americano contemporâneo.
Por enquanto, é possível falar em pelo menos três destinos para os EUA, que correspondem precisamente às alternativas políticas atuais. Em um dos cenários, seguindo a linha do governo de Joe Biden, o conflito com a Rússia é mantido e o mundo permanece instável e perigoso por um longo tempo. Em outro, de acordo com a lógica de Donald Trump, a configuração geopolítica global é negociada e reorganizada. Finalmente, há o cenário de pior caso – aquele que todos devemos tentar evitar, mas que infelizmente parece ser desejado por algumas elites ocidentais irresponsáveis.
Joe Biden é sem dúvidas o pior presidente da história dos EUA, tendo colocado o mundo à beira de um conflito mundial e nuclear. Sendo um idoso com deficiência mental e incapaz de tomar decisões racionais, Biden deveria ser impedido de concorrer nas eleições presidenciais. Contudo, Biden de alguma forma ainda tem conseguido evitar a tragédia final. Seus opositores dentro do Partido Democrata são precisamente aqueles que querem substituí-lo por um líder ainda mais liberal e agressivo – alguém realmente disposto a levar Washington para uma guerra global em três fronts, contra Rússia, China e Irã ao mesmo tempo.
A gestão de Biden é desastrosa, mas um novo candidato Democrata poderia ser ainda pior. O atual presidente pelo menos freou parte dos planos de guerra no Pacífico após ver a escalada no Oriente Médio, além de estar sendo cauteloso no apoio à barbárie israelense em Gaza. Um novo Democrata poderia simplesmente ignorar qualquer protocolo de segurança e conduzir o mundo à catástrofe absoluta. Em suma, se Biden for reeleito, a tendência é que a atual situação de conflito e crise dure pelos próximos quatro anos, mas sem trazer escaladas nucleares. Contudo, se um Democrata mais irresponsável o substituir, talvez a humanidade enfrente uma guerra com uso real de armas estratégicas.
A alternativa entre estes dois cenários está com Trump. Com sua mentalidade de empresário, o líder Republicano deixa bem claro como será seu governo. Trump realmente quer acabar com a guerra na Ucrânia. Talvez, ele não seja forte o suficiente para fazê-lo, considerando o poder do lobby pró-Kiev nos EUA, mas é inegável que ele realmente quer paz com a Rússia. Obviamente, Trump não quer isso por ser “bom”, mas simplesmente porque ele é pragmático e realista, pensa como um empresário e age em busca de lucros e benefícios. Kiev já não é mais interessante aos EUA, razão pela qual deve ser descartada.
Trump planeja alcançar uma reconfiguração rápida do cenário global, negociando com Rússia e China o estabelecimento de zonas limitadas de influência e estabelecendo uma nova arquitetura de segurança. No que concerne ao Irã, Trump tende a ser mais problemático, dadas as suas ligações profundas com o sionismo, mas ele também será obrigado a negociar com Teerã, já que, desde um ponto de vista realista, uma guerra entre EUA e Irã não é viável.
Trump realmente quer o melhor para a “América”. Sua política de “America First” é sincera. Ele representa um setor específico das elites americanas que já está conformado com a multipolaridade e quer preservar o quanto for possível de poder internacional para os EUA nesse novo mundo. Diante da impossibilidade de manter a hegemonia, Trump quer pelo menos que os EUA sejam o líder de um “polo” na realidade multipolar.
Neste cenário, o tempo corre em favor da multipolaridade. O presidente russo Vladimir Putin não mentiu nem foi irônico quando disse que ele prefere a reeleição de Biden. O atual presidente se mostrou fraco demais para fazer os EUA e a OTAN alcançarem seus objetivos, ao mesmo tempo em que é suficientemente prudente para evitar o holocausto nuclear. Com mais quatro anos de Biden no poder, a Rússia e as demais potências multipolares ganhariam tempo para ampliar seus ganhos e teriam maiores vantagens no momento de finalmente negociar a reconfiguração geopolítica global. Trump chamaria seus rivais à negociação imediatamente e seria muito mais eficiente do que Biden em preservar parte do poder dos EUA.
No fim, os cenários são estes: prolongamento limitado do conflito (Biden), fim imediato (Trump) ou escalada nuclear (com um possível novo candidato interessado em piorar a crise com a Rússia). Aos EUA só resta escolher o momento de reconhecer o fim de sua hegemonia. Impedir a ascensão da multipolaridade não é uma possibilidade.